Apontadas como salvação para o Ensino público, as Escolas
de tempo integral não garantem melhor resultado no aprendizado - pelo menos é
assim nas 309 unidades com o modelo ligadas à Secretaria Estadual de Educação
de São Paulo. Os dados do índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb)
revelam que não há diferença de aprendizagem entre Alunos da rede normal e os
de tempo integral.
Apesar de ter sido adotado no Estado há sete anos, o
projeto de tempo integral no Ensino fundamental não obteve o resultado que se
esperava. O governo lançou neste ano um novo modelo nessa etapa era número
reduzido de Escolas, mas 285 unidades continuam da mesma forma (mais
informações nesta página).
Nessas Escolas, nos dois ciclos do Ensino fundamental, as
notas de matemática, apesar de serem mais altas, estão na mesma faixa na escala
de proficiência (que mostra o que o Aluno é capaz de fazer). Dessa forma, os
Alunos sabem a mesma coisa, independentemente de onde estudam.
No ciclo 1 (de 1ª à 4ª série), a média das 115 Escolas
avaliadas é 218,6, ainda distante do ideal. A ONG Todos Pela Educação considera
como adequadas notas acima de 225 nessa fase - a média do Estado é 213,1. Já
nos anos finais (da 5ª à 8ª série), a média de matemática das 197 Escolas
avaliadas foi 248,2. O adequado é que se fique acima 300. Na média do Estado, a
nota nessa disciplina para o ciclo foi 244,3.
O desempenho de matemática é aferido pela Prova Brasil,
avaliação que, com as taxas de rendimento, compõe o Ideb. O nível de matemática
é considerado referencial por ser um conhecimento basicamente Escolar.
Apesar de serem em número muito menor que o conjunto da
rede (o que, em geral, joga a média para baixo), as Escolas de tempo integral
apresentaram comportamento similar.
No anos finais, por exemplo, mais da metade das 195
Escolas com esse ciclo não teve avanço no índice entre 2009 e 2011. Dessas,
39% tiveram queda. Nos iniciais, a situação das Escolas de tempo integral é
melhor: 59% das 115 Escolas estaduais com esse modelo conseguiram avanços.
O Ideb traça metas a serem alcançadas a cada dois anos,
quando o índice é produzido. Das escolas de tempo integral de São Paulo que
oferece anos finais, 46% não conseguiram alcançar suas metas. O índice é
superior à média de todas as Escolas do Estado. Nos anos iniciais, os índices
são melhores, mas a rede normal tem resultados superiores. Nenhuma das Escolas
de tempo integral tem nota 6 ou superior a isso, considerada a meta do País.
Aposta. O modelo de Ensino integral criado em 2006 no
outro mandato do governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi implementado de uma vez
em 514 Escolas de Ensino fundamental e ao longo dos anos foi sendo enxugado. No
sistema, o Aluno fica na Escola das 7 horas às 16h10. O currículo conta com
oito oficinas obrigatórias, dadas no contraturno, além do currículo normal.
A empregada doméstica Romilda de Oliveira, de 37 anos,
gosta da Escola onde estuda o filho Ronald, de 10, que "ocupa as
crianças". Mas ela não vê grande diferença em relação à Escola da rede
normal onde estuda a filha Ystefani, de 11. "Ele não reclama, mas não é
melhor nem pior. Melhorar, não melhorou." Ronald é Aluno da Escola Prof.
Theodoro de Moraes, zona leste da capital.
A Professora de pós-graduação da Uniban Isa Guará,
especialista em Educação integral, afirma que a proteção que da Escola de tempo
estendido é importante, mas não é só isso. A concepção do modelo ainda é
deficiente. "Hoje as Escolas ainda não estão adequadas para oferecer um
desenvolvimento integral. Mas temos de caminhar para isso."
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação ressaltou que
os números do Ideb e da prova de matemática das Escolas de tempo integral são
maiores que os da rede normal. A pasta informou que a matriz curricular dessas
Escolas está em processo de reformulação, com a colaboração de dirigentes e
supervisores. A secretaria não informou quando essa nova matriz será adotada
nas 285 Escolas que não migraram para o novo modelo.
Novo modelo chega a 21 escolas do Ensino Fundamental
Em vez de o modelo mais antigo influenciar o novo, na
Educação estadual ocorre o contrário. É o novo projeto, iniciado em 2012 no
Ensino médio, que orientou as mudanças na Educação fundamental.
A partir deste ano, 21 Escolas do ciclo 2 (5ª à 8ª série)
vão contar com a nova proposta. Outras duas oferecerão o ciclo 2 e o Ensino
médio. Essas Escolas passam a contar com jornada de 8h40. Uma mudança na Escola
é que os Professores passam a ter regime de dedicação plena e integral. Na sala
de aula haverá um currículo básico e disciplinas eletivas e orientação para
estudos. No lugar das atuais oito oficinas, haverá somente duas: hora da
leitura e experiências matemáticas. Nesse nível de Ensino também haverá a
elaboração do projeto de vida, "mas focado na continuidade do estudo e na
Educação para valores humanos", segundo informou a secretaria.
Para não ter um impacto negativo como houve em 2006, ao se
impor o sistema integral a mais de 500 Escolas, o Estado definiu que o modelo
só seria adotado nas unidades com aprovação da comunidade Escolar. A medida
democrática dificultou os planos da secretaria de promover uma expansão mais
significativa do modelo. Das 121 Escolas onde o projeto foi oferecido, 68 delas
(56%) recusaram.
A ideia do governo era, no ensino médio, ampliar para 100
escolas já em 2013 - o modelo foi iniciado em 2012 em 16 unidades. Com as
recusas, o novo Ensino integral vai chegar a 31 Escolas dessa etapa. Dessa
forma, fica ainda maior o desafio de alcançar 300 Escolas até 2014, plano
inicial da pasta.
A preocupação com o tempo integral faz parte, segundo o governo,
dos esforços para colocar o sistema educacional de São Paulo entre os 25
melhores do mundo até 2030. Hoje, é o 53º entre 65, considerando simulação que
apresenta São Paulo como um país no Programa Internacional de Avaliação
(Pisa).
No Ideb de 2011, a rede estadual ficou estagnada no Ensino
fundamental. O ciclo 1, de 1ª à 4ª série, teve nota 5,4 e o final, da 5ª à 8ª
série, 4,3.
Já no Ensino médio, em que o avanço é mais difícil em todo
o País, o Estado de São Paulo teve aumento de 3,6 para 3,9.
Escala tem dez níveis
A escala de proficiência da avaliação de matemática da
Prova Brasil tem dez níveis, com amplitude de 25 pontos. Em cada faixa está
definido o que o Aluno é capaz de fazer. Nos anos iniciais, por exemplo, os
estudantes (nos dois modelos) são capazes de interpretar dados num gráfico de
colunas, leem horas em relógios de ponteiros e efetuam multiplicações com dois
algarismos. Não conseguem, no entanto, resolver uma divisão por número de dois
algarismos, resolver problemas envolvendo conversão de quilo para grama ou
localizar informações em gráficos de colunas duplas, entre outras coisas
Fonte: O Estado de S.Paulo (SP)
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