O estudo
"Desconectados – Habilidades, Educação e Emprego na América Latina", publicado em
março deste ano pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), revela que
há uma grande defasagem nas habilidades aprendidas nas escolas
latino-americanas em relação àquelas que o mercado de trabalho requer dos
jovens com nível médio completo, como responsabilidade, comunicação e
criatividade.
Elaborado por
Marina Bassi, Matías Busso, Sérgio Urzúa e Jaime Vargas, o documento foi feito
com base em duas pesquisas com jovens de nível médio e empresas que absorvem
pessoas egressas do ensino secundário sediadas na Argentina, no Brasil e no
Chile.
A situação de
trabalho dos jovens, de acordo com o estudo, piorou. Foi constatado que a
cobertura do sistema educacional aumentou, mas a qualidade não acompanhou a
expansão, seguida por significativa redução dos salários de trabalhadores com
instrução secundária, níveis de desemprego historicamente altos, além da
participação baixa e estagnada no mercado de trabalho. Verificou-se ainda
salários praticamente sem crescimento há três décadas e informalidade
crescente.
Por outro
lado, a maioria das empresas dá prioridade às habilidades “socioemocionais ou
flexíveis relacionadas à personalidade”. As companhias entrevistadas atribuíram
em média 55 pontos a essas habilidades, contra 30 pontos referentes a
conhecimento e apenas 15 pontos relativos ao conhecimento técnico das tarefas a
realizar, conhecidas como habilidades específicas.
Cerca de 80%
das empresas pesquisadas informaram que as habilidades mais difíceis de
encontrar são aquelas relacionadas ao comportamento, como empatia,
adaptabilidade, cortesia, responsabilidade e comprometimento. Pelo menos 30%
das companhias consideram que a formação recebida na escola secundária não é
suficiente para o desempenho das tarefas requeridas.
Segundo Marina
Bassi, “os jovens da região que decidem procurar emprego depois de terminar a
escola secundária começam em desvantagem. Infelizmente, a escola não lhes dá as
ferramentas que o mercado de trabalho pede, e eles enfrentam uma realidade em
que não conseguem progredir”, afirma.
Influência
Segundo a presidente do Grupo DMRH, Sofia Esteves, até a década de 1970 os
processos seletivos eram baseados na indicação. “As empresas acreditavam que se
o pai fosse um bom funcionário, ou se a indicação viesse de um bom funcionário,
o candidato teria rendimento condizente”, explica.
Na década de
1980, o conhecimento técnico, representado pela experiência, tornou-se o
diferencial. Contudo, os jovens sofriam para entrar no mundo do trabalho, pois
deveriam ter experiência, mesmo em início de carreira. O reflexo disso, segundo
Sofia, veio na década seguinte, com a valorização do vestibular e da qualidade
na formação, quando algumas empresas limitavam os processos seletivos a
determinadas escolas ou universidades.
Na década de
2000, as competências comportamentais ganharam importância nas seleções, dando
oportunidade a jovens de várias origens e escolas, e o inglês foi um fator determinante
na seleção. “Na década corrente, descobriu-se que não adianta [o jovem] ser
inteligente ou ter experiência, formação em faculdade de primeira linha e todas
as competências comportamentais se [sua] filosofia de vida e valores não forem
os mesmos que a empresa acredita”, afirma.
Em 2010,
segundo a consultora, as características que mais reprovaram candidatos jovens
nas etapas iniciais de seleção foram a deficiência em capacidade de análise e a
sustentação da opinião pessoal. Se a pessoa não consegue elaborar uma análise
crítica e se aprofundar em um determinado tema, não conseguirá colocar seu
ponto de vista e argumentar bem: “os jovens de hoje em dia sabem muito pouco de
quase tudo e não têm segurança de entrar numa discussão profunda, algo de que as
empresas estão carentes”, revela.
Fonte: Revista Gestão Educacional
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