domingo, 5 de maio de 2013

Mostrando a Língua - 79

Segue a dica, meus bons diqueiros:
Há algum tempo, conversamos, eu e minha amada irmã, sobre um conhecido nosso que, para se referir às pessoas que moram em seu prédio, usa o termo 'MORADEIRA'. Afinal, pergunta ela, isso existe?
NÃO EXISTE, gente, a não ser na língua saborosa, tão generosa e livre de preconceitos do povo.
Mas, a Academia que não é generosa ( isso é uma crítica, sim?) cunhou o termo 'MORADORA', feminino de morador, e pronto! Os dicionários não aceitam a contribuição da língua falada e, com isso, perdem a oportunidade de enriquecer o léxico.
Vejam que belo texto encontrei em minhas 'andanças' literárias sobre o termo em questão, entre outros( os grifos são meus): ( o texto inteiro está no anexo e é 'bonidemais', como querem os mineiros.
' [...] Foi governado pelo meu sertanejo coração de sangra-d'água e aguapé que este "moradense" deixou de ser um morador de sua cidade, mas virou um assíduo "moradeiro". Explico: "moradense" é quem nasce e vive em Morada Nova. Quem nasce noutras terras e muda-se para Morada Nova é "morador". E aqueles que, tendo ou não nascido lá, vivem em outras terras, mas frequentam frequentemente a nossa cidade, estes, somos os "moradeiros", seja a negócios, por lazer ou amor.
Eu, cá de minha parte, virei moradeiro por pura necessidade: sarar uma neurose de saudade, um banzo. E voltar a Morada Nova é parte da cura: o chá, o divã.'
Que trecho mais lindo, não é? Aí, ele justifica o uso de MORADEIRO, muito mais expressivo, segundo o autor ( e é!) para designar o amor pela terra.
 Abçs da Edinalda
GUTTA CAVAT LAPIDEM NON VI, SED SAEPE CADENDO.
( água mole em pedra dura tanto bate até que fura)

sábado, 4 de maio de 2013

Reforma de base


Na semana passada, o golpe militar de 1964 completou 49 anos. Além de tentar barrar a influência socialista neste lado da Cortina de Ferro, o golpe visava impedir as Reformas de Base que o governo Goulart se propunha a fazer. Elas eram uma necessidade para desamarrar os recursos econômicos improdutivos e distribuir melhor o produto de nossa economia.
Desde nossa origem, o Brasil foi um país que mantinha seus recursos acorrentados. Especialmente a terra, amarrada então por latifúndios improdutivos, e mão de obra sem instrução e impedida de trabalhar na terra. A reforma agrária visava liberar terras ociosas e a utilização de mão de obra ociosa no campo, a fim de desacorrentar a terra e a mão de obra.
As elites brasileiras temiam perder o controle sobre os recursos de sua propriedade e, em consequência, a renda que os recursos lhes proporcionariam. Somam-se a esse temor as forças internacionais. Elas temiam que as Reformas de Base pudessem ser os primeiros passos para libertar o Brasil do bloco dos países ocidentais e levá-lo para o bloco socialista. A Guerra Fria no mundo e o egoísmo no Brasil levaram ao golpe militar que barrou as reformas e atrelou o Brasil ao bloco ocidental.
Apesar de abortadas as reformas, o Brasil conseguiu crescer, aumentando renda para dinamizar produtos para a população de alta renda. Porém, criou desigualdade social que caracteriza a nossa sociedade. A indústria cresceu, mas ao custo da desorganização vergonhosa de nossas cidades, que viraram verdadeiras monstrópoles. Graças à ciência e à tecnologia, o nosso campo ficou mais dinâmico do que nunca (salvo no tempo do açúcar no século 17), mas vulnerável porque ainda depende da demanda externa por nossas commodities.
Mesmo crescendo, o Brasil ainda precisa fazer reformas de base em sua estrutura social e econômica. A reforma agrária já não visa tanto liberar recursos, porque a mão de obra já emigrou e a tecnologia usa a terra de latifúndios produtivos. Mas ainda é necessária por razões sociais: para os brasileiros sem terra e para a redução da migração às cidades.
O simples avanço não basta. A grande reforma do século 21 é a reforma no sistema educacional, que assegure Escola com alta qualidade e igual para cada brasileiro, capaz de liberar o imenso patrimônio intelectual latente de um povo à espera de sua Educação; e capaz de quebrar o círculo vicioso da pobreza.
O objetivo da reforma educacional é fazer que cada menino ou menina do Brasil tenha acesso à Escola com a mesma qualidade, não importa a cidade onde viva nem a renda de sua família. Todos os pequenos experimentos e medidas adotadas nos últimos 30 anos não têm permitido um salto rumo à federalização da Educação, no nível e na distribuição de que o Brasil precisa. O país precisa de uma reforma cujo caminho é a federalização da Educação de base e fazer que cada uma das mais de 156 mil Escolas públicas do país tenha, pelo menos, a mesma qualidade das atuais 431 Escolas federais de Educação de base.
É preciso fazer que cada uma delas receba o mesmo valor de investimento na Educação para que, por seu total esforço, tenha seu desenvolvimento e possa desenvolver o país. E o investimento precisa ser do governo federal porque a renda dos municípios varia muito, com cidades ricas e cidades pobres.
49 anos depois, a reforma da Educação de base é a reforma de base para o século 21.
Cristovam Buarque, Professor da UnB, senador (PDT-DF), in: Gazeta do Povo (PR)

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Ensino freia adaptação ao mundo digital


