“Algum de vocês
está fazendo 30 mais 31?”, pergunta a pequena Chelsea aos colegas de seu grupo.
Prontamente, Adam responde: “Eu estou fazendo todas as de diminuir”. Jack, na
outra ponta da mesa, protesta: “Eu também estou fazendo as de diminuir!”.
“Então, eu vou fazer as de somar”, conclui a garotinha inglesa. A conversa
ocorre em um dos quatro grupos de crianças entre 8 e 10 anos que tentam criar o
maior número de expressões matemáticas cujo resultado seja aquele determinado
pela Professora. Um jogo em que aprendem sem nem perceber que estão estudando.
A interação dos estudantes é um exemplo perfeito do que os pedagogos chamam de
aprendizado colaborativo. Nesse caso, porém, a discussão matemática teve um
catalisador essencial: a tecnologia.
Um grupo de pesquisadores da Escola de Educação da
Universidade de Durham, no Reino Unido, desenvolveu e testou, durante três
anos, um conjunto de carteiras Escolares com telas sensíveis ao toque pensadas
especialmente para facilitar o Ensino. O invento se mostrou muito eficaz após
os experimentos, dos quais participaram aproximadamente 100 crianças. As mesas
digitais, grandes o bastante para serem usadas por cerca de quatro Alunos, são
conectadas em rede a um tablet controlado pelo Professor e à lousa no centro da
sala de aula, na qual o conteúdo das carteiras pode ser ampliado e discutido em
conjunto. Os testes foram feitos com atividades voltadas para o aprendizado de
expressões matemáticas. Depois, os resultados foram comparados aos de grupos
que realizaram atividade parecida, mas com as ferramentas tradicionais de
Ensino: giz, lápis e papel.
Ao usar o novo sistema, 45% dos Alunos ampliaram seu
repertório de expressões numéricas. Na outra turma, esse índice foi de 16%.
Ambos os grupos conseguiram aumentar suas habilidades na fluência do
aprendizado, no entanto, aqueles em contato com “a ” também tiveram benefícios
em flexibilidade. Fluência é a capacidade de aplicar procedimentos ou fórmulas
a situações cotidianas. É o caso de uma criança que, ao aprender a operação de
subtração, usa o conhecimento para calcular o troco em uma compra.
Já a flexibilidade acontece ao aplicar uma gama de
soluções para novos problemas, em vez de apenas uma compreensão de como e
quando usar os procedimentos aprendidos em sala. “Não queremos que as crianças
apenas saibam fazer, mas que sejam reflexivas, capazes de abstração, de pensar
o próprio pensamento. Isso é flexibilidade. Ser capaz de transpor a solução
para o problema a outros e novos contextos”, esclarece o engenheiro e psicólogo
Francisco Antônio Fialho, Professor da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), que não participou do estudo.
Os resultados do experimento inglês, publicados na revista
Learning and Instruction, mostram que, ao usar as mesas coletivas, as crianças
foram capazes de trabalhar em equipe na busca por novas maneiras de resolver e
responder problemas, usando soluções criativas. O estudo coloca em prática o
que Fialho chama de arquétipo do mago. Nele, a tecnologia seria a varinha
mágica usada pelo Aluno capaz de fazer e criar coisas inimagináveis, inclusive,
trazer de volta o encanto da Educação.
“A tecnologia para a criança é um brinquedo. Ela não gosta
de matemática, mas gosta de brincar. Ali, ela está participando de um joguinho
com os colegas.” O psicólogo acredita que não basta ensinar a fazer. Hoje, a
Educação precisa incentivar a inovação de forma colaborativa. “Basta
compararmos a produção da ponta de uma lança a um mouse. Sabemos que a ponta da
lança foi um artesão quem fez. Já para fabricar o mouse existe um monte de
pessoas envolvidas. Tudo que temos hoje surge da troca de ideias.”
Desafio
A principal autora da pesquisa, Emma Mercier, acredita que
a tecnologia pode ser usada para apoiar o raciocínio complexo, o pensamento e
as interações entre as disciplinas, ao mesmo tempo que é capaz de aumentar o
prazer da atividade no curto prazo. A longo prazo, no entanto, ela considera
essencial criar atividades que sejam desafiadoras e envolventes. “Essa geração
de crianças está entrando em um mundo em que o uso da tecnologia será normal,
precisamos prepará-las para isso. No entanto, é importante que elas se envolvam
em atividades de aprendizagem que deem o suporte a uma profunda compreensão das
disciplinas, em vez de apenas utilizar um dispositivo tecnológico em
particular”, enfatiza Mercier. Para ela, a tecnologia permite aos Professores
usar um tipo de pedagogia social, que pode apoiar a aprendizagem.
“Essa relação é o sonho de todo mundo: fazer com que a
tecnologia esteja em prol da atividade”, acredita Sérgio Abranches, Professor
do Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação, da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE). “Não pode ser só uma forma de dinamização e
motivação que também são elementos importantes. Mas, além do estudo
instrumentalizado, queremos que chegue de fato a contribuir com a
aprendizagem.”
Fonte: Correio Braziliense (DF)
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