sábado, 19 de janeiro de 2013

Apoio a docentes ajuda alunos pobres a aprender


Apesar de a condição econô­mica e a Escolaridade dos pais influenciarem no aprendiza­do - crianças de nível socioeconômico baixo tendem a ter menos estímulos em casa e menor acesso a materiais pe­dagógicos - as Escolas que atendem Alunos mais pobres podem, sim, oferecer um ensi­no de excelência que seja assi­milado por toda a turma.
E o segredo não está em re­cursos tecnológicos ou em apostilas de sistemas de ensi­no famosos. A receita é simples e passa pelo acompanhamento individual dos Alunos e pelo uso dos resultados das ava­liações para embasar ações peda­gógicas. Mas, acima de tudo, im­plica no cuidado com a imple­mentação das políticas, o que in­clui apoio ao corpo Docente e flu­xo aberto de informações.
É o que mostra um estudo da Fundação Lemann e do Itaú BBA, que mapeou as Escolas pú­blicas dos anos iniciais do ensi­no fundamental que atendem Alunos de nível socioeconômico baixo e que, considerando os re­sultados da Prova Brasil 2011 e o respectivo índice de Desenvolvi­mento da Educação básica (Ideb), tiveram sucesso no aprendizado. As Escolas tinham de ter uma taxa de participação de 70% dos Alunos na Prova Bra­sil, com ao menos 70% dos alu­nos no nível adequado de profi­ciência e no máximo 5% dos alu­nos no nível insuficiente, o que sinaliza o Ensino com equidade, isto é, com todos aprendendo.
Das 215 Escolas encontradas, foram selecionadas 6 para a eta­pa qualitativa da pesquisa: 2 no Nordeste e 1 em cada uma das outras regiões do País. Nas visi­tas, os pesquisadores entrevista­ram o diretor, o coordenador pe­dagógico e um trio de professo­res de cada uma das Escolas. Além disso, houve grupo focal com Alunos e a observação do am­biente Escolar.
"Tivemos o cuidado de olhar características que possam ser re­plicáveis em outras Escolas, com baixo custo financeiro e com pro­babilidade de ter resultados similares em curto prazo", diz Ernesto Martins Faria, coordenador de projetos da Fundação Lemann.
Exemplos disso são as estratégias de valorização de Docentes, apesar da ausência de um plano de carreira amplo, e o cumprimento de metas de aprendizagem, mesmo sem um currículo nacional.
Orientação. Um dos "achados" da pesquisa é a importância do engajamento das secretarias de Educação. Nos municípios de Pedra Branca e Sobral, ambos no Ceará, e em Foz do Iguaçu (PR), as secretarias foram as responsá­veis por olhar os resultados das avaliações, identificar os pontos fracos em relação ao aprendizado e, com isso, criar um plano estruturado de recuperação do Ensino.
Em Foz do Iguaçu, os dados das avaliações são tabulados e os conteúdos em que os Alunos têm mais dificuldade se tornam tema de cursos de formação continuada para os Docentes. Se em 80% das turmas mais da metade dos Alunos errou questões de trigonometria, o assunto é tema de capacita­ção. Com esse modelo, a Escola é capaz de interferir assim que identifica um problema, impedindo que os Alunos fiquem para trás.
"Ao mostrar a atuação das se­cretarias, o estudo explicita o pa­pel fundamental da tutoria, uma estratégia muito eficaz de estí­mulo ao aprendizado, como já mostram estudos d. Organiza­ção para Cooperação e Desenvol­vimento Econômico (OCDE)", diz Patrícia Mota Guedes, espe­cialista em gestão educacional da Fundação Itaú Social.
Por isso, diz Patrícia, não basta à gestão municipal exigir que suas Escolas tenham rendimento parecido; é preciso entender as peculiaridades e investir mais nas mais carentes, seja em estru­tura física ou pedagógica. "Afi­nal, a maioria dos Docentes quer. ver melhora no sistema. Aconte­ce que, às vezes, ele não sabe o que fazer. Com tutoria, ele apren­de o caminho."
E parte dessa tutoria pode ser bem caseira. Em Pedra Branca, se a Escola identifica por meio de avaliações ou observações em sala de aula que um docen­te consegue ensinar determi­nado conteúdo que os outros não conseguem, ele é selecio­nado para apoiar os colegas e explicar seu método para os demais. Isso proporciona apoio aos que mais precisam e reconhecimento a quem se destaca.
É o que Priscila Cruz, dire­tora do Todos Pela Educação, chama de processo acertado de "desglamourização" da Educação. "No Brasil, quem bota a mão na massa é menos importante e valorizado, do que quem cria a política. Isso é péssimo. Quando se inverte essa lógica e se cuida do dia a dia, do feijão com arroz, os re­sultados surpreendem."
Se a boa notícia é a possibi­lidade de Escolas que aten­dem a população com menor nível socioeconômico apre­sentarem bons indicadores, a má notícia é a constatação de que muitos dos municípios que contam com boas esco­las nos anos iniciais do ensi­no fundamental não ofere­cem a mesma qualidade nos anos finais. Consequência tanto da falta de parceria en­tre a rede municipal e a esta­dual quanto da descontinuidade de ações quando uma nova gestão assume.
Fonte: O Estado de S.Paulo (SP)

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