O Brasil vai investir bilhões em 2016 e organizar um
evento provavelmente memorável, mas é incerto nosso salto no quadro de medalhas.
Porque atletas destacados e medalhas são consequência de anos de investimento
na Educação das crianças, a partir de um Ensino de qualidade, desenvolvido em
Escolas com instalações, orientação adequada e tempo para praticar esportes.
Uma pesquisa divulgada em 2012 pelo Instituto Ayrton
Senna, Atletas pela Cidadania e Instituto Votorantim mostra que 30% das Escolas
públicas brasileiras não oferecem espaço para a prática de Educação física. No
Nordeste o percentual chega a 51%. Quando não há espaço apropriado, a aula
dessa matéria se reduz, muitas vezes, a estudos teóricos sobre regras e
história dos esportes, feitos na mesma sala em que se aprende matemática ou
português.
Na cidade do Rio de Janeiro, sede das Olimpíadas 2016, das
1.074 Escolas municipais, mais de 40% não possuem quadra esportiva. Há um
esforço de mudança - por exemplo, foram criados os Ginásios Experimentais
Olímpicos, com turno integral e duas horas de esportes por dia. Mas existem
poucas unidades no município. Nas Escolas sem quadras, na maior parte das vezes
podem ser feitas apenas atividades físicas alternativas ou atividades lúdicas.
No Brasil, 56% das Escolas não têm vestiário e 13% não têm
bola de futebol. Em geral as aulas de Educação física ocupam dois tempos de 50
minutos por semana. A mesma pesquisa mostra que os Professores conseguem usar,
em média, apenas 29 minutos de cada aula para as práticas esportivas, já que os
outros são gastos em deslocamento, tarefas burocráticas, mobilização dos Alunos
etc.
Não surpreende que se demore tanto a avançar no turno
integral, que já era recomendação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
quando promulgada, em 1996. É que Escola em período integral supõe formação
integral do indivíduo, com um conjunto amplo de atividades, no qual o esporte
tem papel fundamental.
Não é preciso recorrer ao aforismo latino "mente sã
em corpo são" para comprovar a importância do esporte na Educação
integral. Crianças esportistas são jovens com mais probabilidade de ficar longe
de drogas e perto dos hábitos saudáveis. Além disso, pesquisas da neurociência
cognitiva associam os exercícios físicos com o aumento da capacidade de
aprender.
O esporte mobiliza a inteligência, envolvendo estratégia,
visão global, capacidade de lidar com situações-problema. Mobiliza também as
emoções, pois as crianças têm que enfrentar adversidades, encarar momentos de
surpresa, decepção, expectativa, lidar com fatos que mexem com a autoestima.
Nos esportes coletivos, entram habilidades de cooperação, espírito de equipe,
relacionamento, resolução de conflitos e até aspectos de cidadania e valores,
postura e disciplina.
Às vezes, basta uma pequena oportunidade para gerar uma
mudança que impacta a vida inteira. Por exemplo, em Japeri - um dos IDHs mais
baixos do Rio de Janeiro - está o único campo de golfe público do estado. Ali
existe um pequeno projeto social com 150 jovens do entorno, que articula
esporte e Educação. Pois desse grupo acaba de sair o campeão brasileiro juvenil
de golfe, Cristian Barcellos, de 17 anos. E a maior parte das crianças
beneficiadas já mostra uma nova atitude na Escola e diante da própria vida.
Quantos outros meninos e meninas com alto potencial, garra
e valor têm seus talentos desperdiçados, ao receber uma Educação pela metade?
Se fosse diferente, qual seria o futuro desses brasileirinhos como atletas e,
sobretudo, como cidadãos? São questões cujas respostas, por enquanto, podemos
apenas imaginar.
Fonte: O Globo (RJ)
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