domingo, 17 de fevereiro de 2013

Um grave equívoco

 
Não deveríamos exigir do processo educacional uma produtividade semelhante à do operário que produz um par de sapatos ou à do corretor que deve "bater" a sua cota mensal ou anual de seguros vendidos para, deste modo, ganhar seu quinhão anual de bônus. Até porque qualidade na Educação só pode ser atingida em tempo; 15, 20 anos de políticas públicas consistentes.
Há pessoas que são bem educadas, mas não sabem ler nem escrever. Há pessoas que sabem ler e escrever, mas são mal educadas. Não existe um único modelo de Educação porque não existe um único modelo de sociedade, muito menos de sujeito ou de cidadão. Nem mesmo quando nos referimos à Educação formal podemos homogeneizar nossa compreensão, uma vez que a Escola não é o único lugar onde "se educa". Aliás, ao contrário do que se tem apregoado por aí, a assunção do termo "Educador", por parte da maioria dos Professores, não qualifica bem o trabalho que fazemos e distorce a responsabilidade que temos: somos Professores, que também educam, e não Educadores, que por acaso também professam saberes múltiplos, mas tidos, no mais das vezes, na prática, (quase) como inúteis e/ou desinteressantes. Um Professor ensina os saberes cientificamente sistematizados sobre o mundo e, assim, e por intermédio das sinuosidades do outro e da vida cotidiana, também educa.
Educação não é uma ação imediatista e mercadológica e essa concepção do processo educacional está limitando em demasia a formação humana de nossos filhos(as) e, por extensão, está limitando a possibilidade de criarmos crianças e jovens cônscios de si, do outro e do mundo, e perceptivos quanto às questões subjetivas e afetivas da vida. Educação Artística, por exemplo, é tão importante quanto a Matemática!
Os gregos antigos já tinham nos ensinado isso e desaprendemos em nome da competitividade, essa grande ideologia reinante, que leva, na Educação a uma espécie de fast knowledge (mais fast e junk do que knowlegde ). Educação é um processo, em grande parte, subjetivo (diria, na maior parte), embora o subjetivo esteja imerso no coletivo e seja dele indissociável, e nem tudo o que se aprende é passível de ser mensurado.
Educar na Escola é mostrar aos estudantes que eles são sujeitos ativos deste mundo e cidadãos de vital importância para a sociedade em que vivem.
Uma Escola não serve para qualquer coisa; uma Escola não pode ficar reduzida, como temos observado, muitas vezes, a permanecer importante, basicamente, porque oferece, na forma de merenda, a comida que todas as famílias deveriam poder ofertar para seus filhos; uma Escola não pode servir apenas para que as crianças não fiquem largadas pelas famílias, em casa ou na rua; uma Escola não tem a função de educar, integralmente, os estudantes e não pode ser, apenas, um lugar onde os estudantes serão treinados para serem mão de obra barata para a reprodução ampliada do capital.
Isso tudo é um grave equívoco no qual temos incorrido e as consequências estão aí mesmo, a olhos vistos, para não me deixar mentir.
Fonte: O Globo (RJ)

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