O veto da presidente Dilma Rousseff às mudanças que a
Câmara dos Deputados pretendia fazer na divisão dos royalties do petróleo e gás
obedece a um imperativo racional. Com o veto, ela manteve o regime em vigor
para contratos já assinados. Isso permite que os Estados produtores conservem
22,5% das receitas, enquanto os municípios na mesma situação ficam com 30%,
deixando 47,5% para a União e 1,75% para os Estados não produtores. O veto vale
apenas para o passado.
Para a divisão dos royalties dos contratos futuros, apesar
do veto, prevaleceu a decisão do Congresso: 30% para os Estados, 30% para os
municípios e 40% para a União. Todos esses recursos, pela decisão de Dilma,
deverão ser destinados à Educação. Num mundo ideal, sempre se poderá debater
sobre a melhor forma de um país com 200 milhões de habitantes, divididos entre
27 Estados e 5.600 municípios, distribuir uma riqueza fabulosa a mais de 2.000
metros de profundidade do mar. De toda essa discussão, destinar os recursos
para a Educação parece ser a melhor alternativa possível.
Ao menos parte dos interesses de Rio de Janeiro e Espírito
Santo, Estados que abrigam 10% da população e arcam com os custos - e
benefícios - do petróleo, foi protegida - aqueles relativos aos contratos
vigentes. Não poderia ser diferente. Nos últimos anos, a exploração do petróleo
tornou-se uma das principais referências tanto da economia fluminense como da
capixada. Grande parte da população organizou-se em função das oportunidades
abertas pelo petróleo, tanto no setor público quanto no privado. A manifestação
ocorrida na segunda-feira, no centro do Rio de Janeiro, só teve grande adesão
local - e impacto sobre o país inteiro - porque expressava a vontade de
assegurar progresso para todos.
Ao contrário de outras miragens alimentadas pela
propaganda oficial, até agora o pré-sal tem-se mostrado à altura do otimismo
que despertou no momento de sua descoberta. Apenas o potencial dos campos de
Lula e Sapinhoá eqüivale a 15,4 bilhões de barris, ou tudo o que a Petrobras
produziu desde sua fundação, em 1953. O petróleo do pré-sal já responde por 10%
da produção diária de petróleo. Pode chegar a 31% em 2016 e 50% em 2020. Para o
ano que vem, Dilma já anunciou dois novos leilões. As estimativas dão realismo
à previsão de que, em dez anos, as reservas brasileiras ocupem o oitavo lugar
no mundo (hoje estamos em 14Q).
Os investimentos do petróleo dependem do preço do barril.
Ele precisa ser alto o suficiente para justificar técnicas de exploração mais
caras, como o pré-sal, muito mais dispendioso que cavar um poço no deserto. No
futuro, o país pode se beneficiar, e muito, da exploração adequada do petróleo
e da riqueza que ele pode gerar. Isso implica transformar essa riqueza
promissora em investimentos para as futuras gerações, contribuindo para
emancipar o país de um passado de desigualdade, despreparo e pobreza. Por isso,
a melhor notícia na decisão da presidente é a equação petróleo = Educação.
Um passo na
direção certa
A votação que transformou a Palestina em Estado-observador
das Nações Unidas representa um passo modesto, mas acertado, na direção da paz
no Oriente Médio. Realizada 65 anos depois que a ONU aprovou a partilha da
Palestina em dois Estados - um judaico, outro árabe -, a votação marcou uma
vitória da política moderada e paciente de Mahmoud Abbas, presidente da
Autoridade Nacional Palestina.
A proposta foi aprovada por 138 votos a favor, 41 contra e
nove abstenções. Os países emergentes - como Brasil, China, índia e África do
Sul - votaram a favor. Na Europa, Alemanha e Inglaterra se abstiveram. Os
demais, como França, Itália, Espanha, ficaram a favor. Entre os países de maior
peso econômico, apenas o Canadá alinhou-se com os Estados Unidos e Israel no
bloco que votou contra. Os demais eram Estados inexpressivos, como Palau ou
Micronésia.
Em termos políticos, o maior derrotado com a decisão é o
extremismo islâmico, herdeiro perverso dos governos árabes que, em diversas
guerras, tentaram sufocar a construção de Israel desde a fundação, em 1948.
Depois do cessar-fogo no conflito mais recente na Faixa de Gaza, o grupo
radical Hamas saiu fortalecido na disputa pela liderança do povo palestino com
os moderados da Fatah, a facção de Abbas. A vitória de Abbas na ONU é um recado
para os radicais de que existe um caminho diplomático para a consolidação de um
Estado palestino independente.
Como a história não se cansa de ensinar, o reconhecimento
de outras nações é um passo indispensável para a constituição dos Estados
independentes. Carregada de aspectos simbólicos, a condição de
Estado-observador é mais que uma fantasia diplomática. Mais antigo que a
maioria dos Estados membros da ONU, o Vaticano exibe a mesma condição até hoje.
A Suíça tinha status igual até 2002. Se souber empregar os novos direitos
conquistados, a Autoridade Nacional Palestina terá boa chance de progredir na
construção de um Estado independente e viável, em paz com seu vizinho Israel.
Fonte: Revista Época
Nenhum comentário:
Postar um comentário