segunda-feira, 20 de junho de 2011

Avaliações em série confundem professores

Além de trabalhos e provas, um aluno do 5.º ano do ensino fundamental da rede estadual de São Paulo pode fazer, neste ano, outras três avaliações: o Saresp, o Saeb (por amostragem) e a Prova Brasil. Esses exames ganharam espaço no calendário escolar por retratar a Educação no País e estabelecer metas de melhoria. O questionamento que fica é: o que fazer com os resultados?
Segundo os especialistas, a divulgação dos dados é apenas o primeiro passo. Se não houver uma interpretação precisa dos indicadores, o esforço é em vão. "Não olhar o indicador é burrice, olhar só para ele é inocência", afirma Amaury Gremaud, professor da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Conselho Consultivo da Avalia Educacional.
É preciso ponderar, na opinião de Maria Helena Guimarães, que foi secretária da Educação de Estado de São Paulo e hoje integra a ONG Parceiros da Educação. "O número sozinho não significa nada. E os professores se queixam muito da dificuldade que têm para entender os resultados."
Uma pesquisa divulgada neste mês pela Fundação Victor Civita, que ouviu 400 coordenadores pedagógicos do País, mostrou que 47% deles não souberam dizer o resultado de sua escola no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
Indicador que une dois conceitos - fluxo escolar (porcentual de aprovação) e médias de desempenho na Prova Brasil -, é a partir do resultado do IDEB que cada escola tem a sua meta estipulada e o prazo de dois anos para atingi-la, periodicidade com que a avaliação é realizada.
"É preciso interpretar o IDEB, e isso não é simples, O fluxo é um conceito basicamente estatístico, o problema é entender o resultado da Prova Brasil. O MEC encomendou estudos, pesquisas, análises dos resultados, mas não existe um relatório pedagógico que seja compreensível para os professores da rede básica", diz Maria Helena.

PADRÃO
Para Eloísa de Blasis, do Centro de Estudos e Pesquisa de Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), o primeiro passo é assimilar e contextualizar cada informação do boletim com os resultados da Prova Brasil, teste que avalia os alunos nos conteúdos de Português e Matemática.
"Se o gestor vê que os alunos têm um nível de proficiência considerado satisfatório, precisa saber quais as competências e habilidades já possuem e avançar no que ainda precisam aprender. Muitas vezes, é uma desavença curricular. Ele percebe que a prova persegue um padrão que a escola não reconhece."
Para ajudar nesse entendimento, o Cenpec criou, em parceria com Fundação Itaú Social, um projeto que visa a trabalhar os resultados da Prova Brasil com coordenadores. O primeiro congresso aconteceu, no início deste mês, em Ponta Grossa (PR). Em dois encontros de oito horas de duração cada um, que reuniu coordenadores e diretores, foi feito um estudo de caso.
"É preciso instrumentalizar porque a complexidade técnica da avaliação é muito grande. Vimos a angústia de muitos deles por não compreenderem com clareza e, por isso, não conseguirem trabalhar melhor."
É só com o desvelamento dos resultados que é possível estabelecer estratégias para o alcance da meta. "Depois que você entende, começa a se perguntar a razão daquele resultado. É importante que a escola se compare com outras de perfil sócio econômico parecido, com as mesmas condições de infraestrutura", diz Gremaud.
Segundo ele, se bem entendido, o IDEB funciona como um espelho. "Muitas vezes a gente esconde os problemas mas, em outras, escondemos os nossos trunfos. Esse olhar externo ajuda a balizar."
Apesar de necessário e importante, é consenso entre os especialistas, porém, que alguns processos da avaliação, ainda precisam ter avanço.
Para Gremaud, é importante que a Prova Brasil seja ampliada: "Em Português, só se avalia a leitura, é importante que a escrita seja incluída. No ensino médio, é fundamental que incluam conteúdo de ciências naturais e humanas."
Maria Helena diz que é preciso avançar tecnologicamente na produção da prova. "O ideal é que a prova seja respondida no computador e haja um software que apresente questões mais complexas à medida em que o aluno avance na resolução. Isso no Enem, por exemplo, iria tornar a avaliação mais fidedigna."
Os problemas próprios do sistema educacional brasileiro também precisam ser levados em conta, pondera Eloísa, do Cenpec.
"O IDEB não necessariamente representa a realidade da escola. O número classifica em ordem crescente e decrescente, mas em Educação há muitas variáveis. Escolas em territórios de maior vulnerabilidade estão mais vulneráveis. Não dá para ignorar, também, as condições dentro da escola, o capital social das famílias e o fato de que ainda temos professores leigos."

ENTENDA OS PRINCIPAIS ÍNDICES
Saeb à O Sistema de Avaliação da Educação Básica avalia, por amostragem, o 5º e 9º ano do ensino fundamental e o 3º ano do médio. A prova de português e matemática é aplicada a cada dois anos nos sistemas público e particular.
Prova Brasil à É complementar ao Saeb. Avalia de forma universal o aprendizado de português e matemática no ensino fundamental - 5º e 9º anos - de escolas públicas.
Ideb àO Índice de Desenvolvimento da Educação Básica é uma avaliação feita a cada dois anos que mede a qualidade da escola e da rede de ensino, por meio do desempenho do fluxo escolar (porcentual de aprovação) e médias de desempenho na Prova Brasil.
Saresp à O Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo é composto de prova de Matemática, Português, Ciências, Redação, Geografia e História aplicada a alunos dos 3º, 5º, 7º e 9º anos do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio. Avalia a assimilação dos alunos e a qualidade do ensino nas escolas públicas do Estado de São Paulo.
Ocimara Balmant, Jornal O Estado de São Paulo (SP) 

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