Com 30 livros publicados e mais de 78 mil atendimentos
psicoterápicos a adolescentes e suas famílias, o psiquiatra Içami Tiba é
referência na área educacional no país. Entre suas principais obras estão Quem
Ama, Educa!, de 2007, e Pais e Educadores de alta performance, de 2011. Em
conversa com o Diário Catarinense, o profissional paulista, que aborda a
disciplina e o relacionamento entre jovens e Educadores, reforçou a importância
da cobrança de pais e Professores no processo educacional. Confira a entrevista
com o psiquiatra, que chegou a Florianópolis ontem para participar da Jornada
Pedagógica, promovida pelo Sindicato das Escolas Particulares do Estado
(Sinepe-SC).
Diário
Catarinense – O senhor tem a proposta de se
ensinar aprendendo. O que seria isso?
Içami Tiba – Os primeiros Professores nem sabiam que sabiam, eles
apenas foram vistos e imitados. Perceberam, por exemplo, que pegar a água no
rio com a mão os deixava menos vulneráveis do que se abaixar para tomar água
direto do rio e os outros os copiaram. Os Professores têm que aprender, por
experiência ou por Escola, para pouparem os Alunos de terem que descobrir tudo
por si mesmos. O Professor tem que aprender, organizar o que aprendeu e
explicar para o que serve aquilo. O Professor é aquele que lê o que Sócrates (o
filósofo) disse e explica como isso pode ser explicado hoje.
DC – Como o senhor enxerga as Escolas hoje?
Tiba – As aulas estão erradas. O Professor fornece as
respostas sem as perguntas terem sido feitas e isso não faz sentido. No Brasil,
se perpetua a ideia de que se deve trabalhar o suficiente para não ser mandado
embora e os patrões pagam o suficiente para o empregado não pedir as contas. Se
trabalha por suficiência e não por competência. Precisa-se de um compromisso
com a Educação em todas as esferas. É um absurdo pensar que os pais ficam
contentes com um filho aprovado com a nota cinco se ele tem competência para
tirar oito. Hoje, a Educação só serve para atrair a atenção na eleição. O
modelo de Educação é furado.
DC – É possível reverter isso?
Tiba – Sem dúvida. Temos que colocar foco e medir a
competência que temos para poder desenvolver e mostrar algo. A nossa mente é
maravilhosa, consegue usufruir o que vai acontecer, então, as crianças, para
aprender, têm que saber para o que serve o que estão aprendendo, e hoje as
Escolas dão só respostas, como se fosse um dicionário. Sem as crianças saberem
para que serve, são obrigados a decorar, e isso não pode ser chamado de
aprendizado.
DC – Quando se começou com esse modelo atual?
Tiba – Teoricamente, não éramos assim. Os pais eram exigentes,
os filhos obedeciam. Houve uma mudança, e esses pais que hoje têm mais irmãos
do que filhos, por amor, deram o que não tiveram: liberdade e prazer. Além
disso, foram pais e mães capacitados para trabalhar e não para serem pais.
Educacionalmente, está errado. Se a criança só faz o que quer, ela não faz o dever.
DC – Qual seria a família ideal, na sua visão?
Tiba – O Aluno que chuta a canela do Professor, antes, já
bateu nos pais. É um padrão de comportamento sem respeito, daquele jovem que
vai pular o muro para entrar sem pagar na festa, é um mecanismo mundial.
Ninguém ensina os pais a serem pais. A Escola tem que preparar os pais a
formarem cidadãos. Na Escola estão os parceiros para a escuridão educacional
dos pais. Os pais devem dizer que os filhos têm de estudar, senão, vão aguentar
as consequências. E o Aluno precisa participar da construção do seu
conhecimento. Conhecimento é domínio que a pessoa tem e ninguém toma jamais.
DC – Como os Alunos podem participar da construção desse
conhecimento?
Tiba – Os Alunos têm que ser estimulados. No final de cada aula,
se o Professor explicasse para os Alunos para que serve aquela aula, que
problemas os Alunos vão ter se não souberem daquilo. O Professor tem que sair
da sua comodidade de levar matéria que aprendeu há 20 anos.
DC – Qual lição o senhor deixaria para os Professores e
pais?
Tiba – Cobrança de responsabilidade. O país que quer ir para
frente tem que honrar seus compromissos. O Professor tem que cobrar do Aluno.
Só cobrado que a gente fica bom, e só se deixa de se desenvolver quando se
deixa de cobrar.
Fonte: Diário Catarinense (SC)
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