Como o cérebro funciona? Como aprendemos? Por que existem
tantas crianças com problemas para aprender? A resposta a essas e outras questões
pesquisadas pela Neurociência, disciplina que envolve o estudo da relação entre
o cérebro e o comportamento, vem ajudando educadores em todo o mundo a entender
como ocorre o processo de aprendizagem e procurar maneiras de torná-lo mais
efetivo, além de contribuir para a melhor compreensão dos estados mentais.
O diálogo entre as Neurociências e as práticas clínicas e
educacionais foi o tema central do IX Congresso Brasileiro de Psicopedagogia e
I Simpósio Internacional de Neurociências, Saúde Mental e Educação, realizado
em julho de 2012, em São Paulo (SP). A Profissão Mestre acompanhou o evento e
conversou com os especialistas que participaram da programação. Segundo a
neuropsicóloga Sylvia Maria Ciasca, professora do Departamento de Neurologia da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
todo mundo aprende, de uma forma ou de outra. “Aprender é mais do que adquirir
informação, é uma mudança de comportamento. Significa todo um processo a ser
seguido em etapas de desenvolvimento. Aprender requer o recriar, nos tornar
capazes e [também nos possibilita] rever a história de uma forma própria. E
esse tipo de aprendizagem faz-se em todas as pessoas”, informa Sylvia, que
também é coordenadora do Laboratório de Distúrbios de Aprendizagem e
Transtornos da Atenção da Unicamp.
A neuropsicóloga explica que para aprender são necessárias
inúmeras conexões neurais. “O cérebro funciona como uma orquestra, em que o
trabalho de cada parte deve ser visto como um todo. Para isso, usamos diferentes
áreas anatômicas que executam tarefas independentes, mas com objetivos comuns”,
diz.
Mas se o cérebro possui uma estrutura tão complexa e
preparada para aprender, por que muitas crianças apresentam dificuldade na
escola? Os especialistas explicam que diversos fatores interferem no processo
de aprendizagem, como o estímulo, a motivação e o ambiente no qual o aluno está
inserido. “A dificuldade de aprendizagem é algo adquirido, por isso, diversas
áreas do cérebro precisam ser estimuladas. Às vezes temos a competência, mas
não temos a habilidade. Com a estimulação, o cérebro possibilita a ampliação
das redes neurais, então podemos nos apropriar desse conhecimento”, comenta a
psicopedagoga Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia
(ABPp).
A especialista observa que a aprendizagem pode ser mais
efetiva quando ocorre a interdisciplinaridade. “Antes tínhamos um olhar em cima
apenas da dimensão emocional, mas hoje trabalhamos com três dimensões: a
cognitiva, que envolve as possiblidades do aprender; a afetiva, relacionada ao
desejo de aprender; e a social, relacionada ao meio em que o indivíduo vive.
Também existe a necessidade de entender o funcionamento do organismo, como o
cérebro trabalha. Não podemos deixar de olhar para esse organismo que nem
sempre responde como a gente espera”, explica Quézia.
Fonte: Revista Profissão Mestre
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