sexta-feira, 8 de março de 2013

Nada de pular etapas

Para o juiz da 1ª Vara da Família do Recife, Clicério Bezerra, o Código Civil somente permite que uma pessoa pode ser emancipada a partir dos 16 anos. Muitos pais que têm filhos no 2º ano do Ensino médio que passaram no vestibular buscam emancipar os adolescentes e depois entram na Justiça para garantir que sejam submetidos ao supletivo da Secretaria Estadual de Educação e assim consigam a ficha 19, documento que comprova a conclusão.
Isso porque a Secretaria Estadual de Educação somente pode aplicar o supletivo a menores de idade que não concluíram o Ensino médio se for obrigada por lei, pois a emancipação por si só, segundo a legislação educacional, só vale para fins cíveis e não educacionais.
Diretor pedagógico do Colégio Motivo, Eduardo Belo, avalia que é um absurdo colocar um adolescente desta idade na universidade. “É uma temeridade. Esses Alunos não têm maturidade para o Ensino superior. Além disso, o currículo de alguém não é só feito de uma universidade, é composto da Escola também”, acrescentou.
Em janeiro deste ano, Tiago Saraiva, 15 anos, estudante do Ceará, obteve o parecer do Conselho de Educação daquele estado, permitindo que ele ingressasse no curso de medicina da Universidade Federal do Ceará. Ele fez o Enem em 2012, quando tinha 14 anos e cursava o 2º ano do Ensino médio. Para ser dispensado de concluir o Ensino médio, ele precisou solicitar ao conselho de Educação que, por sua vez, recomendou ao colégio de Tiago que elaborasse uma prova reunindo conhecimentos aplicados nos três anos letivos do Ensino médio, na qual foi aprovado.

Ingresso na universidade
A pró-reitora para assuntos acadêmicos da UFPE, Ana Cabral, explicou que, independentemente da idade, qualquer pessoa pode entrar na universidade, desde que apresente a comprovação de que concluiu o Ensino médio, como reza o edital do vestibular. No entanto, como pessoas com 14 anos, como Mateus, de forma geral, não estão em idade de concluir o Ensino médio, ele não poderia entrar no Ensino superior. “A inteligência dele é acima da média, mas não acho correto pular etapas da vida. Emocionalmente acho isso complicado, mas isso vai depender da maturidade da pessoa. Tem gente com 20 anos sem maturidade”, analisou Ana Cabral.

Mateus, um gênio de apenas 14 anos
Ele só tem 14 anos, mas talento de sobra nos estudos. Sempre foi assim. Com um ano, montava quebra-cabeças de 50 peças, inclusive com elas de cabeça para baixo. Aos três, já sabia ler e escrever o português. Desde os 10, fala fluentemente inglês. Depois de tantas surpresas na família, terminou autorizado pela Secretaria Estadual de Educação a passar do Jardim II para a 1ª série do Ensino fundamental quando era criança. Só que agora ele surpreendeu mais ainda: passou no vestibular de engenharia da UFPE, tarefa incomum para quem ainda é tão jovem. O caso de Mateus Henrique Costa Guia, Aluno do Colégio Motivo desde a 4ª série, é considerado raro no estado. Ele tirou nota 6,38 no teste que fez somente para experimentar como é encarar o vestibular. Como ainda cursa o 3º ano do Ensino médio, Mateus disse que prefere terminar o colégio este ano para depois pensar no passo maior que representa a universidade. Se repetir o feito no final do ano, entrará no Ensino superior aos 15 anos, em 2014.
A inteligência acima da média, Mateus conta que herdou do pai, o funcionário público Marcos Barros Guia, 43, que, assim como o filho, também conquistou uma vaga no vestibular da UFPE deste ano, só que em direito. Como inteligência não significa necessariamente maturidade, Mateus pensa que ainda não está na hora exata de entrar na universidade. “Ainda estou em dúvida entre engenharia e direito. Só fiz engenharia por estar mais acostumado com as matérias específicas do curso. Mas até o fim do ano, decido. Além disso, ainda não me sinto pronto. Quero acabar de estudar e aproveitar o tempo que ainda tenho, desfrutar os anos de Escola, jogar bola, games e brincar mais com meu irmão de 12 anos”, contou. A mãe, a psicóloga Flávia Pereira da Costa Guia, 43, concorda com o filho. “Se ele acha que não está na hora é porque não está”, comentou.

Surpresa?
Mateus recebeu a notícia no colégio, na tarde da última quarta-feira. “Fiquei mais surpreso que feliz por ter passado. Como não recebi pressão da família, acho que foi mais fácil. Mas este ano vou estudar mais, organizar melhor meu horário de estudos”, disse. O estudante contou que o segredo do sucesso é prestar atenção na aula. “Sempre sentei na frente na sala de aula porque sou baixinho, mas é bom porque não tem nada na frente para se distrair”, comentou.
Fonte: Diário de Pernambuco (PE)

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