O avanço científico e tecnológico não tem sido acompanhado
de progressos na consolidação de valores virtuosos e nas condutas éticas da
sociedade brasileira. A ânsia de poder da maioria de nossos políticos, o
individualismo e a falta de tolerância envenenam o convívio saudável nas
relações humanas. O filósofo Immanuel Kant, ainda no século 16, já ensinava que
o homem não é nada além daquilo que a Educação faz dele. Assim, ninguém pode
imaginar uma sociedade justa e feliz longe dos princípios de uma Educação de
qualidade, que é o melhor caminho para alcançarmos uma sociedade plural, na
qual todos terão as mesmas oportunidades e se respeitarão.
As fórmulas para a obtenção de uma Educação de qualidade
são conhecidas. O primeiro requisito é a formação adequada e a valorização do
Professor. Outras dimensões são igualmente importantes, como a adequação de
conteúdos e de pedagogias para se alcançar os objetivos de cada nível de
Ensino. A infraestrutura do ambiente Escolar deve acompanhar os progressos das
tecnologias de comunicação e informação, assim como a gestão deve ser
eficiente.
Apesar de conquistas importantes, como o fundo de
financiamento para a Educação básica (Fundeb), as avaliações do sistema
educacional mostram que o Brasil carece de qualidade principalmente no Ensino
básico. Os jovens que recebemos atualmente na Escola demandam uma metodologia
diferenciada e uma relação respeitosa entre o Educador e o Aluno. A Educação em
todos os níveis, sempre esteve presa a parâmetros: salas de aula, calendário
Escolar, grade curricular e modelos pedagógicos centrados no Professor.
Uma nova concepção pedagógica deve apontar para um conhecimento integrador, que
estimule a criatividade, a crítica argumentada, a iniciativa e sobretudo a
construção de valores da cidadania. Essa nova pedagogia deverá privilegiar
algumas aptidões nos primeiros anos da Educação Escolar: saber ler,
interpretar, escrever, contar, raciocinar, pensar, relações respeitosas entre
seres humanos e respeito pela natureza. Sem a exclusão de atividades
individuais, as atividades de interação e o trabalho em equipe deverão ser estimulados,
por meio do desenvolvimento de projetos com objetivos claros. As atividades
artísticas, culturais e esportivas deverão ser incentivadas, respeitando-se as
tendências e as sensações individuais dos Alunos.
Uma experiência que pode provocar uma inflexão no sistema
educacional brasileiro foi implantada pela Secretaria Municipal de Educação do
Rio de Janeiro na Escola André Urani, na Rocinha. No projeto, denominado Gente
— Ginásio Experimental de Novas Tecnologias —, não haverá séries nem salas de aulas
tradicionais. Em vez disso, 180 jovens da 7ª à 9ª série do Ensino fundamental
serão agrupados em equipes de seis membros, chamadas de “famílias”,
independentemente da série de origem.
Cada Aluno terá um itinerário de aprendizado pessoal. Será
o jovem o responsável por escolher a forma como o conteúdo lhe será entregue:
vídeos-aulas, leituras, atividades individuais ou em grupo. Todas as semanas os
Alunos serão avaliados na Máquina de Testes, um programa inteligente que propõe
questões de diferentes níveis de dificuldade, para garantir a evolução no
conteúdo. Quando não chegar ao resultado esperado, o jovem receberá uma atenção
individualizada.
O novo modelo pretende dar às crianças e jovens uma
Educação mais alinhada com o século 21. A proposta inova na arquitetura,
apropria-se integralmente de novas tecnologias educacionais e coloca o Aluno no
centro do processo de aprendizagem. O Professor não será um transmissor de
conteúdo, e sim um facilitador, que ajudará seus Alunos a encontrarem o próprio
conhecimento e indicará formas para que esse processo seja efetivado. Se a
experiência for bem avaliada, poderá ser implantada em todo o país.
Novas experiências, como a descrita, devem ser
incentivadas para implantarmos uma verdadeira revolução na Educação brasileira.
A hora é agora. Nesse contexto, é pertinente lembrar as palavras de Fernando
Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a
forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos
mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos
ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
Fonte: Correio Braziliense (DF)
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