quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Cultura da violência

Uma cultura da violência que permeia os ambientes públicos e privados das relações sociais pode explicar por que atos de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão contra crianças e adolescentes continuam frequentes, mesmo após a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990. Em todas as faixas etárias, as ocorrências são mais preponderantes nas residências das vítimas, mas também ocorrem onde as crianças deveriam estar protegidas: na escola.
Segundo dados do Mapa da Violência 2012: Crianças e Adolescentes do Brasil, elaborado por Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais no Brasil (FLACSO Brasil), a escola é o quarto local onde há mais ocorrências de violência contra crianças e adolescentes entre zero e 19 anos. Na faixa etária dos 10 aos 14 anos o número de ocorrências no ambiente escolar aumenta, representando 7,8% dos atendimentos, enquanto a partir dos dez anos as agressões em casa diminuem. O levantamento foi realizado junto aos atendimentos por violência no Sistema Único de Saúde (SUS).
"Existe uma espécie de cultura da violência que impera em diversos âmbitos de nossas vidas, como em casa, na escola, nas ruas", argumenta Jacobo. O sociólogo considera que a escola deve criar mecanismos de mediação de conflito com o objetivo de estimular a tolerância e o convívio com as diferenças. A medida é urgente se for considerado que o maior número de agressões acontece entre os próprios colegas de escola.
Dos 5 aos 9 anos as ocorrências de violência na escola por amigos ou conhecidos representam 49,7% dos casos. Dos 10 aos 14 anos, 60,16%, e dos 15 aos 19, 52%. Na categoria "desconhecidos", esse número cai para 8,5% dos 5 aos 9 anos, 7,1% dos 10 aos 14 e 16,6% dos 15 aos 19. Em último lugar verifica-se a violência por parte de pessoas da própria instituição com 7,9% na faixa dos 5 aos 9 anos, 5,8% dos 10 aos 14 e 5,5% dos 15 aos 19 anos.
De acordo com a pesquisa, em todas as faixas etárias a violência acontece de forma preponderante na residência das vítimas, totalizando 63,1% dos casos. Em segundo lugar aparecem as vias públicas, em terceiro outros ambientes e, por fim, em quinto, estão os bares.
Para chegar a esses números foram utilizados os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. Em 2009, a notificação "violência doméstica, sexual e/ou outras violências" foi implantada no Sinan e deve ser realizada pelo gestor 1de saúde do SUS, por meio de uma ficha de notificação específica, diante de qualquer suspeita de ocorrência de violência. Essas informações, no entanto, são apenas uma parte do que realmente acontece. Paralelamente aos atendimentos declarados como decorrentes da violência, existe um enorme número de vítimas que não revelam o motivo de ir parar nos hospitais e, por isso, nunca chegam aos olhos públicos.
Fonte: Revista Educação

O piso do professorado

Apesar de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter reconhecido em 2011 a constitucionalidade da Lei 11.738, que impôs o piso salarial unificado para os docentes da rede pública de ensino básico, seis governadores voltaram a recorrer à Corte, desta vez questionando a forma de reajuste do piso.
Um dos signatários da nova Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) é o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Foi ele quem, como ministro do governo Lula, propôs o piso para os docentes das escolas públicas, enfrentando à época forte resistência dos Estados. Em abril de 2011, o STF derrubou a primeira Adin proposta pelos governadores, reconhecendo a constitucionalidade da Lei 11.738. Agora, os governadores questionam especificamente o artigo 5.º dessa lei, que define a forma de cálculo da correção do piso unificado.
Esse artigo prevê que o piso tem de ser reajustado anualmente com base no crescimento das verbas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Como esse aumento é fixado por portaria ministerial e seu porcentual tem ficado muito acima da inflação, os governadores questionam sua constitucionalidade. Segundo eles, a concessão de aumento real ao professorado só pode ser feita com base em lei. Entre 2011 e 2012, o Fundeb cresceu 22%. Com isso, o piso passou de R$ 1.187 para R$ 1.451. Para 2013, o MEC estima que o Fundeb vá aumentar 21%.
Os governadores alegam que essa forma de reajuste impede o planejamento tributário dos Estados. "É impossível pagar os aumentos. É uma superposição de mais de 20% na folha de pagamento da educação neste ano e de mais de 20% em 2013, o que torna inviável o custeio dessa folha", diz Genro. Além do recurso ao STF, os governadores patrocinam na Câmara um projeto que muda o artigo 5.º da Lei 11.738, determinando a correção do piso com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor - o que, na prática, resultaria em reajustes menores do que os fixados com base na evolução do Fundeb.
Para os governadores, se o STF mantiver o artigo 5.º da Lei 11.738, os Estados perderão autonomia sobre seus orçamentos. Mas, se a Corte derrubá-lo, dizem eles, os Estados poderão definir os critérios que considerarem mais adequados conforme sua situação fiscal. Já para os docentes, a mudança na forma de correção desfigura o piso salarial. Se cada Estado acatar um critério distinto de correção, com o tempo o piso desaparecerá, afirmam. "Os governadores estão criando um problema para si. Não existindo mais o balizador nacional do reajuste, em cada Estado os docentes farão sua luta e vai ter muito mais greve", diz o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Roberto Leão.
O governador Tarso Genro refuta essas críticas. "A lei do piso foi instituída a partir de um conjunto de movimentos e decisões que começaram quando eu estava no MEC e foi consolidada quando eu estava no Ministério da Justiça. Todas as negociações que acompanhei indicavam que o piso seria um valor e sua correção seria feita com base na inflação. O conceito de piso vem daí. A correção pela inflação significa atualização. O que a Lei 11.738 propõe é um aumento real contrabandeado para dentro do orçamento estadual via portarias anuais do MEC. Ou seja, com essa regra o processo de aumento salarial real fica fora do âmbito dos Estados, ferindo a autonomia federativa", diz ele.
A criação do piso salarial unificado foi uma iniciativa louvável, pois os salários do professorado estão entre os mais baixos entre os profissionais qualificados do setor público, mas a concessão de aumentos reais tem de estar condicionada à realidade fiscal dos Estados. Os governadores têm razão quando alegam que, tendo de pagar a conta, não são ouvidos pelo ministro da Educação. Portanto, é preciso uma negociação, mas ela não pode ser conduzida por políticos que, quando ocuparam uma posição ministerial, usaram a educação para obter dividendos eleitorais, impondo aos Estados obrigações com que não podiam arcar, e agora, como governadores, alegam não poder cumprir.
Fonte: O Estado de S.Paulo (SP)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Plano Nacional de Educação apresenta 20 metas


