Um semestre depois de o Ministério da Educação (MEC)
propor uma reforma no Ensino médio como alternativa para melhorar o mau
desempenho dos Alunos, denunciado pelo Índice de Desenvolvimento da Educação
básica (Ideb), muito pouco foi feito.
No início de dezembro, com quase dois meses de atraso, o
Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) apresentou ao ministro,
Aloizio Mercadante, um pacote de propostas — algumas de cunho político, como a
indicação de 50% das Escolas a serem avaliadas. Hoje, o sistema é feito por
amostragem. Mercadante garante que o redesenho dos três anos finais do
aprendizado básico é prioridade e deve passar pelas reestruturação do
currículo, formação dos Professores e ampliação do Ensino em tempo integral.
Especialistas criticam as propostas do Consed e a morosidade do processo.
O plano dos secretários é abrangente e reserva aos estados
o poder de acatar ou não uma decisão. À União, segundo o texto, cabe viabilizar
formas de financiamento para equipar as Escolas, capacitar Professores,
promover programas de mobilidade, dar suporte ao Aluno — como transporte e
alimentação — e apoiar o desenvolvimento de novas metodologias e materiais
pedagógicos. A solução do MEC de integrar disciplinas, sugerida em portaria
publicada há quase um ano, aparece sem destaque no pacote de ideias, com
ressalva ao respeito às questões regionais. “Tais inclusões, entretanto, devem
ser fruto de decisões locais dos sistemas educacionais”, diz trecho do
material.
O membro da Câmara de Educação básica do Conselho Nacional
de Educação (CNE) Mozart Ramos destaca que a alteração curricular, a
implementação do tempo integral e a dedicação exclusiva dos Professores são
mudanças, sugeridas pelo Consed, que faziam a diferença. “Mas essa reforma é
para ontem. Desde 1999 que o nível de aprendizado está estagnado em um patamar
muito baixo. Estamos perdendo uma geração de jovens que não se identificam com
o Ensino médio atual”, alerta. Para ele, o fato de os secretários quererem
indicar 50% das Escolas a serem avaliadas é uma maneira de “tapar o sol com a
peneira”.
Para a diretora executiva do Todos Pela Educação, Priscila
Cruz, o documento do Consed é um belo diagnóstico da Educação atual, mas precisa
avançar. “Quase tudo que foi sugerido compõe as políticas educacionais. É um
início, mas não é o bastante para mudança. É preciso uma proposta que diga o
que a gente quer para o Ensino médio. Que existem muitas disciplinas, todo
mundo sabe. Tem que ir além”, critica.Ao apresentar o bom rendimento dos
candidatos cotistas de Escola pública no Sistema de Seleção Simplificada
(Sisu), o ministro Aloizio Mercadante destacou que, agora, é preciso enfrentar
o desafio dos anos finais da Educação básica. Segundo ele, os Professores
receberão tablets para integrar a tecnologia ao Ensino, e as propostas do
Consed estão sendo discutidas. “O MEC e o Consed têm de se debruçar em um
programa extremamente ousado e corajoso (...) Estamos fazendo um grande esforço
nessa direção.” Procurado, o Consed não se manifestou.
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