Com um dos piores Ensinos de matemática e ciências do mundo, o Brasil reduz sua capacidade de adaptação ao mundo digital. Um informe apresentado ontem pelo Fórum Econômico Mundial aponta que o País subiu apenas da 65.ª para a 60.ª posição entre as nações mais preparadas para aproveitar as novas tecnologias em seu crescimento.
Além do ranking sobre capacidade de adaptação ao mundo digital, o Fórum divulgou outros dois, referentes ao Ensino de matemática e de ciências.
Entre os 144 países avaliados, o Brasil aparece no 116.º lugar em Educação, atrás, por exemplo, de Chade, Suazilândia e Azerbaijão. Em ciências, Venezuela, Lesoto, Uruguai e Tanzânia estão melhores posicionados no ranking que o Brasil, que ocupa a 132.ª posição.
O resultado é uma estagnação no avanço da tecnologia no Brasil, apesar dos investimentos públicos em infraestrutura e de um certo dinamismo do setor privado nacional. Na América Latina, países como Chile, Panamá, Uruguai e Gosta Rica estão melhores preparados para enfrentar o mundo digital que o Brasil.
"Apesar desse progresso, a tradução dessa maior cobertura em impactos econômicos em inovação e competitividade está estagnada", alerta o documento. Um dos motivos é a "qualidade do sistema educacional, que aparentemente não garante as habilidades necessárias para uma economia em rápida mudança em busca de talentos", indicou. Mesmo em países pobres como Senegal, Quênia e Camboja, o acesso de Escolas à internet é superior, segundo o informe.
O ranking é liderado pela Finlândia, seguida por Cingapura e Suécia. O Brasil, de fato, vem ganhando posições. Mas os autores do informe estimam que aposição hoje do País no ranking não condiz com uma das sete maiores economias do mundo.
O informe considera que a maioria das economias em desenvolvimento continua sem conseguir criar as condições necessárias para reduzir a falta de competitividade existente na área da tecnologia de informação, em comparação às economias desenvolvidas. "No Brasil temos grande desenvolvimento por parte de empresas multinacionais para melhorar a competitividade, mas esse empenho não se estende por todo o setor privado", alertou o editor do informe, Beñat Bilbao-Osorio.
Internet. A subida de posição do Brasil no ranking vem dos avanços em infraestrutura e do fato de o país ter dobrado a capacidade de uso de banda larga, além de ampliar a rede de celulares. Em bandas fixas, o Brasil é o 11.° colocado no ranking.
Outro problema sério, porém, é o ambiente para promover inovação e burocracia, além do custo dos celulares, um dos mais altos do mundo. O Brasil aparece na 130.ª posição entre os 144 países, superado pelo Gabão.
O número de usuários de internet no Brasil, em 2011, também não chegava ainda a 45%, o que deixa o País na 62.ª posição nesse critério, abaixo da Albânia. Apenas um terço dos brasileiros tem internet em casa. A taxa despenca para apenas 8% se o critério for o número de casas com banda larga.
O Brasil não é o único a passar por essa situação. "Os Brics (Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul) enfrentam desafios", diz o informe. "O rápido crescimento econômico observado em alguns desses países nos últimos anos poderá ser ameaçado, caso não forem feitos os investimentos certos em infraestruturas, competências humanas e inovação na área das tecnologias da informação", alerta.
"A digitalização criou 6 milhões de empregos e acrescentou US$ 193 bilhões à economia global em 2011. Apesar de positivo, o impacto da digitalização não é uniforme nos setores e economias - cria e destrói empregos", disse Bahjat El-Darwiche, Sócio, Booz & Gompany.
Fonte: O Estado de S.Paulo (SP)

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Conheça os conceitos que vão mudar a escola e o aprendizado


 “Na sala de aula, cada um é diferente e aprende de forma diferente”. A afirmação feita por Joel Rose, cofundador e diretor executivo da New Classrooms Innovation Partners, em evento em São Paulo na semana passada sobre novos modelos para o ensino público, é senso comum entre professores e o desafio principal de quem pensa e trabalha pela educação do futuro. No Transformar 2013, que reuniu mais de 800 pessoas, entre educadores, gestores e empreendedores, exemplos concretos norte-americanos de escolas inovadoras – e bem sucedidas – mostram que já é possível personalizar a aprendizagem e como não há apenas um modelo para fazer isso.
Conheça conceitos que vão transformar as escolas (e onde foram aplicados):
 
Personalização – Entender as necessidades de cada estudante é o diferencial da School of One, uma plataforma criada para escolas de Nova York por Rose e Christopher Rush e que tem a tecnologia como principal aliada para a tarefa. Baseado em uma avaliação feita no início do ano, o sistema elabora um mapa de habilidades e plano de estudos individual. Mas para isso, utiliza experiências de outros alunos. Um enorme repositório de lições está disponível e o banco de dados prevê que tipo de atividade é mais adequado ao perfil de cada um. “A melhor maneira de aprender pode ser com aulas online, em grupos ou estudando sozinho. O nosso algorítimo usa as experiências já aplicadas para identificar isso”, explicou Rose. Uma receita parecida é usada no grupo de escolas Summit, na Califórnia , na qual os estudantes também passam por uma avaliação no início do ensino médio, para elaborar um plano de estudos de acordo com seus objetivos de carreira. A tecnologia, novamente, é usada para avaliar em todos os momentos o que cada aluno já aprendeu e se já está pronto para aprender mais. “Cada um segue no seu ritmo”, contou a diretora executiva da rede, Dianne Tavenner.

Plataforma adaptativa – Para proporcionar o ensino personalizado, existem plataformas tecnológicas de ensino online que ajudam a elaborar e entregar os conteúdos necessários para os diferentes tipos de alunos. José Ferreira, fundador da Knewton, ferramenta que fornece lições de matemática, diz que o volume gigante de informações – maior que o do Facebook – que sua base de dados oferece revoluciona o ensino. A plataforma mostra ao professor com agilidade o que os estudantes aprendem, quando erram, no que tem dificuldades e como aprendem e ajuda a elaborar aulas.

Ensino híbrido – A sala de aula já não tem mais um professor falando em frente ao quadro negro e alunos sentados em carteiras organizadas em fileiras iguais nas oito escolas públicas gerenciadas pela ONG New Classrooms, de Joel Rose. Para que cada um possa aprender do seu jeito, também é realizada uma mudança física e os alunos sentam nas mais variadas formas: sozinhos, em grupos pequenos ou grandes, em frente a computadores ou usando material impresso. No espaço reorganizado, fazem atividades distintas, algumas online e outras, não. Para que esse modelo híbrido funcione, o papel do professor também muda para o de mentor. Segundo Tavenner, das escolas Summit, os docentes acompanham as atividades realizadas em um espaço grande, sem paredes, e orientam os alunos de várias formas: resolvendo dúvidas, questionando, provocando debates, orientando atividades e projetos.