Entre as 20 metas do Plano Nacional de Educação (PNE) 2011-2020, aprovado no último dia 16 pela Câmara dos Deputados e a ser encaminhado para exame do Senado Federal, estão a de universalizar, até 2016, o atendimento escolar da população de quatro e cinco anos, e ampliar, até 2020, a oferta de educação infantil de forma a atender a 50% da população de até três anos.
O plano pretende ainda universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda população de seis a 14 anos, bem como universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85% nesta faixa etária.
Outra meta é a de universalizar, para a população de quatro a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino.
O plano também pretende alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os oito anos de idade; oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de educação básica; e atingir médias nacionais progressivas para o Ideb até 2021.
Há também a meta de elevar a escolaridade média da população de 18 a 24 anos, de modo a alcançar o mínimo de 12 anos de estudo para as populações do campo, região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres, bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à redução da desigualdade educacional.
 
Analfabetismo
Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar, até 2020, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional é outra das metas do PNE 2011-2020.
O plano também pretende oferecer o mínimo de 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, além de duplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta.
Outra meta é a de elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50%, e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta. O governo também quer elevar a qualidade da educação superior pela ampliação da atuação de mestres e doutores nas instituições de educação superior para 75%, no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do total, 35% doutores.
O plano também pretende elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores. Pretende garantir ainda, em regime de colaboração entre a União, estados, Distrito Federal e municípios, que todos os professores da educação básica tenham formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.
 
Valorização
Outro objetivo é o de formar 50% dos professores da educação básica em nível de pós-graduação lato e stricto sensu e garantir a todos formação continuada em sua área de atuação.
O plano apresenta ainda as metas de valorizar o magistério público da educação básica, a fim de aproximar o rendimento médio do profissional do magistério com mais de 11 anos de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente; assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira para os profissionais do magistério em todos os sistemas de ensino.
A última meta prevista no plano é a de garantir, mediante lei específica aprovada nos estados, Distrito Federal e municípios, a nomeação comissionada de diretores de escola vinculada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à participação da comunidade escolar.
Fonte: Agência Senado

Educação é entrave na América Latina

Na corrida para fazer parte do seleto grupo das nações mais ricas do mundo, os países da América Latina e do Caribe se deparam com uma grande barreira.
O Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, que será divulgado hoje pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), mostra que oito milhões de jovens entre 15 e 24 anos - ou um em cada 12 - da região nem mesmo completaram o quinto ano do Ensino Fundamental e precisam de caminhos alternativos para adquirir habilidades básicas exigidas pelo mercado de trabalho.
Num conjunto de 123 países em desenvolvimento pesquisados, 200 milhões de pessoas nessa faixa etária estão na mesma condição. No mundo todo, mais de um quarto dos jovens estão desempregados ou trabalhando em ocupações que os mantêm na linha de pobreza ou abaixo dela. Num momento em que os países, sobretudo os da Europa, tomam uma série de medidas para afugentar a crise, a falta de qualificação profissional dos jovens torna-se mais preocupante do que nunca.
- É um desafio que precisa ser enfrentado por toda a sociedade, empresas e governos - disse Rebeca Otero, coordenadora de Educação da Unesco no Brasil.
No Brasil, pelos dados da Unesco, um em cada cinco jovens está desempregado - índice três vezes maior do que o verificado entre adultos. Rebeca destacou que um dos maiores desafios do país é ter jovens com competências suficientes para entrar no mercado de trabalho, como saber ler, interpretar, falar bem e trabalhar em equipe.
Na avaliação da coordenadora, o governo tem tomado medidas para suprir essa deficiência, como a expansão das Escolas de Ensino profissionalizante. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo IBGE no mês passado, mostrou que a taxa de Escolarização de jovens de 15 a 17 anos caiu de 85,2% para 83,7% entre 2009 e 2011. Os dados da Pnad incluem apenas o Ensino regular.
Para a Unesco, o Ensino Médio é o mínimo necessário para que os jovens consigam empregos decentes. Mas, no universo de países pesquisados, 250 milhões de crianças em idade Escolar primária não sabem ler nem escrever.
O estudo calcula que serão necessários US$ 16 bilhões para alcançar a Educação Primária universal até 2015.
Fonte: O Globo (RJ)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Mais estudo, mais renda

Cruzamento de dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desfaz qualquer dúvida: mais estudo tende a significar também melhores vencimentos na vida profissional. A diferença salarial entre os que concluíram apenas o Ensino médio e os trabalhadores brasileiros com curso universitário no Brasil alcança 167%. O percentual, que já foi maior, começou a cair a partir do início deste século, numa tendência comum em países desenvolvidos, nos quais o Ensino técnico costuma ser bem valorizado. Ainda assim, o ganho continua expressivo e tende a se ampliar ainda mais nos casos de profissionais com especialização, com curso de mestrado ou doutorado, demonstrando o quanto o país precisa investir mais para propiciar a continuidade da formação depois do Ensino Básico.
Apesar dos avanços registrados no país nos últimos anos e de uma maior conscientização dos brasileiros de maneira geral sobre a importância do estudo, as estatísticas ainda são pouco animadoras. Levantamento conjunto dos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, por exemplo, revela que nada menos de 5,3 milhões de pessoas entre 18 e 25 anos não estudam nem trabalham, nem procuram emprego. Aumentou, porém, em 60% o total de jovens brasileiros que apostam na Educação profissional, embora a proporção ainda fique longe da registrada em economias bem-sucedidas como a Alemanha, por exemplo. Ainda assim, a média de estudo da mão de obra ocupada no Brasil é de apenas 8,4 anos e uma parcela de apenas 12,5% dos trabalhadores concluiu o Ensino Superior.
Além da baixa Escolaridade, o país convive com outros problemas no âmbito educacional. Um deles é a baixa qualidade do Ensino de maneira geral, tanto no nível médio quanto no superior. O outro é a acentuada dissociação entre o que ocorre no meio acadêmico e na realidade. Além de melhorar o acesso ao Ensino de nível superior, portanto, sem prejuízo da qualidade, o país precisa aproximar os conteúdos das exigências cada vez maiores e mais aceleradas do mercado de trabalho.
Países como a Coreia do Sul, entre outros, são exemplos significativos de que é possível obter resultados compensadores com uma aposta firme na Educação. Em apenas uma década, até 2010, o percentual de sul-coreanos com diploma universitário passou de 24% para 40%. No Brasil, que só na área de engenharia tem um déficit estimado de 150 mil profissionais, muitas empresas começam a investir em treinamento, apostando nas chamadas “universidades corporativas”. É importante que também o poder público faça essa opção clara, para permitir melhor formação, maiores ganhos para os brasileiros e um salto de qualidade para o país.
Fonte: Zero Hora (RS)

