terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Sala de aula do futuro

 “Algum de vocês está fazendo 30 mais 31?”, pergunta a pequena Chelsea aos colegas de seu grupo. Prontamente, Adam responde: “Eu estou fazendo todas as de diminuir”. Jack, na outra ponta da mesa, protesta: “Eu também estou fazendo as de diminuir!”. “Então, eu vou fazer as de somar”, conclui a garotinha inglesa. A conversa ocorre em um dos quatro grupos de crianças entre 8 e 10 anos que tentam criar o maior número de expressões matemáticas cujo resultado seja aquele determinado pela Professora. Um jogo em que aprendem sem nem perceber que estão estudando. A interação dos estudantes é um exemplo perfeito do que os pedagogos chamam de aprendizado colaborativo. Nesse caso, porém, a discussão matemática teve um catalisador essencial: a tecnologia.
Um grupo de pesquisadores da Escola de Educação da Universidade de Durham, no Reino Unido, desenvolveu e testou, durante três anos, um conjunto de carteiras Escolares com telas sensíveis ao toque pensadas especialmente para facilitar o Ensino. O invento se mostrou muito eficaz após os experimentos, dos quais participaram aproximadamente 100 crianças. As mesas digitais, grandes o bastante para serem usadas por cerca de quatro Alunos, são conectadas em rede a um tablet controlado pelo Professor e à lousa no centro da sala de aula, na qual o conteúdo das carteiras pode ser ampliado e discutido em conjunto. Os testes foram feitos com atividades voltadas para o aprendizado de expressões matemáticas. Depois, os resultados foram comparados aos de grupos que realizaram atividade parecida, mas com as ferramentas tradicionais de Ensino: giz, lápis e papel.
Ao usar o novo sistema, 45% dos Alunos ampliaram seu repertório de expressões numéricas. Na outra turma, esse índice foi de 16%. Ambos os grupos conseguiram aumentar suas habilidades na fluência do aprendizado, no entanto, aqueles em contato com “a ” também tiveram benefícios em flexibilidade. Fluência é a capacidade de aplicar procedimentos ou fórmulas a situações cotidianas. É o caso de uma criança que, ao aprender a operação de subtração, usa o conhecimento para calcular o troco em uma compra.
Já a flexibilidade acontece ao aplicar uma gama de soluções para novos problemas, em vez de apenas uma compreensão de como e quando usar os procedimentos aprendidos em sala. “Não queremos que as crianças apenas saibam fazer, mas que sejam reflexivas, capazes de abstração, de pensar o próprio pensamento. Isso é flexibilidade. Ser capaz de transpor a solução para o problema a outros e novos contextos”, esclarece o engenheiro e psicólogo Francisco Antônio Fialho, Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que não participou do estudo.
Os resultados do experimento inglês, publicados na revista Learning and Instruction, mostram que, ao usar as mesas coletivas, as crianças foram capazes de trabalhar em equipe na busca por novas maneiras de resolver e responder problemas, usando soluções criativas. O estudo coloca em prática o que Fialho chama de arquétipo do mago. Nele, a tecnologia seria a varinha mágica usada pelo Aluno capaz de fazer e criar coisas inimagináveis, inclusive, trazer de volta o encanto da Educação.
“A tecnologia para a criança é um brinquedo. Ela não gosta de matemática, mas gosta de brincar. Ali, ela está participando de um joguinho com os colegas.” O psicólogo acredita que não basta ensinar a fazer. Hoje, a Educação precisa incentivar a inovação de forma colaborativa. “Basta compararmos a produção da ponta de uma lança a um mouse. Sabemos que a ponta da lança foi um artesão quem fez. Já para fabricar o mouse existe um monte de pessoas envolvidas. Tudo que temos hoje surge da troca de ideias.” 

Desafio
A principal autora da pesquisa, Emma Mercier, acredita que a tecnologia pode ser usada para apoiar o raciocínio complexo, o pensamento e as interações entre as disciplinas, ao mesmo tempo que é capaz de aumentar o prazer da atividade no curto prazo. A longo prazo, no entanto, ela considera essencial criar atividades que sejam desafiadoras e envolventes. “Essa geração de crianças está entrando em um mundo em que o uso da tecnologia será normal, precisamos prepará-las para isso. No entanto, é importante que elas se envolvam em atividades de aprendizagem que deem o suporte a uma profunda compreensão das disciplinas, em vez de apenas utilizar um dispositivo tecnológico em particular”, enfatiza Mercier. Para ela, a tecnologia permite aos Professores usar um tipo de pedagogia social, que pode apoiar a aprendizagem.
“Essa relação é o sonho de todo mundo: fazer com que a tecnologia esteja em prol da atividade”, acredita Sérgio Abranches, Professor do Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Não pode ser só uma forma de dinamização e motivação que também são elementos importantes. Mas, além do estudo instrumentalizado, queremos que chegue de fato a contribuir com a aprendizagem.”
Fonte: Correio Braziliense (DF)

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