quarta-feira, 10 de abril de 2013

Educação: é tempo da travessia


O avanço científico e tecnológico não tem sido acompanhado de progressos na consolidação de valores virtuosos e nas condutas éticas da sociedade brasileira. A ânsia de poder da maioria de nossos políticos, o individualismo e a falta de tolerância envenenam o convívio saudável nas relações humanas. O filósofo Immanuel Kant, ainda no século 16, já ensinava que o homem não é nada além daquilo que a Educação faz dele. Assim, ninguém pode imaginar uma sociedade justa e feliz longe dos princípios de uma Educação de qualidade, que é o melhor caminho para alcançarmos uma sociedade plural, na qual todos terão as mesmas oportunidades e se respeitarão.
As fórmulas para a obtenção de uma Educação de qualidade são conhecidas. O primeiro requisito é a formação adequada e a valorização do Professor. Outras dimensões são igualmente importantes, como a adequação de conteúdos e de pedagogias para se alcançar os objetivos de cada nível de Ensino. A infraestrutura do ambiente Escolar deve acompanhar os progressos das tecnologias de comunicação e informação, assim como a gestão deve ser eficiente.
Apesar de conquistas importantes, como o fundo de financiamento para a Educação básica (Fundeb), as avaliações do sistema educacional mostram que o Brasil carece de qualidade principalmente no Ensino básico. Os jovens que recebemos atualmente na Escola demandam uma metodologia diferenciada e uma relação respeitosa entre o Educador e o Aluno. A Educação em todos os níveis, sempre esteve presa a parâmetros: salas de aula, calendário Escolar, grade curricular e modelos pedagógicos centrados no Professor.
Uma nova concepção pedagógica deve apontar para um conhecimento integrador, que estimule a criatividade, a crítica argumentada, a iniciativa e sobretudo a construção de valores da cidadania. Essa nova pedagogia deverá privilegiar algumas aptidões nos primeiros anos da Educação Escolar: saber ler, interpretar, escrever, contar, raciocinar, pensar, relações respeitosas entre seres humanos e respeito pela natureza. Sem a exclusão de atividades individuais, as atividades de interação e o trabalho em equipe deverão ser estimulados, por meio do desenvolvimento de projetos com objetivos claros. As atividades artísticas, culturais e esportivas deverão ser incentivadas, respeitando-se as tendências e as sensações individuais dos Alunos.
Uma experiência que pode provocar uma inflexão no sistema educacional brasileiro foi implantada pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro na Escola André Urani, na Rocinha. No projeto, denominado Gente — Ginásio Experimental de Novas Tecnologias —, não haverá séries nem salas de aulas tradicionais. Em vez disso, 180 jovens da 7ª à 9ª série do Ensino fundamental serão agrupados em equipes de seis membros, chamadas de “famílias”, independentemente da série de origem.
Cada Aluno terá um itinerário de aprendizado pessoal. Será o jovem o responsável por escolher a forma como o conteúdo lhe será entregue: vídeos-aulas, leituras, atividades individuais ou em grupo. Todas as semanas os Alunos serão avaliados na Máquina de Testes, um programa inteligente que propõe questões de diferentes níveis de dificuldade, para garantir a evolução no conteúdo. Quando não chegar ao resultado esperado, o jovem receberá uma atenção individualizada.

O novo modelo pretende dar às crianças e jovens uma Educação mais alinhada com o século 21. A proposta inova na arquitetura, apropria-se integralmente de novas tecnologias educacionais e coloca o Aluno no centro do processo de aprendizagem. O Professor não será um transmissor de conteúdo, e sim um facilitador, que ajudará seus Alunos a encontrarem o próprio conhecimento e indicará formas para que esse processo seja efetivado. Se a experiência for bem avaliada, poderá ser implantada em todo o país.
Novas experiências, como a descrita, devem ser incentivadas para implantarmos uma verdadeira revolução na Educação brasileira. A hora é agora. Nesse contexto, é pertinente lembrar as palavras de Fernando Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
Fonte: Correio Braziliense (DF)

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