sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Seus formandos terão emprego? - PARTE 2

O QUE O MERCADO QUER...
Para Ruy Fernando Ramos Leal, superintendente do Instituto Via de Acesso, entidade dedicada a capacitar jovens para o mercado de trabalho, as pessoas que a escola forma não são o que as empresas buscam. O mercado de trabalho é muito dinâmico, e algumas habilidades e competências não são tratadas nas salas de aula.
Leal revela que cerca de 1,7 milhão de jovens entram no mercado de trabalho anualmente, mas 50% das pessoas na faixa de 16 a 25 anos não conseguem o primeiro emprego. “Hoje o dilema das empresas é trabalhar com uma geração com superpreparo tecnológico, superinformada, mas superprotegida pela família e superdespreparada para a frustração”, avalia.
Os valores buscados, segundo Leal, são capacidade de inovação, disposição para ouvir, autonomia de vida, mobilidade para viver em outros locais e culturas, integridade, transparência, confiança (diferente de arrogância), coragem para assumir riscos, constância (determinação e perseverança para não desistir), espírito cooperativo e conduta ética.
“O mercado de trabalho possui seus códigos de conduta, de comunicação, comportamentos próprios. Se o novo trabalhador não dominá-los, está fora”, sentencia Leal, acrescentando que o mercado de trabalho oferece a convivência com contratantes de outras gerações, carreiras com perspectiva de crescimento a médio e longo prazos, negócios em grande transformação e um mundo tecnológico, que é “o brinquedo preferido dos jovens”. 

...E O QUE OS JOVENS QUEREM
Segundo Sofia Esteves, os jovens que entram no mundo do trabalho não querem relacionamento com “empresas utilitaristas”. “É como se eles dissessem: ‘se vocês querem que trabalhemos para vocês também têm que colaborar com a nossa formação’. Os empregadores precisam ficar atentos se quiserem conquistar os melhores talentos”, afirma.
Quanto a essa formação, Sofia acredita que falta aos jovens autoconhecimento para saber o que querem da vida e da carreira. “Eles sabem o que não querem. As escolas podem trabalhar [aspectos] como planejar a vida e escolher uma carreira”, sugere.
Leal descreve que, para os jovens que buscam o mercado de trabalho atualmente, a empresa ideal é a que proporciona ambiente de trabalho agradável, crescimento profissional acelerado, qualidade de vida, boa imagem, líderes de ponta, competitividade tecnológica, limites amplos e oportunidades rápidas.
A NextView People, empresa especializada em Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, realiza uma pesquisa anual com pessoas de 16 a 27 anos intitulada A empresa dos sonhos dos jovens. Em 2011, 40 mil participantes responderam a pergunta “o que é ter sucesso profissional?”. As respostas mais frequentes foram: fazer o que gosta (36%), alcançar um equilíbrio entre vida pessoal e profissional (20%) e a sensação de realização e dever cumprido (17%).
“Para o jovem, o sucesso está relacionado à conquista, mas ele também espera que o trabalho ofereça estabilidade financeira, realização e prazer, qualidade de vida, status e reconhecimento familiar e social”, analisa Danilca Rodrigues Galdini, sócia-diretora da NextView People.
Danilca relata que entre as conquistas almejadas pelos jovens estão: alcançar o melhor cargo possível dentro de uma organização, como reconhecimento do seu trabalho; finalizar a carreira como professor universitário, o que representa reconhecimento à capacidade e conhecimento acumulado na carreira; ter uma empresa própria ou ainda ser um consultor reconhecido para poder organizar a vida no horário e formato que desejar.
 
O MUNDO DO TRABALHO
“A palavra empregabilidade tem um problema. De tanto ser repetida remete à ideia do emprego no setor privado. O profissional pode ir para o setor público, cuja lógica de entrada e permanência é diferente. Uma grande parte da população será de profissionais liberais como médicos, engenheiros, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, advogados, etc. Outra parcela será de empreendedores. Uma porção menor ainda será de políticos, artistas e atletas, profissões que exigem talentos muito específicos. Tudo que ouvimos é muito enfocado no setor privado, mas as instituições de ensino têm que pensar em todos os alunos e todas as possibilidades”. As palavras do professor José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo, de Curitiba (PR), apontam para o papel de pensar a sociedade das escolas e universidades, o que não atende unicamente às demandas mercadológicas do mundo do trabalho. Martins acredita que a questão demográfica, por exemplo, é hoje mais urgente para os brasileiros na formação para a vida, o que inclui o trabalho.
De acordo com o reitor, em 2022 o Brasil terá 6 milhões de crianças de 5 a 14 anos a mais do que tem hoje. Os 20 milhões de pessoas com mais de 60 anos que temos atualmente serão 36 milhões em 2022, e em 2040, os sexagenários ou mais idosos serão 57 milhões de brasileiros. “A lógica da massa de mão de obra mudará, e isso deve ser considerado hoje na educação. As características do profissional desejado atualmente pelas empresas já são ensinadas com a transmissão de valores, aplicação de conhecimentos para resolução dos problemas cotidianos e o domínio de princípios e leis que regem a natureza e o homem. Não basta adequar unicamente ao mercado. Educar é promover o desenvolvimento físico, intelectual e moral do indivíduo”, finaliza Martins.
Fonte: Revista Gestão Educacional 

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