sábado, 27 de abril de 2013

"Avaliação precisa ser permanente"


Pouco mais de um mês após o início do ano letivo, um tema polêmico ainda concentra as discussões nas Escolas: a chamada “avaliação emancipatória”, processo implantado pela Secretaria Estadual da Educação que dá chance de recuperação a Alunos do Ensino médio reprovados. O secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo, reconhece que a recuperação precisaria ser feita ao longo do ano, mas defende a aprendizagem como um direito do estudante. Nesta entrevista, concedida em março e complementada na semana passada, Azevedo também aborda o salário dos Professores e outros temas da área.

Zero Hora – No ano passado, o concurso para o magistério teve um índice de aprovação muito baixo. Qual a sua expectativa para o próximo concurso, que chegou a ter mais de 80 mil inscritos (com quase 70 mil inscrições homologadas)?
Jose Clovis de Azevedo – Fico me perguntando, quando se diz que ninguém mais quer ser Professor hoje. Claro que vale a pena. Na minha situação de Professor aposentado, eu vou chegar, no ano que vem, incorporando esses 76% (de reajuste), a um salário de quase R$ 6 mil. Como é que não vale a pena uma carreira em que se chega ao final com um salário de R$ 5 mil, R$ 6 mil. Não vai ficar rico, mas é um salário digno, ainda mais considerando que é uma carreira de massa.

ZH – Recentemente, o Todos Pela Educação divulgou relatório em que aparecem 226 mil crianças fora da Escola no Estado.
Azevedo – Esse número dos 226 mil não é uma responsabilidade exclusiva do Estado. O Ensino fundamental é compartilhado com os municípios, e a Educação infantil é exclusividade dos municípios. No Ensino médio, temos em torno de 50 mil a 60 mil em idade de 15 a 17 anos fora da Escola. Não temos nenhum problema para atender esses Alunos, só que eles não aparecem.

ZH – Por que o Ensino médio não consegue atrair os jovens?
Azevedo – Porque o Ensino médio, e o Ensino em geral, é muito formal, muito fora da vida, fora da realidade. Essa reforma do Ensino médio que estamos fazendo tenta encontrar esse caminho. Só que não basta o Estado fazer uma reforma. É preciso que os Professores, que as Escolas, que as famílias estejam convencidas.

ZH – O senhor conseguiu convencer a comunidade Escolar?
Azevedo – Essas coisas não se conseguem a curto prazo. Os primeiros resultados no Ensino médio se traduzem no grande entusiasmo dos Alunos, que fazem pesquisa, descobrem coisas. Mas não é na mesma proporção que os Professores, com os Professores é mais difícil, mais devagar.

ZH – A avaliação emancipatória está provocando polêmica, e uma das críticas é o fato desse processo de recuperação ter sido feito em março. Não deveria ter ocorrido ao longo de todo o ano passado?
Azevedo – Tem que ser feito ao longo do ano, isso está correto. O processo de avaliação tem que ser permanente e imediato. Se alguém não aprendeu, tenho que saber naquele momento que não aprendeu e criar as condições para que ele avance naquele momento. Só que, enquanto isso não acontecer, nós temos que ter outros mecanismos.

ZH – Mas por que essa recuperação já com o ano letivo rodando?
Azevedo – Se ela não foi conseguida no ano anterior, ela tem que ser conseguida durante o processo.

ZH – E se não for?
Azevedo – O problema é de todos nós. Às vezes, o Professor fala como se ele não tivesse nada a ver com essa situação. Ele é o principal responsável. Alguém vai dizer: “Está dizendo que o Professor é o culpado.” Não existe culpa, existe responsabilidade. Nós, Professores, somos especialistas em ensinar. Quando alguém não aprende, o especialista não está conseguindo cumprir a sua tarefa. O objetivo da Escola não é reprovar, é garantir a aprendizagem.

ZH – Os Professores dizem que são obrigados a passar um Aluno que não foi bem.
Azevedo – Ele não é obrigado a passar, ele é obrigado a recuperar esse Aluno. Pode ser que ele chegue num limite, teve aquele Aluno que não pôde ser recuperado, e ele não vai passar. E aí não é um problema só dele, é um problema da Escola enquanto instituição, ela tem que se movimentar nesse sentido. As pessoas aprendem em ritmos diferentes. E a Escola do século 21 tem que trabalhar nessa perspectiva.

ZH – Fala-se que seria uma forma de diminuir os índices de repetência.
Azevedo – Não tem o menor sentido. Não é isso que vai diminuir substancialmente a repetência, porque vamos continuar tendo, por um bom tempo, um grande número de Alunos que vai ser reprovado em mais de uma área. Agora, o interesse do Professor e da Escola deveria ser de diminuir os índices de repetência. Deveria ser o maior objetivo, não artificialmente, mas pela aprendizagem. A repetência é um fracasso do Aluno, da família, do Professor, da Escola e do secretário de Educação. Eu me sinto atingido. Assim foi quando eu era Professor e hoje sinto da mesma forma.

ZH – Por que a secretaria resolveu ampliar as possibilidades de aprovação este ano, quando Alunos que tiveram nota ruim em mais de uma área farão recuperação e podem passar para o 2º ano?
Azevedo – O que está se fazendo é uma oportunidade a mais para aqueles Alunos que foram mal, não tiveram um bom aproveitamento. Porque nós temos que estar sempre estimulando o Aluno a crescer, desafiando o Aluno a superar suas dificuldades. Então essa oportunidade fica ao arbítrio da Escola. Não significa nenhuma pressão para aprovação de Alunos que não têm condições. Não significa em hipótese alguma a aprovação automática, não significa que a Escola não tenha autonomia para aprovar ou reprovar esse Aluno.

ZH – Mas isso não acaba nivelando para baixo a exigência?
Azevedo – Não, porque a exigência é a mesma. É a mesma exigência de avaliação que o reprovou durante o semestre, no ano anterior. O tempo de aprendizagem de um Aluno não é o ano letivo oficial, o tempo de aprendizagem das pessoas é a sua experiência de vida. É um equívoco essa visão predominante no Brasil de que a Escola existe para medir um nível de conhecimento em determinado momento e, a partir daí, fazer um julgamento definitivo. A concepção de avaliação emancipatória é essa que aposta nas pessoas. É uma oportunidade a mais. Lembro que fui reprovado em matemática em 1962. E tive a oportunidade de fazer a segunda época em fevereiro. A partir daquela oportunidade, a matemática passou a ser o principal campo de interesse, e eu tirei 10 na prova.

ZH – Mas essas oportunidades precisam ser muito bem feitas para não se correr o risco de empurrar o problema para frente.
Azevedo – Esse é o papel da Escola e do Professor, fazer as coisas bem feitas.

ZH – As Escolas optaram por metodologias distintas para a recuperação. Não se corre o risco de ter processos com níveis de exigência muito diferentes?
Azevedo – Se isso acontecer, não será por esse motivo, porque isso acontece sem essa oportunidade de recuperação. As Escolas têm níveis de exigência diferentes, e inclusive diferenciado de um Professor para outro dentro da mesma Escola. Então isso acontece já. O que nós queremos é que a avaliação seja uma coisa séria, e que o Aluno para ser aprovado realmente tenha crescimento perceptível.

