Aula a bordo. Barco-Escola em Bangladesh, onde a evasão
Escolar era comum nas aldeias ribeirinhas, devido às constantes inundações:
movido a energia solar, ele pega os Alunos em casa.
Mais 250 Escolas. Projeto da Bharti Foundation beneficia
62 mil crianças. Meninas são a maioria.
Faz dez anos que o arquiteto Mohammed Rezwan
criou a primeira Escola flutuante em Bangladesh. De lá para cá, o barco-Escola
acabou se tornando fundamental numa região em que as monções interditam
estradas e não permitem nem mesmo que os Alunos caminhem até as salas de aula.
Para se ter uma ideia do problema, em 2007, 332 Escolas foram destruídas, e
4.893, danificadas. Na Índia, a Bharti Foundation ajuda "jovens e crianças
a atingirem seu potencial". E, desde 2004, na Dinamarca, o RoboBraille
traduz para o braile textos em vários idiomas. Iniciativas como essas, que
deram certo na área de Educação e que têm potencial para serem replicadas,
foram apresentadas na quarta edição do World Innovation Summit for Education
(Wise), em Doha, no Qatar.
- Nosso trabalho reduziu a evasão Escolar e tem permitido
que as crianças tirem o máximo de proveito de uma Educação de qualidade. Nas
aldeias ribeirinhas onde atuamos, graças ao acesso à Educação, as taxas de
casamentos precoces foram reduzidas, e ainda conseguimos fazer com que as
comunidades propensas a inundações começassem a se preparar para as mudanças
climáticas - conta Rewzan, fundador da ONG Shidhulai Swanirvar Sangstha, que
atua em Bangladesh. - Além disso, o projeto tem ajudado a desenvolver a
agricultura solar para salvaguardar o abastecimento de alimentos e garantir uma
renda durante todo o ano para as famílias em áreas sujeitas a inundações. Com
isso, a alimentação e a saúde das crianças melhoraram.
Lanternas para
estudar à noite
Atualmente, o projeto conta com 20 barcos-Escola, que
alcançam 1.657 Alunos. Ao todo, desde 2002, de acordo com Rewzan, a ONG já
beneficiou 90 mil pessoas de centenas de aldeias.
- As crianças e as famílias não têm só mais oportunidade
na área de Educação, mas também conseguem melhorar a renda e têm a chance de se
comunicar com o mundo exterior - diz Rezwan, lembrando que deu início ao
projeto ao se dar conta de que muitas crianças do distrito de Natore
abandonavam a Escola. - Foi difícil para mim aceitar a situação. Então, pensei:
se as crianças não podem vir à Escola por falta de transporte adequado, a
Escola deve ir até elas. Daí, fundei a ONG.
Segundo ele, cada barco-Escola tem salas que comportam 30
Alunos, um laptop conectado à internet, biblioteca e recursos eletrônicos.
Todos os barcos são movidos por energia solar, e passam recolhendo os Alunos
nas aldeias ribeirinhas. Depois da aula, as crianças são levadas de volta para
casa.
- O laptop em sala de aula incentiva os Alunos a aprender
sobre novas tecnologias, a visitar sites educacionais e até a mexer no e-mail.
Além disso, depois da aula, muitos levam lanternas, que são baterias
carregadas, para casa. Isso permite que as crianças possam estudar à noite e
que as mulheres das famílias possam costurar colchas para ganhar uma renda
extra - conta Rewzan.
A Bharti Foundation, que leva Educação às áreas rurais da
Índia, também tem conseguido mudar a vida de muita gente. O Satya Bharti School
Program fundou Escolas do primário até o Ensino secundário, que equivale ao
nosso Ensino médio, e foca especialmente as meninas. Nas 250 Escolas espalhadas
pelo país - 233 são primárias -, mais de 62 mil crianças estão matriculadas. O
Ensino médio já é oferecido em seis estados: Punjab, Haryana, Uttar Pradesh,
Rajasthan, Tamil Nadu e Bengala Ocidental.
- Nosso objetivo é oferecer Educação gratuita e de
qualidade, e beneficiar até 200 mil crianças. Até agora, mais da metade das 62
mil que estão nas Escolas são meninas; nós queremos desestimular a relação
masculino-feminino. E mais de 70% dos estudantes pertencem a comunidades
negligenciadas - conta Rakeh Bharthi Mittal, que diz buscar sempre inovações
que possam ser replicadas não só nas várias Escolas do projeto, mas em outras
organizações.
