Uma escola com salas sem paredes, como as de empresas de
tecnologia, em que os professores não dão aulas consegue preparar todos os seus
alunos para entrar e ficar quatro anos na faculdade. Ou melhor, um grupo de
quatro escolas chamadas de Summit, na Califórnia, Estados Unidos, que cumpre a
sua missão a risca: desde 2003, quando a primeira unidade foi criada, 96% de
todos os seus estudantes foram selecionados para cursar pelo menos uma
graduação.
A diretora executiva da rede de instituições e
cofundadodora da primeira Summit, em Redwood, está em São Paulo para participar
nesta quinta-feira do Transformar 2013, um encontro sobre experiências
concretas de transformação e sucesso em escolas públicas pelo mundo. Ontem,
Tavenner conversou com o iG no hotel Maksud Plaza, onde o evento será realizado
das 8h30 às 18h30, e explicou como consegue atingir esse objetivo. Entre as
receitas, está o desenvolvimento de um plano de aprendizado personalizado para
cada estudante, que é acompanhado diariamente por um tutor em todo o período do
ensino médio, e um currículo totalmente conectado com a realidade.
A melhor notícia é que o modelo é mais fácil de replicar
em grande escala do que o tradicional, segundo a educadora. Com a ajuda da
tecnologia, os professores são liberados de várias tarefas e podem se dedicar
mais aos alunos. Na Califórnia, ela já está fazendo isso na rede de escolas
charter (que funcionam com verba do governo e de doações) Summit. Este ano,
duas novas unidades serão abertas, e o plano é fazer o mesmo nos próximos 10
anos, até que todos os alunos do Vale do Silício recebam educação de alto
nível. Atualmente, 47% terminam o ensino médio sem a base necessária para o
ensino superior.
Leia abaixo a entrevista de Diane Tavenner ao iG:
iG: O que faz uma escola Summit ser especial?
Dianne
Tavenner: O mais importante é que nós
preparamos todos os nossos alunos para a faculdade e carreira. Isso não é algo
que todas as escolas fazem nos Estados Unidos e, possivelmente, aqui também
não. Nós acreditamos nisso e levamos a sério esse objetivo. Para isso
acontecer, desenvolvemos uma série de ações, mas essa é a nossa missão. E nós
já provamos que é é possível educar todas as crianças de escola pública em alto
nível. Isso é importante, porque muitas pessoas antes pensavam que fosse
impossível. E nós, junto com outros educadores nos Estados Unidos, provamos o
contrário.
iG: E como vocês fazem isso?
Tavenner: Nós começamos criando um plano de estudo personalizado
para cada estudante, de modo que ele define logo que chega à escola um objetivo
para sua carreira, que universidade quer fazer, que vida quer ter. A partir
disso, nós desenvolvemos um plano personalizado para que ele alcance o
objetivo. Depois trabalhamos para que a escola forneça todo o suporte
necessário para manter o estudante nesse caminho. Esse é o ponto de partida. O
segundo ponto é que todos os estudantes têm um mentor, que permanece o mesmo
durante todo o período escolar. Esse mentor ajuda a pensar nos objetivos e
reavaliá-los quando for preciso, observa todos os dias se o plano está sendo
cumprido e de que forma, conversa com a família, discute dúvidas e ajuda em
crises. Em terceiro, vem o jeito que ensinamos, o nosso currículo é muito
autêntico e realista. Nós trazemos tecnologia para a escola, as crianças
trabalham colaborativamente em projetos nos quais têm que resolver problemas
reais, não é nada chato. Dessa forma, as crianças ficam motivadas porque se dão
conta de que estão aprendendo coisas que vão ser úteis para ela. Por último,
durante dois meses do ano letivo, em janeiro e junho, os estudantes ficam fora
da escola e trabalham na comunidade, fazem estágios, têm experiências
relacionadas a seus interesses ou paixões, que podem ser fotografia ou
jornalismo, por exemplo. Como avaliação desse período, eles têm que desenvolver
algo que possam compartilhar ou apresentar. Então, se é algo relacionado à
fotografia, fazem uma exposição. Se é teatro, apresentam uma peça. Se fazem um
estágio, devem fazer uma apresentação sobre o trabalho realizado. Tudo sempre
conectado com a realidade.