ZH – Alguns dos relatos são de que não se teve muitas condições para se fazer essa recuperação.
Azevedo – Mas aí eu teria que dizer, então, que não podemos dar aula. Porque as condições são as mesmas, para fazer um trabalho de recuperação ou para fazer um trabalho tradicional.

ZH – Os Professores estavam preparados para a mudança?
Azevedo – A gente nunca está preparado para as inovações, a gente se prepara na prática. A Educação no Estado tem sido muito criticada pelos altos índices de evasão e repetência. Não há nenhum motivo para se dizer que o que estava sendo feito era melhor do que o que está se tentando fazer agora.

A AVALIAÇÃO
COMO ERA
- O estudante recebia notas, de zero a 10, calculadas com base no desempenho em testes, trabalhos e outros recursos de avaliação. A nota era dada por disciplina.

COMO FICOU
- O estudante receberá apenas quatro conceitos – um para cada área em que as disciplinas tradicionais foram agrupadas: linguagens (língua portuguesa e estrangeira, literatura, Educação física e artes), matemática, ciências da natureza (biologia, física e química) e ciências humanas (história, geografia, sociologia e filosofia).
- Se o Aluno apresentar desempenho insatisfatório em apenas uma área, poderá passar de ano, na situação de Progressão Parcial. Se receber conceito insatisfatório em pelo menos duas áreas, é reprovado – neste ano, no entanto, os reprovados receberam uma chance de passar de ano depois de recuperação.
Fonte: Zero Hora (RS)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Nova Educação a caminho do palanque


A campanha da reeleição terá um assunto que, até agora, sempre entrou na disputa do voto apenas na sua porção propaganda: a Educação. A abordagem que se pretende fazer no governo, daqui para o futuro, é diferente. A ideia é projetá-la para sensibilizar os que, com razão, veem no Prouni o que ele é, um programa de bolsa de estudo para estudantes pobres, e nos exames de avaliação dos graus de Ensino um instrumento de formulação de políticas e identificação de deficiências. Quem dá ao assunto a importância merecida considera maçante esse tratamento de divindade a programas que não são um fim em si mesmos e, pela forma como são encarados, não atingem os objetivos para os quais existem, a qualidade da Educação oferecida no Brasil.
A Educação de qualidade ainda precisa ser uma meta porque resiste às realizações que os sucessivos governos acreditam ter levado a cabo. Os estudantes brasileiros continuam com dificuldades extremas para aprender matemática e ciências, sem que um método eficaz e uma formação adequada do Professor para aplicá-lo tenham sido descobertos. Ainda é grande a rede de Professores sem formação e os governos relutam em pagar a esses profissionais, os mais importantes no espectro das profissões existentes, os salários dignos. No Ensino médio, a dificuldade extrema se concentra em física e química, o que fecha a equação: esta é a base que se precisa erguer para qualificar a Educação. Desde que o mundo é mundo.
A presidente Dilma já definiu a Educação como a área para ter sua atenção prioritária, no governo e, em consequência, na campanha da reeleição. Escolheu, e não abriu mão até agora apesar das disputas, para ser o único setor a ser contemplado com a riqueza do pré-sal. E prepara outras medidas, além das já em vigor, para enfrentar o intrincado problema da qualidade.
O petróleo acaba. Qual vai ser o Brasil pós-petróleo?
Em um sistema que se apresenta no gabinete do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a primeira grande prioridade é a Creche, tratada não naquela forma superficial da primeira campanha, de 2010, mas como a peça importante e inicial de uma engrenagem. Estudos nos quais se baseia o governo para enfrentar a Educação no início do período Escolar mostram que a criança, quando chega aos seis ou sete anos, não consegue escrever o que não fala e, com uma família pouco letrada, que não domina vocabulários, assim continuará se não for estimulada. Na Alfabetização, essa criança fica para trás: 15% das crianças no Brasil não aprendem a ler e a escrever até os oito anos de idade. Neste momento da nova Educação, o governo pretende oferecer o Fundeb e mais 50% por criança às prefeituras para que a busquem e a alfabetizem até os oito anos de idade.
O segundo programa no conjunto da nova Educação é o pacto nacional pela Alfabetização na idade certa, que começou a ser implantada este ano. Todos os secretários de Educação já aderiram e 95% dos municípios também. Mercadante esclarece que o governo federal está dando uma bolsa de R$ 200 por mês para 362 mil Professores alfabetizadores, e 38 universidades trabalham nesse projeto, 15 mil monitores estão acompanhando a produção do material pedagógico produzido por essas universidades. As crianças serão avaliadas para que se possa comprovar se foram ou não alfabetizadas.
"É um dos projetos mais importantes desse conjunto, é isso que vai mudar a situação lá na frente. A criança que não aprendeu a ler e a escrever, em algum momento vai abandonar a Escola. Gastamos R$ 9 bilhões só com repetência, pois tem que fazer de novo o que não fez bem feito", afirma o ministro.
O terceiro programa da nova Educação é a importante Escola em tempo integral. A meta para 2014 era instalar 30 mil Escolas com esse modelo, o que já foi feito em 2012. Agora, o objetivo dobrou para 60 mil. "São sete horas de atividade Escolar, sendo que das três horas adicionais, pelo menos uma hora e meia destina-se ao reforço em matemática, português e ciências", informa Mercadante".
Desenvolver o Ensino médio, calcanhar de aquiles de vários governos em vários mandatos, resistente a medidas e uma fase essencial para a formação do adolescente e adulto, é uma meta que integra o conjunto dos novos objetivos do governo na área onde o Ideb menos avançou.
"Primeiro estamos fazendo um programa com 25 Estados, que é a distribuição de tablets nas Escolas. Os Professores vão receber 600 mil tablets com todo o conteúdo pedagógico embarcado. Pela primeira vez o Professor vai ter todos os livros didáticos em seu tablet em PDF. O Professor recebe o tablet, o material pedagógico e um projetor digital por sala de aula que lhe permite criar um ambiente de internet para dar suporte ao Ensino médio", comenta o ministro. Isso permitirá ampliar a pedagogia para matemática, física e química, áreas em que não há Professor disponível hoje.
Ainda no Ensino médio, o governo federal começa a discutir com os Estados uma adaptação dos currículos, com a constatação de que a grande maioria dos concluintes se dirige ao Enem e, por isso, as áreas estratégicas do Ensino médio precisam ser redefinidas.
O quarto programa é a pós-graduação, são os projetos de pesquisa e o Ciência sem Fronteiras, que está colocando 100 mil Alunos nas melhores universidades estrangeiras, dos quais 45 mil este ano. "Aumentou em 20% a demanda por cursos de línguas no brasil por causa do ciência sem fronteiras e fizemos um convênio com o melhor portal de inglês no mundo para distribuir 2 milhões de senhas, para fazer um curso interativo que reconhece voz, corrige pronúncia, o melhor curso que tem no mercado". São todas, sem exceção, medidas voltadas para a qualidade. Mercadante afirma que tudo, em Educação, precisa dar um salto quântico, mas a seu ver são duas as questões chave para este momento: a valorização do Professor com formação e salário, e a Escola em tempo integral. Para isso é preciso...
"Chegamos ao royalties: por que têm que ir para a Educação? Porque é uma riqueza não renovável. Teremos só durante um período. Qual vai ser o Brasil pós-petróleo? Tem que ser o Brasil preparado para a sociedade do conhecimento".
Fonte: Valor Econômico (SP)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Aulas no improviso

Diante de fragilidade nas instalações elétricas, pelo menos seis Escolas estaduais têm enfrentado transtornos e improvisado locais para garantir aulas com segurança no Interior. Enquanto em São Pedro do Sul, na Região Central, o ano letivo começou ontem, após 45 dias de atraso e decisão judicial, em Montenegro, no Vale do Caí, Alunos estudam em CTG e igrejas. Já em Quaraí, na Fronteira Oeste, uma Escola funciona sem energia elétrica. Estudo, só com luz natural.
Os cerca de mil Alunos da Escola Estadual de Ensino médio Tito Ferrari, em São Pedro, estavam sem aula desde 25 de fevereiro, depois de o colégio ter sido interditado por problemas na rede elétrica e falta de Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI). Segundo o Ministério Público, que interveio diante do risco de incêndio, os bombeiros alertavam para a necessidade de reforma na rede desde 2006.
A diretora da Escola, Camila Saidelles, afirma que o novo calendário Escolar prevê recuperar as aulas aos sábados. Apesar disso, muitos pais decidiram trocar os filhos de Escola diante do risco, fato admitido pela direção, mas ainda sem números oficiais. A 8ª Coordenadoria Regional de Educação garantiu que a reforma completa deve se iniciar neste ano, com investimento de R$ 400 mil.
O coordenador adjunto, Antônio Cesar de Souza, observa, no entanto, que o PPCI estava em dia e que, mesmo que a rede elétrica da Escola devesse ser trocada, a obra poderia ocorrer com as aulas em andamento, sem necessidade de interrupção.
Levantamento feito pelo Cpers por amostragem – em 355 das 2,6 mil Escolas – indica que 54,1% dos colégios não têm ou não souberam responder se têm PPCI. O estudo, que considerou todas as regiões e incluiu Escolas urbanas e rurais de todos os níveis, também apontou que 61,4% das instituições que responderam ao questionário não têm condições adequadas de funcionamento. Em 66,5% delas, algum setor, serviço ou espaço não funciona. Há casos em que a situação é tão precária que a única alternativa é os Alunos saírem da Escola para ter aulas em outro lugar.
A Secretaria Estadual de Educação e os 12 Comandos Regionais do Corpo de Bombeiros dizem que não há Escolas interditadas no Estado. Conforme a Secretaria, as Escolas só são consideradas interditadas se os estudantes estão sem aula. Nos demais casos, onde há problemas, considera-se parcialmente interditado. O órgão estadual, no entanto, não soube informar quantas instituições estão com aulas em andamento em prédios não apropriados.

Bombeiros não conseguem vistoriar todas Escolas
A Divisão Técnica de Prevenção de Incêndios do Comando do Corpo de Bombeiros explica que as vistorias em Escolas só são feitas após a elaboração do PPCI. Também admite não ter fôlego para fazer vistorias em todas as edificações do Estado constantemente e, por isso, pede que a população colabore com informações e denúncias, em caso de problemas. A corporação diz que, recentemente, foi publicado no Diário Oficial do Estado uma ordem de serviço da Secretaria estabelecendo procedimentos a serem adotados pelas Escolas, incluindo a orientação para procurarem os bombeiros e encaminharem o PPCI.
 
Estado fará levantamento para mapear a situação
A secretária adjunta da Secretaria Estadual da Educação, Maria Eulalia Nascimento, afirma que, nos casos de interdição de Escolas, se a situação é considerada emergencial e o valor da obra for de até R$ 410 mil, o Estado encaminha a dispensa de licitação imediatamente. Se o custo for superior, é preciso análise pela Procuradoria-geral do Estado (PGE).
Ela revela que foi estabelecido acordo para avaliação de 2.574 Escolas – incluindo verificação de alvarás de PPCI –, com apoio do Corpo de Bombeiros.
O diretor administrativo da Secretaria, Claudio Sommacal, revela que será feito um termo de adequação para as Escolas mais antigas. Os novos projetos, segundo ele, já possuem as duas exigências como fatores obrigatórios:
– Faremos um levantamento para verificar em que situação se encontram as Escolas com relação ao PPCI, que deve ser publicado na sexta-feira. Assim, conseguiremos criar um plano de adequação exequível.
Fonte: Zero Hora (RS)

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação entra em vigor

 
A partir de agora, criança de 4 anos na escola não será mais uma opção dos pais. Está na lei. A atualização da Lei de Diretrizes e Bases da Educação muda algumas das principais regras para o ensino.
Em uma escola pública de Samambaia, cidade a 40 km de Brasília, já é assim: as crianças podem ser matriculadas a partir dos 4 anos.
“A criança, tem cinco refeições diárias e também ela vai na brinquedoteca, na sala de leitura, na sala de vídeo e também temos aula de educação física”, explica Telma Valquíria, vice-diretora da escola.
Segundo o texto, a educação básica passa a ser obrigatória dos 4 aos 17 anos de idade e será dividida entre Pré-Escola, Ensino Fundamental e Ensino Médio. A mudança obriga estados e municípios a oferecer escola às crianças mais novas. Mas, segundo o Ministério da Educação, eles têm até 2016 para garantir a oferta de vagas a todas as crianças.
“Para a construção de novas escolas, contratação de novos professore. É o prazo necessário para que possa adequar a essa nova realidade”, diz o secretário executivo do MEC, José Henrique Paim Fernandes.
A lei estabelece ainda que o currículo da educação infantil deve seguir a mesma base em todo o país, respeitando a diversidade cultural de cada região. O professor vai ter que acompanhar e avaliar o desenvolvimento de cada criança, mas sem o objetivo de aprovar ou reprovar o aluno.
Segundo a ONG Todos Pela Educação, um milhão e 50 mil crianças de quatro e cinco anos estão fora da escola. “Se a gente conseguir ter uma educação infantil de qualidade para todas as crianças de 4 e 5 anos, a gente tem uma possibilidade muito maior no país de garantir que todas elas estejam alfabetizadas na idade certa e poder ter as condições para viver plenamente sua vida adulta”, explica Priscila Cruz.
Para a União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação, a mudança representa a democratização do ensino no Brasil. A coordenadora estadual da entidade, Darli Zunino, disse que a ampliação das vagas estará concluída dentro do prazo.
Fonte: Jornal Nacional

