terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Na era do videoprofessor


Imagine uma Escola em que as aulas são apresentadas em vídeo e na qual o papel do Professor começa depois, no auxílio com as dúvidas dos Alunos. É esse modelo, apontado como um possível futuro para o Ensino, que o norte-americano Salman Khan deve defender hoje em Brasília, durante encontro com a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.
Apesar de abordar temas inóspitos como equações diferenciais ou química orgânica, Khan é um dos maiores fenômenos de popularidade na Internet. As aulas que postou na rede já foram assistidas 228 milhões de vezes. Nos vídeos, com duração média de 12 minutos, ele explica de forma didática conteúdos espinhosos das mais variadas disciplinas.
Antes da viagem ao Brasil, onde lançará um livro, Khan defendeu em entrevista (veja na página ao lado) a ideia de que não há mais motivo para os Professores gastarem saliva em aulas expositivas. Esse papel pode ser desempenhado pelas aulas pré-gravadas.
Khan é o nome mais proeminente de uma vertente que está ganhando força, inclusive com ramificações nacionais. Em 2011, o estudante de Engenharia da Produção da UFRGS Miguel Andorffy, 22 anos, criou o Me Salva!, que já teve 2,3 milhões de acessos a um conjunto de 200 aulas de Física, Química e Matemática. Animado com o êxito, o gaúcho está preparando para março uma reforma geral no site, com o lançamento de mais 300 lições.
Andorffy acredita que os vídeos proporcionam a personalização do Ensino. Cada Aluno pode aprender na sua velocidade e focar nos conteúdos em que tem mais problema. Ele também crê em uma Escola diferente, em que os conceitos básicos sejam repassados por meio do vídeo:
– Escolas que têm sucesso são aquelas com os melhores Professores, mas não é possível ter os melhores em todas. Com os vídeos, qualquer Aluno poderia ter acesso ao melhor Professor do mundo. Ainda existe certa resistência a isso, mas vai diminuir na medida em que surjam casos bem sucedidos.
Helena Sporleder Côrtes, Professora da Faculdade de Educação da PUCRS, enxerga nas aulas postadas na internet um recurso interessante para a Escola, mas ressalva que elas não substituem o Professor:
– Nossa Educação tem muitas carências. Todo recurso de apoio, se for utilizado com critério, é bem-vindo. O Professor que usa um vídeo não está abrindo mão de seu papel. Se ele encontra algo que serve ao que está trabalhando, deve usar.

“Não depende mais da escola ser boa ou não”
Em 2004, Salman Khan começou a ajudar uma sobrinha que tinha dificuldades em matemática por meio de aulas enviadas via internet. Quando publicou os vídeos em um canal do YouTube batizado de Khan Academy, o sucesso foi estrondoso. Hoje, a coleção do Educador norte-americano de 36 anos abrange mais de 3,8 mil vídeos de disciplinas variadas. Antes de sua primeira visita ao Brasil, ele concedeu a seguinte entrevista:
Pergunta – Como a Khan Academy pode ser utilizada nas Escolas?
Salman Khan – O melhor é caminhar para o modelo de sala de aula invertida, em que os Alunos aprendam no seu próprio ritmo. O Professor vê quem está com dificuldade e retrabalha os conceitos em pequenos grupos, pedindo àqueles que já entenderam que ajudem os colegas. Nesse processo, o Aluno aprende de forma personalizada e interage com outras pessoas. E assim que compreende o assunto pode fazer um teste.
Pergunta – Quais são os impactos dessa revolução nos Professores?
Khan – A maior parte do tempo do Professor é gasta dando aulas expositivas. E quando ele não está fazendo isso, está criando e corrigindo provas e planejando aulas. Esses aspectos da carreira Docente, nos próximos cinco ou 10 anos, poderão ser feitos por meio de ferramentas virtuais sob medida. A resposta à sua pergunta, então, é: interagir com os estudantes.
Pergunta – Então teremos um Professor exercendo mais um papel de tutor?  Algo que vemos em universidades como Oxford?
Khan – Várias das vezes em que descrevo esse cenário, as pessoas acham que estou tirando a importância do Professor no processo educacional, desvalorizando-o. Às vezes, um tutor parece menos importante. Mas é como você salientou: este é o modelo de Oxford. Você tem o mestre que senta com o Aluno e o desafia intelectualmente. Para mim, isso exige uma habilidade muito maior do que planejar uma aula e dá-la de modo previsível.
Pergunta – E pensando no estudante?
Khan – Um Aluno brasileiro pode ter acesso à mesma aula de cálculo que o filho de Bill Gates. Não depende mais de sua Escola ser boa ou não.
Fonte: Zero Hora (RS)

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