Potência do saber

O Brasil está muito próximo de se tornar uma potência olímpica esportiva. Nossos atletas conquistam cada vez mais medalhas nos torneios internacionais que disputam.
E na Educação? Há uma elite intelectual que representa o Brasil de forma magnífica em olimpíadas científicas internacionais. Mas pouco se fala dos nossos campeões do saber. Nesse ano, por exemplo, estudantes brasileiros conquistaram duas medalhas de prata, uma de bronze e seis menções honrosas na Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA, na sigla em inglês) e duas de ouro e três de prata na etapa Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica. São as principais ferramentas de que dispomos no País para estimular nossos jovens a estudar mais e melhor.
Os jogos de conhecimento mostram que é possível fomentar uma nova geração de estudiosos em todas as áreas. Nos últimos 15 anos, a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica apresentou uma elevação literalmente astronômica no número de estudantes inscritos. Enquanto na edição de 1999 reunimos 15 mil estudantes, no ano passado ultrapassamos os 800 mil. Mas temos muito trabalho a fazer.
O país tem hoje 50 milhões de Alunos, dois milhões de Professores e 190 mil Escolas. É necessária uma atuação maior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep) para manter atualizados os dados do censo Escolar. É importante também que o Ministério da Educação e a União Nacional dos Dirigentes de Educação se envolvam com nossas iniciativas e façam uma ampla campanha para divulgar a importância dos jogos do saber e das mostras e feiras científicas.
No ano que vem, podemos dar um importante passo durante o Fórum Mundial da Ciência, que vai ser realizado no Brasil. Os coordenadores das olimpíadas de conhecimento e os representantes do MEC e do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação pretendem lançar um projeto para a realização de uma mega olimpíada internacional de conhecimento em 2016 no nosso país. Sonho com um futuro em que os nossos “medalhistas do saber” sejam recebidos também pelo presidente da República, assim como ocorre cada vez que o Brasil ganha Copa do Mundo de futebol.
João Batista Garcia Canalle, astrônomo, in: Jornal de Brasília (DF)

domingo, 28 de outubro de 2012

Mostrando a Língua - 64

Meus diqueiros,

Estive recentemente em Porto de Galinhas- Recife e, com a mania que tenho de observar e 'catar' falares, registrei em meu diário de bordo algumas delas que passo para vcs. É muito bom poder constatar que quem faz uma língua é o povo. Os estudos nesta área estão no campo da Sociolinguística - nossa diqueira VANIA BERNARDO é autoridade no assunto- e cada vez mais valorizam os vocabulários regionais como distinções consideradas importantes para as sociedades que as utiliza. A reflexão é bastante oportuna porque o que temos visto é uma escola intolerante com as diferenças dialetais, que privilegia (e cobra!) o normativo, isto é, o certo e o errado, sem a compreensão necessária para o diferente. É uma pena, porque perde-se a riqueza de construções e registros que, certamente, reduziriam o preconceito, não é?

Apenas para ilustrar, evoco Manuel Bandeira que resume, em lúcidas palavras este sentimento de pertença. Vejam abaixo, a citação.

 
[...] a vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil...
Manuel Bandeira, Evocação do Recife

Muito linda e expressiva, né?
Eis o que encontrei por lá:
miador- aquele aparelhinho que fica sobre os táxis. (aqui, no sudeste, chamamos de bigorrilho)
bruxa- amante
nadica – nada
carece não- não precisa
já- é já mesmo, mas a pronúncia é 'rá' ( Ex.: Eu 'rá' disse isso...)
chegue- venha, aproxime-se
vexado- apressado
quenga- prostituta
palavrão- nome feio
vou não - não vou
tia ( tía) - 'tchia' ( nossa pronúncia é 'chiada'.
...e muito mais.

Também degustamos, com muito prazer, um peixe da região chamado beijupirá, deliciosamente preparado ao molho de manga. Coisadedoido, assim junto para não perder tempo. Rssss
Forte abraço, gente, até quarta,
Edinalda

 

Analfabetismo funcional

Reduziu-se em aproximadamente 7% o número absoluto de Analfabetos com 15 anos de idade ou mais no País entre 2004 e 2009, afirma um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entidade vinculada ao governo federal. O trabalho baseou-se em estatísticas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), efetuada em 2009, devendo se observar que a tendência positiva ocorreu em todas Regiões do País.
No período analisado pelo Ipea, as maiores variações da taxa de Analfabetismo foram constatadas no Nordeste e no Norte.
Entretanto, apesar da melhora constatada, cresceram os chamados Analfabetos funcionais que estudam no nível básico, compensando-se tal distorção com a diminuição da proporção de Analfabetos funcionais, segundo trabalho realizado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela Ação Educativa, com apoio do Ibope. O mesmo levantamento oferece consistentes níveis de Alfabetização de jovens e adultos brasileiros nos últimos 10 anos.
Define-se o Analfabeto funcional quando a pessoa aprende a ler e escrever, mas não consegue entender o sentido de um texto. Entre 2001 e 2011, o domínio pleno da leitura caiu de 22% para 15% entre os que concluíram o Ensino fundamental II, e de 49% para 35% nos que cursaram o Ensino médio. Com nível superior, 38% não alcançam o nível pleno. Estes são os que lêem e compreendem um artigo de jornal, comparam suas informações com outros textos e são capazes de fazer uma síntese dele. Em Matemática, o nível é considerado entre os que resolvem problemas envolvendo percentuais e proporção, além de interpretarem tabelas e gráficos simples.
As dificuldades existentes exigem dos governos, em geral, investimentos eficientes, com prioridade para os anos iniciais do Ensino. É nesse momento que o problema surge e, por isso mesmo, neles deve nascer a sua solução.
Fonte: Folha de Pernambuco (PE)