Ter o projeto replicado foi o que aconteceu na Dinamarca.
Do país em que atualmente vivem cerca de 2.400 crianças cegas, o RoboBraille
foi levado para Reino Unido, Chipre, Itália, Portugal e Irlanda.
- Vimos que em muitos países é difícil crianças cegas e
com outros problemas visuais terem acesso ao material educativo. Com o
RoboBraille facilitando a conversão, elas têm oportunidades iguais em todos os
níveis, da Escola primária até a universidade - diz Tanja Stevns, uma das
responsáveis.
Devido à expansão, o projeto - que é totalmente
automatizado, está na internet e não exige cadastro - recebe mensalmente,
segundo Tanja, mais de 30 mil solicitações de conversões:
- São pedidos vindos do mundo todo, e feitos por
estudantes e Professores. Sabendo da demanda, estamos sempre procurando
maneiras de expandir e desenvolver novas funcionalidades ou adicionar mais
idiomas. Entendemos que a Educação não é só a melhor maneira para sair da
pobreza, mas crucial para o desenvolvimento do indivíduo.
Também usando a internet, o PSU Educarchile - portal que
funciona com o apoio da Fundação Chile e do governo -, criado em 1996, é um
sistema interativo on-line gratuito que prepara os Alunos para fazer o teste de
admissão obrigatório para quem quer entrar na universidade.
- Nos últimos anos, além da barreira geográfica e da
desigualdade socioeconômica, o Chile teve que enfrentar o terremoto de 2010.
Mas, no meu país, o teste de admissão é fundamental para ingressar numa
universidade, e é preciso ter uma pontuação alta. Então, criamos o PSU para
ajudar os que estavam em desvantagem, devido à desigualdade social, e também os
que enfrentam limitações geográficas. Ano passado, 156 Alunos nossos estiveram
no ranking nacional dos que conquistaram as melhores notas. Mas, desde que começamos,
já alcançamos mais de 1,2 milhão de estudantes - conta Ana Maria Raad Briz, uma
das coordenadoras do programa.
Segundo ela, mesmo o programa sendo muito específico para
o exame de admissão, outros países, especialmente da América Latina, podem se
beneficiar:
- Esse modelo que permite acesso fácil e traz estratégias
de estudo para Alunos e Professores pode ser replicado. Ainda que os currículos
sejam diferentes de um país para outro, o modelo pode ser o mesmo, e, em
qualquer lugar, levar em conta a realidade de quem vai acessá-lo.
No mesmo ano em que o Chile pôs em prática o PSU, a
fundação Cristo Rey Jesuit, dos Estados Unidos, inaugurou a primeira Escola
que, além de preparar para a universidade, faz com que o Aluno trabalhe uma vez
por semana. Para executar serviços de escritório, eles são recebidos em
empresas como Morgan Stanley, Credit Suisse e JP Morgan Chase. De lá para cá,
outras 24 Escolas abriram as portas.
- Começamos focando nos filhos dos imigrantes mexicanos e,
ainda hoje, as Escolas são apenas para pessoas de baixa renda. Sabemos que, nos
EUA, sem Educação universitária a pessoa é quase condenada a uma vida de
pobreza - explica o padre Joseph Parkes. - Nossos universitários são os
primeiros de suas famílias a ir para a universidade. Um deles, que estudou na
Escola de Nova York, foi contratado pela JP Morgan Chase ao se formar na
faculdade. Ele tinha trabalhado lá enquanto estava conosco, e seu salário
inicial foi três vezes o que seu pai fez em seu melhor ano.
De acordo com Parkes, ao todo, 5.454 Alunos que passaram
pela fundação se formaram em universidades americanas. Nas 25 Escolas, em 2012,
estão matriculados 7.491 estudantes:
- Recebemos financiamento da Fundação Walton para nos
expandir. Fizemos vários estudos de viabilidade e esperamos abrir dez novas
Escolas nos próximos 12 anos. Para nós, é fundamental criar programas que levem
mais jovens à faculdade, para quebrar o ciclo de pobreza em famílias de baixa
renda.
Fonte: O Globo (RJ)
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