A medida prevê que 100% dos royalties dos contratos
futuros de exploração de petróleo sejam destinados à educação. Até 2020, o
montante pago pelas empresas em royalties deve dobrar, para R$ 54 bilhões.
Hoje, o Brasil gasta cerca de R$ 200 bilhões em educação. Mercadante diz que é
preciso aproveitar a riqueza do petróleo para preparar o País para a sociedade
do conhecimento. “É isso que dá maior competitividade ao País e gera empregos
melhores”, afirmou à DINHEIRO.
DINHEIRO – Qual é a importância, para a educação, da destinação de 100%
dos royalties do petróleo?
ALOIZIO
MERCADANTE – O debate ainda está aberto, vai
depender do Congresso Nacional. O petróleo é uma riqueza não renovável e o
melhor destino para esses recursos é a educação. Usar os royalties para a
educação ajuda a preparar o País para a sociedade do conhecimento, ajuda a dar
sustentabilidade ao desenvolvimento. Já somos a sexta maior economia mundial.
Temos de gerar mais valor agregado e para isso precisamos investir em pesquisa
e desenvolvimento, o que depende da educação.
DINHEIRO – Para onde irão esses recursos?
MERCADANTE – A lei prevê que toda a receita do pré-sal irá para um
fundo soberano, no Exterior – para evitar a desvalorização do real –, e que
metade do rendimento desse fundo vá para a educação. Todos os royalties dos
contratos futuros nas áreas de concessão, que são os poços que não ficam no
pré-sal, serão integralmente destinados à educação. Tanto a parte da União
quanto a dos Estados e dos municípios. O fundo vai crescer rapidamente.
DINHEIRO – Qual é o volume de recursos estimado?
MERCADANTE – Não sabemos exatamente, mas os recursos para a educação
vão aumentar muito nos próximos anos. Hoje, os royalties e as participações
especiais somam R$ 27 bilhões. Esse volume deve dobrar em 2020 e parte desses
recursos, que vem dos novos contratos, precisa ser destinada à educação. Hoje,
o município que mais recebe recursos de petróleo, que é Campos dos Goytacazes,
no Rio de Janeiro, tem o pior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb) do Estado. Outros municípios que também recebem muitos recursos, como
Macaé, também têm o Ideb baixo. Não estamos usando esses recursos com uma visão
estratégica.
DINHEIRO – Quais países são exemplos a serem evitados e quais devem
ser seguidos no bom uso dos recursos do petróleo?
MERCADANTE – Iraque, Irã, Arábia Saudita e Líbia são grandes
produtores de petróleo e são prisioneiros da “doença holandesa”. Quando a
Venezuela descobriu o petróleo, nos anos 1970, o economista Celso Furtado
escreveu que poderia ser o primeiro país a romper o ciclo de
subdesenvolvimento. Na mesma época, a Noruega descobriu petróleo. A Venezuela
não conseguiu diversificar sua economia, não conseguiu dar um salto de
desenvolvimento. Criou uma cultura parasitária. Já a Noruega tem um dos
melhores Índices de Desenvolvimento Humano do mundo. É uma exceção entre os
grandes produtores de petróleo. Não podemos repetir os erros dos outros. Mas,
em vez de pactuar por um projeto de futuro, já estamos vendo no Brasil um
acirramento da disputa por esses recursos.
DINHEIRO – O sr. teme que o Congresso derrube o veto da presidenta
Dilma no projeto de divisão dos royalties?
MERCADANTE – Espero que os parlamentares compreendam a importância da
mudança, já que ela preserva os contratos atuais e só muda os futuros. A nova
lei retira receita da União e dos Estados e municípios produtores e aumenta a
receita dos não produtores. Mas, se o Congresso derrubar o veto, vou continuar
a minha luta para que a educação tenha mais recursos. O Plano Nacional de
Educação (PNE), que está no Senado, dobra os recursos e cria várias metas, como
aumento de creches, de vagas, escola em tempo integral. Mas não definiu uma
única fonte de financiamento. O risco é o PNE virar o Protocolo de Kyoto, com o
qual todo mundo concorda, mas ninguém cumpre.
DINHEIRO – A obrigatoriedade de a Petrobras entrar em todos os
projetos do pré-sal, num momento em que já tem dificuldades de tocar o seu
plano de investimentos, não será um fardo para a empresa?
MERCADANTE – Se olharmos a história da Petrobras sob essa ótica, ela
nunca teria sido criada. Hoje a Petrobras é a empresa com maior competitividade
no setor, com tecnologia altamente sofisticada. Sendo a única operadora, ela
terá mais controle sobre a tecnologia e será cada vez mais eficiente.
DINHEIRO – Mas ela terá de desembolsar um volume de recursos muito
elevado.