Baixa instrução não impede ajuda de pais para filhos

No Brasil, 50,8% dos chefes de família são Analfabetos ou têm apenas o Ensino fundamental, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada. Porém, a baixa Escolaridade não impede que os pais ajudem o filho nas tarefas e acompanhem de perto a sua vida Escolar. Nesses casos, aumenta ainda mais a responsabilidade da Escola de dar suporte ao Aluno para que ele fique em pé de igualdade com o restante da turma.
Se a família não entende nada do que o filho está aprendendo, só o fato de mostrar interesse e de conferir se ele está fazendo o que foi pedido pelo Professor já serve como estímulo para que o Aluno aumente seu comprometimento Escolar. Isso serve para todo o Ensino fundamental, mas a criança dará mais importância ao que os pais pensam nos primeiros anos de Escola. Se ela perceber que a família valoriza a Educação, a tendência é ter um bom desempenho.
Um Aluno cuja família tem maior grau de instrução tende a ter melhores notas, pois a formação é, segundo a gerente de Planejamento Estratégico do movimento Todos Pela Educação, Andrea Bergamaschi, uma combinação entre o que a Escola ensina com o que os pais indicam e incentivam os filhos a ler, escutar, assistir e discutir. “Para aqueles que não têm esse suporte, a Escola vai compensar estimulando mais a leitura, além de provocar discussões sobre assuntos diversos, desde o desenho a que o Aluno assiste até o que os jornais estão mostrando.” 

Superando dificuldades
Na Escola Estadual Manoel Ribas – que atende principalmente moradores da Vila das Torres, em Curitiba –, a pedagoga Jaqueline Ferraza consegue perceber em todos os anos Escolares quando a família acompanha de perto a vida Escolar do filho. Mesmo com situação socioeconômica frágil e baixa Escolaridade familiar, é possível encontrar muitos pais e mães que fiscalizam as tarefas e até conseguem aprender com os filhos. “O que esses filhos aprendem na Escola acaba sendo uma fonte de conhecimento para os pais”, comenta.
A inspetora da Escola, Leila Sentone, é um caso de mãe que supera dificuldades da baixa instrução para ajudar a filha Isabela, 16 anos, e a neta Bianca, 11 anos. Se elas não conseguem entender algum assunto, Leila pede auxílio ao marido. “Quando minha filha estava no Ensino fundamental era muito mais fácil ajudar, entender ou pelo menos ter alguma noção do conteúdo. No Ensino médio é mais difícil”, conta. 

Ler adianta formação em um ano e meio
Além de conferir de perto os deveres de casa e valorizar o estudo, a melhor maneira de os pais promoverem uma melhora no desempenho Escolar do filho é ler para ele na fase de Alfabetização, entre os 5 e 6 anos. No Brasil, apenas 37% das famílias fazem isso, segundo dados da Fundação Itaú Social. E para essa tarefa não são necessárias alta Escolaridade e bagagem cultural, apenas Alfabetização.
Dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo Instituto Pró-Livro, mostram que a principal influência na leitura de uma pessoa vem das mães e que a maior parte delas concluiu apenas os primeiros anos do Ensino fundamental. “Nesses casos, a formação é irrelevante. Só o ato de contar uma história cria um impacto profundo na vida da criança. Depois disso, ajuda se o adulto discutir o que foi lido, pedir que a criança crie um novo final, que imagine outras possibilidades para aquele enredo”, comenta o Professor do programa de pós-graduação em Educação da Universidade Tuiuti Joe Garcia.
Quando os pais se comprometem com essa atividade de leitura, a criança avança em média um ano e meio na Escolarização. Ou seja, é como se ela estivesse cognitivamente uma série e meia na frente da que está. 

Simples, mas necessário
Confira algumas dicas que auxiliam os pais a incentivarem o filho ao estudo:
- Mostre interesse pelo que ele aprendeu na Escola. Pergunte como foi o dia, de quais atividades ele mais gostou e peça detalhes. Relembrar o que foi aprendido ajuda a memorizar.
- Na hora de sentar com o filho para estudar, tente ler um pouco do conteúdo para ele. Isso tornará o assunto mais atrativo.
- Separe um espaço fixo em casa para estudar, assim como um horário. A rotina facilita o aprendizado.
- Discuta com a criança ou o jovem o que está passando no jornal, no cinema ou até a letra de uma música. Estimule-os a exporem suas ideias.
- Incentive-os a perguntar em sala de aula, a questionar o Professor quando houver dúvidas. 

Sem interferir
Educadores defendem que a função dos pais não é corrigir tarefas, já que podem ensinar algo errado em um desses momentos. "Eles têm um papel mais afetivo do que cognitivo. Estão ali para estimular, despertar interesse", diz o Professor de Educação da Universidade Tuiuti, Joe Garcia. A correção é papel do Professor.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)

Por que apenas 2% dos estudantes querem seguir a carreira de professor?

O desafio da Educação brasileira não se resume a estimular crianças e adolescentes a aprender. Exige, também, encontrar quem se disponha a ensiná-los. Nas últimas décadas, a perda de interesse dos jovens pela carreira de Professor dificulta a seleção de Educadores em quantidade e qualidade suficientes para garantir o salto de desempenho que se espera nas Escolas. Ao cativar o interesse de apenas 2% dos estudantes do Ensino médio, conforme demonstrado pela pesquisa A Atratividade da Carreira Docente no Brasil, o magistério segue caminho inverso ao de países desenvolvidos.
Em lugares como Japão, Finlândia ou Coreia do Sul, todos com Ensino de excelência, a atividade oferece bons salários, reconhecimento social e por isso atrai os melhores Alunos. No Brasil, os baixos rendimentos, a perda de status e o desgaste do trabalho contribuem para o envelhecimento da categoria e despertam temor em relação ao futuro da profissão.
Em apenas quatro anos, entre 2007 e 2011, as sinopses estatísticas da Educação básica revelam que o percentual de Docentes com menos de 24 anos caiu de 6% para 5,1%, enquanto a proporção de mestres com mais de 50 subiu de 11,8% para 13,8%. Para a coordenadora do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, Regina Pacheco, as razões vão além dos baixos salários:
– Precisamos repensar o trabalho do Professor e a carreira no setor público, que segue um modelo de 100 anos. Hoje, a concepção de vida é outra, os mais jovens querem ir atrás de oportunidades, enquanto o sistema prevê que fiquem 30 anos fazendo a mesma coisa.
Conforme a pesquisadora, além de dificultar a renovação da categoria, as más condições de trabalho estimulam distorções como excessos de faltas e licenças. Confira, a seguir, um resumo das condições que afugentam novos Professores.
Fonte: realizado pela Fundação Carlos Chagas sob encomenda da Fundação Victor Civita, o estudo A Atratividade da Carreira Docente no Brasil foi concluído em dezembro de 2009 e revelou que, dos 1.501 Alunos do Ensino médio entrevistados em todas as regiões brasileiras, apenas 2% manifestavam o interesse de cursar Pedagogia ou alguma licenciatura – caminhos para a carreira de Professor. Destes, praticamente oito em cada 10 são mulheres.

