Vale a pena refletir sobre o elo entre a Educação e o que
acontece com nossa vida profissional. Sabemos que, ao deixar a Escola e
encontrar um emprego, o número de anos de estudo é o mais poderoso determinante
do que vamos ganhar. Como regra geral, quanto mais se estuda, mais o salário
inicial é elevado — embora varie de acordo com a oferta e a procura de
competências. Se acreditamos que o contracheque reflete a nossa contribuição
para a produtividade da empresa, os anos de estudo são a maior fonte de
progresso. É o que Adam Smith dizia e que já foi exaustivamente medido.
De fato, quanto maior o estoque de Educação com o qual
iniciamos a vida profissional, mais ganhamos. Ou seja, no dia em que pleiteamos
um emprego, o mercado valoriza o que aprendemos na Escola. Portanto, há boas
razões para a Escola ensinar bem aquilo que conta para um bom desempenho
profissional.
Mas os números contam mais histórias. Quem estudou pouco
ou nada não só começa com um salário medíocre, mas permanece a vida toda no
mesmo nível. Já para os que têm mais Educação, no curso da sua vida
profissional, o salário pode duplicar ou triplicar. Esses aumentos são
espantosamente maiores do que o benefício de entrar mais educado no mercado de
trabalho — no caso, comparado com quem tem menos Escolaridade.
Nosso primeiro salário reflete aqueles conhecimentos que a
Escola nos deu e que o mercado valoriza. É fácil entender. Mas o que explicaria
o avanço ao longo da carreira, se já havíamos parado de estudar? Como
esquecemos muito do aprendido na Escola, até não seria absurdo pensar que o
salário encolheria.
Em boa medida as empresas remuneram de acordo com a
capacidade de produzir de cada um — e com a escassez relativa daquele perfil de
mão de obra, mas não precisamos aqui entrar nesses complicadores. Se pagam cada
vez mais, ao longo da nossa carreira, se o salário segue crescendo, isso
significa que nos tornamos mais produtivos. É forçoso concluir que, de alguma forma,
continuamos aprendendo. Ficamos mais educados, apesar de não estarmos mais na
Escola.
Em outras palavras, os aumentos ao longo dos anos só podem
ser explicados pela capacidade de aprender com a experiência vivida. Esse
amadurecimento ao longo da vida — fortemente influenciado pela nossa Educação
formal prévia — metamorfoseia-se em maior produtividade. Eis a mágica da
Educação!
Visto de outra maneira, o que aprendemos na Escola e tem
uso imediato aumenta os salários, mas não tanto. Conta mais o que aprendemos
depois. Logo, seja do ponto de vista individual, seja do da empresa, o
aprendizado mais valorizado economicamente é aquele que se dá durante a vida
profissional, não antes. Essa conclusão, além de curiosa, não é sem
consequências.
Tudo o que puder ser feito para maximizar o aprendizado ao
longo da nossa carreira se traduz em avanços nos rendimentos. É importante
lembrar, conta a qualidade da Educação que tivemos. Não são quantos fatos e
fórmulas decoramos, mas a capacidade de ler. Escrever, pensar, decifrar o mundo
ao nosso redor, bem como identificar e encontrar soluções para os problemas que
vão aparecendo.
Pela vida afora, ajudará tudo o que possa facilitar,
incentivar e promover o aprendizado, até o máximo condizente com o potencial de
cada um. Ajudam os cursos, mentores, estágios ou grupos de discussão. Essa é a
boa tese da Educação Permanente. Mas nem tudo vem de fora. Também funciona o
esforço próprio, autodidata, de maneira totalmente informal. E. mais ainda,
avançamos mercê de uma insaciável curiosidade e de uma atitude de sempre fazer
perguntas e procurar respostas. O que importa é a busca incansável de formas de
alimentar a nossa sede de conhecimentos e de novas soluções.
Nossa carreira depende do esforço para continuar a
aprender. O tesouro da Educação não está no diploma e no que Ensinou a Escola,
mas sim no que ela nos permite crescer depois.
Fonte: Veja (SP)
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