domingo, 31 de março de 2013

Diretores de escola: qualificação técnica e legitimidade

Foi realizada, ontem, a primeira fase do processo de seleção para diretores e vice-diretores da rede municipal de Ensino e para diretores e coordenadores da rede estadual. O município tomou carona no edital baixado pelo Governo do Estado, sob o argumento de reduzir os custos e aproveitar a estrutura montada pelas autoridades estaduais. O Município preencherá as diretorias de 287 Escolas.
São três fases as fases do processo de seleção: 1) prova objetiva; 2) entrega de documentação comprobatória e avaliação de títulos; 3) Curso de Fundamentação, prova escrita do tipo objetiva e de uma prova de natureza analítico-discursiva, exclusiva para os candidatos ao cargo de diretor Escolar. Somente seis mil serão convocados para a terceira fase, ficando a execução da seleção a cargo da Coordenadoria de Concursos (CCV), da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Há pouca resistência à ideia de que a escolha dos diretores das Escolas públicas deva ser feita com o mínimo de interferência possível de fatores estranhos ao critério objetivo da qualificação dos candidatos e de sua legitimidade.
Indicações por políticos sempre foram uma porta aberta para o fisiologismo. A ideia da seleção pública (não se trata de concurso público, visto que é cargo provisório) para avaliar os requisitos técnicos dos candidatos aos cargos agrada à opinião pública. Isso, porém, não deve excluir a participação da comunidade Escolar na escolha final, pelo voto direto. Só esta pode avaliar a capacidade de liderança do candidato.
Como se viu, o Estado resolveu esse problema fazendo uma rigorosa seleção para compor um Banco de Gestores Escolares. Deste corpo qualificado é que sairão os candidatos a cargos de gestão educacional, que se submeterão à eleição direta pela comunidade Escolar (pais e Professores de cada unidade). Dessa forma, eles não serão apenas tecnocratas, mas líderes: devem aliar a capacidade técnica à capacidade de liderança, sem a qual uma comunidade pode se sentir desmotivada a alcançar as metas propostas. Essa é a forma democrática de agir (que também seria inócua sem a capacitação técnica prévia).
Espera-se que o Município de Fortaleza imite a sabedoria do Estado nesse aspecto, complementando o processo de seleção com a legitimação democrática.

Pais de alunos protestam para evitar transferência

Pais e Alunos da Escola municipal Demócrito Rocha, no bairro Messejana, fizeram manifestação, na manhã ontem, contra a decisão da Secretaria Municipal da Educação (SME) de transferir, temporariamente, os cerca de 700 estudantes para outra unidade Escolar localizada no Tancredo Neves. Além da distância entre a nova Escola e as residências dos estudantes, os pais temem que possíveis conflitos surjam com a presença das crianças na outra comunidade.
“Eles têm um jeito de viver e a gente tem o nosso. A gente não sabe se eles iam concordar”, avalia uma mãe de três Alunos, que O POVO opta por não identificar. O motivo da transferência é a reforma do telhado da Escola, iniciada semana passada. A estrutura de madeira está comprometida por cupins e engenheiros da SME solicitaram a interdição do local, conforme Wilson Silva, diretor da Escola. A reforma deve durar dois meses. O diretor conta que as duas Escolas ficam localizadas em territórios rivais, o que poderia criar conflitos entre as comunidades.
“É muito complicado trabalhar com comunidades diferentes. Tem disputas entre os jovens”, afirma. Após a recusa da maioria dos pais presentes na Escola na manhã de ontem, o diretor avalia com a SME a opção de fazer a reforma por etapas.
Segundo alguns relatos, apenas quando chegaram ao ponto do transporte Escolar, os pais foram informados por um fiscal que a viagem teria destino diferente. “Fui para a parada esperar o transporte. O fiscal foi falando que ia levar direto pro Tancredo. Eu disse que não ia”, relata a estudante do 6º ano. Após a recusa, os motoristas levaram as crianças à Escola Demócrito Rocha.
De acordo o diretor da Escola, a decisão da transferência foi tomada durante o recesso Escolar, o que impossibilitou o repasse da informação a todos. Os pais se reuniram na quadra da Escola e fizeram um abaixo-assinado, entregue a um representante do Distrito de Educação da Regional VI que compareceu à Escola.
Segundo a assessoria da SME, os Alunos da Escola Demócrito Rocha não vão ser mais transferidos. Um técnico foi enviado ao colégio ontem e, em conversa com os pais, foi decidido que todos os estudantes terão aulas na parte que já está reformada. 70% da obra já está concluída.
Fonte: O Povo (CE)

sábado, 30 de março de 2013

Mostrando a Língua - 75

Salve, gente!
Pois hoje, atendendo a duas dúvidas das queridas diqueiras MÁRCIA e ALINE PÓVOA ( mãe e filhota, antenadíssimas), temos a seguinte consulta feita pelo WhatApp ( chique, né, meu povo?)
1- Qual a diferença entre DIGITAR e DIGITALIZAR? ( essa é de Marcia)
2- E a diferença entre PROTOCOLAR e PROTOCOLIZAR? ( a de Aline)
Vamos à 1ª pergunta: as palavras DIGITAR e DIGITALIZAR são muito semelhantes, mas têm sentidos diferentes.
DIGITAR é escrever ou copiar um texto, por exemplo, usando o teclado do computador ( estou digitando, agora);
DIGITALIZAR é converter uma informação (em formato analógico) para o formato digital. Escanear uma imagem ou texto é uma forma de DIGITALIZAR.
Ou seja, uma palavra NÃO PODE SER EMPREGADA pela outra.
Vamos para a 2ª pergunta: sobre PROTOCOLAR e PROTOCOLIZAR, tanto faz! No passado, PROTOCOLIZAR era somente 'registrar em protocolo' ( Os documentos foram PROTOCOLIZADOS) e PROTOCOLAR era apenas um adjetivo ( Cumpriu a exigência PROTOCOLAR).
Hoje, uma palavra se transformou em sinônimo da outra e permite, portanto, o uso:
Vou PROTOCOLAR ou PROTOCOLIZAR meus documentos.
É isso, gente!
Até quarta, 3 de abril, pós Páscoa e que tenhamos TEMPO PARA VIVER O ESSENCIAL!
Abçs pascoalinos da Edinalda