terça-feira, 23 de abril de 2013

Educação nota 10 em regiões pobres


A maioria deles vive em áreas carentes, muitas vezes violentas. Mas nada que fosse empecilho para que se tornassem os campeões da Alfabetização no Rio. É de bairros e comunidades pobres das zonas Norte e Oeste a maior parte dos Alunos com melhores resultados na prova Alfabetiza Rio 2012 - que avalia o desempenho em leitura, escrita e matemática no 1º ano do Ensino fundamental da rede municipal carioca. A média mais alta (233,8 pontos), por exemplo, veio da turma 1.103 do Ciep 1º de Maio, perto da conflagrada Favela de Antares, em Santa Cruz. Em seguida vieram os Alunos da turma 1.101 da Escola Municipal Octávio Tarquínio de Souza, na Pavuna (com 233,7). Crianças que são o orgulho de suas Professoras, as melhores alfabetizadoras da cidade e que têm em comum a profissão levada quase como um sacerdócio.
É assim que Cassilda Almeida dos Santos, a Professora do 1º de Maio, encara sua rotina como Educadora. A moradora de Sepetiba conta que, há 13 anos, trocou a contabilidade pelas salas de aula. Buscava, segundo ela, se encontrar. E, depois de muitos convites, aceitou em 2007 a transferência para o Ciep de Antares. Acreditava que podia contribuir mais num colégio em turno integral. Mas tinha pela frente o desafio de dar aulas numa Escola em que a violência pode reduzir drasticamente a frequência dos Alunos em determinados dias.
- Com certeza, é preciso trabalhar a autoestima dessas crianças, que precisam se sentir acolhidas, num ambiente diferente - diz Cassilda.

Estímulo à leitura
Segundo a Professora, ter uma turma considerada a melhor na Alfabetização da rede municipal foi resultado de um trabalho diário, para identificar potencialidades e também as dificuldades de cada um. Tarefa aliada a atividades como o estímulo constante à leitura, de forma interativa e atraente, além de atenção para levar à Escola temas que chamam a atenção da garotada.
- Ano passado, a turminha estava aficionada pela música das "empreguetes" da novela "Cheias de charme". Fizemos uma paródia da música. E eles adoraram! É muito gratificante o resultado. Realmente me apaixonei pela Escola e pelos Alunos. E tenho uma afinidade muito grande com eles - ressalta Cassilda.
Essa dimensão afetiva, de Professores atentos a cada uma das crianças, é um dos fatores que fazem diferença, de acordo com a secretária municipal de Educação, Claudia Costin. Ela destaca que, no Rio como um todo, as médias da Alfabetiza Rio têm mostrado uma evolução positiva desde 2010, quando a avaliação - feita pela Universidade Federal de Juiz de Fora - foi implantada. De lá para cá, o nível de Alfabetização saltou de 79,6% para 90% em leitura. Já em matemática, pulou de 80,7% para 90,5%. E em escrita, avaliada pela primeira vez ano passado, alcançou índice de 76,7%. Avanços obtidos independentemente de as Escolas estarem em áreas ricas ou pobres da cidade.
- Conseguimos mostrar que é possível, em Escola pública e em áreas violentas, alfabetizar até os 6 anos de idade - afirma a secretária, lembrando que a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (que engloba Pavuna, Costa Barros, Anchieta, Acari e arredores, região com o Índice de Desenvolvimento Humano mais baixo do Rio) sempre se destaca.
A prova Alfabetiza Rio apresenta dois rankings: das melhores turmas e Escolas. Na relação dos dez melhores colégios, liderada pelo Ministro Carlos Alberto Direito, em Triagem, há três unidades da Pavuna. Já no ranking das melhores turmas, enquanto a primeira da Zona Sul (da Escola Estácio de Sá, na Urca) aparece na décima posição, a 1.102 da Professor Escragnolle Dória, na subida do Morro da Pedreira, em Costa Barros, ficou em quarto.
Desde o ano passado, a turma 1.101, da Escola Octávio Tarquínio de Souza, é regida pela Professora Urânia Souza dos Santos, que, com 26 anos de magistério, conduz a meninada com calma e brandura. Só na Tarquínio, são 23 anos ininterruptos como Professora. Já prestes a se aposentar, Urânia acredita ser um exemplo para os pequenos, muitos moradores de áreas conflagradas.
- Sou filha de empregada doméstica. Vim de uma região marcada pela violência em Belford Roxo. Às vezes, minha mãe precisava mentir, dizer que morava em outra cidade, para conseguir emprego. Mas fez de mim e da minha irmã Professoras. Tento plantar a sementinha nos meus Alunos de que eles podem ser o que quiserem - diz ela. - Sinto como se eu fizesse parte das famílias das crianças. E acredito que não é possível alcançar resultados sem amor.
Fonte: O Globo (RJ)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

A Matemática vai mal!


 “Não gosto. Isso é muito difícil!”, afirma Thaylla Emília de Oliveira Fe­rreira, aluna do 9° ano do Colégio Estadual Cultura e Coope­rativismo, em Goiânia, justificando seu desinteresse pela Matemática. A estudante, que acabara de ser expulsa da aula, sabe que vai precisar da disciplina futuramente, mas, por agora, não se preocupa com isso.
Ela é só uma entre os milhares de estudantes brasileiros que não gostam e que apresentam dificuldades no aprendizado da matéria, considerada uma vilã por uma grande maioria de alunos.
Um relatório elaborado pelo Movi­mento Todos pela Educação comparou o rendimento dos alunos do 5° ano do Ensino Fundamental ao das turmas do 3° ano do Ensino Médio. E os resultados foram claros: as escolas brasileiras não estão conseguindo ensinar Matemática.
De acordo com o estudo, quase 90% dos estudantes brasileiros que concluem o Ensino Médio saem da escola sem saber noções básicas da disciplina como operações de álgebra, leitura de gráficos, mapas e tabelas, probabilidade e porcentagem, entre outros.
Mas o prejuízo dos alunos não é apenas acadêmico. “A Matemática te dá ferramentas de pensamento lógico, racional, de análise crítica e recursos para enfrentar problemas e buscar novas soluções. O que preocupa não é que os alunos não tenham o conhecimento da disciplina, mas que eles não tenham nada desse pensamento matemático associado a ela, que é o que nos capacita para fazer muita coisa socialmente”, defende a coordenadora do grupo Mathema de formação e pesquisa, Kátia Stocco Smole.
Embora o Ensino Médio tenha apresentado o pior resultado, as dificuldades começam no Fundamental, garante Alejandra Meraz Velasco, gerente da área técnica do Todos pela Educação.
Para ela, o problema da aprendizagem em Matemática perpassa toda a Educação Básica e está centrado na carência de professores especialistas e na formação desses docentes.

Cadê o professor?
Como a Matemática assusta os alunos desde o Ensino Fundamental, é na outra ponta, na universidade, que o prejuízo se revela. A procura pelo curso é pequena e dos que entram, poucos conseguem se formar como professor, pois a evasão é grande e muitos preferem seguir o bacharelado em outras áreas, como na Engenharia e Informática.
“Não é nem pelo salário, mas pelas condições de trabalho. São salas cheias e aluno agredindo o professor. O profissional se sente ameaçado”, argumenta o diretor do Departamento de Mate­mática, Física, Química e Enge­nharia de Alimentos da PUC-GO, Antônio Newton Borges.
O resultado mais gritante dessa realidade é a deficiência de profissionais nas escolas. “Temos falta de docentes licenciados em Matemática e aí a secretaria depende, muitas vezes, de um contrato temporário de um professor sem formação completa e que ainda está na graduação,” reconhece a gerente de apoio do Ensino Fundamental da Secretaria Estadual de Educação de Goiás (Seduc), Viviane Pereira da Silva Melo.
No interior do estado a situação é pior, admite o superintendente do Ensino Médio da Seduc, Fernando Pereira dos Santos. “Se tem um contador na cidade disposto a dar aula de Matemática, nós contratamos. Às vezes, contratamos um professor para dar aula de Química, Física e Matemática tudo junto, porque não tem docente especializado.”
Contudo, segundo Viviane, a secretaria já detectou esses problemas e está implantando dois projetos que visam o reforço na disciplina e na correção de fluxo, mas a solução para o problema ainda não foi encontrado.
 
