A opção por não investir em educação no auge da explosão
populacional, nos anos 60 e 70, é classificada como "o grande erro
coletivo da nossa sociedade nos século 20" pelos economistas Fernando
Holanda Barbosa Filho e Samuel Pessôa num dos capítulos do livro
'Desenvolvimento econômico: uma perspectiva brasileira'.
Os pesquisadores, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio,
mostram que o investimento em educação era de 1,4% do PIB em 1950 e de 2,4% em
1980, comparado a pouco mais de 5% atualmente. Em outro capítulo, os
economistas Pedro Cavalcanti Ferreira e Fernando Veloso, também da FGV,
escrevem que, em 30 anos (de 1950 a 1980), a escolaridade média dos brasileiros
cresceu menos que em um ano e meio.
Em 1950, a escolaridade média da população brasileira com
15 anos ou mais era de apenas um ano e meio. Em 1960, era de 2,1 anos, e
permaneceu em torno de 2,8 anos entre 1970 e 1980. Segundo Ferreira e Veloso,
entre todos os países da América Latina e do Caribe, somente o Haiti possuía
indicadores de escolaridade piores que os brasileiros no período de 1950 a
1980.
Nos 30 anos após 1980, o crescimento da escolaridade foi
muito mais acelerado, chegando a 7,5 anos em 2010. Mas o estrago estava feito.
A população brasileira saltou de pouco mais de 50 milhões em 1950 para quase
120 milhões em 1980, criando uma imensa massa de adultos com pouquíssima
educação.
Veloso nota que a lacuna educacional brasileira é vista
normalmente como um imenso problema social, mas também é um dos maiores
obstáculos ao desenvolvimento econômico. E grande parte do efeito negativo no
crescimento se dá pela perda de produtividade, ou eficiência, no setor de
serviços, que representa quase 70% da economia.
Modelo equivocado. Ele observa ainda que os serviços
tendem a ser negligenciados pela política econômica, muito mais preocupada com
a indústria. "Em toda a discussão de desoneração, os incentivos vão quase
todos para a indústria - agora, por exemplo, saiu a desoneração para a
construção civil, mas ninguém fala dos serviços."
Em 1950, 63,1% da população ocupada no Brasil estava na
agropecuária, 17,2% na indústria e 19,8% nos serviços. Em 1980, os serviços já
respondiam por 39,4% dos empregos, a indústria por 23,4% e a agropecuária, por
37,2%. Em 2005, 61,8% da população ocupada já trabalhava em serviços, enquanto
19,5% estava na indústria e os trabalhadores na agropecuária haviam caído para
18,7%. Hoje, os serviços detêm quase 70% dos trabalhadores brasileiros.
Veloso explica que o setor de serviços brasileiro, além de
ser muito grande, tem um predomínio de empresas muito pequenas e pouco
produtivas e trabalhadores de baixa escolaridade. Uma parte considerável dessas
empresas ainda é informal.
"Isso tudo tem a ver com o modelo de desenvolvimento
que adotamos no passado. A gente investiu pouco em educação, e agora estamos
pagando esse preço", diz o economista.
Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)
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