MERCADANTE – Mas é muito menos do que se tivesse de competir com
outras empresas. A Petrobras vai investir em tecnologia, o que é importante
para o País. Hoje 25% dos investimentos brasileiros vão para a cadeia de
petróleo e gás. O regime de partilha aumenta, ainda, a participação do Estado
na receita.
DINHEIRO – Muitas empresas têm hoje dificuldade para contratar
alguns profissionais qualificados. O que o Ministério da Educação está fazendo
para resolver isso?
MERCADANTE – Lançamos o Programa Nacional de Ensino Técnico
(Pronatec), que alcançou dois milhões de alunos em um ano. Na última década,
ampliamos em 150% o número de matrículas no ensino superior, induzidas pelo
ProUni, de bolsas de estudo, e pelo Fies, de financiamento estudantil, com 500
mil contratos de financiamento subsidiado. As universidades federais aumentaram
o número de vagas de 300 mil para um milhão. Nossa pesquisa também mostra que
aumentou a qualidade das escolas brasileiras nos últimos anos.
DINHEIRO – Ainda faltam engenheiros no Brasil, o que afeta
diretamente a produtividade das empresas.
MERCADANTE – Já estamos aumentando o número de vagas nas escolas.
Entre os alunos do Fies, por exemplo, o número de estudantes de engenharia
aumentou de 6% para 9% do total. Agora estamos trabalhando para tentar reduzir
a evasão, que ocorre porque o aluno consegue emprego no meio do curso, ou
porque tinha deficiência no ensino de física e matemática e não consegue
acompanhar. O programa Ciência Sem Fronteiras, de bolsas de estudo no Exterior,
está focando nas áreas tecnológicas e de engenharia. Isso vai gerar inovação e
competitividade na economia.
DINHEIRO – Como está o acordo com Portugal e Espanha para trazer
engenheiros de lá?
MERCADANTE – Há um acordo para reconhecer os diplomas, para atrair
profissionais qualificados. Estamos negociando, exigindo reciprocidade.
DINHEIRO – Apesar do aumento do acesso ao ensino superior, o Brasil
ainda vai muito mal nos rankings de educação.
MERCADANTE – Não. O Brasil hoje tem 13% da produção científica
mundial.
DINHEIRO – Mas o País tem poucas patentes, que é o que importa para
a indústria.
MERCADANTE – É verdade, ainda temos poucas patentes. No mundo, dois
terços das patentes são gerados no setor privado. No Brasil, dois terços são
gerados no setor público, por universidades, institutos de pesquisa. O setor
privado precisa ter a cultura de inovação. Durante anos, o empresário
brasileiro achava que modernizar era comprar uma máquina nova, em vez de buscar
novos processos. Hoje o Movimento Empresarial pela Inovação, criado pela
Confederação Nacional da Indústria, tem um fórum que reúne as maiores empresas
brasileiras, e o governo está ampliando fortemente o orçamento para inovação
com a Financiadora de Estudos e Projetos e os incentivos da Lei do Bem.
DINHEIRO – As empresas sempre reclamam que a Lei do Bem, que dá
benefícios fiscais para a inovação, é pouco utilizada porque os projetos não
são aprovados. Por quê?
MERCADANTE – É um incentivo fiscal que tem risco, por isso é preciso
certo rigor no projeto. A universidade está muito distante do mundo da
produção. Os empresários têm pouco apetite para inovação. Mas eles sabem que
para ser competitivo é preciso avançar nessa direção. O governo está
implantando a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial. Estamos
mandando mil professores do Senai e mil das universidades federais para o
Instituto Franz Rolf, na Alemanha, para intercâmbio de aprendizado.
DINHEIRO – E a posição do Brasil nos rankings internacionais, que
sempre colocam o País como lanterninha no mundo?
MERCADANTE – O Programa de Avaliação da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico, no qual o Brasil está na 54ª posição entre 65
países, tem muitos problemas de metodologia. A China, que está em primeiro
lugar, participa com apenas 26 escolas de Xangai, enquanto nós participamos com
o Brasil inteiro, com escolas escolhidas por eles. Fomos o terceiro país que
mais evoluiu.
DINHEIRO – Como está o uso dos tablets nas escolas?
MERCADANTE – Estamos priorizando o ensino médio. Primeiro, os
professores, porque os alunos já estão acostumados com a tecnologia. Temos 600
mil professores, e 170 mil não têm formação nas disciplinas correspondentes,
principalmente física, química e matemática. Já temos cinco mil tablets em
projetos piloto e, no próximo ano, os tablets começam a chegar às salas. O
aparelho que estamos entregando vem com projetor digital e permite que o
professor use em sala o material que produzimos e que pode ser acessado pela
internet. É inconcebível que o professor não possa usar a rede para preparar
uma aula.
Fonte: Revista Isto É Dinheiro
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