Formação conservadora
Se entrar na licenciatura já é difícil, permanecer nela é tarefa para poucos. A falta de valorização profissional faz com que alunos de nível mais baixo procurem a licenciatura, o que cria dificuldades durante o curso e também interfere no desempenho dos futuros docentes, explica José Pedro Machado, professor de Didáticas em Matemática na UFG.
Para evitar a evasão, a universidade criou uma disciplina para interligar os conhecimentos adquiridos no Ensino Médio ao Superior. Ainda assim, ele vê falhas na formação oferecida. “O professor está saindo para o mercado sem levar em consideração o contexto sociocultural dos aluno e a disciplina acaba por não fazer sentido para a realidade deles.”
Para José Pedro, o desinteresse dos alunos é explicado por essa má formação, já que os professores não tem didática suficiente para estimulá-los e para trabalhar diferentes conteúdos, além do livro didático, como as novas tecnologias. “São métodos e técnicas obsoletas”, critica ele.

Desinteresse dos pais
Enquanto os especialistas centram as críticas na academia, os professores que estão em sala de aula acreditam que o desinteresse e, consequentemente, o baixo rendimento dos alunos em Matemática tem outro vilão: os pais.
Ana Paula Mendes, que leciona a disciplina no Colégio Estadual Cultura e Cooperativismo e também do Colégio Shalon, vê com clareza a diferença do acompanhamento familiar que é feito na rede pública e privada.
Segundo ela, nas instituições de ensino particulares, os pais cobram resultados dos filhos e da escola e o rendimento, obviamente, é melhor nelas. “Na estadual, os pais nem sabem se tem tarefa de casa ou não. Eles não acompanham e, mesmo que a coordenação corra atrás deles, nós não podemos fazer nada no sentido de aplicar uma advertência ou reprovar”, desabafa.
Além disso, Ana Paula acredita que o sistema de avaliações da rede pública desestimula os estudantes. “Os alunos que vem do município já estão acostumados a apenas passar de Ciclos, estando aptos ou não. Eles chegam aqui sem saber nada: não somam, não subtraem, não multiplicam nem dividem. Mas ele não precisa fazer nada para tirar nota, porque nós não podemos reprovar.”
Mas a Matemática não é vilã para todo mundo. Nunca foi problema, por exemplo, para Bárbara Guimarães, estudante do 9° ano do Cultura e Cooperativismo. “Eu sempre me saí melhor nessa disciplina, mas não sei porquê,” brinca.
A dedicada aluna, que adora resolver um desafio, não sabe ainda qual será seu futuro profissional, mas já tem uma certeza: não será a carreira de Exatas. Mas Bárbara entende bem que, sem a Matemática, ela não irá muito longe profissionalmente.
Fonte: Tribuna do Planalto (GO)

domingo, 21 de abril de 2013

Carreira de professor não atrai estudantes


O sonho de ser professor tem sido sufocado pela realidade do mercado nas universidades brasileiras. As políticas de valorização dos docentes não avançam. As empresas, por sua vez, disputam especialistas com salários estimulantes e boas condições de trabalho. Quem entra no ensino superior acalentando o plano de dar aulas, acaba desistindo. Em números absolutos, os que mais abandonam o caminho do magistério são os candidatos a professor de português ou matemática. Só em 2011, foram quase 40 mil desistências, segundo dados do último Censo do Ensino Superior. O curso de física é o que tem o maior percentual de alunos desvinculados em comparação com o número de matrículas: 31%.
Todas as disciplinas citadas são obrigatórias nos currículos das escolas brasileiras. Mesmo assim, o desempenho dos estudantes nessas cadeiras deixa muito a desejar, segundo pesquisas oficiais de avaliação, como a Prova Brasil. Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas acreditam que, para mudar esse quadro, são necessárias políticas capazes de aliar a educação ao crescimento do país.
O alto índice de desistência, segundo a diretora-executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, pode, por outro lado, mostrar que existem mais estudantes que optam pelo bacharelado em vez do curso de licenciatura. Na opinião dela, o principal chamariz para a mudança é a possibilidade de o profissional conseguir um emprego mais bem remunerado. “No caso das ciências exatas, por exemplo, como há poucos profissionais na área e uma demanda maior por profissionais como engenheiros e matemáticos, eles acabam trocando de ramo. Em uma economia aquecida, de pleno emprego, muitas empresas absorvem esses profissionais”, avalia. Quem perde é a educação.
A trajetória de Leandro Chiarini, de 20 anos, estudante do 5º semestre de matemática, reflete essa tese. Ele iniciou a graduação com a intenção de fazer dupla habilitação (bacharelado e licenciatura), mas, ao longo do curso, descobriu que o campo da matemática era bem mais amplo. “São opções diferentes. É bom ensinar, mas vi que gosto mais de aprender”, destaca. “A quantidade de coisas para fazer na área é grande e há espaço para quem quer seguir a carreira na pesquisa”, completa. Apesar de considerar a área fascinante, ele destaca que é fácil perceber que muita gente desiste com facilidade do curso. “Quando entrei na universidade éramos uns 40 calouros. No segundo semestre, só oito permaneceram”, lamenta.
Na física, também é fácil topar com histórias como a de Leandro. O estudante do 9º semestre do curso de física Diego Veloso, de 24, nem chegou a cogitar a licenciatura. “Optei pelo bacharelado para poder me dedicar com exclusividade à pesquisa. A área ainda não é muito financiada, mas tem avançado bastante”, argumenta. Diego, porém, aponta a falta de estímulo para o exercício da docência como o principal motivo de desistência da licenciatura. “Os profissionais da educação básica não são valorizados, principalmente na rede pública”, ressalta.
Pesquisa O retrato do desestímulo para seguir carreira no magistério também aparece em uma pesquisa feita em 2010 pela Universidade de São Paulo (USP) dentro da instituição, a maior do país. O estudo apontou que dar aulas é apenas a quarta razão para escolha da licenciatura.
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Luiz Claudio, assegura que o Ministério da Educação tem acompanhado o problema, mas destaca que o quadro está mudando. Segundo ele, a criação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) tem dados bons resultados, assim como o Exame Nacional do Ensino Médio e o fortalecimento do programa de assistência estudantil. “O Pibid tem feito com que o estudante se motive, fique no curso. E, com o Enem, a concorrência para os cursos de formação de professor aumentou e tem atraído estudantes com notas mais altas, que permanecem no curso”. As mudanças, segundo ele, devem se refletir nos próximos censos do ensino superior.
A política do piso nacional para os professores e as ações do Plano Nacional de Educação, que tramita no Senado Federal, também são apontados pelo órgão como políticas eficientes.