Artigo: Orgulho de ensinar

Pesquisa da Fundação Carlos Chagas, em 2009, por encomenda da Fundação Victor Civita, confirmou tecnicamente o que a maioria dos brasileiros já sabia: quase ninguém mais quer ser Professor. Na verdade, este “quase” está quantificado: dos 1,5 mil Alunos do terceiro ano do Ensino médio ouvidos pelos pesquisadores, apenas 2% confirmaram a intenção de cursar Pedagogia ou alguma licenciatura voltada para o magistério. O dado expressa de forma eloquente a desvalorização de uma profissão que já foi o sonho de consumo das famílias brasileiras nas décadas de 60 e 70 do século passado. E o mais desconcertante é que os Professores continuam sendo tão necessários para o país quanto o eram naquela época.
Três aspectos prioritários são apontados como causas da rejeição: 1) Falta de reconhecimento social; 2) Salários baixos; e 3) Trabalho desgastante. Entre os 32% de Alunos que chegaram a pensar em ser Professor, muitos encontraram resistência familiar ou foram desaconselhados por pessoas de suas relações.
Há ainda um subproduto cruel desta desvalorização, que é o direcionamento para a carreira de uma parcela de Alunos com mau desempenho nos níveis intermediários. Como não conseguem classificação para os cursos mais disputados, a formação Docente vira um prêmio de consolação. Ainda assim, o país conta com muitos Professores competentes, responsáveis e comprometidos com a Educação. Aí entra aquele conjunto de valores que historicamente compõem a personalidade dos Educadores: vocação, dedicação e profissionalismo.
A Educação tem o poder de transformar as pessoas e de tornar as sociedades mais iguais e mais justas. Sem Professores, não haveria médicos, engenheiros, advogados e outros diplomados em ofícios respeitados por todos os cidadãos. O Brasil deveria orgulhar-se de seus Professores e valorizá-los como merecem, para que os mestres também voltem a ter orgulho da profissão que escolheram.
Fonte: Jornal de Santa Catarina (SC)

sábado, 27 de outubro de 2012

A solução está na Educação?

Estudei toda minha Educação básica numa Escola pública chamada Camilo Dias. Lembro-me com saudades de minha primeira Professora. Fecho os olhos e a vejo caminhando pela sala, apresentando a “família da Casinha Feliz”. E tantos outros Professores passaram por minha vida, me marcaram e contribuíram para a minha formação. Liderei um jornalzinho estudantil. Fiz, ao lado de meus colegas, denúncias e abusos de Professores. Questionávamos a situação. Buscávamos melhorias e acreditávamos em mudanças positivas. Recordo-me que havia uma forte necessidade de darmos nossa parcela de contribuição para tais mudanças que, quem sabe, revolucionasse nacionalmente a maneira de pensar e agir dos jovens daquela década de 90.
Não passei por palmatórias, castigos em caroços de milho ou coisa parecida, e sempre houve respeito pelos Professores. Não éramos obrigados a amar a todos do mesmo modo, mas nunca esquecíamos quem era a autoridade na sala de aula. Sou Professora. Vivencio o que meus Professores vivenciaram, mas há muita coisa diferente. Percebo que o respeito já quase não existe mais. A postura dos Alunos mudou de forma negativa e, infelizmente, a do Professor também. Presencio condutas de colegas totalmente às avessas do que seria óbvio no processo de educar.
Muitos Professores chegam à sala de aula desestimulados, descompromissados e alheios ao seu valoroso papel. Por outro lado, os Alunos, ignorados pelos pais, ou pela ausência deles, acreditam que a Escola é o complemento do lar, onde se pode fazer tudo o que se quer. Assim, se origina o caos e a descrença de que pode haver um Brasil melhor. O grande mestre, Paulo Freire, disse que “Ninguém nega o valor da Educação e que um bom Professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons Professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam Professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados”.
Há um trabalho árduo mental e físico. Disso, ninguém pode negar, mas, também não podemos negar que muitos de nós ainda ocupamos o cargo e o encaramos como “bico” e, assim, não é possível enxergar o humano que há no Aluno. Então, quase que viramos máquinas e despencamos no processo. Apesar de, lamentavelmente, concordar com Freire, bem sei que um grande fator impede que desejemos esta profissão a alguém: o conceito de Educar ficou delegado somente à instituição Escolar. E a família, onde se encaixa? Praticamente deixou de existir. Alunos chegam à Escola sem saber sua origem, sem identificar autoridade de pai e mãe, sem saber como conceituar o vocábulo Família. Aí, palavras gentis como: por favor, com licença e obrigado vão sumindo e, por conta disso, a relação Professor x Aluno vai ficando cada vez mais gasta e vazia. É necessário que façamos uma reflexão a respeito de nossa postura em sala de aula. Cabe-nos reverter esta apocalíptica situação a nosso favor.
Sofremos pressão de todos os lados por conta das falhas traiçoeiras do nosso Sistema e já passamos da época de reproduzir clichês atribuindo a ele toda culpa: na sala dos Professores- “Falta de material didático? A culpa é do Sistema!” Nos corredores das Escolas- “Salas superlotadas? A culpa é do Sistema!” Não nego que realmente convivemos com um Sistema que pouco se preocupa com a formação crítica do indivíduo e, consequentemente, faz pouco caso da realidade da Educação neste país, mas, se optamos por seguir este caminho, devemos fazê-lo com sabedoria e força de vontade de que as coisas realmente mudem e para melhor. Isso nos compete. É nosso dever romper este ciclo vicioso.
Dizem que o Professor não conhece seu valor. Eu acredito que muitos de nós desconhecemos o nosso papel vital para a engrenagem da humanidade. Este fator faz a diferença. Queremos mudanças, mas ainda alimentamos nosso troll da ignorância paternalista quando ajudamos a eleger estreantes ou veteranos gananciosos e egoístas que dificilmente estarão interessados em contribuir para uma sociedade melhor. E repetimos que “o povo tem o governo que merece!”
Educadores de meu Estado, bem sei de nossa batalha diária. Ela é árdua, mas, acreditem: ela será satisfatória todas as vezes que você sentir que valeu a pena. Todo esforço é digno quando se vê o resultado final. Sempre quando inicia o ano, faço votos de que eu fique representando para meus Alunos aquilo que meus Professores me representaram: Educação, amizade, compromisso e simpatia. Tudo isso guardado em doces lembranças. Que possamos utilizar o dia 15 de outubro, para refletirmos sobre nossa postura e que possamos modificar o nosso meio de tal modo que seja percebido, não nos números das notas bimestrais, mas nas atitudes transformadoras e inconformadas com a realidade que vivemos. Aí sim, estaremos, de fato, reconhecendo nosso papel e nosso valor. Não é necessário estocarem maçãs em nossas mesas, mas seria muito engrandecedor se os Alunos também reconhecessem a nossa importância singular nessa "ponte" que leva ao Conhecimento. Feliz dia do Educador a todos e, em especial, a os Educadores de minhas doces lembranças.
Suzana Mouta Rodrigues de Lemos, professora, in: Folha de Boa Vista (RR)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Agente de mudança