Engajamento – O interesse das crianças é o ponto de partida para o aprendizado na escola de ensino fundamental Quest to Learn, em Nova York. Apoiada pelo Instituto of Play, um estúdio de design sem fins lucrativos liderado por Brian Waniewski, a escola constrói o engajamento dos alunos através de jogos. Segundo Waniwski, a lógica dos videogames é apropriada para o aprendizado porque proporciona um ambiente com regras, nas quais há etapas a serem vencidas, mas que tolera erros. E mais: oferece feedback constante. Para usar esses elementos, o Instituto of Play tem profissionais especializados em criar jogos educativos que dão suporte aos professores e incentiva também os alunos a inventarem os seus próprios. Outra forma de promover o engajamento é conectar o ensino com a realidade. Essa é a aposta de Melissa Agudelo, reitora de admissões do grupo de 11 escolas High Tech High, de São Diego. “Os alunos precisam ver sentido no que aprendem”, diz. Nas escolas, há muitas atividades práticas, os alunos saem da sala de aula e têm experiências na comunidade e precisam resolver problemas reais.

Educação por projetos – O fim da grade de disciplinas separadas é uma das experiências das escolas High Tech High para tornar o aprendizado mais relevante aos alunos. Segundo Agudelo, os estudantes não são divididos por série, nível de habilidade e aprendem vários conteúdos integrados. Para isso, os professores estimulam alunos a desenvolverem projetos, solucionar problemas, nos quais precisam usar vários tipos de conhecimento. Nesse caso, professores de áreas diferentes se envolvem com os mesmos projetos.
Fonte: iG

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Mostrando a Língua - 78

Caros diqueiros,
Para DIA DO TRABALHADOR/TRABALHO , além de lhes mandar um abraço, recortei e enfeitei de verde-esperança, dois versos do 1º texto, de 1930, de Ferreira Gullar, em que o poeta diz:
'Se habito nas imensas oficinas,
moro na tenda do ferreiro pobre,'
(O Trabalho- Ferreira Gullar-1930)
Mas, fazendo jus à inspiração do dia...vamos trabalhar!
Vem de nosso diqueiro VILMAR RANGEL a seguinte 'consulta' ( que colori de azul e grifei o trecho em questão):
Caríssima: lendo suas dicas sobre amuado, avacalhado etc., lembrei-me daquele vocábulo clássico - enfezado -, cuja origem (salvo engano) está na palavra fezes, que, no tempo da escravidão, eram transportadas no alto da cabeça em vasilhas ou baldes que, a um descuido, caíam sobre rosto, ombros, corpo do coitado, causando-lhe (é claro) grande aborrecimento e raiva. É isso mesmo ?
Eta papo mal cheiroso, Vilmar! Rsssssss Mas tudo pela etimologia, não é? Vamos lá!
Essa palavra tem etimologia curiosa. Nem sempre quer dizer zangado ou com raiva. No Sul, quando a festa está boa, fica ENFEZADA; em outras regiões , se alguém está fraco fisicamente ou raquítico, está ENFEZADO! Nada a ver com fezes, não é?
Pois bem: na etimologia oficial, deriva de infensare, verbo Latino ( infenso, -as, -atum, -are) que significa opor-se a alguma coisa com vigor, hostilizar, ficar raivoso.
Mas, há dicionaristas que concordam em conotar ENFEZAR com fezes. É o caso do professor Silveira Bueno — ex- Professor da Universidade de São Paulo (falecido), um maiores filólogos de cátedra de nosso país.
Parece, então, de correta etimologia (científica) aquilo que eméritos filólogos e dicionaristas ( Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa”, de Francisco da Silveira Bueno) apontam a respeito o vocábulo enfezar, endossado pelo sentido popular do vocábulo ( foex,-cis= resíduos).
Ainda assim, fica a dúvida de Vilmar, de Aurélio Buarque, de Sérgio Nogueira e minha, ora!
Apontei as duas possibilidades, mas não se pode afirmar com certeza de quald elas se origina a palavra, até porque, o vocábulo é usado com outras acepções totalmente diferente no Sul e para designar fraqueza física.
Sugiro que , para nosso conforto, apliquemos a que mais de adeque ao contexto.
forte abraço, bom feriado,
Edinalda

sábado, 27 de abril de 2013

"Avaliação precisa ser permanente"


Pouco mais de um mês após o início do ano letivo, um tema polêmico ainda concentra as discussões nas Escolas: a chamada “avaliação emancipatória”, processo implantado pela Secretaria Estadual da Educação que dá chance de recuperação a Alunos do Ensino médio reprovados. O secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo, reconhece que a recuperação precisaria ser feita ao longo do ano, mas defende a aprendizagem como um direito do estudante. Nesta entrevista, concedida em março e complementada na semana passada, Azevedo também aborda o salário dos Professores e outros temas da área.

Zero Hora – No ano passado, o concurso para o magistério teve um índice de aprovação muito baixo. Qual a sua expectativa para o próximo concurso, que chegou a ter mais de 80 mil inscritos (com quase 70 mil inscrições homologadas)?
Jose Clovis de Azevedo – Fico me perguntando, quando se diz que ninguém mais quer ser Professor hoje. Claro que vale a pena. Na minha situação de Professor aposentado, eu vou chegar, no ano que vem, incorporando esses 76% (de reajuste), a um salário de quase R$ 6 mil. Como é que não vale a pena uma carreira em que se chega ao final com um salário de R$ 5 mil, R$ 6 mil. Não vai ficar rico, mas é um salário digno, ainda mais considerando que é uma carreira de massa.

ZH – Recentemente, o Todos Pela Educação divulgou relatório em que aparecem 226 mil crianças fora da Escola no Estado.
Azevedo – Esse número dos 226 mil não é uma responsabilidade exclusiva do Estado. O Ensino fundamental é compartilhado com os municípios, e a Educação infantil é exclusividade dos municípios. No Ensino médio, temos em torno de 50 mil a 60 mil em idade de 15 a 17 anos fora da Escola. Não temos nenhum problema para atender esses Alunos, só que eles não aparecem.

