O QUE O MERCADO QUER...
Para Ruy
Fernando Ramos Leal, superintendente do Instituto Via de Acesso, entidade
dedicada a capacitar jovens para o mercado de trabalho, as pessoas que a escola
forma não são o que as empresas buscam. O mercado de trabalho é muito dinâmico,
e algumas habilidades e competências não são tratadas nas salas de aula.
Leal revela
que cerca de 1,7 milhão de jovens entram no mercado de trabalho anualmente, mas
50% das pessoas na faixa de 16 a 25 anos não conseguem o primeiro emprego.
“Hoje o dilema das empresas é trabalhar com uma geração com superpreparo
tecnológico, superinformada, mas superprotegida pela família e superdespreparada
para a frustração”, avalia.
Os valores
buscados, segundo Leal, são capacidade de inovação, disposição para ouvir,
autonomia de vida, mobilidade para viver em outros locais e culturas,
integridade, transparência, confiança (diferente de arrogância), coragem para
assumir riscos, constância (determinação e perseverança para não desistir),
espírito cooperativo e conduta ética.
“O mercado de
trabalho possui seus códigos de conduta, de comunicação, comportamentos
próprios. Se o novo trabalhador não dominá-los, está fora”, sentencia Leal,
acrescentando que o mercado de trabalho oferece a convivência com contratantes
de outras gerações, carreiras com perspectiva de crescimento a médio e longo
prazos, negócios em grande transformação e um mundo tecnológico, que é “o
brinquedo preferido dos jovens”.
...E O QUE OS JOVENS QUEREM
Segundo Sofia
Esteves, os jovens que entram no mundo do trabalho não querem relacionamento
com “empresas utilitaristas”. “É como se eles dissessem: ‘se vocês querem que
trabalhemos para vocês também têm que colaborar com a nossa formação’. Os
empregadores precisam ficar atentos se quiserem conquistar os melhores
talentos”, afirma.
Quanto a essa
formação, Sofia acredita que falta aos jovens autoconhecimento para saber o que
querem da vida e da carreira. “Eles sabem o que não querem. As escolas podem
trabalhar [aspectos] como planejar a vida e escolher uma carreira”, sugere.
Leal descreve
que, para os jovens que buscam o mercado de trabalho atualmente, a empresa
ideal é a que proporciona ambiente de trabalho agradável, crescimento
profissional acelerado, qualidade de vida, boa imagem, líderes de ponta,
competitividade tecnológica, limites amplos e oportunidades rápidas.
A NextView
People, empresa especializada em Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, realiza
uma pesquisa anual com pessoas de 16 a 27 anos intitulada A empresa dos sonhos
dos jovens. Em 2011, 40 mil participantes responderam a pergunta “o que é ter
sucesso profissional?”. As respostas mais frequentes foram: fazer o que gosta
(36%), alcançar um equilíbrio entre vida pessoal e profissional (20%) e a
sensação de realização e dever cumprido (17%).
“Para o jovem,
o sucesso está relacionado à conquista, mas ele também espera que o trabalho
ofereça estabilidade financeira, realização e prazer, qualidade de vida, status
e reconhecimento familiar e social”, analisa Danilca Rodrigues Galdini,
sócia-diretora da NextView People.
Danilca relata
que entre as conquistas almejadas pelos jovens estão: alcançar o melhor cargo
possível dentro de uma organização, como reconhecimento do seu trabalho;
finalizar a carreira como professor universitário, o que representa
reconhecimento à capacidade e conhecimento acumulado na carreira; ter uma
empresa própria ou ainda ser um consultor reconhecido para poder organizar a
vida no horário e formato que desejar.
O MUNDO DO TRABALHO
“A palavra
empregabilidade tem um problema. De tanto ser repetida remete à ideia do
emprego no setor privado. O profissional pode ir para o setor público, cuja
lógica de entrada e permanência é diferente. Uma grande parte da população será
de profissionais liberais como médicos, engenheiros, dentistas, psicólogos,
fisioterapeutas, advogados, etc. Outra parcela será de empreendedores. Uma
porção menor ainda será de políticos, artistas e atletas, profissões que exigem
talentos muito específicos. Tudo que ouvimos é muito enfocado no setor privado,
mas as instituições de ensino têm que pensar em todos os alunos e todas as
possibilidades”. As palavras do professor José Pio Martins, reitor da Universidade
Positivo, de Curitiba (PR), apontam para o papel de pensar a sociedade das
escolas e universidades, o que não atende unicamente às demandas mercadológicas
do mundo do trabalho. Martins acredita que a questão demográfica, por exemplo,
é hoje mais urgente para os brasileiros na formação para a vida, o que inclui o
trabalho.
De acordo com
o reitor, em 2022 o Brasil terá 6 milhões de crianças de 5 a 14 anos a mais do
que tem hoje. Os 20 milhões de pessoas com mais de 60 anos que temos atualmente
serão 36 milhões em 2022, e em 2040, os sexagenários ou mais idosos serão 57
milhões de brasileiros. “A lógica da massa de mão de obra mudará, e isso deve
ser considerado hoje na educação. As características do profissional desejado
atualmente pelas empresas já são ensinadas com a transmissão de valores,
aplicação de conhecimentos para resolução dos problemas cotidianos e o domínio
de princípios e leis que regem a natureza e o homem. Não basta adequar
unicamente ao mercado. Educar é promover o desenvolvimento físico, intelectual
e moral do indivíduo”, finaliza Martins.
Fonte: Revista Gestão Educacional
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