Os números do Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb), divulgados recentemente, colocam Goiás em 5º lugar no ranking nacional do Ensino médio e como primeiro colocado em crescimento porcentual nesta etapa do Ensino. Ultrapassamos todas as metas estabelecidas pelo Ministério da Educação. E isto não ocorreu de maneira isolada: 82% das Escolas estaduais melhoraram suas notas.
Apresentamos os grandes responsáveis por tamanho êxito: os Professores. São eles, os 34 mil Professores da rede estadual, os protagonistas, que estão ali, dia após dia, acompanhando de perto a rotina de cada um dos cerca de 600 mil estudantes.
O que acontece hoje nas Escolas goianas atrai o interesse dos demais Estados e de outros países. Nosso plano de reforma educacional, o Pacto pela Educação, com suas 25 diretrizes divididas em cinco eixos estratégicos, incorporou novas estratégias e metodologias de planejamento, execução, acompanhamento e avaliação do trabalho pedagógico nas Escolas. Instituiu programas e projetos que tiveram impacto positivo em sala de aula.
Ou seja, se por um lado, o governo formulou políticas públicas que contribuíram para melhorar o sistema educacional, coube aos profissionais da Educação, em especial aos Professores, o esforço necessário para torná-las realidade. Coube a eles a dedicação e o empenho para transformar ações e iniciativas previstas no plano norteador em algo exequível, concreto, que garantisse um aprendizado adequado.
Temos ainda muitos desafios. O cenário atual, os bons resultados atingidos, não podem ser sinônimo de comodismo. Deve nos incentivar a perseguir novos avanços, traçar metas e objetivos mais ousados, renovar nosso ânimo e disposição.
Os Professores da rede pública estadual têm respondido a este chamado. Fizeram-se presentes no momento mais difícil de todas as mudanças, quando foram adotadas novas práticas, novos métodos e rumos diferentes que impuseram rupturas com modelos antigos, que nos fizeram sair da zona de conforto e que alteraram toda a rotina das Escolas. Os mais experientes foram chamados de volta à sala de aula. E quando todos entenderam que o foco era o crescimento do Aluno, abraçaram a causa.
Por reconhecer a importância do Professor nesse processo é que definimos como primeiro pilar do plano de reforma a valorização e o fortalecimento deste profissional. Instituímos o piso salarial para o Professor, acima do piso nacional, e o Programa Reconhecer, com bonificações para os profissionais dedicados e assíduos e comprometidos com o planejamento pedagógico. Criamos a Escola de Formação de Professores. Tudo isso pode ser traduzido em uma palavra: compromisso. A todos cada vez mais comprometidos, nossos parabéns pela data especial, 15 de outubro!
Thiago Peixoto, economista, in: O Popular (GO)

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Porque hoje temos muito a comemorar


Já dizia Jorge Luís Borges: o tempo é a mais urgente das questões. A frase vem bem a propósito do Dia do Professor, hoje, pois é sabido que, na realidade, atribuir unicamente aos governantes a responsabilidade pela adoção de uma política nacional de valorização dos Professores, especialmente aos que atuam em sala de aula, será mais uma perda de tempo que a sociedade não pode desperdiçar.
A tarefa é para todos nós, que acreditamos ser a Educação o principal caminho para o exercício pleno da cidadania, e os Professores o fio condutor desse processo que gera crescimento econômico e o desenvolvimento social de uma nação. Nossa responsabilidade social se revela no fortalecimento da Escola, na melhor organização do trabalho pedagógico e na busca de fortalecimento da carreira do magistério.
E como muito bem salientou Saramago, no Ensaio sobre a Cegueira, lembremo-nos que Dia do Professor é todo dia, assim como todo dia é dia de pensarmos, elaborarmos e sonharmos com o nosso fazer de maneira transformadora, para a construção de relações mais humanas.
A importância desta data comemorativa é inegável. Ela entrou no calendário pelo decreto imperial de 15 de outubro de 1827, assinado por Dom Pedro I. Neste ano, mais uma vez, a exemplo do que acontece há décadas, a imprensa poderá dar grande visibilidade ao assunto e colocá-lo novamente na agenda das decisões nacionais.
É fundamental que a Educação seja discutida séria e desapaixonadamente, e que os envolvidos na questão sejam ouvidos. A esperança está na capacidade de ressonância que o tema venha a ter junto à opinião pública, e na cobrança enérgica de providências oficiais.
A formação e o aperfeiçoamento dos Professores, com a consequente remuneração compatível com os padrões de dignidade, são providências que não podem mais tardar.
Marcelo Batista de Sousa, administrador e pedagogo, in: Diário Catarinense