Reflexões sobre a relação família-escola

 
Uma das questões que afligem pais e Educadores é sobre como deve ser a atuação dos pais em relação à Escola em que os filhos estudam. Primeiramente, é preciso ter claro que, por mais que a Escola seja privada e os pais paguem mensalidades, a relação que eles devem desenvolver com a mesma não é a de cliente. Dito de outro modo, até existe uma relação de “compra de um serviço”, mas ela se estabelece entre os pais e a mantenedora da Escola, e não entre pais e Professores, ou pais e o setor de pedagogia da Escola.
As questões relativas ao modo como a criança aprende, como se desenvolve, bem como qual tem sido a ação da Escola nesse processo precisam ser tomadas com base no ponto de vista de ambos – pais e Escola – e têm um objetivo em comum: favorecer o desenvolvimento integral da criança. Por isso, é essencial que ambos os lados busquem compreender as necessidades, motivações e problemas enfrentados pelo outro.
Vamos exemplificar: sem conversar com a Professora do filho e compreender a situação da turma também do ponto de vista dela, os pais podem se deixar levar por uma percepção parcial, tomando-a como verdade absoluta, o que geralmente não é correto. Por outro lado, também a Escola precisa ver os pais como parceiros e lhes explicar como é o trabalho desenvolvido. Quando os pais sabem o que é feito e por que é feito, é muito mais fácil que comprem a ideia e contribuam para o sucesso da aprendizagem dos filhos. Por isso, pais não são apenas aqueles que acompanham as tarefas de casa ou dão bronca quando as notas são baixas. Eles devem ser vistos como parceiros no processo educativo.
Por isso, é de extrema importância refletir sobre o papel da Escola e da família. Os pais precisam questionar em que medida conhecem a proposta pedagógica da Escola e sempre buscar saber o que foi ensinado, como foi o dia na Escola, supervisionar as lições de casa, ler atentamente os comunicados da Escola com real interesse em compreendê-los, bem como ver os Professores como parceiros na Educação – além de, claro, confiar na instituição escolhida para o aprendizado do filho.
Por sua vez, a Escola precisa dar um espaço real de participação aos pais e não apenas colocá-los no papel de quem deve somente educar as crianças e cobrar as lições de casa, sem os deixar a par de como se trabalha na instituição, de como é cada fase do desenvolvimento e como as crianças estão agindo.
Os pais e os Educadores devem ter uma relação de parceria. Só assim a Educação será completa.
Inge R. F. Suhr, coordenadora pedagógica, in: Fonte: Gazeta do Povo

sexta-feira, 29 de março de 2013

Ensino de música eleva desempenho escolar, diz estudo

Um estudo recente conduzido pelo departamento de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com o Instituto ABCD, que ajuda na identificação e tratamento de distúrbios de aprendizagem, encontrou evidências de que o ensino de música tem efeito positivo no desempenho acadêmico de crianças e adolescentes, além de melhorar suas habilidades de leitura. A pesquisa é a primeira no mundo a mensurar esse impacto. Os resultados serão publicados neste mês no periódico científico PLoS One.
De acordo com o pesquisador Hugo Cogo Moreira, pós-doutorando da Unifesp e autor da pesquisa, as investigações sobre o tema realizadas até hoje se restringem a teorias que explicam por que a música afeta o desenvolvimento intelectual de crianças em idade escolar. "Nunca, porém, essas teorias foram testadas dentro da sala de aula. Por isso, tudo o que tínhamos até agora era puramente teórico. Essa falta de evidências me levou a encabeçar o primeiro estudo clínico sobre o assunto."
Para a pesquisa, Moreira selecionou dez escolas da rede pública de São Paulo. Em cada uma delas, participaram do experimento 27 estudantes com idades entre 8 e 10 anos que comprovadamente apresentavam dificuldades de leitura. As instituições foram então separadas em dois grupos: o primeiro, chamado intervenção, recebeu aulas de música três vezes por semana durante cinco meses; o segundo, chamado controle, não recebeu nenhum tipo de atenção especial. A função do segundo grupo é servir de base para comparação.
Nas escolas do primeiro grupo, as aulas foram ministradas por dois professores. A preocupação era garantir que as lições não seriam interrompidas – quando um professor faltava, havia outro profissional de plantão. Os docentes também foram avaliados a cada 15 dias pela equipe da Unifesp para garantir que as aulas seguiam os mesmos padrões em todas as escolas, evitando assim que um determinado grupo de alunos fosse privilegiado ou prejudicado involuntariamente. Em sala, as crianças foram estimuladas a compor, cantar, improvisar e fazer exercícios rítmicos utilizando uma flauta doce barroca, principal instrumento usado na pesquisa.
Ao fim da investigação, foram feitas duas análises dos dados. Na primeira, as crianças que tiveram aulas de música foram comparadas àquelas que estavam nas escolas-intervenção mas que não compareceram a nenhuma aula. Os alunos que assistiram a todas as aulas foram capazes de ler corretamente, em média, 14 palavras a mais por minuto, demostrando maior fluência. Além disso, foi constatado que, a cada bimestre, a nota final na disciplina de português dessas mesmas crianças aumentou em média 0,77 ponto, o que significa mais de 3 pontos ao fim de um ano letivo. Em matemática, o crescimento registrado foi um pouco inferior, mas igualmente significativo: 0,49 ponto a cada bimestre, ou 1,9 ponto ao fim do ano.
Na segunda análise conduzida por Moreira, o estudo comparou as crianças das escolas-intervenção com as das unidades-controle. Os resultados foram menos expressivos do que os da primeira análise, mas apontaram igualmente para uma melhora no desempenho acadêmico. As notas de matemática e de português subiram, respectivamente, 0,25 e 0,21 ponto por bimestre, ou 1 e 0,8 ponto até o fim do ano letivo. Houve melhora também no tocante à leitura: as crianças do primeiro grupo leram corretamente 2,5 palavras a mais por minuto. "Por se tratar de um estudo pioneiro, ele não é conclusivo em relação ao impacto real das aulas de música, mas certamente oferece indícios fortes o suficiente para que novas pesquisas investiguem a fundo o tema", diz o pesquisador.
De acordo com a lei nº 11.769, todas as escolas públicas e privadas do Brasil devem incluir o ensino de música em sua grade curricular. A lei não precisa, contudo, se as aulas devem ser dadas em todas as séries ou como devem ser incluídas na rotina escolar. Também não há informação sobre a carga horária mínima.
Apesar das evidências de que o conteúdo musical pode ter um impacto positivo no desempenho acadêmico dos alunos, os especialistas alertam: antes de inchar o currículo acadêmico com novas disciplinas, é preciso garantir que o aprendizado das disciplinas essenciais – o que ainda não acontece no Brasil.
Fonte: Veja.com

