segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Garotas leem mais e melhor que os rapazes

As habilidades em leitura de garotas de 15 anos ultrapassam de longe a dos rapazes nessa mesma faixa etária em 74 países do mundo. Esse resultado tem sido confirmado em todas as edições do Programa Internacional de Ava­­lia­­ção de Estudantes (Pisa), um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que analisa a cada três anos a qualidade e a eficiência de sistemas escolares em países que representam 90% da economia mundial.
As jovens superam os garotos nos testes de leitura desde 2000, sendo que na média geral a diferença a favor delas em 2009, últimos dados do Pisa, foi de 39 pontos. Eles, por outro lado, vencem em Matemática e Ciências, com 15 e 4 pontos a mais, nessa ordem. Participaram da pesquisa 470 mil estudantes, dos quais 20 mil eram brasileiros.

Com avanços, Brasil se mantém atrás
O Brasil foi um dos países com os melhores índices de crescimento em qualidade nas últimas versões do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Em 2009, o país subiu 16 pontos em leitura, 30 em Matemática e 15 em Ciências, comparado a edições anteriores. Apesar desses acréscimos, no entanto, o país continua abaixo da média global.
Apesar da seriedade do levantamento do Pisa, os dados relativos ao Brasil devem ser vistos com prudência, alerta Rose Meri Trojan, coordenadora de extensão da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisadora na área de Educação Comparada.
Isso porque a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) cruza dados de países com políticas de Educação muito diferentes. “Toda pesquisa de larga escala é apenas um indicador que deve levar os especialistas de cada um dos países envolvidos a aprofundar esse estudo de forma local”, alerta.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)

Educação e combate à desigualdade


Há uma década o Brasil iniciou uma profunda transformação ao fixar que sua prioridade era reduzir a desigualdade a partir do crescimento econômico pautado na formação de um mercado interno de massas.
Os números desse período são reveladores quanto ao êxito das políticas adotadas: em 2003, a população brasileira se dividia em 32% de excluídos, 22% classe média baixa, 20% classe média intermediaria, 16% classe media alta e 10% de classe alta; em 2011, esses percentuais eram, respectivamente, de 28%, 18%, 26%, 19% e 9%. Ou seja, em dez anos, diminuímos a desigualdade, retirando 21 milhões da linha da pobreza extrema.
Tal transformação social se sustentou no aumento da renda da população, decorrência de políticas especificas de transferência de renda e de valorização salarial, que permitiram as camadas mais baixas da sociedade acessar bens de consumo básicos.
Uma das conseqüências positivas desse movimento e a geração de altos índices de empregos com carteira assinada, que alimentam o ciclo positivo que se formou com a ampliação da renda e do poder aquisitivo.
De fato, renda mais elevada e acesso a bens de consumo são fatores de redução da desigualdade. Já defendi a importância de ampliarmos os investimentos em educação, ciência e tecnologia e inovação, sem os quais não completaremos esse ciclo virtuoso em formação.
Afinal, nosso desenvolvimento requer, cada vez mais, qualificação profissional. No entanto, o que sabíamos em teoria ficou cristalino com os dados de pesquisa Datafolha divulgada ha poucos dias: o nível e a qualidade da educação é fator decisivo para ampliar o combate à desigualdade, favorecendo a mobilidade social, e também para proteger a população nos momentos de oscilação econômica, pois representa diferencial nas estratégias para lidar com as crises.
A pesquisa mostra que 77% da classe alta têm nível superior de escolaridade, enquanto que 99% da classe média baixa tem apenas o nível fundamental completo. Os números são retumbantes. Quase que sentenciam que, sem curso superior, jamais se chega à classe alta.
Ciente de que a educação é um dos eixos do desenvolvimento social, o governo Lula investiu como nunca: entregou 126 campi universitários federais, 214 escolas técnicas e 552 polos de educação a distancia. Colheu também melhorias no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Aperfeiçoou o Enem e criou o ProUni como meios de acesso ao ensino superior. Portanto, o que a pesquisa Datafolha confirma e que a condução das políticas socioeconômicas na ultima década foi acertada, permitindo reduzir as desigualdades.
Mas revela também que nosso caminho rumo a uma sociedade mais justa e igual depende do aprofundamento da diretriz de melhorar e ampliar a estrutura de educação publica ao mesmo tempo em que qualificamos o ensino.
Ou seja, aproximar a educação dos investimentos em tecnologia e inovação. por isso, o lançamento do Pronatec e do Proinfancia. Esse e o norte que o Brasil precisa e, felizmente, e o caminho que o governo Dilma Rousseff tem trilhado.
José Dirceu, in: Brasil Econômico (SP)

domingo, 29 de janeiro de 2012

Educação reprovada


Haddad comanda o Ministério da Educação há 5 anos e meio, tempo suficiente para mostrar serviços e avanços em sua área. Ao contrário, no balanço de sua gestão, encontramos principalmente o descaso com nossos estudantes e com a Educação das futuras gerações.
O maior desses descasos é o Enem. Transformado de uma prova para avaliação das escolas de ensino médio para um gigantesco vestibular, o Enem apresenta falhas que se repetem ano a ano. Da falta de capacidade de manter o adequado sigilo à absoluta falta de transparência com os critérios de avaliação, o Enem é o maior símbolo de uma administração fracassada, inepta e incompetente.
Há relatos de estudante que tirou zero e reverteu sua nota no Judiciário, de estudantes que entregaram a prova em branco e tiraram nota maior que a mínima, e agora o Judiciário decidiu que o MEC deve dar transparência à correção das redações.
Sem critérios claros de avaliação, sem um currículo mínimo a ser percorrido no ensino médio para ser cobrado no Enem, o exame tem sido criticado por impor a ideologia oficial aos estudantes. Não se cobra conhecimentos adquiridos, mas o alinhamento do estudante ao pensamento oficial.
O mérito, o único critério que deveria ser utilizado para ingresso nas universidades públicas, foi abolido nas águas turvas desse exame. Mas a incompetência do ministro não se restringiu ao Enem. Livros didáticos foram distribuídos no país inteiro com erros de português.
O ministério gastou tempo, energia e recursos para montar um kit contra a homofobia que foi reprovado até pela presidência e serviu unicamente para a direita levantar-se contra o esclarecimento necessário sobre o tema.
A expansão descontrolada das vagas nas universidades federais sem planejamento fez o sonho se transformar em pesadelo para aqueles que assistem aulas, quando são ministradas, em locais inadequados e sem equipamentos. E como não houve previsão da demanda por vagas, milhares sobram ociosas ano a ano, num desperdício completo de recursos escassos.
A alardeada supervisão dos cursos superiores serviu somente para demonstrar que o MEC deixa faculdades sem condições começarem a funcionar para depois fazer exigências de qualidade, após milhares de estudantes terem estudado nessas instituições ineptas, perdendo tempo e dinheiro e não alcançando a formação pretendida, como comprova a alta taxa de reprovação dos diplomados nas provas de admissão das respectivas carreiras.
Enquanto isso, ainda somos o 53º no ranking do Pisa/2009, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE, muito atrás de nossos vizinhos latino-americanos. Faltou à gestão Haddad foco no fundamental: conseguir unir o país para que nossas crianças aprendam português, matemática e ciências.
Suprir a falta de recursos de estados e municípios para que o ensino fundamental seja priorizado numa cadeia de colaboração federativa. Isso não foi feito e continuamos a patinar na Educação do nosso povo, comprometendo o nosso desenvolvimento futuro. E ainda há quem defenda que esse senhor possa administrar uma cidade gigantesca e complexa como São Paulo.
Roberto Freire, presidente do PPS, in: Brasil Econômico (SP)