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Os desafios do novo professor

Poucas profissões hoje em dia passam pelas transformações que o magistério vem passando. O que se exige dos Professores atualmente é muito diferente do que se exigia há mais de dez anos. O Professor de hoje, que frente à tecnologia pode ser classificado como um imigrante digital em comparação à nova geração de Alunos que chegam à sEscolas, que podem ser classificados como nativos digitais (ambos os termos definidos em recente palestra pelo Ministro da Educação Aloizio Mercadante), vive a necessidade de transformar sua forma de atuar em sala de aula.Até pouco tempo, o bom Professor era aquele que exibia um elevado grau de conhecimento de sua matéria aliado a uma grande capacidade de impor disciplina no ambiente Escolar. Hoje, existe uma farta disponibilidade de informações nos meios digitais, uma alta conectividade e interatividade e uma nova forma de comportamento baseado na liberdade de expressão.
As características dos novos Alunos exigem que o Professor atue como um mediador de conhecimento e do uso da tecnologia para desenvolver habilidades que permitam aos estudantes serem inovadores, éticos, equilibrados emocionalmente e com conhecimentos que levem a seu sucesso profissional e, principalmente, se tornem seres humanos que façam a diferença no mundo.
Ao mesmo tempo, os profissionais do magistério precisam se tornar, em muitos casos, um pouco psicólogos, assistentes sociais e até substitutos de pais e mães para Alunos vulneráveis socialmente e sem o porto seguro da família.
O desafio de fazer esta transformação dos profissionais do magistério não é simples e merece o reconhecimento da sociedade para que possamos ter a cada dia verdadeiras fontes de inspiração a nossos filhos, que ficam sob seus cuidados durante um tempo tão precioso quanto os anos de estudo nos bancos Escolares.
Eduardo Deschamps, professor, in: Diário Catarinense (SC)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A permanência de problemas na Educação

A busca da qualidade na educação pública foi iniciada por um grupo de notáveis estudiosos nos anos 1930. Ao longo desse século, eles apontaram, ao governo e ao povo, os problemas da educação pública. Infelizmente, não tiveram sucesso nessa ação cívica. Para entender essa problemática, desenvolvemos um trabalho cientifico, “In search of elementary education” (“Em busca da educação elementar”). O trabalho analisa a relação do Estado com a educação, no período 1930-1997. Acreditamos que suas conclusões e recomendações possam ser válidas até hoje.
Este artigo apresenta algumas conclusões desse trabalho, a saber: o Estado apresentou uma “imagem de ação” em sua relação com a educação durante todo o período. Para produzir a “imagem de ação”, sucessivos governos declaravam sua intenção de reformar a educação. Com isso, eles criavam expectativas de mudanças e adiavam providências para realizá-las. Além disso, essa estratégia garantia, ao Estado, o aumento de sua legitimidade.
Porém, a criação de uma “imagem de ação” nem sempre era feita por declarações fortes do Estado. Por exemplo: durante a Era Vargas, a “imagem de ação” foi sustentada por meio da organização do sistema educacional. Em seguida, no período de redemocratização, a “imagem de ação” foi transmitida por intermédio da notável expansão da educação. Na época do regime militar, a “imagem de ação” do Estado foi reafirmada pelo aumento de legislações destinadas à educação.
Com o advento da Nova República, o Estado tentou criar uma “imagem de ação” por meio do aumento de políticas educacionais destinadas às classes sociais mais necessitadas. No breve governo Collor, o Estado se interessou em criar uma “imagem de ação” reformista, com uma agenda social da educação. Em suma, a procura de legitimidade era relacionada com a criação de uma “imagem de ação” do Estado.
Porém, a maioria das políticas anunciadas não era efetivada, ao menos totalmente. De fato, o Estado não formulou planos de longo prazo para a área de educação. Pelo contrário, a necessidade de o Estado buscar legitimidade fez com que ele formulasse políticas para resolver problemas imediatos na educação básica, tais como campanhas de alfabetização, educação de adultos, criação de escolas rurais, projetos de extensão da educação básica, e debate sobre a complexa Lei nº 5.692/71.
Essas e outras estratégias ajudaram o Estado a retardar mudanças, evitar conflito e melhorar sua legitimidade com declarações oficiais. Assim ele criou uma “imagem de ação” por meio de estratégias que passavam a impressão de sua capacidade e autonomia. Sérios problemas, tais como a falta de coerência dentro do Estado, foi algo que não o preocupou durante o período examinado. Tal problema permaneceu escondido do público durante a maior parte do período e foi tratado de modo inadequado nos anos 1990, embora o Estado conhecesse o problema desde 1930. O Estado central atribuiu a má gestão e a corrupção na área educacional aos níveis locais da educação. A centralização, ao nível federal, era o corolário da falta de autonomia nos níveis locais.
Em resumo, essas e outras dificuldades examinadas comprometeram a habilidade do Estado como ator na educação elementar brasileira. O trabalho citado também conclui que suficientes recursos financeiros, ação corporativa dentro do Estado, livre da influência de grupos de interesse, são condições essenciais para a autonomia e a capacidade do Estado como ator efetivo, e que essas condições não estavam presentes no setor educacional do Estado durante o período examinado no trabalho.
Este resumo se justifica pela crença que possa suscitar argumentos sobre a atual situação da educação brasileira, principalmente no que tange à sua qualidade, problema que permanece sem solução. Análises e considerações existentes no citado trabalho mostram outras facetas do problema examinado. Talvez seja hora de novos pioneiros da educação lançarem novo manifesto dirigido ao governo e ao povo. Talvez, desta feita, educadores possam ter o sucesso que nossos antecessores procuraram, durante um século, mas não conseguiram.
Fonte: Correio Braziliense (DF)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O perfil do bom professor


Cursar uma boa faculdade basta para ser um bom professor? Como fazer uso de todas as metodologias e conteúdos aprendidos? Como conseguir se aproximar dos alunos? Como ensinar e ter certeza de que as crianças aprenderam?
Todas essas questões incomodam (ou deveriam incomodar) o dia a dia dos cerca de 2 milhões de professores brasileiros. E também deveriam estar presentes na reflexão dos estudantes de Pedagogia e das licenciaturas, os futuros docentes.
Nesta reportagem, o Todos Pela Educação ouviu especialistas em formação docente na tentativa de detectar quais são as principais qualidades necessárias a um docente de Educação Básica. 