quinta-feira, 28 de março de 2013

Lições para dar um salto

Os últimos termômetros da qualidade do Ensino têm sinalizado um lento, mas persistente, avanço no Brasil. Por isso chamou tanta atenção um novo relatório da ONG Todos Pela Educação, que mede, ano a ano, o progresso na sala de aula de Escolas públicas em todo o território brasileiro. O documento fez soar um alerta: desde 2008 quando a ONG fincou metas para a Educação e passou a vigiá-las de perto, é a primeira vez que se flagrou uma piora — justamente no já tão combalido Ensino médio. Mas houve um grupo que passou ao largo do atoleiro de notas vermelhas, e o fez de forma tão enfática que mereceu destaque em uma lista à parte, à qual VEJA teve acesso. Desse panteão emergiram 161 municípios — os únicos entre os 5500 no país — que cravaram 100% das metas em todas as séries avaliadas desde o marco zero da aferição. Ao contrário do que alguns poderiam supor, seu inesperado sucesso não se deve a um aporte fenomenal de verbas. Em certos casos, vê-se inclusive o oposto: um elevado padrão acadêmico disseminando-se em ambientes muito simples e repletos de precariedades.
O que aproxima esse conjunto de municípios, antes de tudo, é um hábito pouco arraigado na cultura brasileira — o de não descontinuar as políticas para a sala de aula. É algo de valor inestimável na Educação, área em que os resultados levam décadas para aparecer. O grupo dos invictos no novo ranking também vem aplicando com boa dose de disciplina a cartilha da meritocracia, conseguindo rastrear e premiar as Escolas que destoam da média. Isso ajuda a explicar sua proeminência, mas não esclarece tudo. Um dos fatores cruciais para seu bom desempenho passa por uma prática menos visível, que essas redes de Ensino vêm semeando de forma pioneira no Brasil: a de usar o resultado das grandes radiografias do Ensino de forma muito concreta, atacando as deficiências apontadas, em vez de deixá-las restritas ao campo das análises teóricas — como é mais comum. “De diagnósticos, estamos cheios. Falta agora começar a usar esses mapas para efetivamente conduzir as aulas, que no Brasil ainda são muito baseadas em modelos antiquados", reforça o economista Cláudio de Moura Castro, articulista de VEJA.
O estado que mais emplacou municípios no rol dos 161 em destaque foi Minas Gerais (com 59 representantes na lista), seguido do Ceará (com quinze) — ambos afeitos à ideia de adotar as avaliações como bússola. Em Minas, a secretaria estadual levou adiante uma iniciativa que, por seus princípios e resultados, merece atenção — o Programa de Intervenção Pedagógica. Com base nas avaliações dos Alunos, um grupo de especialistas formula um detalhado relatório para cada Escola, enfatizando os pontos altos e baixos. A partir daí, traça um plano estratégico para enfrentar os gargalos, junto a Professores e diretores. Esse tão aguardado momento do calendário Escolar mineiro ficou conhecido como “dia D". A equipe que presta essa consultoria também produz cartilhas e manuais e atua na própria sala de aula quando isso se faz necessário. Os avanços recentes são um indício de que o caminho é acertado: a porção de crianças do 3º ano do Ensino fundamental que leem e escrevem como seus colegas de países mais ricos dobrou desde 2007.
Os números trazidos à tona pelo Todos Pela Educação dimensionam o longuíssimo caminho que resta ao Brasil percorrer rumo à excelência mundial. A exceção de uma marginal melhora nas primeiras séries Escolares, nenhuma meta de aprendizado foi alcançada. No Ensino médio, revelou-se que não mais do que 29% dos estudantes detêm o conhecimento desejado da língua portuguesa, o mesmo baixo nível de 2009. A proporção dos que se situam na faixa adequada — isso mesmo, apenas adequada — em matemática é mais acanhada ainda: 10% (resultado pior que o do levantamento anterior, que havia apontado 11 %). Isso significa que os demais 90% ainda ignoram conceitos básicos. Se nada for feito para acelerar o passo, o plano de deixar a rabeira e aproximar-se do patamar dos países mais desenvolvidos até 2022 ficará somente na esfera das boas intenções. “O resultado é contundente. Estamos nos distanciando da meta”, alerta Priscila Cruz, diretora executiva da ONG. Depreender o que há de melhor no exemplo daqueles que conseguiram se destacar da zona da mediocridade pode ser um bom começo para recuperar o tempo perdido e dar o necessário salto de qualidade.
Fonte: Revista Veja

quarta-feira, 27 de março de 2013

Modelo de Educação escolar deve ser questionado, diz pesquisador da USP

Diversos problemas da educação, como as doenças e a deserção de professores, podem ser causados pela própria estrutura da escola. Essa é a ideia que sintetiza o conceito de "abolicionismo escolar", criado pelo pesquisador Danilo Alexandre Ferreira de Camargo, mestre pela Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo).
A escola, segundo sua análise, é uma ferramenta do Estado para gerenciar as populações urbanas – da mesma forma que o manicômio, a polícia, a prisão e o hospital, baseado no filósofo francês Michel Foucault.
Ele esclarece não ter respostas para os problemas, porém aponta que o formato da educação baseado na escola deve ser questionado. "Não tenho a solução para os problemas escolares, mas diria que devemos começar a duvidar das soluções escolares que são vendidas todos os dias com as mais diversas intenções e pelos preços mais variados", completa.
Confira a entrevista a seguir.
UOL Educação - Como você imagina a educação sem a escola?
Camargo - A minha pergunta é: por que temos tanta dificuldade em imaginar uma educação sem escola? Por que, na maioria das vezes, imaginamos que sem escolas o nosso universo social entraria em colapso? Por que a escola se tornou esse limite cognitivo para pensarmos a educação e a própria sociedade?

