O maior desafio ao desenvolvimento é a Educação. A
proposta de alocação de recursos do pré-sal nessa rubrica enseja
sustentabilidade - suprindo melhores recursos humanos à medida que os proventos
do ouro negro caiam. A limitação dessa, ou de outras estratégias educacionais,
são os longos horizontes de tempo envolvidos. A plena maturação do investimento
em pessoas requer tempo e paciência. A questão aqui endereçada é como acelerar
a transformação educacional em curso da nossa força de trabalho. Como chegar
logo ao longo prazo?
Não nos referimos aqui à migração por motivos humanitários
de países pobres, ou países em conflito, mas aquela voltada a reforçar nossa
competitividade econômica. Se queremos produzir e exportar mais, atrair
talentos importa. O Canadá, que se notabilizou por uma política de atração de
cérebros altamente qualificados, possui uma política internacional humanitária
exemplar. No aspecto humanitário, o Brasil tem exercido crescente papel de
exportador de políticas sociais.
A crise internacional oferece oportunidades de acelerar os
avanços educacionais de nossa força de trabalho por meio da imigração da mão de
obra qualificada. Em muitos casos, os mesmos países que impulsionaram a onda
migratória para o Brasil do século passado estreitando laços culturais,
linguísticos e uma rede de patrícios são os que estão de certa forma liberando
população por falta de perspectivas laborais e econômicas.
A população de países mais afetados pelo estouro da crise
recente passou a querer migrar para fora. Esse processo está apenas começando.
Em 2009, entre os patrícios portugueses,14% planejavam emigrar contra 27% deles
em 2012. Na Itália esse índice passa de 17% para 26%; na Grécia, de 17% para
24% e na Espanha, de 8% para 15% no mesmo período. No Brasil, nesse ínterim,
acontece o contrário - a população que planeja sair da terrinha cai de 15% para
12%, era 18% em 2007 e 2008. Em época de pleno emprego brasileiro, a imigração
permite iluminar o chamado apagão de mão de obra qualificada.
Apresentamos uma das mais baixas proporções de emigrantes
em outros países; 142º em 149 países, o que reflete fechamento ao fluxo de
pessoas e/ou uma alta atratividade do país. Curiosamente, os demais países dos
Brics ocupam juntos a lanterninha desse ranking. De qualquer forma, podemos
explorar a migração de retorno dos brasileiros. A imigração para o Brasil
sofreu um incremento de 86,7% na década passada. No topo disso aumentou a
parcela da imigração de retorno de brasileiros de 61,2% do total de imigrantes
no ano de 2000 para 65% em 2010. O Censo 2010 revelou de maneira inédita, em
relação aos levantamentos anteriores, um estoque de 491 mil brasileiros morando
no exterior, sendo São Paulo e Minas Gerais os principais pontos de partida da
emigração brasileira e Estados Unidos, Portugal, Espanha, Japão e Itália seus
países de residência majoritários.
Os EUA, que foram durante nossas décadas perdidas o
destino preferencial de nossos emigrantes, hoje em crise abrigam ainda 23,8% de
brasileiros residentes no exterior, pouco mais de 100 mil. Estudo que realizei
em 2004 baseado em pesquisas domiciliares americanas indicou número maior de
200 mil brasileiros lá radicados. Ela mostrava que 8,84% dos brasileiros
radicados nos EUA apresentavam pelo menos mestrado completo contra 6,28% dos
nativos americanos e 1,1% dos imigrantes mexicanos.
É fundamental saber como o mercado de trabalho valora
diferentes carreiras profissionais e conhecimentos adquiridos em diferentes
países. Há bases para isso. Além do nosso crescente acervo de informações
domiciliares ibgeanas de migração e dados administrativos como os do Ministério
do Trabalho, outros órgãos federais como a Secretaria de Assuntos Estratégicos
da Presidência da República e instituições de pesquisa como a Fundação Getulio
Vargas, tem se debruçado nos detalhes legais, econômicos e administrativos
sobre como impulsionar a imigração de mão de obra qualificada.
Não se trata apenas do hard power das oportunidades
econômicas existentes no Brasil mas também explorar o poder de sedução do nosso
soft power sobre pessoas de alto nível educacional. Da mesma forma que entre
nossos municípios com maior concentração de pessoas de nível universitário hoje
são lugares aprazíveis de se morar como Florianópolis, Niterói, Santos e
Vitória, podemos explorar o "Brazilian way of life" como motivação
migratória ao olhar estrangeiro, algo singelo do tipo: "Be happy!: Move to
Brazil."
Campanha publicitária como as empreendidas pela Embratur
no exterior, só que alinhada com incentivos de preços relativos. A mesma
valorização cambial dos últimos dez anos que repele turistas estrangeiros,
atrai a mão de obra estrangeira para ganhar a vida aqui em reais. Além disso,
há aumento do poder de compra dos salários em reais. As vantagens econômicas da
migração devem ser didatizadas em sítio na rede voltado ao público potencial
migrante sobre os prêmios trabalhistas de diferentes cursos universitários em
território brasileiro. O repatriamento de nossas estrelas do futebol
internacional simbolizam a reversão dos fluxos migratórios e sugerem
garotos-propaganda numa eventual campanha para a atração de talentos de fora.
Marcelo Côrtes Neri, professore presidente do Ipea, in:
Valor Econômico (SP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário