quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Escolas de tempo integral do Estado não garantem melhor aprendizado


Apontadas como salvação pa­ra o Ensino público, as Escolas de tempo integral não garan­tem melhor resultado no aprendizado - pelo menos é as­sim nas 309 unidades com o modelo ligadas à Secretaria Es­tadual de Educação de São Paulo. Os dados do índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb) revelam que não há diferença de aprendizagem entre Alunos da rede normal e os de tempo integral.
Apesar de ter sido adotado no Estado há sete anos, o projeto de tempo integral no Ensino funda­mental não obteve o resultado que se esperava. O governo lançou neste ano um novo modelo nessa etapa era número reduzido de Escolas, mas 285 unidades continuam da mesma forma (mais informações nesta página).
Nessas Escolas, nos dois ciclos do Ensino fundamental, as notas de matemática, apesar de serem mais altas, estão na mesma faixa na escala de proficiência (que mostra o que o Aluno é capaz de fazer). Dessa forma, os Alunos sabem a mesma coisa, independentemente de onde estudam.
No ciclo 1 (de 1ª à 4ª série), a média das 115 Escolas avaliadas é 218,6, ainda distante do ideal. A ONG Todos Pela Educação con­sidera como adequadas notas acima de 225 nessa fase - a média do Estado é 213,1. Já nos anos finais (da 5ª à 8ª série), a média de matemática das 197 Escolas avaliadas foi 248,2. O adequado é que se fique acima 300. Na média do Estado, a nota nessa disci­plina para o ciclo foi 244,3.
O desempenho de matemática é aferido pela Prova Brasil, avaliação que, com as taxas de rendimento, compõe o Ideb. O nível de matemática é considerado re­ferencial por ser um conheci­mento basicamente Escolar.
Apesar de serem em número muito menor que o conjunto da rede (o que, em geral, joga a mé­dia para baixo), as Escolas de tempo integral apresentaram comportamento similar.
No anos finais, por exemplo, mais da metade das 195 Escolas com esse ciclo não teve avanço no ín­dice entre 2009 e 2011. Dessas, 39% tiveram queda. Nos iniciais, a situação das Escolas de tempo integral é melhor: 59% das 115 Escolas estaduais com esse modelo conseguiram avanços.
O Ideb traça metas a serem alcançadas a cada dois anos, quando o índice é produzido. Das es­colas de tempo integral de São Paulo que oferece anos finais, 46% não conseguiram alcançar suas metas. O índice é superior à média de todas as Escolas do Estado. Nos anos iniciais, os índices são melhores, mas a rede normal tem resultados superiores. Nenhuma das Escolas de tempo integral tem nota 6 ou superior a isso, considerada a meta do País.
Aposta. O modelo de Ensino integral criado em 2006 no outro mandato do governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi implementado de uma vez em 514 Escolas de Ensino fundamental e ao longo dos anos foi sendo enxugado. No sistema, o Aluno fica na Escola das 7 horas às 16h10. O currículo conta com oito oficinas obrigatórias, dadas no contraturno, além do currículo normal.
A empregada doméstica Romilda de Oliveira, de 37 anos, gosta da Escola onde estuda o filho Ronald, de 10, que "ocupa as crianças". Mas ela não vê grande diferença em relação à Escola da rede normal onde estuda a filha Ystefani, de 11. "Ele não reclama, mas não é melhor nem pior. Me­lhorar, não melhorou." Ronald é Aluno da Escola Prof. Theodoro de Moraes, zona leste da capital.
A Professora de pós-graduação da Uniban Isa Guará, especialista em Educação integral, afirma que a proteção que da Escola de tempo estendido é importan­te, mas não é só isso. A concep­ção do modelo ainda é deficien­te. "Hoje as Escolas ainda não es­tão adequadas para oferecer um desenvolvimento integral. Mas temos de caminhar para isso."
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação ressaltou que os números do Ideb e da prova de matemática das Escolas de tempo integral são maiores que os da rede normal. A pasta informou que a matriz curricular dessas Escolas está em processo de reformulação, com a colaboração de dirigentes e supervisores. A secretaria não informou quan­do essa nova matriz será adotada nas 285 Escolas que não migra­ram para o novo modelo.

Novo modelo chega a 21 escolas do Ensino Fundamental
Em vez de o modelo mais antigo influenciar o novo, na Educação estadual ocorre o contrário. É o novo projeto, iniciado em 2012 no Ensino médio, que orientou as mudanças na Educação funda­mental.
A partir deste ano, 21 Escolas do ciclo 2 (5ª à 8ª série) vão contar com a nova proposta. Outras duas oferecerão o ciclo 2 e o Ensino médio. Essas Escolas passam a contar com jornada de 8h40. Uma mudança na Escola é que os Professores passam a ter regime de dedicação plena e integral. Na sala de aula haverá um currículo básico e disciplinas eletivas e orientação para estudos. No lugar das atuais oito oficinas, haverá somente duas: hora da leitura e experiências matemáticas. Nesse nível de Ensino também haverá a elaboração do projeto de vida, "mas focado na continuidade do estudo e na Educação para valo­res humanos", segundo infor­mou a secretaria.
Para não ter um impacto negativo como houve em 2006, ao se impor o sistema integral a mais de 500 Escolas, o Estado definiu que o modelo só seria adotado nas unidades com aprovação da comunidade Escolar. A medida democrática dificultou os pla­nos da secretaria de promover uma expansão mais significativa do modelo. Das 121 Escolas onde o projeto foi oferecido, 68 delas (56%) recusaram.
A ideia do governo era, no ensi­no médio, ampliar para 100 esco­las já em 2013 - o modelo foi ini­ciado em 2012 em 16 unidades. Com as recusas, o novo Ensino integral vai chegar a 31 Escolas dessa etapa. Dessa forma, fica ainda maior o desafio de alcan­çar 300 Escolas até 2014, plano inicial da pasta.
A preocupação com o tempo integral faz parte, segundo o go­verno, dos esforços para colocar o sistema educacional de São Paulo entre os 25 melhores do mundo até 2030. Hoje, é o 53º entre 65, considerando simula­ção que apresenta São Paulo co­mo um país no Programa Inter­nacional de Avaliação (Pisa).
No Ideb de 2011, a rede estadual ficou estagnada no Ensino fundamental. O ciclo 1, de 1ª à 4ª série, teve nota 5,4 e o final, da 5ª à 8ª série, 4,3.
Já no Ensino médio, em que o avanço é mais difícil em todo o País, o Estado de São Paulo teve aumento de 3,6 para 3,9.
 
Escala tem dez níveis
A escala de proficiência da avaliação de matemática da Prova Brasil tem dez níveis, com amplitude de 25 pontos. Em cada faixa está definido o que o Aluno é capaz de fazer. Nos anos iniciais, por exemplo, os estudantes (nos dois modelos) são capazes de interpretar dados num gráfico de colunas, leem horas em relógios de ponteiros e efetuam multiplicações com dois algarismos. Não conseguem, no entanto, resolver uma divisão por número de dois algarismos, resolver problemas envolvendo conversão de quilo para grama ou localizar informações em gráficos de colunas duplas, entre outras coisas
Fonte: O Estado de S.Paulo (SP)

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