segunda-feira, 11 de março de 2013

sala de aula com novos formatos em tempos digitais

Ficou famoso o vídeo no YouTube em que um professor, irritado com o toque do celular de uma aluna, tira o aparelho da mão dela e o espatifa no chão. Mas isso foi “há séculos”, em 2008. Hoje, com a popularização dos smart-phones, o telefone móvel deixou de ser objeto proibido em sala para, muitas vezes, tornar-se uma bem-vinda ferramenta de pesquisa. É mais um sinal da transformação pela qual as salas de aula vêm passando.
Enquanto se debate a criação de um novo modelo de ensino, com especialistas criticando o processo convencional, mudanças vêm ocorrendo naturalmente. Certas instituições estão investindo em videoaulas, games e laboratórios inovadores.
Na PUC-Rio, por exemplo, estudantes usam celular para tirar foto do quadro ou até para filmar uma explicação mais importante do professor. No Colégio Notre-Dame do Recreio, todos os gadgets são liberados como ferramentas de estudo. São usados pelos alunos para fazer anotações e pesquisas na internet. A ideia é se aprofundar nos temas didáticos, com orientação do professor.
— Gosto de tirar foto do quadro. Assim, fico livre para prestar atenção no que o professor diz. Se preciso, gravo explicações no celular também — conta Rogério Braga, aluno de Geografia da PUC.
As próprias escolas e universidades, isoladamente, vêm testando novidades para dinamizar o ensino. As ferramentas são muito novas e não se sabe ainda onde concentrar investimentos. Uma parceria entre o curso de Relações Internacionais da PUC-Rio e o Departamento de Educação à Distância, por exemplo, permite utilizar vídeos e interatividade na cadeira de Introdução à Política Internacional.
Outra experiência é desenvolvida nos EUA, onde a Escola de Medicina de Stanford, na Califórnia, abraçou o conceito de “sala de aula invertida”, em parceria com a Khan Academy, academia virtual do educador Salman Khan. Segundo esse modelo, o aluno assiste a vídeoaulas em casa e vai à escola para discutir o tema, tirar dúvidas e compartilhar conclusões. “É uma forma de tornar o ensino mais interativo e permitir a construção de um saber coletivo”, disse o diretor da faculdade, Charles Prober, após anunciar a novidade, no fim do ano passado.
Diretor da Escola Politécnica da UFRJ, o professor Ericksson Almendra diz que apenas 25% de suas aulas de Princípios de Ciências dos Materiais são presenciais. O resto acontece nos ambientes virtuais de aprendizado, nos quais ele tira dúvidas por chat, disponibiliza conteúdos, exercícios, áudios e até promove videoconferências.
— A sala de aula está saindo das quatro paredes. Minha aula acaba, mas eu e os alunos continuamos em contato sempre — afirma.
Compartilhamento, interação e flexibilidade. Um novo projeto de sala de aula concebido por um professor de pedagogia da Uerj para dinamizar o ensino vem sendo adotado em diferentes instituições, como a própria universidade estadual, a PUC, a Escola Politécnica da UFRJ e o CAp-Uerj, na Tijuca. Trata-se da Revoluti. As carteiras dos alunos têm notebooks acoplados e, fixadas no chão, giram em torno do próprio eixo, permitindo diferentes formatos dentro de sala.
— Um motivo para o computador não ter sido plenamente aceito em sala é porque os alunos se isolavam de seus colegas. A classe é um lugar de troca de ideias. Com a Revoluti é possível estimular a interação, pois o professor pode circular pelo espaço e organizar a sala em grupos — explica o professor Henrique Sobreira, da Uerj.
Nem todos no meio acadêmico são entusiastas da busca constante por mudanças com viés digital. Muitos professores não querem saber de smartphone em sala. Economista e especialista em educação, Gustavo Ioschpe é cético quando o assunto é alteração do modelo de ensino:
— O método tradicional existe desde a academia de Platão. Nenhum modelo dura tanto sem uma genialidade intrínseca. Várias pedagogias alternativas surgiram, mas se mostraram pouco eficazes. Se algum método vai ser revolucionário, os benefícios precisam ser comprovados empiricamente.
 
Livros digitais em 2015
Um dos obstáculos da disseminação da tecnologia é a falta de infraestrutura. A partir de 2015, livros digitais começarão a ser distribuídos nas escolas públicas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC). Mas é preciso resolver o problema sério do acesso à internet. No Rio, escolas estaduais receberam um conjunto de games didáticos do programa Sesi Matemática, lançado pelo Sistema Firjan. Mas sua aplicação esbarra na baixa capacidade da banda larga. Subsecretário de gestão de ensino da Secretaria Estadual de Educação, Antônio Paiva Neto explica que o aumento da banda foi pedido e depende das operadoras:
— A banda larga é limitada no Brasil. Mas temos alternativas, como distribuição de modens 3G aos professores.
A secretaria disponibilizou 350 mediadores para ensinar docentes a usar novas ferramentas com eficiência.
— Não adianta dar notebooks e tablets para alunos e professores e a aula continuar sendo uma reprodução do século XIX. É preciso estimular o professor.
Fonte: O Globo Online

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