Didática
Saber o que ensinar é um dos fundamentos da profissão de um bom docente. O conhecimento do currículo e do projeto pedagógico da escola, bem como dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e das Diretrizes Curriculares Nacionais, são necessários para dar uma boa aula. “O domínio pleno do conteúdo a ser transmitido mostra que o professor tem competência na área na qual se formou”, explica Célio da Cunha, professor adjunto na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).
Sabe como ensinar é igualmente importante. Se o professor não conhecer as diferentes estratégias e metodologias de ensino, de nada adianta dominar a teoria. De acordo com os especialistas, desenvolver estratégias para facilitar a aprendizagem, assim como ter profundo conhecimento de como ocorre o desenvolvimento cognitivo das crianças, fazem parte das ações dos bons professores.
“O docente deve saber criar oportunidades para o aluno aprender com todas as ferramentas de ensino, sejam velhas ou novas”, afirma Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
Os especialistas ressaltam que o conhecimento do conteúdo e das metodologias de ensino está diretamente ligado a uma formação inicial sólida. “Com uma boa formação, o professor aprende a combinar teoria e prática. Isso significa que ele dominou os conteúdos e sabe como funciona o processo de aprendizagem dos alunos”, explica Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemman.
As novas tecnologias, por exemplo, só fazem sentido se o professor sabe aonde quer chegar e sabe que determinados conteúdos curriculares podem ter sua aprendizagem facilitada por meio do uso desse ou daquele recurso digital. “O bom professor guia os alunos no universo das tecnologias, utilizando diferentes recursos em sala de aula e garantindo que sua exposição faça sentido aos estudantes”, completa Mizne. 

Formação continuada
Para ser professor, não basta gostar de ensinar. Tem que gostar também de aprender – ou seja, de estar sempre atualizado em relação às mais recentes pesquisas sobre como se dá a aprendizagem das crianças e, consequentemente, como ensiná-las da melhor forma. “Um bom professor vai atrás de referenciais que fundamentem seu trabalho. Ele tem que saber estudar”, afirma Cisele Ortiz, coordenadora adjunta do Instituto Avisa Lá.
Estando antenado, o docente conseguirá avaliar seu próprio modo de lecionar. “Uma das características de um bom professor é justamente analisar sua prática de modo crítico”, destaca a doutora em Educação Lisbeth Cordani.

Compromisso com a aprendizagem
Administrar todos e cada um dos alunos de uma mesma turma mostra que o professor tem comprometimento com aprendizado da criança. “O docente deve saber que é direito da criança ter acesso à Educação de qualidade. Isso está na base de tudo – inclusive de seu trabalho”, diz Luciana França Leme, pedagoga e pesquisadora em Educação da Universidade de São Paulo (USP).
É preciso compreender a diversidade presente na sala de aula por meio de uma visão humana dos diferentes perfis de estudante. “Reconhecer e respeitar as diferenças sociais, culturais, étnicas e raciais é muito importante. Existem grupos de crianças historicamente excluídas que estão no sistema de ensino agora – e a escola, por excelência, é onde todos as diferenças se encontram”, define Elba de Sá Barreto, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas.
Demonstrar interesse por ouvir os alunos ajuda a ganhar a confiança deles além criar vínculos. “Gostar de crianças e adolescentes é gostar dos alunos. É preciso gostar do sujeito”, afirma Carlos Artexes Simões, professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ). 

Formação cultural
O bom professor também deve estar sempre atualizado, informado e interessado, buscando cultura e novos conhecimentos. “É aquilo a que chamamos de visão de mundo. O docente deve ser um sujeito engajado na sua realidade, com uma postura crítica e de vontade de conhecer cada vez mais os bens culturais disponíveis”, sintetiza Ricardo Martins, consultor legislativo da Câmara dos Deputados na área de Educação.
“Entender o valor do conhecimento na vida de todos nós é essencial, nos transforma – e isso ninguém tira da gente”, afirma Regina Scarpa, consultora pedagógica da Fundação Victor Civita. “Ser professor, portanto, é desempenhar uma função social, de muita responsabilidade.”
Conhecer o território, o que inclui compreender o perfil da comunidade do entorno da escola também é importante para lidar com os estudantes que a frequentam. “Um olhar focado, atento e sem preconceitos para a realidade que cerca a unidade de ensino ajuda o docente a saber quais as melhores estratégias para lecionar para esses alunos”, afirma Anna Helena Altenfelder, do Cenpec. 

Gestão
Um docente comprometido com seu trabalho também tem uma visão ampla de como funciona o sistema de ensino. “O professor deve ter conhecimento de como a sua escola se insere nesse sistema justamente para saber quais demandas a unidade de ensino deve atender”, destaca Elba de Sá Barreto, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas. “Ele não pode ser considerado um assistente social, mas também não deve estar indiferente a certas necessidades básicas e condições de vida das crianças – mesmo porque tudo isso impacta no aprendizado.”
Saber trabalhar em equipe também aparece como um aspecto relevante no trabalho do professor, o que inclui estabelecer parcerias com outros professores, coordenadores e com o diretor. “Mas isso também vale para a relação com os alunos, já que o docente deve saber trabalhar com o coletivo de crianças e adolescentes todos os dias”, ressalta Gisela Wajskop, diretora geral acadêmica do Instituto Singularidades. 

Avaliação
Saber usar e lidar com avaliações de diferentes tipos é imprescindível, são “termômetros” do aprendizado da turma. Os especialistas destacam que o bom professor deve saber quais as melhores ferramentas para analisar o desempenho de sua turma tanto interna quanto externamente, o que inclui saber ler e utilizar os dados das avaliações em larga escala como a Provinha e a Prova Brasil.
“O professor deve saber articular esses dados, fazendo as informações que ele tem de sua turma conversarem com aquelas que as provas externas revelam”, explica Luciana França Leme, pedagoga da USP. “Isso serve até para ele fazer sua autoavaliação.”
Todos Pela Educação