ZH – Por que o Ensino médio não consegue atrair os jovens?
Azevedo – Porque o Ensino médio, e o Ensino em geral, é muito formal, muito fora da vida, fora da realidade. Essa reforma do Ensino médio que estamos fazendo tenta encontrar esse caminho. Só que não basta o Estado fazer uma reforma. É preciso que os Professores, que as Escolas, que as famílias estejam convencidas.

ZH – O senhor conseguiu convencer a comunidade Escolar?
Azevedo – Essas coisas não se conseguem a curto prazo. Os primeiros resultados no Ensino médio se traduzem no grande entusiasmo dos Alunos, que fazem pesquisa, descobrem coisas. Mas não é na mesma proporção que os Professores, com os Professores é mais difícil, mais devagar.

ZH – A avaliação emancipatória está provocando polêmica, e uma das críticas é o fato desse processo de recuperação ter sido feito em março. Não deveria ter ocorrido ao longo de todo o ano passado?
Azevedo – Tem que ser feito ao longo do ano, isso está correto. O processo de avaliação tem que ser permanente e imediato. Se alguém não aprendeu, tenho que saber naquele momento que não aprendeu e criar as condições para que ele avance naquele momento. Só que, enquanto isso não acontecer, nós temos que ter outros mecanismos.

ZH – Mas por que essa recuperação já com o ano letivo rodando?
Azevedo – Se ela não foi conseguida no ano anterior, ela tem que ser conseguida durante o processo.

ZH – E se não for?
Azevedo – O problema é de todos nós. Às vezes, o Professor fala como se ele não tivesse nada a ver com essa situação. Ele é o principal responsável. Alguém vai dizer: “Está dizendo que o Professor é o culpado.” Não existe culpa, existe responsabilidade. Nós, Professores, somos especialistas em ensinar. Quando alguém não aprende, o especialista não está conseguindo cumprir a sua tarefa. O objetivo da Escola não é reprovar, é garantir a aprendizagem.

ZH – Os Professores dizem que são obrigados a passar um Aluno que não foi bem.
Azevedo – Ele não é obrigado a passar, ele é obrigado a recuperar esse Aluno. Pode ser que ele chegue num limite, teve aquele Aluno que não pôde ser recuperado, e ele não vai passar. E aí não é um problema só dele, é um problema da Escola enquanto instituição, ela tem que se movimentar nesse sentido. As pessoas aprendem em ritmos diferentes. E a Escola do século 21 tem que trabalhar nessa perspectiva.

ZH – Fala-se que seria uma forma de diminuir os índices de repetência.
Azevedo – Não tem o menor sentido. Não é isso que vai diminuir substancialmente a repetência, porque vamos continuar tendo, por um bom tempo, um grande número de Alunos que vai ser reprovado em mais de uma área. Agora, o interesse do Professor e da Escola deveria ser de diminuir os índices de repetência. Deveria ser o maior objetivo, não artificialmente, mas pela aprendizagem. A repetência é um fracasso do Aluno, da família, do Professor, da Escola e do secretário de Educação. Eu me sinto atingido. Assim foi quando eu era Professor e hoje sinto da mesma forma.

ZH – Por que a secretaria resolveu ampliar as possibilidades de aprovação este ano, quando Alunos que tiveram nota ruim em mais de uma área farão recuperação e podem passar para o 2º ano?
Azevedo – O que está se fazendo é uma oportunidade a mais para aqueles Alunos que foram mal, não tiveram um bom aproveitamento. Porque nós temos que estar sempre estimulando o Aluno a crescer, desafiando o Aluno a superar suas dificuldades. Então essa oportunidade fica ao arbítrio da Escola. Não significa nenhuma pressão para aprovação de Alunos que não têm condições. Não significa em hipótese alguma a aprovação automática, não significa que a Escola não tenha autonomia para aprovar ou reprovar esse Aluno.

ZH – Mas isso não acaba nivelando para baixo a exigência?
Azevedo – Não, porque a exigência é a mesma. É a mesma exigência de avaliação que o reprovou durante o semestre, no ano anterior. O tempo de aprendizagem de um Aluno não é o ano letivo oficial, o tempo de aprendizagem das pessoas é a sua experiência de vida. É um equívoco essa visão predominante no Brasil de que a Escola existe para medir um nível de conhecimento em determinado momento e, a partir daí, fazer um julgamento definitivo. A concepção de avaliação emancipatória é essa que aposta nas pessoas. É uma oportunidade a mais. Lembro que fui reprovado em matemática em 1962. E tive a oportunidade de fazer a segunda época em fevereiro. A partir daquela oportunidade, a matemática passou a ser o principal campo de interesse, e eu tirei 10 na prova.

ZH – Mas essas oportunidades precisam ser muito bem feitas para não se correr o risco de empurrar o problema para frente.
Azevedo – Esse é o papel da Escola e do Professor, fazer as coisas bem feitas.

ZH – As Escolas optaram por metodologias distintas para a recuperação. Não se corre o risco de ter processos com níveis de exigência muito diferentes?
Azevedo – Se isso acontecer, não será por esse motivo, porque isso acontece sem essa oportunidade de recuperação. As Escolas têm níveis de exigência diferentes, e inclusive diferenciado de um Professor para outro dentro da mesma Escola. Então isso acontece já. O que nós queremos é que a avaliação seja uma coisa séria, e que o Aluno para ser aprovado realmente tenha crescimento perceptível.

ZH – Alguns dos relatos são de que não se teve muitas condições para se fazer essa recuperação.
Azevedo – Mas aí eu teria que dizer, então, que não podemos dar aula. Porque as condições são as mesmas, para fazer um trabalho de recuperação ou para fazer um trabalho tradicional.

ZH – Os Professores estavam preparados para a mudança?
Azevedo – A gente nunca está preparado para as inovações, a gente se prepara na prática. A Educação no Estado tem sido muito criticada pelos altos índices de evasão e repetência. Não há nenhum motivo para se dizer que o que estava sendo feito era melhor do que o que está se tentando fazer agora.