UOL Educação – Quais características da escola tornam sua rotina "insuportável", do seu ponto de vista? Isso sempre fez parte da vida escolar?
Camargo - É preciso chamar atenção para o fato de que, do século 19 ao início do século 21, nenhuma reforma educacional, teorizada ou praticada, modificou substancialmente a rotina do cotidiano escolar no que tange ao sequestro dos corpos infantis e ao controle rigoroso do espaço e do tempo a que estão submetidos todos aqueles que são escolarizados.
Apesar das aparentes modificações ao longo do tempo (da palmatória ao palmtop), a escola é uma instituição que parece conservar sua essência já há muito naturalizada: todos os dias, uma legião de crianças, dotadas de um número de matrícula, um uniforme, um caderno de notas, são confinadas por algumas (ou muitas) horas no interior de salas de aula, sob a supervisão de um professor, para que possam ocupar o tempo e aprender alguma coisa, pouco importa a variação moral dos conteúdos e das estratégias didático-metodológicas de ensino.
O que realmente está em jogo nessa reclusão diária não é tanto a aprendizagem, mas a forma pela qual é produzida uma específica forma de vida: o sujeito escolar.
No caso específico da minha investigação, tentei demonstrar que a recente "epidemia" de doenças ocupacionais é a manifestação atual desse velho problema da insuportabilidade da rotina escolar. Por que se suporta esse insuportável? Por que queremos que as pessoas que lá estão – alunos, professores, funcionários – vivenciem esse insuportável de uma maneira ética, criativa, eficiente?

UOL Educação - No Brasil, houve rejeição do projeto de lei que regulamentaria o ensino domiciliar, em 2011. A que se atribui essa decisão?
Camargo - Uma educação não escolar é um grande tabu para as nossas sociedades modernas e industriais. Isso porque a instituição escolar é vista como um espaço necessário de transição entre o universo privado da família e a esfera pública da política. Além disso, no Brasil, a escolarização massiva da população é um fenômeno recente e incompleto e, por isso mesmo, a recusa à obrigatoriedade da escola ainda é vista como uma ameaça ao desenvolvimento do Estado e à inserção dos contingentes populacionais ao sistema produtivo.
Contudo, não é difícil prever que o questionamento deste "direito à escola", que na verdade é uma obrigação legal, tende a ser cada vez mais frequente nas próximas décadas.

UOL Educação - Quais seriam os indícios de que o sistema escolar esteja "em vias de explodir", como você diz em sua pesquisa?
Camargo – A minha hipótese geral de trabalho era a de que os problemas clássicos do universo escolar, tais como a indisciplina, a evasão e até mesmo a violência são respostas políticas [à crise da escola].
As rachaduras da hegemonia da escola se apresentam nas tragédias que cotidianamente suspendem, ainda que temporariamente, a ordem escolar. Daí o meu interesse em estudar o fastio, a patologização e a criminalização dos professores e dos alunos. Quando o insuportável da escola não puder mais ser administrado pelas ciências do Estado algo acontecerá: talvez uma explosão, como previa Foucault, talvez apenas o desaparecimento gradual e silencioso dessa tecnologia de governo da infância.

UOL Educação - A escola, como instituição, estaria atualmente "agonizante"? Ela não estaria mais dando conta de tornar as crianças "contemporâneas de seu próprio tempo", como você coloca?
Camargo - A queixa mais recorrente é essa: a escola está agonizante, a escola está em crise etc. Antes de qualquer coisa, é preciso reconhecer que as mazelas da escola são muito rentáveis e parecem se proliferar na mesma medida em que proliferam os diagnósticos e os prognósticos para uma possível cura.
É o grande paradoxo da estrutura escolar: criticamos quase tudo o que se passa na escola (os alunos, os professores, os conteúdos, os gestores, os políticos) e, ao mesmo tempo, desejamos mais escolas, mais professores, mais alunos, mais conteúdos e disciplinas.
Da minha perspectiva, não se trata de agonia da estrutura escolar. A ideia é exatamente o contrário. A minha questão é: será possível não mais tentar resolver os problemas da escola, mas compreender a existência da escola como um grave problema político?

UOL Educação - Essa "escola" de que fala também inclui a universidade? Que tipo de formato de educação substituiria o ensino superior?
Camargo - Se pararmos para pensar nas mudanças ocorridas na última década, sobretudo ao que se refere à produção e ao compartilhamento de informações, não é difícil imaginarmos que a vida universitária tal qual a conhecemos, como seus doutores catedráticos, seus arcaicos rituais de fala, sua estrutura de poder centralizada e sua forma específica de legitimação da nossa ordem social a partir de títulos acadêmicos, não sobreviverá até o fim deste século.

UOL Educação - Por fim, você questiona se o desaparecimento da escola não seria a "morte" do homem moderno. O fim da escola significaria também o início de um novo formato de sociedade?
Camargo - Há muito tempo especula-se sobre tal morte e ela é sempre adiada. O que gostaria de enfatizar é que ninguém pode dizer como será a sociedade sem escolas, mas acredito que num futuro não tão distantes as pessoas já não conseguirão imaginar como eram as sociedades com escolas.
E antes que me pergunte qual a solução para os impasses atuais da escola: eu diria que devemos começar a duvidar das soluções escolares que são vendidas todos os dias com as mais diversas intenções e pelos preços mais variados.
Fonte: UOL Educação

terça-feira, 26 de março de 2013

Educação domiciliar ou formal?