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renda nos Estados Unidos
iG: Que práticas inovadoras são aplicadas nas escolas Summit?
Tavenner: Nós usamos muita tecnologia. Por exemplo, a tecnologia
serve para saber exatamente o que cada aluno sabe e não sabe em todos os
momentos. Cada estudante tem o seu mapa pessoal de conhecimento e objetivos. Em
vez de promover aulas em que não importa quem sabe, mas que todos ouvem a mesma
coisa e tem que participar das mesmas atividades, cada aluno vai aprender o que
precisa aprender. Fazemos isso com uma ferramenta que chamamos de playlist – como
a dos tocadores de música digital. Nessa lista está tudo o que o aluno precisa
aprender e ele vai escolhendo como gostaria de fazer. Quando ele sente que já
está pronto para seguir em frente, faz uma avaliação. Se ele realmente já
aprendeu, ótimo, vai adiante.
iG: Eles podem escolher o jeito, mas não o que precisam
aprender, certo?
Tavenner: Eles podem realizar algumas escolhas quando desenvolvem o plano de aprendizado inicial, mas tem coisas que todos precisam saber para chegar a uma universidade. Para chegar a esses conhecimentos, eles escolhem como querem aprender e não precisam passar pelo que já sabem.
Tavenner: Eles podem realizar algumas escolhas quando desenvolvem o plano de aprendizado inicial, mas tem coisas que todos precisam saber para chegar a uma universidade. Para chegar a esses conhecimentos, eles escolhem como querem aprender e não precisam passar pelo que já sabem.
iG: A senhora acredita que tecnologia é essencial nas
escolas?
Tavenner: A tecnologia proporciona que se desenvolva uma educação
melhor, se for usada do jeito certo. Mas mais importante que isso é que faz
parte do mundo e da vida. É um erro fazer com que os estudantes deixem a
tecnologia do lado de fora da escola. Isso não vai prepará-lo para o mundo.
iG: Esse modelo de escola pode ser replicado para grandes
redes de ensino, como a do ensino médio brasileiro?
Tavenner: Esse modelo é mais fácil de replicar em grande escala que
o tradicional. Tenho convicção sobre isso. No modelo antigo, cada professor tem
que fazer o seu próprio planejamento anual, preparar cada aula, corrigir todas
as provas. Nesse modelo, construímos uma plataforma que tem tudo isso pronto,
que é acessada pelos estudantes diretamente. Agora, os professores apenas
ajudam e dão suporte aos alunos. Eles não precisam ter todo o trabalho de preparação,
ficam mais focados no que fazem de fato.
iG: Ainda existem aulas, como as que eu tive na escola?
Tavenner: Quase nunca. As aulas são em espaços grandes e abertos,
em que os alunos se dividem em grupos para desenvolver projetos. Mas não tem
mais uma grade de horário que começa com matemática, passa para ciência e
depois história. Não é mais assim.
iG: E como eles aprendem matemática, por exemplo?
Tavenner: De duas maneiras. Uma, é online. Eles aprendem muito
online, com suporte de um tutor. A outra forma é fazendo projetos, nos quais
aplicam a matemática que estão aprendendo naquele momento. Por exemplo, um
projeto poderia ser descobrir como se projeta um prédio em um espaço
determinado, usando os conhecimentos de matemática. Claro que o professor participa
desse processo, mas ele não vai ficar na frente de uma turma falando e
explicando, enquanto os alunos tomam notas.
iG: São necessários mais professores para esse modelo
funcionar do que em escolas tradicionais?
Tavenner: Provavelmente o mesmo número.
iG: Como são escolhidos e treinados os professores?
Tavenner: Nós selecionamos professores que são apaixonados pelo que
fazemos e que acreditam na nossa missão. Mas também investimos muito para
desenvolvê-los depois. Eles recebem 40 dias de formação todos os anos. Quando
os estudantes estão fora da escola, nos projetos na comunidade, os professores
ficam aprendendo e crescendo. É bom para todos.
iG: Vocês têm dificuldades para encontrar bons professores,
preparados para aplicar um modelo inovador de educação?
