sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Fracasso escolar: de quem é a culpa?


De quem é a culpa? Quando a pergunta se refere ao fracasso Escolar, termo que, por si só, já suscita polêmica, faltam respostas definitivas. Foi o que constatou a psicóloga Carina Pessoa Santos, 27, ao desenvolver sua pesquisa de mestrado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela entrevistou 60 colegas de profissão que atuam em instituições de Ensino. Deles, ouviu que, entre as razões para o mau desempenho dos Alunos, estão a ausência da família, os erros dos Professores e a influência do meio social. Para Carina, contudo, o problema tem um caráter plural. Para pais, Professores e Alunos fica o alerta para este novo ano letivo.
A psicóloga, que já atuou em Escolas e, hoje, realiza doutorado na UFPE, acredita que o fracasso Escolar está ligado a uma série de fatores, dos quais um costuma se destacar, dependendo do caso. Esse ponto de vista, multifacetado, é apresentado na dissertação dentro da “zona de contraste”, conjunto de palavras-chaves que foram pouco citadas pelos entrevistados, mas receberam grande peso como causa do mau desempenho. De certa forma, ela opõe-se à “zona central”, mais focada em questões particulares dos Alunos e predominante nas respostas dos psicólogos ouvidos.
Diante da ideia do fracasso Escolar como objeto com múltiplos sentidos e de representação social, Carina defende um modelo crítico de atuação dos psicólogos educacionais. “Às vezes, as soluções são simples. Os profissionais devem ser agentes de transformações sociais, desenvolvendo estratégias para estimular a autonomia do Aluno e trabalhando tanto com ele, quanto com família, Escola e Professores.”
Para a psicóloga clínica e Escolar do Colégio Motivo, em Boa Viagem, Danielle Fazio, deve-se pensar em dificuldades e suas causas ou, ainda, em transtornos de aprendizagem (que demandam cuidados médicos).
Quanto ao primeiro caso, Danielle destaca a influência da vida doméstica dos Alunos. “As crianças têm muitas atividades extras e passam tempo demais na internet. Ficam estressadas, ansiosas e sonolentas, o que dificulta a construção do conhecimento. Além disso, a família contemporânea é ausente, não cobra e não supervisiona o estudo.”
Esse problema preocupa a assistente social Adressa Andrade, 34. Embora trabalhe o dia inteiro, ela faz questão de acompanhar os estudos de Arthur, de 10 anos. “Quando chego em casa, sempre corrijo as atividades e vejo os comunicados enviados pelo colégio. Por não ter muito tempo livre, encontrei esta forma de garantir e monitorar o desenvolvimento do meu filho.”
A psicóloga educacional Ivalda Marinho, do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), também vê a família como um fator influente para o desenvolvimento cognitivo, cabendo a ela a estimulação inicial, baseada em conversas, passeios ou até construção de brinquedos.
Ivalda diz, porém, que, mesmo quando é dado, esse primeiro passo raramente tem sequência no ambiente Escolar. “O colégio, muitas vezes, não vê o Aluno como uma pessoa única. Não avalia a participação, o interesse, mas a nota, que é abstrata para a criança. Ela cria a ideia de que aquilo representa o seu desempenho.” Daí, surgiriam problemas emocionais. “O jovem sente o peso de não corresponder e passa a não interagir, a ter medo de perguntar ao Professor, a ficar introvertido. Então, vêm a ansiedade, a depressão e a desmotivação.”

As razões para o fracasso Escolar, segundo os psicólogos educacionais:
Zona central - termos muito citados e muito importantes
Questões emocionais
Problemas familiares
Ausência de limites
Problemas pessoais
Relação com Professor
 

Zona de contraste - termos pouco citados e muito importantes
Acompanhamento
Aprendizagem
Avaliação
Compreensão
Desmotivação
Despreparo
Ensino
Indisciplina
Metodologia
Muito citados e pouco importantes
Aluno
Dificuldades
Escola
Falta
Relação
Pouco citados e pouco importantes
Aulas
Frustração
Autoestima
Condições
Compromisso
Atenção
Interesse
Salário
Rotina

Fonte: Dissertação “Ele é multifacetado”: as representações sociais do fracasso escolar construídas e compartilhadas por psicólogos educacionais

Fonte: Diário de Pernambuco (PE)

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