Educar as crianças em casa (homeschooling) ou na Escola formal? Apesar de não tratar do mesmo tema, a recente e constante discussão sobre como educar os filhos em dias atuais leva-me a outra questão: o que é mais importante, ser honesto ou parecer honesto? Para essa, respondo sempre que a pergunta está errada, pois de nada adianta ser e não parecer, ou parecer e não ser.
Já no caso dos pais que têm dúvidas sobre a Educação de seus filhos, acredito ser esse um problema por parte mais dos adultos de hoje em relação à preparação da próxima geração do que de uma verdadeira discussão sobre o papel de cada instituição, no caso a família e a Escola. Enquanto a família argumenta ter o direito de fazer o que quiser com a Educação do seu filho, por acreditar que a Escola nada acrescenta e achar que pode fazer esse papel de Educador, do outro lado vejo uma boa defesa legal, pois existem leis que estabelecem direitos, obrigações etc.
Assim como na pergunta sobre ser ou parecer honesto, a questão “Educação domiciliar ou formal”, no meu ponto de vista, também está errada. Como Educador há mais de 25 anos e pai há quase 30, tenho certeza de que família e Escola devem em conjunto dar as condições para o desenvolvimento saudável e autônomo da criança para que ela tenha uma vida adulta saudável e produtiva – e, nesse quesito, nem a família nem a Escola podem agir sozinhas.
Evidentemente podemos ter casos isolados e pontuais de famílias que conseguem bons resultados. Mas, seguramente, esses não podem ser tratados como exemplos a ser seguidos e replicados nem pelo Estado nem pela sociedade, pois é a boa e velha Escola formal que ainda tem as melhores condições técnicas para identificar as potencialidades e caminhos para a formação da próxima geração.
Ademar Batista Pereira, presidente FEPEsul, in: Gazeta do Povo (PR)

segunda-feira, 25 de março de 2013

Câmara aprova prazo para professor da Educação Básica concluir graduação

A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (12) a proposta que fixa prazo de seis anos para os professores da educação básica com formação em nível médio concluírem o curso de licenciatura de graduação plena. O texto é um substitutivo do Senado ao Projeto de Lei 5395/09, do Executivo, e será enviado à presidente Dilma Rousseff para sanção.
O prazo de seis anos contará da posse em cargo de docente na rede pública de ensino e será válido para os professores com nível médio na modalidade normal (sem curso técnico). A proposta também prevê exceção à exigência de curso superior para os professores com ensino médio, na modalidade normal, que já estejam trabalhando, na rede pública, em creches, na pré-escola e nos anos iniciais do ensino fundamental quando da publicação da futura lei.
Caberá à União, aos estados e aos municípios adotar mecanismos para facilitar o acesso e a permanência dos professores da educação básica pública nos cursos superiores. Um dos incentivos será a concessão de bolsa de iniciação à docência.

Diretrizes Básicas
O texto aprovado altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9.394/96), cuja redação será adequada à Lei do Fundeb (11.494/07), que estende a educação obrigatória e gratuita dos 5 aos 15 anos para 4 a 17 anos.
O projeto original do Executivo tratava apenas de dois pontos: exigência de formação superior para docentes que atuam na educação básica, exceto na educação infantil; e exigência de nota mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como pré-requisito para ingresso em cursos de graduação para formação de docentes. Esse pré-requisito continuou no texto.
Uma das novidades em relação ao texto anteriormente aprovado pela Câmara é a imposição de regras comuns à educação infantil: carga horária mínima anual de 800 horas, distribuída em um mínimo de 200 dias de trabalho; atendimento à criança dentro de um mínimo de quatro horas para o turno parcial e sete horas para o integral; controle de frequência na pré-escola (60% de comparecimento); e expedição de documentação que permita atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.

Atendimento especializado
O substitutivo aprovado também amplia o conceito de alunos especiais. Além daqueles com deficiência, já contemplados, são incluídos aqueles com transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Eles deverão contar com atendimento educacional especializado em todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino.
O texto aprovado prevê, ainda, a realização de recenseamento anual de crianças e adolescentes em idade escolar, assim como de jovens e adultos que não concluíram a educação básica. A pesquisa prevista na lei era restrita ao ensino fundamental.
Fonte: O Globo Online

domingo, 24 de março de 2013

Evasão escolar é consequência

Durante a cerimônia de lançamento da Semana, o ministro Alexandre Padilha assinou uma portaria que habilita o GDF ao Projeto Olhar Brasil. A iniciativa prevê ações voltadas à atenção oftalmológica e ao tratamento integral nessa área. O objetivo é reforçar o atendimento a estudantes que apresentarem problemas de visão.
Os problemas de visão se destacam como uma das principais causas da evasão Escolar e da dificuldade de aprendizagem. Dados da Pesquisa Nacional de Orçamentos Familiares de 2008/2009 revelam que a obesidade aumentou nas últimas décadas. Nas crianças de 5 a 9 anos, os casos saltaram de 4,1% para 16,6% entre os meninos, e de 2,4% par 11,8% entre as meninas.
Nos adolescentes, o índice passou de 3,7% para 21,7%. "Os médicos vão examinar individualmente os estudantes e encaminhar aqueles que precisarem de algum tratamento ocular. Se uma criança necessitar de óculos, o governo vai custear", explicou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. "Aqui no DF, vamos mobilizar unidades móveis para facilitar o atendimento", adiantou o governador Agnelo Queiroz.
Fonte: Jornal de Brasíilia (DF)

