Em pequena cidade do interior nordestino, face ao excesso
de infrações no trânsito cometidas por pessoas habilitadas ou não, as
autoridades decidiram se unir na tentativa de coibir os costumeiros abusos.
Buscando envolver ao máximo a população no processo, além de uma blitz
educativa, onde todos os motoristas infratores eram advertidos e orientados, os
adolescentes das Escolas públicas foram incentivados a escrever frases de cunho
educativo, voltadas à necessidade de respeito às leis do trânsito. A frase
selecionada seria estampada no material utilizado na campanha, cumprindo assim
uma dupla finalidade: a elevação da auto-estima do autor e a Educação no
trânsito da população. O resultado foi lamentável! Nenhuma frase pode ser
aproveitada face aos erros crassos cometidos pelos Alunos e a visível
dificuldade na elaboração de ideias. Eram Analfabetos funcionais, embora já
cursassem séries mais avançadas, de acordo com a faixa etária.
Da mesma forma, em minha prática profissional, era
obrigada a solicitar aos pacientes que assinassem o nome, de modo a atestar o
atendimento realizado. Por várias vezes percebi o olhar aflito de jovens,
implorando à acompanhante, em geral a mãe, que os tirasse daquela enrascada,
pela dificuldade em grafar o próprio nome, apesar de já cursarem a 6º ou 7º
série. O constrangimento e a falta de destreza motora no desempenho de uma
tarefa tão simples revelavam as outras limitações certamente existentes no uso
da palavra escrita ou falada.
Os dois fatos relatados demonstram a necessidade imperiosa
de Educação com qualidade. Professores treinados, Escolas agradáveis,
alimentação planejada, permanência dos Alunos em tempo integral, estímulos à
leitura, atividades de lazer bem elaboradas, capacitação continuada e
remuneração adequada dos mestres, condizente com a responsabilidade que têm,
são algumas das premissas para que o Ensino dê um salto de qualidade. Nada de
aprovações obrigatórias para que as estatísticas não revelem a realidade de
nossas crianças e jovens, incapazes muitas vezes de assinarem o próprio nome
com a destreza esperada. O que esperar do desempenho destes jovens quando
exigidos em relação à leitura e interpretação de textos? Um verdadeiro fiasco
que não será corrigido com a generosa oferta de vagas ou cotas nas
universidades, mas sim, com a melhoria do Ensino básico no país.
Fonte: O Povo (CE)
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