Com o desejo
de resgatar a autoestima do adolescente da periferia, o jornalista Eduardo
Lyra, de 24 anos, morador de Poá, na Grande São Paulo, criou o projeto Gerando
Falcões. Ele pediu dinheiro emprestado a amigos, colocou uma mochila nas costas
e viajou por sete Estados do País à procura de jovens que deixaram a pobreza e
alcançaram lugar de destaque na sociedade. Com 11 histórias em mãos, Lyra
compilou todos os relatos no livro Jovens Falcões e iniciou o trabalho.
"Comecei
a levar os exemplos do livro aos estudantes das Escolas públicas com o objetivo
de encorajá-los e apresentá-los uma nova referência de vida."
O projeto
entrou nas Escolas neste ano e já atingiu, segundo o idealizador, mais de 20
mil estudantes da rede pública. Uma parceria com a Secretaria de Estado da
Educação de São Paulo autoriza que o Gerando Falcões tenha acesso livre a 58
colégios.
"Quando
começo a falar, os Alunos me lançam olhares de descrédito, mas depois que conto
pelo menos três histórias do livro, a situação muda. Eles entendem aos poucos
que existe chance, mesmo estando na periferia", conta Lyra, após receber a
ligação de uma Professora que o convidara para mais uma palestra.
Do ponto de
vista educacional, a diretora de Inovação da Faculdade de Tecnologia Fiap,
Nathalie Trutmann, garante que faltam mais lições de coragem e sobra teoria nas
Escolas. "O Gerando Falcões é o único tipo de projeto que pode gerar a
transformação. Isso é, na verdade, o gás essencial de que os jovens precisam.
Com isso, o resto vai por si só", explica.
Para avaliar a
eficiência do projeto, Nathalie esteve ao lado de Lyra durante uma palestra.
Ela relata que foi uma das experiências mais transformadoras que já presenciou.
"As histórias mudam as caras dos estudantes. Não tem como as pessoas
ficarem iguais depois da palestra. A mudança ocorreu comigo. E já tenho 40
anos."
Uma das
histórias contadas pelo Gerando Falcões nas Escolas é a do morador de Marília,
no interior de São Paulo, Ricardo Ferreira, de 24 anos. Filho de metalúrgico,
ele ingressou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e hoje sustenta a
publicação de um estudo sobre aquecimento global na revista Science - uma das
mais respeitadas pela comunidade científica internacional.
Segundo Ferreira,
os jovens, principalmente aqueles que crescem em um ambiente com recursos
limitados, têm carência de referências de pessoas que conquistaram algo ou
transformaram suas vidas saindo de lugares iguais aos deles.
Mais três
histórias devem integrar o Gerando Falcões ainda neste ano: de Marco Gomes,
criador da Boo-box, primeira empresa brasileira de tecnologia de publicidade e
mídias sociais; de Amit Garg, capixaba que estudou em Harvard, trabalhou no
Google e, hoje, atua no fundo global dedicado aos investimentos nacionais e
internacionais Norwest Venture Partners (NVP); e do vlogger Felipe Neto, um dos
grandes sucessos na internet.
"Eu
talvez não mude o mundo, mas consiga mudar uma pessoa", enfatiza Lyra.
Esse objetivo ele alcançou quando esteve na Escola Estadual Professora Lacy
Leski Lopes, de Poá. Pelo menos é o que garante a aluna e atendente de
telemarketing Flávia Cardoso, de 17 anos.
"Ao fim
da palestra, percebi que tinha voltado a sonhar. As histórias dos jovens
falcões são inspiradoras", diz ela. "Quando estou desanimada, sempre
me lembro das palavras que escutei. Já consigo me imaginar com um grande futuro
profissional", completa. Lyra, agora, diz que deseja poder passar mais
tempo dentro das Escolas.
Fonte: O Estado de S.Paulo (SP)
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