sábado, 23 de março de 2013

'Educação de qualidade se faz em rede', diz educador

Dados divulgados na quarta-feira pela ONG Todos Pela Educação mostram que o Brasil ainda está longe de garantir educação de qualidade a todos os seus estudantes. Segundo o levantamento, relativo a 2011, a cada cem alunos da rede pública, apenas 12 aprenderam o esperado ao fim do ensino fundamental. Para ajudar a reverter essa situação, o educador João Batista Araujo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, criou o prêmio Prefeito Nota 10, que vai identificar e recompensar o município que conseguir assegurar que a maioria de seus estudantes esteja de fato aprendendo. "Quero ajudar na conscientização de que todas as escolas precisam oferecer a mesma qualidade, não importa se estão na periferia ou no centro da cidade. Todos os alunos precisam aprender", diz. O prêmio, no valor de 200.000 reais, só será concedido a partir de 2014, quando poderão ser computados os resultados da Prova Brasil 2013. Mas uma série de reportagens publicadas pelo site de VEJA nesta semana mostrou a cidade que sairia vencedora caso a premiação fosse realizada neste ano: Novo Horizonte, no interior de São Paulo. "O que mais me chamou atenção foi o comprometimento desse município com a equidade", observa Oliveira. Na entrevista a seguir, o educador fala sobre a iniciativa e os desafios do Brasil na área da educação.
De onde surgiu a ideia do prêmio Prefeito Nota 10? Sempre que são divulgados os índices educacionais, como Ideb e Enem, as atenções se voltam para a melhor escola do país ou da cidade. As pessoas não entenderam ainda que a função do governo não é colocar de pé uma escola excelente. Ele precisa colocar a rede toda para funcionar. Caso contrário, as famílias ficam sujeitas ao acaso na hora de matricular seus filhos: se os pais tiverem sorte, conseguem vaga na escola-modelo. Se não, terão de se contentar com as outras escolas ruins da cidade.
Para vencer o prêmio, o município precisa oferecer educação de qualidade para o maior número de alunos. Sim. Quero ajudar na conscientização de que todas as escolas precisam oferecer a mesma qualidade, não importa se estão na periferia ou no centro da cidade. Todos os alunos precisam aprender, sem exceção. Educação se faz em rede – eis uma lição que ainda precisa ser aprendida.
Por que o prêmio será destinado exclusivamente às redes municipais de educação? O ensino fundamental precisa ter um dono, e esse dono deve ser o município. Hoje, cerca de 70% das escolas de 1º a 5º ano já estão na mão das cidades, mas apenas a metade das de 6º a 9º ano são municipais. O estado ainda tem uma participação alta, o que considero nocivo. Por isso, o prêmio vai incentivar o que chamamos de municipalização da educação fundamental. De qualquer forma, o governador do estado do município vencedor receberá uma menção honrosa.
Por que a municipalização é importante? É mais fácil estabelecer um padrão de qualidade quando a rede tem um único dono. É preferível que esse dono seja o município, porque o cidadão está mais próximo da prefeitura do que do estado. Ele precisa saber de quem cobrar quando não encontra educação de qualidade. Além disso, está na Constituição que as cidades são responsáveis por essa etapa da educação.
A pedido de VEJA.com, a organização do prêmio analisou os dados da Prova Brasil 2011 para identificar quem seria o vencedor do prêmio, caso ele fosse concedido agora. Nenhuma cidade atingiu o patamar exigido: Novo Horizonte foi apenas o município que mais se aproximou da marca. Isso o surpreendeu? Esse resultado, apesar de terrível do ponto de vista da educação, não chega a surpreender. Por isso, desde o começo, deixamos claro no regulamento que, caso nenhum município atinja as metas propostas, será premiado aquele que mais se aproximar delas. É interessante observar também que nos anos iniciais do ensino fundamental (1º a 5º ano) os resultados chegam bem perto do satisfatório, mas nos anos finais (6º a 9º ano) eles ainda estão muito distantes do ideal.
Novo Horizonte (SP) é uma cidade de pouco mais de 37.000 habitantes, com apenas cinco escolas na rede municipal. É mais fácil garantir qualidade em circunstâncias como essas? Não há nenhuma pesquisa que prove, empiricamente, que é mais fácil garantir equidade em redes pequenas. O senso comum pode até nos dizer que sim, mas se fosse tão fácil assim administrar bem redes pequenas toda cidade de porte semelhante ao de Novo Horizonte teria educação de qualidade. E sabemos muito bem que não é isso que acontece. E, se pensarmos bem, redes maiores têm mais recursos financeiros e humanos, o que em teoria facilita a gestão. Então, o fato desse município ser pequeno não tira seu mérito.
Outro fato chama a atenção em Novo Horizonte: o secretário de Educação está há 12 anos no cargo, "sobrevivendo" a dois prefeitos diferentes. Essa continuidade é essencial para o sucesso? Mais importante do que manter uma única pessoa à frente da secretaria de ensino é garantir a continuidade de políticas públicas bem-sucedidas. De nada adiantaria esse senhor se manter tanto tempo no cargo se o trabalho que ele realiza fosse de má qualidade. Perpetuar o que é ruim não leva a nada.
Qual o perfil ideal de um secretário de Educação? Precisa ser uma pessoa com perfil gerencial, com competência para planejar. Não vejo a necessidade de ser um pedagogo ou um administrador, por exemplo. Independente da formação, precisa demonstrar habilidades de negociação. É preciso lembrar que esse é um cargo político. Por isso, o secretário deve ter uma boa articulação, pois precisará lidar com vários grupos. E, acima de tudo, tem que se cercar de pessoas competentes, que saibam fazer bem o que ele não sabe ou não pode fazer.
Que iniciativas vistas em Novo Horizonte devem servir de exemplo para todas as cidades? O que mais me chamou atenção foi o comprometimento desse município com a equidade. O secretário demonstrou ter clareza de que todas as suas escolas precisam seguir o mesmo passo. Desde o início, ele se preocupou em estabelecer um padrão para todas elas. Isso é pensar em rede.
Fonte: Veja.com

sexta-feira, 22 de março de 2013

Escola renovada

É sabido que, durante os primeiros séculos de vida, o nosso país tinha características coloniais, impostas pelo domínio de Portugal. A partir de 1808, com a vinda de D. João VI e sua corte, vivemos o princípio da evolução cultural, com obras como a Biblioteca Nacional, o Observatório Nacional, a Academia de Guardas-Marinha e tantas outras instituições que foram fundamentais para o deslanche do nosso desenvolvimento.
Nada disso poderia ter acontecido sem a primazia do conceito de alta gestão. Como hoje se cobra inclusive dos jovens administradores brasileiros, que vivem não mais a realidade de um país autoritário e totalmente injusto. O que temos é uma democracia de massa, com forte presença (inusitada) da classe média. Já são mais de 30 milhões de brasileiros que subiram de categoria, para a emergente sociedade de consumo.
Com inovações semânticas, como as palavras globalização, sustentabilidade, profissionalização, novas mídias e, sem ser redundante, a prioritária Educação ambiental.
É impossível alcançar resultados apreciáveis, no progresso brasileiro, se não tivermos, costurando tudo, uma Educação de qualidade. Concordamos com a tese de que o problema não se resume a aumentar a aplicação do PIB em Educação (para 10%, como querem muitos).
Ou pagar melhor aos Professores. Seria uma simplificação. Pagar melhor sempre trará resultados, sobretudo se a medida for acompanhada de outras providências essenciais, como formar adequadamente os mestres, oferecendo-lhes concomitantemente um treinamento moderno e marcado pela inovação.
É tudo o que não fazem os nossos cursos de formação de Professores, envelhecidos por práticas ultrapassadas e desligadas da realidade mutante. A alta gestão começa numa Escola renovada.
Vivemos um tempo de transição, quando é necessário considerar a existência de novos valores e a presença de crianças que são nativas digitais. As Escolas, até aqui, foram praticamente as únicas provedoras de conteúdo.
Isso hoje foi superado pela existência de uma sofisticada parafernália tecnológica, que veio para ficar.
Além de passar valores aos nossos Alunos, os estabelecimentos de Ensino devem se orientar no sentido de colaborar para a solução de problemas do cotidiano. É uma visão comportamental que se ajusta à Educação moderna.
Fonte: O Globo (RJ)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Ensino não atinge meta