A AVALIAÇÃO
COMO ERA
- O estudante recebia notas, de zero a 10, calculadas com base no desempenho em testes, trabalhos e outros recursos de avaliação. A nota era dada por disciplina.

COMO FICOU
- O estudante receberá apenas quatro conceitos – um para cada área em que as disciplinas tradicionais foram agrupadas: linguagens (língua portuguesa e estrangeira, literatura, Educação física e artes), matemática, ciências da natureza (biologia, física e química) e ciências humanas (história, geografia, sociologia e filosofia).
- Se o Aluno apresentar desempenho insatisfatório em apenas uma área, poderá passar de ano, na situação de Progressão Parcial. Se receber conceito insatisfatório em pelo menos duas áreas, é reprovado – neste ano, no entanto, os reprovados receberam uma chance de passar de ano depois de recuperação.
Fonte: Zero Hora (RS)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Nova Educação a caminho do palanque


A campanha da reeleição terá um assunto que, até agora, sempre entrou na disputa do voto apenas na sua porção propaganda: a Educação. A abordagem que se pretende fazer no governo, daqui para o futuro, é diferente. A ideia é projetá-la para sensibilizar os que, com razão, veem no Prouni o que ele é, um programa de bolsa de estudo para estudantes pobres, e nos exames de avaliação dos graus de Ensino um instrumento de formulação de políticas e identificação de deficiências. Quem dá ao assunto a importância merecida considera maçante esse tratamento de divindade a programas que não são um fim em si mesmos e, pela forma como são encarados, não atingem os objetivos para os quais existem, a qualidade da Educação oferecida no Brasil.
A Educação de qualidade ainda precisa ser uma meta porque resiste às realizações que os sucessivos governos acreditam ter levado a cabo. Os estudantes brasileiros continuam com dificuldades extremas para aprender matemática e ciências, sem que um método eficaz e uma formação adequada do Professor para aplicá-lo tenham sido descobertos. Ainda é grande a rede de Professores sem formação e os governos relutam em pagar a esses profissionais, os mais importantes no espectro das profissões existentes, os salários dignos. No Ensino médio, a dificuldade extrema se concentra em física e química, o que fecha a equação: esta é a base que se precisa erguer para qualificar a Educação. Desde que o mundo é mundo.
A presidente Dilma já definiu a Educação como a área para ter sua atenção prioritária, no governo e, em consequência, na campanha da reeleição. Escolheu, e não abriu mão até agora apesar das disputas, para ser o único setor a ser contemplado com a riqueza do pré-sal. E prepara outras medidas, além das já em vigor, para enfrentar o intrincado problema da qualidade.
O petróleo acaba. Qual vai ser o Brasil pós-petróleo?
Em um sistema que se apresenta no gabinete do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a primeira grande prioridade é a Creche, tratada não naquela forma superficial da primeira campanha, de 2010, mas como a peça importante e inicial de uma engrenagem. Estudos nos quais se baseia o governo para enfrentar a Educação no início do período Escolar mostram que a criança, quando chega aos seis ou sete anos, não consegue escrever o que não fala e, com uma família pouco letrada, que não domina vocabulários, assim continuará se não for estimulada. Na Alfabetização, essa criança fica para trás: 15% das crianças no Brasil não aprendem a ler e a escrever até os oito anos de idade. Neste momento da nova Educação, o governo pretende oferecer o Fundeb e mais 50% por criança às prefeituras para que a busquem e a alfabetizem até os oito anos de idade.
O segundo programa no conjunto da nova Educação é o pacto nacional pela Alfabetização na idade certa, que começou a ser implantada este ano. Todos os secretários de Educação já aderiram e 95% dos municípios também. Mercadante esclarece que o governo federal está dando uma bolsa de R$ 200 por mês para 362 mil Professores alfabetizadores, e 38 universidades trabalham nesse projeto, 15 mil monitores estão acompanhando a produção do material pedagógico produzido por essas universidades. As crianças serão avaliadas para que se possa comprovar se foram ou não alfabetizadas.
"É um dos projetos mais importantes desse conjunto, é isso que vai mudar a situação lá na frente. A criança que não aprendeu a ler e a escrever, em algum momento vai abandonar a Escola. Gastamos R$ 9 bilhões só com repetência, pois tem que fazer de novo o que não fez bem feito", afirma o ministro.
O terceiro programa da nova Educação é a importante Escola em tempo integral. A meta para 2014 era instalar 30 mil Escolas com esse modelo, o que já foi feito em 2012. Agora, o objetivo dobrou para 60 mil. "São sete horas de atividade Escolar, sendo que das três horas adicionais, pelo menos uma hora e meia destina-se ao reforço em matemática, português e ciências", informa Mercadante".
Desenvolver o Ensino médio, calcanhar de aquiles de vários governos em vários mandatos, resistente a medidas e uma fase essencial para a formação do adolescente e adulto, é uma meta que integra o conjunto dos novos objetivos do governo na área onde o Ideb menos avançou.
"Primeiro estamos fazendo um programa com 25 Estados, que é a distribuição de tablets nas Escolas. Os Professores vão receber 600 mil tablets com todo o conteúdo pedagógico embarcado. Pela primeira vez o Professor vai ter todos os livros didáticos em seu tablet em PDF. O Professor recebe o tablet, o material pedagógico e um projetor digital por sala de aula que lhe permite criar um ambiente de internet para dar suporte ao Ensino médio", comenta o ministro. Isso permitirá ampliar a pedagogia para matemática, física e química, áreas em que não há Professor disponível hoje.
Ainda no Ensino médio, o governo federal começa a discutir com os Estados uma adaptação dos currículos, com a constatação de que a grande maioria dos concluintes se dirige ao Enem e, por isso, as áreas estratégicas do Ensino médio precisam ser redefinidas.
O quarto programa é a pós-graduação, são os projetos de pesquisa e o Ciência sem Fronteiras, que está colocando 100 mil Alunos nas melhores universidades estrangeiras, dos quais 45 mil este ano. "Aumentou em 20% a demanda por cursos de línguas no brasil por causa do ciência sem fronteiras e fizemos um convênio com o melhor portal de inglês no mundo para distribuir 2 milhões de senhas, para fazer um curso interativo que reconhece voz, corrige pronúncia, o melhor curso que tem no mercado". São todas, sem exceção, medidas voltadas para a qualidade. Mercadante afirma que tudo, em Educação, precisa dar um salto quântico, mas a seu ver são duas as questões chave para este momento: a valorização do Professor com formação e salário, e a Escola em tempo integral. Para isso é preciso...
"Chegamos ao royalties: por que têm que ir para a Educação? Porque é uma riqueza não renovável. Teremos só durante um período. Qual vai ser o Brasil pós-petróleo? Tem que ser o Brasil preparado para a sociedade do conhecimento".
Fonte: Valor Econômico (SP)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Aulas no improviso