Rede pública não consegue formar quadros
A carência de professores se reflete diretamente na má formação dos estudantes. Recentemente, um relatório sobre as metas da educação, divulgado pelo Movimento Todos pela Educação, mostrou que apenas três em cada 10 alunos terminam o ensino médio com conhecimentos de língua portuguesa adequados à série. Em matemática, a situação é bem pior: só um em 10. “Alagoas e Maranhão, por exemplo, fizeram concurso para professor e não conseguiram contratar nenhum no estado inteiro. Isso ajuda a explicar porque os resultados dos estudantes são ruins. Há um déficit de profissionais no Norte e no Norte, principalmente”, pontua a diretora executiva da ONG, Priscila Cruz.
Outro problema apontado pela diretora do movimento é o ciclo vicioso gerado pela má formação dos estudantes e pela falta de atração da carreira. Alunos mal formados desistem da carreira e, sem professores de qualidade, as escolas seguem formando mal seus estudantes. “O professor de escola pública ganha 40% menos que um profissional com o mesmo nível de escolaridade. Quando o aluno se dá conta disso, ele escolhe outra carreira, e não a docência. Com poucos professores, há casos de estados que reduzem as exigências para conseguir contratar”, afirma.
Fonte: Estado de Minas (MG)

sábado, 20 de abril de 2013

Tempo de aula desperdiçado

 
Fazer a chamada, apagar o quadro, distribuir deveres de casa ou arrumar a sala estão entre práticas que fazem os Professores no Brasil perder tempo precioso de atividades pedagógicas. Para investigar minuto a minuto o que acontece durante as aulas, a Secretaria estadual de Educação, em parceria com o Banco Mundial, lançou mão de uma pesquisa inédita para saber como os Professores administram o período ao lado dos Alunos. Os números levantados em 60 Escolas da rede fluminense demonstram que o aproveitamento para Ensino efetivo está bem abaixo do ideal, não ultrapassando 64%. Segundo estudo do Banco Mundial, essa média está longe da dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que 85% do tempo é utilizado somente para atividades de aprendizagem.
O cotidiano Escolar foi observado, em novembro de 2012, em duas regionais: São Gonçalo e Região Serrana. A primeira ficou em segundo lugar no Índice da Educação básica do Rio de Janeiro (Iderj) de 2011. Já os colégios de São Gonçalo tiveram pior desempenho, ficando em oitavo lugar no Iderj. Em termos práticos, se for considerado o período de hora-aula de 50 minutos, as Escolas pesquisadas gastam quase 20 minutos com tarefas burocráticas ou tentando disciplinar a turma. Em relação ao tempo dedicado a atividades acadêmicas, o Brasil está à frente de México, Peru, República Dominicana e Jamaicana e no mesmo nível de Honduras. Mas o país fica atrás da Colômbia e muito distante do patamar considerado ideal.
Em 2010, a prefeitura realizou um levantamento semelhante, também em parceria com o Banco Mundial, e que mostrou diferenças mais significativas. Nas Escolas do município com melhor resultado no Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb), 70% do tempo é utilizado com atividades de aprendizagem, enquanto nos colégios que obtiveram pior desempenho só 54% da aula são dedicados ao Ensino.
Coordenado por Barbara Bruns, economista principal do Banco Mundial para Educação na América Latina, o trabalho usou o chamado "método Stallings" para observação de sala de aula. Daniela Ribeiro, assessora de planejamento da Secretaria estadual de Educação, explica que 23 coordenadores pedagógicos passaram por um treinamento de 40 horas. Antes de entrar em sala, cada pesquisador recebeu uma ficha e, em dez observações de 15 segundos (espaçadas por 50 minutos), quantificou o tempo que o Professor usou em atividades acadêmicas, de administração da sala ou fora dela.
- Também são levados em consideração os materiais empregados e se a turma inteira está envolvida. Percebeu-se, por exemplo, que as Escolas serranas tem um emprego maior de materiais de tecnologia de informação do que as de São Gonçalo, cujos Professores usam mais o quadro negro. Talvez isso seja um indício que mostre que o uso da tecnologia pode servir para melhorar tanto o Ensino quanto o desempenho do Aluno. Políticas públicas de Educação podem ser modificadas a partir dos resultados levantados por essa pesquisa - afirma Daniela.
 
Lei prevê carga mínima de 800 horas por ano
Uma das classes observadas pelos pesquisadores da Secretaria estadual de Educação foi o 1º ano do Ensino médio do Ciep Palhaço Carequinha, em São Gonçalo. Professora de Língua Portuguesa e Literatura da turma, Raquel Danielli Mota reconhece que administrar os 50 minutos de aula está longe de ser uma tarefa fácil:
- A questão é maior do que parece. Para começar as atividades pedagógicas, o Professor perde, em média, 25 minutos esperando a turma entrar na sala. Não temos pessoal de apoio suficiente, como inspetores, para controlar os estudantes. E temos que ensinar, além da matéria, a maneira de se comportarem. Os Alunos da rede pública entendem a Escola como uma área de lazer. É uma questão social e não pedagógica. Trabalhamos em áreas carentes e fazemos o que podemos com o que temos - diz Raquel.
O subsecretário estadual de Gestão de Ensino, Antonio Neto, explica que, a partir dos dados, a estratégia é otimizar o tempo em sala de aula:
- A gestão do Ensino passa pela racionalização. Essa pesquisa levantou perfis. Estamos na fase de avaliação do diagnóstico. Depois do cruzamento dos resultados, vamos traçar metas.
Para Priscila Cruz, diretora-executiva do Movimento Todos Pela Educação, a curta carga horária nas Escolas públicas e particulares é uma questão-chave a enfrentar no país. A lei determina um mínimo de 800 horas, a serem distribuídas em 200 dias, o que resulta em, pelo menos, quatro horas diárias de trabalho Escolar:
- Nos países no topo do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa), programa internacional mais abrangente de mensuração da qualidade educacional, os estudantes ficam muito mais tempo na Escola. No Brasil, o ideal seria um turno de, no mínimo, sete horas.
Mas, mesmo sem mudanças à vista na carga horária dos estudantes brasileiros, Priscila acredita que os Professores têm condições de administrar melhor o tempo que têm hoje:
- O Professor tem, sim, que apagar quadro e fazer chamada. Não adianta querer racionalizar 100%. Mas, no Brasil, existe uma certa flexibilização tanto por parte de Professores quantos dos estudantes. Toda Escola precisa ter normas e rotinas para funcionar. Então, não dá para o Professor liberar a turma antes da hora ou aceitar o retorno demorado do recreio. Os Alunos também devem fazer a sua parte. É possível chegar aos 85% relacionados às boas práticas de Ensino.
No Brasil, o projeto financiado pelo Banco Mundial acontece desde 2009. Já foram avaliadas 600 Escolas de Minas Gerais; 300 de Pernambuco; e 100 do município do Rio.
Fonte: O Globo (RJ)

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Dois em cada 10 professores da Educação Básica não têm curso superior