Um dos avanços da Educação no fim do século 20 foi a avaliação do Ensino. Até a década de 1990, vivia-se de achismo. Ninguém sabia ao certo o que os Alunos sabiam. Com a evolução do processo, fixaram-se metas. Uma delas foi traçada pelo Movimento Todos Pela Educação. Baseada em dados do IBGE e do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do MEC, a ONG estabeleceu cinco metas a serem atingidas até 2022 — ano do bicentenário da Independência do Brasil.
São elas: todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos devem estar na Escola; a Alfabetização precisa estar plenamente concluída aos 8 anos; os Alunos têm de dominar o conteúdo da série que frequentam; a conclusão do Ensino médio deve ocorrer até os 19 anos; os investimentos em Educação precisam ser ampliados. Impõe-se, claro, acompanhar a evolução do alvo. A menos de uma década do fim do prazo, o resultado preocupa e exige providências.
A tragédia maior concentra-se na matemática. Só 10,3% dos estudantes das Escolas públicas e privadas concluem o Ensino médio com domínio da matéria. Em bom português: às vésperas de transpor os portões da universidade, 9 em cada 10 jovens são incapazes de resolver questões básicas de cálculo ou álgebra. Pior: o quadro involuiu. Em 2009, o percentual era de 11%, o mesmo de 2005. Depois da estagnação, andamos para trás.
Não é melhor a situação do curso fundamental. Ao completar os nove anos de estudos, os Alunos têm desempenho aquém do esperado. A meta fixou 25,4% de excelência. A realidade bateu nos 16,9%. Minas Gerais marcou um ponto na média geral. Tem, entre os estados, a melhor adequação de aprendizado de matemática nos dois níveis de Ensino. A pior do médio ficou com Alagoas; do fundamental, com o Amapá.
O Ensino médio é o calcanhar de aquiles da Educação nacional. Excesso de matérias, conteúdos voltados para o passado, material didático inadequado, Professores sem estímulo, falta de sintonia com as necessidades do mercado respondem, em boa parte, pela evasão e pelo fracasso Escolar. Não só. Se for levado em conta o desempenho dos Alunos que concluem a 9ª série, entende-se o acúmulo de dificuldades. A moçada carrega, vida afora, o fardo do despreparo do primário malfeito.
Impõe-se levar o problema a sério. Educação tem de ser prioridade não só no discurso — como tem sido ao longo dos anos. Eleição após eleição, candidatos juram atenção plena ao setor. As palavras, porém, se perdem no caminho. Teimam em não tornar-se fatos. Não é por acaso que o país sofre apagão de mão de obra. Passou da hora de mudar. Ninguém precisa inventar a roda. Ela já foi inventada. É só olhar para ver e agir.
Fonte: Correio Braziliense (DF)

quarta-feira, 20 de março de 2013

Mostrando a Língua - 74

Indispensáveis diqueiros,
Como fico chochada quando não consigo enviar a dica da semana!
Mas, tento recuperar o 'furo' com duas, nesta tarde chuvosa.
 
DICA 1: consulta do diqueiro DOUGLAS, colega da UCAM, ex aluno e danado de atento às belezas e percalços da Língua Portuguesa. Eis a 'consulta':

dúvida:
avacalhado vem de vácuo?

Não, caro diqueiro. A palavra AVACALHADO origina-se de VACA, com acréscimo do sufixo -ADO, neste caso, pejorativo. A origem dos 'palavrões' é quase sempre obscura, mas neste caso, os dicionários já registram esta formação, ok?
a+VACA (lha)+ado
Outras formações que vieram do reino animal:
amuado- vem de mu (ou mulo)
emburrada - vem de burro
capricho - vem de ...cabra! (capris, -is- Latim)-no sentido de a pessoa se mostrar teimosa.
 
DICA 2: Mestra,

Tenho uma dúvida que pode, quem sabe, ser objeto de DICA... Rs.
Como explicar a diferença entre os verbos VALORIZAR e VALORAR?
Douglas

É ele mesmo, outra vez! Como VALORIZO suas sugestões!!!!!!!!!!!!!!
Pois bem, Douglas e meus amigos diqueiros:
São vocábulos parecidos na classe gramatical (ambos são verbos); na etimologia (ambos têm origem em 'valor'), mas completamente diferentes no sentido,. Vejam:
VALORAR = atribuir um preço, um valor;
VALORIZAR = reconhecer o valor.
Assim, vale a reflexão: será que somos honestos quando dizemos que VALORIZAMOS alguém ou algo?
grande e fraterno abraço da
Edinalda