Tavenner: Temos vários candidatos sempre. Eu não acredito em
escassez de bons professores. Algumas pessoas nos EUA acreditam nisso, mas eu
não concordo. Todo o professor que eu conheço quer fazer o bem para seus
alunos. Mas quando o professor entra em uma escola ou sistema de ensino que não
funciona e que faz com não seja bem sucedido, mesmo trabalhando muito, começa a
ficar desmotivado. Se ele tiver a oportunidade de trabalhar em uma escola que o
valorize como profissional e na qual consiga fazer um bom trabalho, sempre
gosta.
iG: Os salários das escolas Summit são mais altos que a
média?
Tavenner: São salários competitivos.
Tavenner: São salários competitivos.
iG: E que equipamentos os alunos têm disponíveis?
Tavenner: Nós damos um laptop para cada estudante e conexão de internet. Naturalmente,
todos eles levam seus celulares para a escola. E os professores também têm
laptop.
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parceiro na revolução da educação
iG: E as salas de aula, como são?
Tavenner: Grandes, com poucas paredes, têm apenas algumas divisórias. Se parecem com as salas de trabalho de empresas de tecnologia.
Tavenner: Grandes, com poucas paredes, têm apenas algumas divisórias. Se parecem com as salas de trabalho de empresas de tecnologia.
iG: O custo de uma escola Summit é superior ao de uma
escola pública tradicional americana?
Tavenner: É o mesmo. Às vezes é um pouco menos. As escolas charter (geridas pelo setor público e privado, como as Summit ) recebem um pouco menos de dinheiro do governo que as regulares. Ou seja, a manutenção não é mais cara que a das tradicionais. Usamos o dinheiro de forma diferente, mas não é mais.
Tavenner: É o mesmo. Às vezes é um pouco menos. As escolas charter (geridas pelo setor público e privado, como as Summit ) recebem um pouco menos de dinheiro do governo que as regulares. Ou seja, a manutenção não é mais cara que a das tradicionais. Usamos o dinheiro de forma diferente, mas não é mais.
iG: Por que as doações são necessárias?
Tavenner: Nós precisamos das doações para começar. Não temos dinheiro para construir o prédio, instalar a tecnologia. Não temos nada. As escolas charter só começam a receber dinheiro do governo quando os alunos começam a aprender. Precisamos do capital inicial.
Tavenner: Nós precisamos das doações para começar. Não temos dinheiro para construir o prédio, instalar a tecnologia. Não temos nada. As escolas charter só começam a receber dinheiro do governo quando os alunos começam a aprender. Precisamos do capital inicial.
iG: A missão das escolas Summit é preparar os alunos para
a universidade. Existem movimentos nos EUA que defendem que fazer um curso
superior não é o único jeito de obter sucesso . O que você pensa sobre esse
posicionamento?
Tavenner: Existe, mesmo, um pequeno debate sobre essa questão. Mas a maioria das pessoas que defendem isso são pessoas que foram para a universidade e tiveram sucesso. Você não ouve pessoas pobres dizendo isso, você não ouve mães de jovens que querem ir para a universidade dizendo isso. Então eu não acho que essa seja uma boa discussão. De qualquer forma, nenhum estudante vai ser prejudicado por ser preparado para a universidade. Se depois ele escolher não ir, já terá aprendido muitos valores e conhecimentos que o preparam para uma carreira. Eu acho que o nosso trabalho no sistema público de ensino deve ser o de preparar o aluno para a universidade para que ele tenha condição de escolher. Se ele preferir não ir para a faculdade, tudo bem.
Tavenner: Existe, mesmo, um pequeno debate sobre essa questão. Mas a maioria das pessoas que defendem isso são pessoas que foram para a universidade e tiveram sucesso. Você não ouve pessoas pobres dizendo isso, você não ouve mães de jovens que querem ir para a universidade dizendo isso. Então eu não acho que essa seja uma boa discussão. De qualquer forma, nenhum estudante vai ser prejudicado por ser preparado para a universidade. Se depois ele escolher não ir, já terá aprendido muitos valores e conhecimentos que o preparam para uma carreira. Eu acho que o nosso trabalho no sistema público de ensino deve ser o de preparar o aluno para a universidade para que ele tenha condição de escolher. Se ele preferir não ir para a faculdade, tudo bem.
Fonte: iG
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