A estudante universitária Bruna Hech, 20 anos, resolveu se
matricular em uma Escola de inglês assim que entrou no Ensino superior, em
2011. Embora tenha estudado a língua estrangeira na Escola desde o 1.º ano do
Ensino fundamental, ou seja, por 11 anos, não aprendeu nada e precisou começar
do nível básico. Só hoje, com quase dois anos de curso, ela se sente preparada
para fazer um estágio no exterior, que é um dos seus grandes sonhos.
Essa necessidade de recorrer a uma Escola especializada em
língua estrangeira mesmo depois de anos e anos de aula no colégio regular é
algo comum na Educação brasileira. As causas vão desde a baixa carga horária da
disciplina na Escola até a falta de qualificação dos Professores.
Em casa
Embora o Ensino do inglês seja a função de um Professor capacitado e dependa
muito do conteúdo e dos recursos usados em aula, os pais também podem
contribuir com pequenas ações que motivam os filhos e podem fazer com que
meninos e meninas se interessem mais pelas aulas.
Uma boa estratégia é incentivar que a criança busque jogos
on-line em inglês, assim como músicas e vídeos. Mas isso não deve ser
aleatório. “Aprender inglês depende muito da exposição, de quanto a pessoa tem
contato com ele. Sem contar, claro, com a habilidade nata de se entender fácil
com outra língua”, diz o diretor educacional da unidade Batel da Escola Phil
Young’s, Tomás Martins.
Cultura
Outra forma de atrair a criançada para uma língua
estrangeira é despertar o interesse pela cultura do país. Essa é uma estratégia
forte das Escolas especializadas e é, segundo a coordenadora do curso de Letras
da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Miriam Retorta,
justamente o que falta na rede pública. “Essa é a função essencial de uma
Escola. O inglês – ou qualquer outra língua – tem de estar ligado à transmissão
de valores, inclusive morais”, afirma. (AS)Dê a sua opinião.
Como o Ensino de línguas estrangeiras poderia ser
aprimorado nas Escolas brasileiras? Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br e as
cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
O Ministério da Educação (MEC) exige o Ensino de pelo
menos uma língua estrangeira a partir do 6.º ano do fundamental, mas não
estabelece carga horária mínima. Isso fica a cargo das secretarias estaduais de
Educação. No Paraná, são obrigatórias, nos Ensinos médio e fundamental, duas
aulas semanais de cerca de 50 minutos cada uma.
Porém, o que Professores de Inglês apontam é que para um
aprendizado efetivo são necessárias pelo menos quatro horas semanais – o dobro
da exigência feita às Escolas paranaenses. Além disso, para que o Professor
consiga interagir com todos os Alunos e estimular o aprendizado de uma nova
língua, o ideal seria que as turmas tivessem no máximo 20 pessoas, o que não
ocorre na maioria das Escolas brasileiras, que chegam a ter até 40 estudantes
em uma mesma sala.
Outro problema é que, na Escola regular, o conhecimento
dos Alunos de uma turma não é nivelado, ou seja, em um mesmo ambiente estão
crianças que em uma Escola especializada não estariam juntas. Isso faz com que
os mais adiantados percam o interesse e os atrasados não consigam acompanhar.
“As Escolas que alcançam um bom resultado são as que
separam os estudantes por nível de conhecimento da língua, não por série”, diz
o Professor de Literatura Inglesa da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP)
Paulo Roberto Telissari.
Formação
A contratação de Professores com pouca capacitação também
influencia o baixo rendimento do aprendizado de inglês nas Escolas regulares. A
formação defasada de profissionais – problema que afeta vários cursos de
Licenciatura e Pedagogia – leva para a sala de aula profissionais que não
conseguem usar técnicas efetivas de Ensino de uma nova língua.
Sem contar que, segundo a coordenadora do curso de Letras
na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Miriam Retorta, os
melhores Professores – que são minoria – migram para a rede privada, seja por
causa dos salários mais atrativos ou pela melhor condição de trabalho, com sala
e material adequados.
Nem tudo está
perdido
Mesmo que o quadro geral das Escolas reflita um Ensino
falho da língua inglesa, alguns colégios conseguem fugir do padrão e fazer com
que os estudantes concluam o Ensino médio com pelo menos o nível intermediário
de conhecimento.
No Colégio Bom Jesus, por exemplo, o inglês começa a ser
dado na Pré-Escola. Quando o Aluno chega ao Ensino médio, as regras mudam um
pouco. Além de haver aumento na carga horária semanal para três horas, a
conversação é levada mais a sério. “O Professor só fala em inglês com os
Alunos. A prática é grande”, diz a Professora de inglês do colégio Nina
Weissheimer.
Nina conta que, ao terminar os estudos no colégio, o jovem
está apto a fazer testes de certificação internacional, como o de Cambridge.
“Alguns procuram mesmo uma Escola especializada, mas não é necessário se ele
levar a sério o que aprende em sala. Com esse conhecimento do Ensino regular,
ele está apto para o mercado de trabalho.”
Qualificação
No Ensino médio da Universidade Federal Tecnológica do
Paraná (UTFPR), as aulas de inglês também dão conta de proporcionar aos Alunos
um bom nível de conhecimento. Segundo a coordenadora do curso de Letras da
UTFPR, Miriam Retorta, isso se dá por causa da qualificação dos Docentes.
Miriam acredita que esse é o primeiro passo para que o
Ensino regular dê certo. “Os pais precisam aprender a cobrar bons Professores
também para língua estrangeira. O problema é que não há valorização dessa área
do conhecimento. A preocupação fica em torno de matemática e português. O
inglês fica em último plano”, lamenta.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)
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