De cada 10 professores que dão aulas na educação básica brasileira, dois trabalham sem diploma de ensino superior. O índice de docentes não graduados é maior nas turmas da educação infantil, mas há professores trabalhando sem formação adequada inclusive no ensino médio.
Os números do Censo Escolar 2012 mostram que 22% dos 2.101.408 professores brasileiros – 459 mil – não chegaram à universidade. Desse total, 8.339 terminaram apenas o ensino fundamental, 115.456 concluíram o ensino médio regular e 335.418, o magistério. Entre os 1,6 milhão diplomados, 223.777 não cursaram licenciatura, modalidade que prepara professores.
É na educação infantil que trabalha grande parte dos professores sem formação superior. Dos 443,4 mil professores dessa etapa, 36,4% não se graduaram. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, é permitido que um professor que concluiu apenas o magistério lecione nessa fase, mas 10% dos docentes sequer têm essa formação mínima.
Nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, fases em que todos os professores, por lei, deveriam ter cursado licenciatura para dar aulas, o cenário se repete. Do 6º ao 9º ano do fundamental, 22% dos 801 mil educadores não têm formação adequada (não cursaram faculdade ou licenciatura). No ensino médio, 18% dos 497 mil docentes estão nessa situação.
Para a ex-secretária de Educação Básica do Ministério da Educação e diretora da Fundação SM, Pilar Lacerda, todos os professores deveriam ser formados no ensino superior. “A profissão docente é muito complexa e requer formação específica e séria. A qualidade da educação está intimamente ligada à qualidade do profissional da educação. Aquela visão de que basta boa vontade e gostar de crianças está ultrapassada”, afirma.
A formação dos professores brasileiros, de modo geral, melhora a cada ano. Em 2011, o número de educadores sem curso superior (530.029) representava um quarto do total. Apesar disso, as diferenças regionais ainda persistem. Grande parte dos docentes com formação precária atua no Nordeste. Quase metade dos educadores com apenas o diploma de ensino médio regular – 50 mil dos 115 mil do País – leciona nas salas de aula nordestinas.
A Bahia é um dos Estados com mais problemas de formação dos docentes. Dos 157 mil professores, 1.150 têm apenas o ensino fundamental (13,8% de todos que estão nessa condição); 19 mil cursaram apenas o ensino médio regular e 50,8 mil não passaram do curso normal (magistério). Apenas a metade cursou uma faculdade.
 
Problemas na carreira
Sem incentivos para atrair os melhores estudantes para a carreira, especialistas acreditam que será difícil superar os problemas de formação dos professores, que não se esgota apenas com o estímulo à graduação. Na opinião de Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, há problemas estruturais de formação dos alunos que só são solucionados dentro dos cursos de graduação.
“O aluno que não teve uma formação básica adequada não vai conseguir ser um bom professor. E, na média, infelizmente, são os alunos que tiveram mais dificuldades que acabam na profissão. A tendência do Brasil sempre é boa, mas temos um problema de ritmo dessa evolução na qualidade de ensino”, pondera. Segundo ele, a aprovação do Plano Nacional da Educação é importante para garantir recursos que acelerem a formação dos professores.
Pilar defende melhores salários e uma perspectiva mais atraente de carreira para mudar o cenário da educação. “A profissão não pode ser escolhida enquanto o jovem não acha coisa melhor”, comenta. Cara acredita que os cursos presenciais têm de expandir de forma mais direcionada, especialmente nas regiões em que eles são escassos.
Maioria feminina
Os dados do Censo Escolar mostram também que 1,6 milhão do total de professores do País é mulher. A região Nordeste é a que, proporcionalmente, possui mais educadores homens na educação básica. Dos 613 mil professores da região, 20% são homens. Metade dos docentes tem entre 25 e 40 anos de idade.
Dos 2 milhões de docentes da educação básica, 443 mil dão aulas na educação infantil; 1,4 milhão no ensino fundamental, 497 mil no ensino médio e 253 mil na educação de jovens e adultos.
Fonte: iG

quinta-feira, 18 de abril de 2013

"É possível educar todas as crianças de escola pública em alto nível"


Uma escola com salas sem paredes, como as de empresas de tecnologia, em que os professores não dão aulas consegue preparar todos os seus alunos para entrar e ficar quatro anos na faculdade. Ou melhor, um grupo de quatro escolas chamadas de Summit, na Califórnia, Estados Unidos, que cumpre a sua missão a risca: desde 2003, quando a primeira unidade foi criada, 96% de todos os seus estudantes foram selecionados para cursar pelo menos uma graduação.
A diretora executiva da rede de instituições e cofundadodora da primeira Summit, em Redwood, está em São Paulo para participar nesta quinta-feira do Transformar 2013, um encontro sobre experiências concretas de transformação e sucesso em escolas públicas pelo mundo. Ontem, Tavenner conversou com o iG no hotel Maksud Plaza, onde o evento será realizado das 8h30 às 18h30, e explicou como consegue atingir esse objetivo. Entre as receitas, está o desenvolvimento de um plano de aprendizado personalizado para cada estudante, que é acompanhado diariamente por um tutor em todo o período do ensino médio, e um currículo totalmente conectado com a realidade.
A melhor notícia é que o modelo é mais fácil de replicar em grande escala do que o tradicional, segundo a educadora. Com a ajuda da tecnologia, os professores são liberados de várias tarefas e podem se dedicar mais aos alunos. Na Califórnia, ela já está fazendo isso na rede de escolas charter (que funcionam com verba do governo e de doações) Summit. Este ano, duas novas unidades serão abertas, e o plano é fazer o mesmo nos próximos 10 anos, até que todos os alunos do Vale do Silício recebam educação de alto nível. Atualmente, 47% terminam o ensino médio sem a base necessária para o ensino superior.
Leia abaixo a entrevista de Diane Tavenner ao iG:

iG: O que faz uma escola Summit ser especial?
Dianne Tavenner: O mais importante é que nós preparamos todos os nossos alunos para a faculdade e carreira. Isso não é algo que todas as escolas fazem nos Estados Unidos e, possivelmente, aqui também não. Nós acreditamos nisso e levamos a sério esse objetivo. Para isso acontecer, desenvolvemos uma série de ações, mas essa é a nossa missão. E nós já provamos que é é possível educar todas as crianças de escola pública em alto nível. Isso é importante, porque muitas pessoas antes pensavam que fosse impossível. E nós, junto com outros educadores nos Estados Unidos, provamos o contrário.
iG: E como vocês fazem isso?
Tavenner: Nós começamos criando um plano de estudo personalizado para cada estudante, de modo que ele define logo que chega à escola um objetivo para sua carreira, que universidade quer fazer, que vida quer ter. A partir disso, nós desenvolvemos um plano personalizado para que ele alcance o objetivo. Depois trabalhamos para que a escola forneça todo o suporte necessário para manter o estudante nesse caminho. Esse é o ponto de partida. O segundo ponto é que todos os estudantes têm um mentor, que permanece o mesmo durante todo o período escolar. Esse mentor ajuda a pensar nos objetivos e reavaliá-los quando for preciso, observa todos os dias se o plano está sendo cumprido e de que forma, conversa com a família, discute dúvidas e ajuda em crises. Em terceiro, vem o jeito que ensinamos, o nosso currículo é muito autêntico e realista. Nós trazemos tecnologia para a escola, as crianças trabalham colaborativamente em projetos nos quais têm que resolver problemas reais, não é nada chato. Dessa forma, as crianças ficam motivadas porque se dão conta de que estão aprendendo coisas que vão ser úteis para ela. Por último, durante dois meses do ano letivo, em janeiro e junho, os estudantes ficam fora da escola e trabalham na comunidade, fazem estágios, têm experiências relacionadas a seus interesses ou paixões, que podem ser fotografia ou jornalismo, por exemplo. Como avaliação desse período, eles têm que desenvolver algo que possam compartilhar ou apresentar. Então, se é algo relacionado à fotografia, fazem uma exposição. Se é teatro, apresentam uma peça. Se fazem um estágio, devem fazer uma apresentação sobre o trabalho realizado. Tudo sempre conectado com a realidade.
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iG: Que práticas inovadoras são aplicadas nas escolas Summit?
Tavenner: Nós usamos muita tecnologia. Por exemplo, a tecnologia serve para saber exatamente o que cada aluno sabe e não sabe em todos os momentos. Cada estudante tem o seu mapa pessoal de conhecimento e objetivos. Em vez de promover aulas em que não importa quem sabe, mas que todos ouvem a mesma coisa e tem que participar das mesmas atividades, cada aluno vai aprender o que precisa aprender. Fazemos isso com uma ferramenta que chamamos de playlist – como a dos tocadores de música digital. Nessa lista está tudo o que o aluno precisa aprender e ele vai escolhendo como gostaria de fazer. Quando ele sente que já está pronto para seguir em frente, faz uma avaliação. Se ele realmente já aprendeu, ótimo, vai adiante.
iG: Eles podem escolher o jeito, mas não o que precisam aprender, certo?
Tavenner: Eles podem realizar algumas escolhas quando desenvolvem o plano de aprendizado inicial, mas tem coisas que todos precisam saber para chegar a uma universidade. Para chegar a esses conhecimentos, eles escolhem como querem aprender e não precisam passar pelo que já sabem.
iG: A senhora acredita que tecnologia é essencial nas escolas?
Tavenner: A tecnologia proporciona que se desenvolva uma educação melhor, se for usada do jeito certo. Mas mais importante que isso é que faz parte do mundo e da vida. É um erro fazer com que os estudantes deixem a tecnologia do lado de fora da escola. Isso não vai prepará-lo para o mundo.
iG: Esse modelo de escola pode ser replicado para grandes redes de ensino, como a do ensino médio brasileiro?
Tavenner: Esse modelo é mais fácil de replicar em grande escala que o tradicional. Tenho convicção sobre isso. No modelo antigo, cada professor tem que fazer o seu próprio planejamento anual, preparar cada aula, corrigir todas as provas. Nesse modelo, construímos uma plataforma que tem tudo isso pronto, que é acessada pelos estudantes diretamente. Agora, os professores apenas ajudam e dão suporte aos alunos. Eles não precisam ter todo o trabalho de preparação, ficam mais focados no que fazem de fato.
iG: Ainda existem aulas, como as que eu tive na escola?
Tavenner: Quase nunca. As aulas são em espaços grandes e abertos, em que os alunos se dividem em grupos para desenvolver projetos. Mas não tem mais uma grade de horário que começa com matemática, passa para ciência e depois história. Não é mais assim.
iG: E como eles aprendem matemática, por exemplo?
Tavenner: De duas maneiras. Uma, é online. Eles aprendem muito online, com suporte de um tutor. A outra forma é fazendo projetos, nos quais aplicam a matemática que estão aprendendo naquele momento. Por exemplo, um projeto poderia ser descobrir como se projeta um prédio em um espaço determinado, usando os conhecimentos de matemática. Claro que o professor participa desse processo, mas ele não vai ficar na frente de uma turma falando e explicando, enquanto os alunos tomam notas.
iG: São necessários mais professores para esse modelo funcionar do que em escolas tradicionais?
Tavenner: Provavelmente o mesmo número.
iG: Como são escolhidos e treinados os professores?
Tavenner: Nós selecionamos professores que são apaixonados pelo que fazemos e que acreditam na nossa missão. Mas também investimos muito para desenvolvê-los depois. Eles recebem 40 dias de formação todos os anos. Quando os estudantes estão fora da escola, nos projetos na comunidade, os professores ficam aprendendo e crescendo. É bom para todos.
iG: Vocês têm dificuldades para encontrar bons professores, preparados para aplicar um modelo inovador de educação?
Tavenner: Temos vários candidatos sempre. Eu não acredito em escassez de bons professores. Algumas pessoas nos EUA acreditam nisso, mas eu não concordo. Todo o professor que eu conheço quer fazer o bem para seus alunos. Mas quando o professor entra em uma escola ou sistema de ensino que não funciona e que faz com não seja bem sucedido, mesmo trabalhando muito, começa a ficar desmotivado. Se ele tiver a oportunidade de trabalhar em uma escola que o valorize como profissional e na qual consiga fazer um bom trabalho, sempre gosta.
iG: Os salários das escolas Summit são mais altos que a média?
Tavenner: São salários competitivos.
iG: E que equipamentos os alunos têm disponíveis?
Tavenner: Nós damos um laptop para cada estudante e conexão de internet. Naturalmente, todos eles levam seus celulares para a escola. E os professores também têm laptop.
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iG: E as salas de aula, como são?
Tavenner: Grandes, com poucas paredes, têm apenas algumas divisórias. Se parecem com as salas de trabalho de empresas de tecnologia.
iG: O custo de uma escola Summit é superior ao de uma escola pública tradicional americana?
Tavenner: É o mesmo. Às vezes é um pouco menos. As escolas charter (geridas pelo setor público e privado, como as Summit ) recebem um pouco menos de dinheiro do governo que as regulares. Ou seja, a manutenção não é mais cara que a das tradicionais. Usamos o dinheiro de forma diferente, mas não é mais.
iG: Por que as doações são necessárias?
Tavenner: Nós precisamos das doações para começar. Não temos dinheiro para construir o prédio, instalar a tecnologia. Não temos nada. As escolas charter só começam a receber dinheiro do governo quando os alunos começam a aprender. Precisamos do capital inicial.
iG: A missão das escolas Summit é preparar os alunos para a universidade. Existem movimentos nos EUA que defendem que fazer um curso superior não é o único jeito de obter sucesso . O que você pensa sobre esse posicionamento?
Tavenner: Existe, mesmo, um pequeno debate sobre essa questão. Mas a maioria das pessoas que defendem isso são pessoas que foram para a universidade e tiveram sucesso. Você não ouve pessoas pobres dizendo isso, você não ouve mães de jovens que querem ir para a universidade dizendo isso. Então eu não acho que essa seja uma boa discussão. De qualquer forma, nenhum estudante vai ser prejudicado por ser preparado para a universidade. Se depois ele escolher não ir, já terá aprendido muitos valores e conhecimentos que o preparam para uma carreira. Eu acho que o nosso trabalho no sistema público de ensino deve ser o de preparar o aluno para a universidade para que ele tenha condição de escolher. Se ele preferir não ir para a faculdade, tudo bem.
Fonte: iG