O governo do PT e seus movimentos sociais que estão
encastelados no Ministério da Educação (MEC) e Secretarias de Educação
estaduais e municipais vêm seguidamente invadindo a liberdade de ensinar do
povo brasileiro. Por um lado, insatisfeitos por não conseguirem a tão propalada
educação pública e gratuita de qualidade e, por outro, vendo o avanço da escola
privada no número de alunos.
Enquanto a escola pública perdeu 2% dos alunos em 2011,
comparado com 2010, a escola privada cresceu 20%. Uma ofensa para os burocratas
do MEC, já que evidencia o reconhecimento da eficiência, da boa gestão e da
diversidade da escola privada no Brasil, pois basta melhorar um pouco a renda
que o primeiro investimento da família é na educação dos filhos. E educação de
qualidade é na escola privada, que se tornou o sonho de consumo da sociedade.
Pelo artigo 209 da Constituição brasileira, a educação
"é livre à iniciativa privada", devendo ser autorizada e podendo ser
avaliada pelo poder público. Nos últimos dez anos, o MEC e seus burocratas
emitiram milhares de portarias, enviaram grande número de projetos de lei ao
Congresso Nacional e alteraram outras tantas, sempre com a desculpa de que a
escola privada precisa ser avaliada. Na prática, vêm invadindo a liberdade da
escola privada e anulando o direito dos brasileiros de terem uma opção que não
seja a escola única e una, ou seja, a escola pública.
A cartada final está no Congresso, com o Projeto de Lei
n.º 4.372/2012, que pretende criar mais um órgão público, desta vez sob o nome
de Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação do Ensino Superior (Insaes).
Trata-se da maior aberração jurídico-política dos burocratas do MEC, e com
grande risco para a democracia brasileira, caso seja aprovada. Encontra-se na
Câmara dos Deputados com prioridade, e o governo tem pressa. Dentre todas as atrocidades,
o projeto de lei gasta a maioria dos seus artigos para definir os cargos e o
plano de carreira dos seus, mas reserva à escola privada uma verdadeira
estatização. Nem as universidades federais, que são mantidas pelo Ministério da
Educação com os nossos impostos, sofrem tantas interferências e ingerências,
mas para a iniciativa privada a proposta do governo prevê de multas a
intervenção, com retoques de perversidade, como o pagamento de altíssimas taxas
para sustentar a burocracia e comprometer a gerência financeira das escolas.
Tudo isso aliado a um tratamento excessivamente rigoroso dispensado às escolas
privadas, diferentemente do que se vê com o ensino público, pois se às escolas
públicas se aplicasse o mesmo rigor poderia até melhorar a qualidade de que
tanto fala. O campo de atuação do Estado é, no máximo, o de fiscalização dos
interesses dos cidadãos.
É incompatível com o Estado Democrático de Direito a
possibilidade de que a nova autarquia determine a intervenção na atividade
empresarial, até mesmo com a designação de interventor. A iniciativa privada
não pode ficar sujeita a esse tipo de ameaça, que traz à memória recentes
episódios que se acreditavam varridos da História com a implantação da Nova
República.
Entende-se inadmissível a aplicação de penalidade pessoal
que implique a proibição de dirigente empresarial e educacional de exercer a
sua atividade profissional, ainda que em outros estabelecimentos. Essa conduta,
prevista no projeto de lei, confirma a diretriz abusiva, inconstitucional e
autoritária da proposta, que chega às raias de uma sanção penal à pessoa do
dirigente.
Não vejo urgência na tramitação de uma lei dessa natureza,
pois neste momento, em que o País aguarda uma nova regulamentação da educação,
especialmente em razão da proposta de uma reforma universitária e do Plano
Nacional de Educação, a ideia da criação do Insaes nem sequer é pertinente,
muito menos necessária. Pior que isso, entretanto, é dar ao projeto de lei o
rito de assunto prioritário para efeitos de tramitação.
Além de todos os fundamentos já externados, não se pode
deixar de impugnar a "prioridade" conferida ao projeto do Insaes, que
não pode ser aprovado "às pressas", pois, longe de ser um assunto de
política de governo, suas propostas geram uma quebra de conceitos e paradigmas
que afeta a política educacional do Estado, o que justifica sua tramitação em
conjunto com a reforma universitária e, ao mesmo tempo, após amplo e refletido
debate com todos os segmentos da sociedade.
Por outro lado, o que vemos são os grandes grupos do
ensino superior disfarçados em diversas associações e num Fórum Nacional
trocando a liberdade, a autonomia e o direito de ensinar por um "prato de
lentilhas". Tanto o governo quanto esses grandes grupos não percebem, não
entendem, ou não querem entender, que a educação privada é constituída de
milhares de pequenas instituições, de educação infantil, ensino fundamental e
médio, cursos técnicos e faculdades, espalhadas por este imenso Brasil, as
quais, com propostas focadas e segmentadas, contribuem decisivamente para o
pouco desenvolvimento que temos nos últimos anos, empregam formalmente milhares
de educadores de nível superior e colaboram decisivamente para o
desenvolvimento das cidades e do entorno onde atuam, movimentando o comércio, o
mercado locatício e o setor de serviços.
A estatização da escola privada está a caminho e corremos
um grande risco de entrar para a História por acabarmos com a única escola
democrática do Brasil, a escola particular.
Outros países ao redor do globo enfrentaram o mesmo
dilema. E onde se preservou o pluralismo de ideias, o respeito à iniciativa
privada e o direito à liberdade de escolha venceu a democracia. Essa é a grande
lição que os burocratas do MEC se recusam a aprender.
Fonte: O Estado de S.Paulo (SP)
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