Educação reprovada

Criado por Educadores, pesquisadores, empresários e gestores públicos com o objetivo de elevar a qualidade do sistema de Ensino do País, o movimento Todos Pela Educação desenvolveu vários mecanismos de avaliação para saber se as políticas educacionais estão surtindo efeito. Além de identificar Escolas com bom desempenho para verificar se os métodos pedagógicos por elas adotados podem ser disseminados para toda a rede Ensino, o movimento estabeleceu metas de produtividade para 2022, ano do bicentenário da Independência, e periodicamente divulga relatórios sobre a situação de cada uma delas.
Uma das metas prevê que todas as crianças estejam na Escola em 2022. Uma segunda meta estabelece que toda criança esteja alfabetizada até os 8 anos. Uma terceira meta estabelece que todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos estejam matriculados na série mais adequada à sua idade. Uma quarta meta é de que os Alunos concluam as três séries do Ensino médio até os 19 anos. A quinta meta está relacionada aos investimentos e fontes de financiamento do setor educacional.
O objetivo das cinco metas é garantir uma Educação básica de qualidade para toda a população, no ano em que o Brasil comemorar dois séculos de Independência.Elaborado com base em dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do Ministério da Educação (MEC) e do IBGE e intitulado De Olho nas Metas, o último relatório do movimento apresenta mais um retrato desolador da Educação brasileira, especialmente no Ensino médio. Segundo o estudo, 92% das crianças e jovens de 4 a 17 anos estavam estudando em 2011 - a expectativa era de que 94,1% estivessem matriculados. Isso significa que cerca de 3,8 milhões de crianças e jovens se encontravam fora da Escola.O relatório informa que um em cada dez Alunos da terceira série do Ensino médio - a última antes do ingresso na universidade - teve desempenho adequado em matemática em 2011. O resultado ficou muito abaixo da meta prevista pelo Todos Pela Educação para esse ano.
No caso dos estudantes da rede Escolar pública, o quadro é ainda pior: apenas 5,2% sabem o que deveriam de matemática no Ensino médio. Em português, o índice foi de 29,2% - abaixo da meta de 31% prevista pelo movimento. Na 9.ª série do Ensino fundamental, a situação não é muito diferente. Só 16,9% dos estudantes apresentaram nível de aprendizagem adequado em matemática - bem menos do que os 25,4% da meta fixada para 2011. O levantamento também aponta grande variação no desempenho dos Alunos de Estado para Estado. Alagoas e o Maranhão são os Estados com os piores indicadores de desempenho Escolar no Ensino fundamental e no Ensino médio. Minas Gerais e Santa Catarina foram os Estados que mais se destacaram no cumprimento das metas.
O relatório do movimento Todos Pela Educação evidencia as dificuldades que o Brasil enfrenta para se manter entre as maiorias e mais prósperas economias, diante de competidores empenhados em investir em ampliar os investimentos em Educação, ciência e tecnologia. Mostra, também, que um Ensino de má qualidade continua limitando o acesso dos jovens a empregos de qualidade na economia formal e condenando as novas gerações à ignorância. "Isso é uma tristeza. Quer exclusão maior do que Aluno não saber o que deveria ter aprendido? Eles vão ter problemas com emprego e com continuidade do estudo no acesso ao Ensino superior. Ou seja, estamos fazendo um funil. Se o Aluno não aprende matemática, tem uma série de coisas que ele não vai conseguir fazer depois", diz Katia Smole, doutora em Educação.Para os dirigentes do movimento Todos Pela Educação, a falta de um currículo nacional é um dos fatores que têm impedido o Ensino médio de melhorar sua qualidade. Já o MEC alega que está discutindo com as Secretarias Estaduais da Educação medidas para reestruturar esse ciclo de Ensino.
Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)

terça-feira, 19 de março de 2013

Petróleo por Educação

Em meados dos anos 1990, quando o governo de Saddam Hussein sofria as consequências de um embargo econômico internacional, como punição pela Guerra do Golfo, a Organização das Nações Unidas tentou uma maneira de amenizar as sanções para o povo iraquiano. Um programa chamado Petróleo por Comida permitia ao país, dono de uma das maiores reservas de petróleo do mundo, vender um pouco do produto em troca de gêneros de primeira necessidade, como alimentos e remédios. O Brasil não precisa da tutela de nenhum organismo internacional para saber como gastar os recursos que receberá do petróleo.
Mas fará muito bem se vincular essa receita, que em alguns anos pode se tornar muito significativa, à melhoria da Educação. Correta­mente, a presidenta Dilma Rousseff fez essa vinculação quando sancionou, com vetos, a lei que muda os parâmetros de distribuição dos recursos do petróleo.
Com a derrubada dos vetos presidenciais pelo Congresso, na madrugada de quinta-feira 7 (embora o assunto ainda seja objeto de questionamento jurídico), pode cair também a destinação dos recursos à Educação. O Ministério da Educação aguarda a publicação do novo texto da lei para ter certeza de que o dinheiro foi perdido. Mas a impressão geral é de que, com a derrubada do veto, cai também a obrigação de gastar o dinheiro no setor.
Somente neste ano, o Ministério teria um reforço de caixa de R$ 16 bilhões, significativo para um orçamento de R$ 91 bilhões. Do jeito que ficou, a lei prevê 13 destinações para os recursos do petróleo, que, além de Educação, incluem temas tão amplos quanto saúde, segurança, defesa civil e reinserção social dos dependentes químicos.
A destinação exclusiva, além de aumentar os recursos para a Educação, resolvia outro problema: tirava dos municípios a autonomia para gastar esse dinheiro como quisessem. No Rio de Janeiro, as cidades que mais recebem recursos de royalties são as que têm os piores índices de desenvolvimento humano (IDH).
A Educação não é importante apenas para melhorar a qualidade de vida da população. Ela é fundamental também para aumentar a qualificação da mão de obra e, consequentemente, a qualidade da produção brasileira. “Se melhoramos a Educação, melhoramos a capa­cidade de os Alunos apren­derem matemática, eles entram mais preparados na universidade e saem com maior capacidade de fazer inovação nas empresas”, diz o secretário-executivo da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), Naldo Dantas, que ajudou a convencer Dilma a editar a MP de dezembro. Apesar de investir hoje em Educação o equivalente a 5,2% do PIB, o Brasil não vai nada bem nas avaliações internacionais de desempenho dos Alunos.
O Plano Nacional de Educação, em tramitação no Congresso, fala em aplicar 10% do PIB nesta área. O aprimoramento da Educação de base é a condição para melhorar a posição do Brasil em inovação no setor produtivo. E aí, também, o País precisa dar um salto em seu desempenho.
O Brasil investe pouco mais de 1% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, metade do gasto de países como França e Alemanha e um terço da Coreia do Sul, que em uma geração, através dos investimentos maciços em Educação, conseguiu dar um salto e se tornar um país desenvolvido. Se o Congresso derrubou a lei que poderia colocar o Brasil nesse caminho, é dever da sociedade recolocar essa discussão na pauta.
Fonte: Isto É Dinheiro (SP)