Um dos grandes desafios da carreira docente hoje é
tornar-se mais atrativa: apenas 2% dos jovens brasileiros desejam ser
professor. Dos que optam por um curso de licenciatura, 50% desistem logo nos
anos iniciais. As consequências da evasão dos alunos das licenciaturas e da não
atratividade do magistério são encontradas no preocupante déficit de
professores no Brasil - um total de 250 mil profissionais. Além disso, há
professores em sala de aula não formados na disciplina que lecionam nem em área
correlata, principalmente nas ciências exatas e da natureza. Dos que ensinam
física, por exemplo, 61% não tem formação na área.
Na tentativa de reverter esse quadro, o professor da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ex-secretário de Educação do
estado, Mozart Neves, criou o programa "Quero ser professor",
apresentado no início de março para a equipe da revista Educação, na Editora
Segmento. Baseado em um conjunto de projetos interligados que será
desenvolvido, em regime de colaboração, pelo Ministério da Educação (MEC), pelo
governo de Pernambuco e pela UFPE, o foco do programa é reverter a baixa atratividade
do magistério nos cursos de ciências exatas e da natureza e será articulado com
três grupos diferentes: alunos do ensino médio que desejam se tornar
professores, alunos já ingressados nas licenciaturas; e professores da educação
básica.
"O primeiro passo será a criação de um núcleo
interdisciplinar das licenciaturas de ciências exatas e da natureza",
explica Mozart Neves. A ideia é que o núcleo sirva de referência aos três
grupos participantes do programa. Para isso, ele será composto por professores
da universidade que tenham afinidade com o trabalho realizado na Educação
Básica e professores das Escolas de Referência de Ensino Médio de Tempo
Integral, que serão selecionados pela sua didática e prática em sala de aula.
"Eles serão os professores-ponte; aqueles que trarão o que eu chamo de
'cheiro da escola' para a universidade", acrescenta Neves.
Para os professores de química, física e matemática da
rede estadual será oferecido um curso de certificação pós-graduanda. Mozart
ressalta que o certificado só será entregue ao professor que apresentar
melhorias em sala de aula. A técnica para medir os resultados ainda não foi
definida, mas o professor garante que será um conjunto de indicadores e não
apenas as notas dos alunos nas avaliações. "A satisfação dos alunos é um
desses critérios", exemplifica. Após obter a certificação, o docente é
promovido no plano de carreira instituído pelo estado.
Prevenção e
continuidade
O trabalho realizado com os alunos do ensino médio que
desejam se tornar professores tem dois objetivos: o primeiro é sanar possíveis
deficiências na formação ainda durante o ensino médio. O segundo é inserir o
estudante da Educação Básica no seu futuro ambiente de estudo e promover a
integração com a universidade por meio de uma bolsa de pré-iniciação à
docência. Os estudantes precisarão freqüentar escolas de período integral para
que esse acompanhamento seja feito no contraturno.
Já os licenciandos que apresentam deficiências em sua
formação inicial, e por isso encontram dificuldades nas disciplinas básicas dos
cursos, vão passar por um trabalho de preparação a cada ano letivo, envolvendo
os professores das disciplinas que mais reprovam e promovem eventual evasão.
Outra iniciativa é a criação de disciplinas envolvendo o uso de novas tecnologias
e a implantação da Fábrica de Empreendedorismo Pró-Ensino, para que os
licenciandos, em parceria com alunos de outros cursos, desenvolvam projetos
para sala de aula, como jogos educativos.
Fonte: Revista Educação
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