Diante de fragilidade nas instalações elétricas, pelo menos seis Escolas estaduais têm enfrentado transtornos e improvisado locais para garantir aulas com segurança no Interior. Enquanto em São Pedro do Sul, na Região Central, o ano letivo começou ontem, após 45 dias de atraso e decisão judicial, em Montenegro, no Vale do Caí, Alunos estudam em CTG e igrejas. Já em Quaraí, na Fronteira Oeste, uma Escola funciona sem energia elétrica. Estudo, só com luz natural.
Os cerca de mil Alunos da Escola Estadual de Ensino médio Tito Ferrari, em São Pedro, estavam sem aula desde 25 de fevereiro, depois de o colégio ter sido interditado por problemas na rede elétrica e falta de Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI). Segundo o Ministério Público, que interveio diante do risco de incêndio, os bombeiros alertavam para a necessidade de reforma na rede desde 2006.
A diretora da Escola, Camila Saidelles, afirma que o novo calendário Escolar prevê recuperar as aulas aos sábados. Apesar disso, muitos pais decidiram trocar os filhos de Escola diante do risco, fato admitido pela direção, mas ainda sem números oficiais. A 8ª Coordenadoria Regional de Educação garantiu que a reforma completa deve se iniciar neste ano, com investimento de R$ 400 mil.
O coordenador adjunto, Antônio Cesar de Souza, observa, no entanto, que o PPCI estava em dia e que, mesmo que a rede elétrica da Escola devesse ser trocada, a obra poderia ocorrer com as aulas em andamento, sem necessidade de interrupção.
Levantamento feito pelo Cpers por amostragem – em 355 das 2,6 mil Escolas – indica que 54,1% dos colégios não têm ou não souberam responder se têm PPCI. O estudo, que considerou todas as regiões e incluiu Escolas urbanas e rurais de todos os níveis, também apontou que 61,4% das instituições que responderam ao questionário não têm condições adequadas de funcionamento. Em 66,5% delas, algum setor, serviço ou espaço não funciona. Há casos em que a situação é tão precária que a única alternativa é os Alunos saírem da Escola para ter aulas em outro lugar.
A Secretaria Estadual de Educação e os 12 Comandos Regionais do Corpo de Bombeiros dizem que não há Escolas interditadas no Estado. Conforme a Secretaria, as Escolas só são consideradas interditadas se os estudantes estão sem aula. Nos demais casos, onde há problemas, considera-se parcialmente interditado. O órgão estadual, no entanto, não soube informar quantas instituições estão com aulas em andamento em prédios não apropriados.

Bombeiros não conseguem vistoriar todas Escolas
A Divisão Técnica de Prevenção de Incêndios do Comando do Corpo de Bombeiros explica que as vistorias em Escolas só são feitas após a elaboração do PPCI. Também admite não ter fôlego para fazer vistorias em todas as edificações do Estado constantemente e, por isso, pede que a população colabore com informações e denúncias, em caso de problemas. A corporação diz que, recentemente, foi publicado no Diário Oficial do Estado uma ordem de serviço da Secretaria estabelecendo procedimentos a serem adotados pelas Escolas, incluindo a orientação para procurarem os bombeiros e encaminharem o PPCI.
 
Estado fará levantamento para mapear a situação
A secretária adjunta da Secretaria Estadual da Educação, Maria Eulalia Nascimento, afirma que, nos casos de interdição de Escolas, se a situação é considerada emergencial e o valor da obra for de até R$ 410 mil, o Estado encaminha a dispensa de licitação imediatamente. Se o custo for superior, é preciso análise pela Procuradoria-geral do Estado (PGE).
Ela revela que foi estabelecido acordo para avaliação de 2.574 Escolas – incluindo verificação de alvarás de PPCI –, com apoio do Corpo de Bombeiros.
O diretor administrativo da Secretaria, Claudio Sommacal, revela que será feito um termo de adequação para as Escolas mais antigas. Os novos projetos, segundo ele, já possuem as duas exigências como fatores obrigatórios:
– Faremos um levantamento para verificar em que situação se encontram as Escolas com relação ao PPCI, que deve ser publicado na sexta-feira. Assim, conseguiremos criar um plano de adequação exequível.
Fonte: Zero Hora (RS)

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação entra em vigor

 
A partir de agora, criança de 4 anos na escola não será mais uma opção dos pais. Está na lei. A atualização da Lei de Diretrizes e Bases da Educação muda algumas das principais regras para o ensino.
Em uma escola pública de Samambaia, cidade a 40 km de Brasília, já é assim: as crianças podem ser matriculadas a partir dos 4 anos.
“A criança, tem cinco refeições diárias e também ela vai na brinquedoteca, na sala de leitura, na sala de vídeo e também temos aula de educação física”, explica Telma Valquíria, vice-diretora da escola.
Segundo o texto, a educação básica passa a ser obrigatória dos 4 aos 17 anos de idade e será dividida entre Pré-Escola, Ensino Fundamental e Ensino Médio. A mudança obriga estados e municípios a oferecer escola às crianças mais novas. Mas, segundo o Ministério da Educação, eles têm até 2016 para garantir a oferta de vagas a todas as crianças.
“Para a construção de novas escolas, contratação de novos professore. É o prazo necessário para que possa adequar a essa nova realidade”, diz o secretário executivo do MEC, José Henrique Paim Fernandes.
A lei estabelece ainda que o currículo da educação infantil deve seguir a mesma base em todo o país, respeitando a diversidade cultural de cada região. O professor vai ter que acompanhar e avaliar o desenvolvimento de cada criança, mas sem o objetivo de aprovar ou reprovar o aluno.
Segundo a ONG Todos Pela Educação, um milhão e 50 mil crianças de quatro e cinco anos estão fora da escola. “Se a gente conseguir ter uma educação infantil de qualidade para todas as crianças de 4 e 5 anos, a gente tem uma possibilidade muito maior no país de garantir que todas elas estejam alfabetizadas na idade certa e poder ter as condições para viver plenamente sua vida adulta”, explica Priscila Cruz.
Para a União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação, a mudança representa a democratização do ensino no Brasil. A coordenadora estadual da entidade, Darli Zunino, disse que a ampliação das vagas estará concluída dentro do prazo.
Fonte: Jornal Nacional

terça-feira, 23 de abril de 2013

Educação nota 10 em regiões pobres


A maioria deles vive em áreas carentes, muitas vezes violentas. Mas nada que fosse empecilho para que se tornassem os campeões da Alfabetização no Rio. É de bairros e comunidades pobres das zonas Norte e Oeste a maior parte dos Alunos com melhores resultados na prova Alfabetiza Rio 2012 - que avalia o desempenho em leitura, escrita e matemática no 1º ano do Ensino fundamental da rede municipal carioca. A média mais alta (233,8 pontos), por exemplo, veio da turma 1.103 do Ciep 1º de Maio, perto da conflagrada Favela de Antares, em Santa Cruz. Em seguida vieram os Alunos da turma 1.101 da Escola Municipal Octávio Tarquínio de Souza, na Pavuna (com 233,7). Crianças que são o orgulho de suas Professoras, as melhores alfabetizadoras da cidade e que têm em comum a profissão levada quase como um sacerdócio.
É assim que Cassilda Almeida dos Santos, a Professora do 1º de Maio, encara sua rotina como Educadora. A moradora de Sepetiba conta que, há 13 anos, trocou a contabilidade pelas salas de aula. Buscava, segundo ela, se encontrar. E, depois de muitos convites, aceitou em 2007 a transferência para o Ciep de Antares. Acreditava que podia contribuir mais num colégio em turno integral. Mas tinha pela frente o desafio de dar aulas numa Escola em que a violência pode reduzir drasticamente a frequência dos Alunos em determinados dias.
- Com certeza, é preciso trabalhar a autoestima dessas crianças, que precisam se sentir acolhidas, num ambiente diferente - diz Cassilda.

Estímulo à leitura
Segundo a Professora, ter uma turma considerada a melhor na Alfabetização da rede municipal foi resultado de um trabalho diário, para identificar potencialidades e também as dificuldades de cada um. Tarefa aliada a atividades como o estímulo constante à leitura, de forma interativa e atraente, além de atenção para levar à Escola temas que chamam a atenção da garotada.
- Ano passado, a turminha estava aficionada pela música das "empreguetes" da novela "Cheias de charme". Fizemos uma paródia da música. E eles adoraram! É muito gratificante o resultado. Realmente me apaixonei pela Escola e pelos Alunos. E tenho uma afinidade muito grande com eles - ressalta Cassilda.
Essa dimensão afetiva, de Professores atentos a cada uma das crianças, é um dos fatores que fazem diferença, de acordo com a secretária municipal de Educação, Claudia Costin. Ela destaca que, no Rio como um todo, as médias da Alfabetiza Rio têm mostrado uma evolução positiva desde 2010, quando a avaliação - feita pela Universidade Federal de Juiz de Fora - foi implantada. De lá para cá, o nível de Alfabetização saltou de 79,6% para 90% em leitura. Já em matemática, pulou de 80,7% para 90,5%. E em escrita, avaliada pela primeira vez ano passado, alcançou índice de 76,7%. Avanços obtidos independentemente de as Escolas estarem em áreas ricas ou pobres da cidade.
- Conseguimos mostrar que é possível, em Escola pública e em áreas violentas, alfabetizar até os 6 anos de idade - afirma a secretária, lembrando que a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (que engloba Pavuna, Costa Barros, Anchieta, Acari e arredores, região com o Índice de Desenvolvimento Humano mais baixo do Rio) sempre se destaca.
A prova Alfabetiza Rio apresenta dois rankings: das melhores turmas e Escolas. Na relação dos dez melhores colégios, liderada pelo Ministro Carlos Alberto Direito, em Triagem, há três unidades da Pavuna. Já no ranking das melhores turmas, enquanto a primeira da Zona Sul (da Escola Estácio de Sá, na Urca) aparece na décima posição, a 1.102 da Professor Escragnolle Dória, na subida do Morro da Pedreira, em Costa Barros, ficou em quarto.
Desde o ano passado, a turma 1.101, da Escola Octávio Tarquínio de Souza, é regida pela Professora Urânia Souza dos Santos, que, com 26 anos de magistério, conduz a meninada com calma e brandura. Só na Tarquínio, são 23 anos ininterruptos como Professora. Já prestes a se aposentar, Urânia acredita ser um exemplo para os pequenos, muitos moradores de áreas conflagradas.
- Sou filha de empregada doméstica. Vim de uma região marcada pela violência em Belford Roxo. Às vezes, minha mãe precisava mentir, dizer que morava em outra cidade, para conseguir emprego. Mas fez de mim e da minha irmã Professoras. Tento plantar a sementinha nos meus Alunos de que eles podem ser o que quiserem - diz ela. - Sinto como se eu fizesse parte das famílias das crianças. E acredito que não é possível alcançar resultados sem amor.
Fonte: O Globo (RJ)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

A Matemática vai mal!


 “Não gosto. Isso é muito difícil!”, afirma Thaylla Emília de Oliveira Fe­rreira, aluna do 9° ano do Colégio Estadual Cultura e Coope­rativismo, em Goiânia, justificando seu desinteresse pela Matemática. A estudante, que acabara de ser expulsa da aula, sabe que vai precisar da disciplina futuramente, mas, por agora, não se preocupa com isso.
Ela é só uma entre os milhares de estudantes brasileiros que não gostam e que apresentam dificuldades no aprendizado da matéria, considerada uma vilã por uma grande maioria de alunos.
Um relatório elaborado pelo Movi­mento Todos pela Educação comparou o rendimento dos alunos do 5° ano do Ensino Fundamental ao das turmas do 3° ano do Ensino Médio. E os resultados foram claros: as escolas brasileiras não estão conseguindo ensinar Matemática.
De acordo com o estudo, quase 90% dos estudantes brasileiros que concluem o Ensino Médio saem da escola sem saber noções básicas da disciplina como operações de álgebra, leitura de gráficos, mapas e tabelas, probabilidade e porcentagem, entre outros.
Mas o prejuízo dos alunos não é apenas acadêmico. “A Matemática te dá ferramentas de pensamento lógico, racional, de análise crítica e recursos para enfrentar problemas e buscar novas soluções. O que preocupa não é que os alunos não tenham o conhecimento da disciplina, mas que eles não tenham nada desse pensamento matemático associado a ela, que é o que nos capacita para fazer muita coisa socialmente”, defende a coordenadora do grupo Mathema de formação e pesquisa, Kátia Stocco Smole.
Embora o Ensino Médio tenha apresentado o pior resultado, as dificuldades começam no Fundamental, garante Alejandra Meraz Velasco, gerente da área técnica do Todos pela Educação.
Para ela, o problema da aprendizagem em Matemática perpassa toda a Educação Básica e está centrado na carência de professores especialistas e na formação desses docentes.

Cadê o professor?
Como a Matemática assusta os alunos desde o Ensino Fundamental, é na outra ponta, na universidade, que o prejuízo se revela. A procura pelo curso é pequena e dos que entram, poucos conseguem se formar como professor, pois a evasão é grande e muitos preferem seguir o bacharelado em outras áreas, como na Engenharia e Informática.
“Não é nem pelo salário, mas pelas condições de trabalho. São salas cheias e aluno agredindo o professor. O profissional se sente ameaçado”, argumenta o diretor do Departamento de Mate­mática, Física, Química e Enge­nharia de Alimentos da PUC-GO, Antônio Newton Borges.
O resultado mais gritante dessa realidade é a deficiência de profissionais nas escolas. “Temos falta de docentes licenciados em Matemática e aí a secretaria depende, muitas vezes, de um contrato temporário de um professor sem formação completa e que ainda está na graduação,” reconhece a gerente de apoio do Ensino Fundamental da Secretaria Estadual de Educação de Goiás (Seduc), Viviane Pereira da Silva Melo.
No interior do estado a situação é pior, admite o superintendente do Ensino Médio da Seduc, Fernando Pereira dos Santos. “Se tem um contador na cidade disposto a dar aula de Matemática, nós contratamos. Às vezes, contratamos um professor para dar aula de Química, Física e Matemática tudo junto, porque não tem docente especializado.”
Contudo, segundo Viviane, a secretaria já detectou esses problemas e está implantando dois projetos que visam o reforço na disciplina e na correção de fluxo, mas a solução para o problema ainda não foi encontrado.
 
Formação conservadora
Se entrar na licenciatura já é difícil, permanecer nela é tarefa para poucos. A falta de valorização profissional faz com que alunos de nível mais baixo procurem a licenciatura, o que cria dificuldades durante o curso e também interfere no desempenho dos futuros docentes, explica José Pedro Machado, professor de Didáticas em Matemática na UFG.
Para evitar a evasão, a universidade criou uma disciplina para interligar os conhecimentos adquiridos no Ensino Médio ao Superior. Ainda assim, ele vê falhas na formação oferecida. “O professor está saindo para o mercado sem levar em consideração o contexto sociocultural dos aluno e a disciplina acaba por não fazer sentido para a realidade deles.”
Para José Pedro, o desinteresse dos alunos é explicado por essa má formação, já que os professores não tem didática suficiente para estimulá-los e para trabalhar diferentes conteúdos, além do livro didático, como as novas tecnologias. “São métodos e técnicas obsoletas”, critica ele.

Desinteresse dos pais
Enquanto os especialistas centram as críticas na academia, os professores que estão em sala de aula acreditam que o desinteresse e, consequentemente, o baixo rendimento dos alunos em Matemática tem outro vilão: os pais.
Ana Paula Mendes, que leciona a disciplina no Colégio Estadual Cultura e Cooperativismo e também do Colégio Shalon, vê com clareza a diferença do acompanhamento familiar que é feito na rede pública e privada.
Segundo ela, nas instituições de ensino particulares, os pais cobram resultados dos filhos e da escola e o rendimento, obviamente, é melhor nelas. “Na estadual, os pais nem sabem se tem tarefa de casa ou não. Eles não acompanham e, mesmo que a coordenação corra atrás deles, nós não podemos fazer nada no sentido de aplicar uma advertência ou reprovar”, desabafa.
Além disso, Ana Paula acredita que o sistema de avaliações da rede pública desestimula os estudantes. “Os alunos que vem do município já estão acostumados a apenas passar de Ciclos, estando aptos ou não. Eles chegam aqui sem saber nada: não somam, não subtraem, não multiplicam nem dividem. Mas ele não precisa fazer nada para tirar nota, porque nós não podemos reprovar.”
Mas a Matemática não é vilã para todo mundo. Nunca foi problema, por exemplo, para Bárbara Guimarães, estudante do 9° ano do Cultura e Cooperativismo. “Eu sempre me saí melhor nessa disciplina, mas não sei porquê,” brinca.
A dedicada aluna, que adora resolver um desafio, não sabe ainda qual será seu futuro profissional, mas já tem uma certeza: não será a carreira de Exatas. Mas Bárbara entende bem que, sem a Matemática, ela não irá muito longe profissionalmente.
Fonte: Tribuna do Planalto (GO)