Para lidar com geração z, professor recorre às redes sociais


É findada a era em que professores, frente a um quadro negro abarrotado de informações, falavam sem parar a uma turma concentrada e silenciosa.
Atualmente ocupando as classes de ensino fundamental e médio, a "geração Z" acabou com o reinado das aulas expositivas. Já não basta intercalar conteúdo e exercícios: para atrair a atenção dos jovens, a tecnologia é a principal aliada dos professores.
Lecionando química há 15 anos, o professor e coordenador pedagógico do colégio Oficina do Estudante, de Campinas (SP), Anderson Dino, conhece bem as características da geração, formada por nascidos a partir da segunda metade da década de 1990. "Eles são multimídia, fazem muitas coisas ao mesmo tempo. Estudam com o celular na mão e o Facebook aberto, enquanto ouvem a conversa dos pais e fazem carinho no cachorro com o pé", exemplifica.
Render-se ao perfil mais agitado dos jovens foi a saída que Dino encontrou para conquistá-los logo no primeiro encontro. Hoje, o conteúdo de suas aulas pode ser encontrado em um blog e em suas contas de Facebook, Twitter, YouTube e Tumblr.
"Eu crio tirinhas de humor e memes (ilustrações cômicas que se propagam na rede) sobre química, converso com eles pelo bate-papo, gravo aulas e coloco no YouTube. Quando o professor faz essas coisas, os alunos respeitam", garante.
Segundo a psicóloga Paula Pessoa Carvalho, que cursa especialização em Teoria Clínica Analítico Comportamental na USP, os educadores de hoje devem investir no dinamismo e na criatividade.
"Os trabalhos que favorecem a interação com o outro são os mais indicados, assim como aqueles que utilizam a tecnologia, tão familiar à geração Z. Atividades muito sistemáticas não terão sucesso", avalia.
Os anos de experiência ajudaram o professor a compreender o perfil dos alunos e, a partir disso, planejar aulas que evitassem dispersar a turma. Ele garante que o segredo para manter a turma atenta é intercalar minutos de exposição com a participação direta dos jovens.
Paula acredita que o ambiente e a estrutura curricular e os métodos de ensino tradicionais estão ultrapassados. "Os alunos não conseguem ficar focados no que está sendo ensinado, e o resultado disso é a falta de interesse e o baixo rendimento", aponta. O papel do professor no desenvolvimento do aluno também parece ter diminuído.
Para Dino, o pouco contato que gerações como os "baby boommers", nascidos entre as décadas de 1940 e 1960, tinham com os adultos dava força à voz do professor. Hoje, o cenário é diferente. "Antigamente, as únicas referências eram pai, tio, padrinho, padre. A geração da internet tem mil amigos no Facebook, 500 seguidores do Twitter. O professor é só uma referência entre outras muitas que eles têm", reforça.
Mesmo que as abordagens via redes sociais funcionem, pais e professores devem estar atentos também ao desenvolvimento do aluno no campo pessoal já que, entre as deficiências dessa geração, está a dificuldade em se relacionar.
Para evitar o problema, a psicóloga comportamental Jéssica Fogaça destaca a importância do acompanhamento da família. "Os pais podem ajudar realizando outras atividades sociais com os filhos, apresentando outros estímulos. É importante ampliar o repertório das crianças e jovens", afirma.
A especialista em clínica analítico-comportamental infantil também aponta as atividades físicas como uma boa opção para sair do ambiente tecnológico.
"Os esportes são muito indicados, desde futebol, passando por artes marciais, que são ótimos para exercer a disciplina, até as danças, que estimulam a coordenação motora, a expressão artística, o convívio social e a produção de endorfina", explica.
Fonte: Terra

sábado, 28 de janeiro de 2012

Professor aviltado X aluna turista

Porto Alegre (RS), 16 de julho de 2011

Caro Juremir (CORREIO DO POVO/POA/RS)

Meu nome é Maurício Girardi. Sou Físico. Pela manhã sou vice-diretor no Colégio Estadual Piratini, em Porto Alegre, onde à noite leciono a disciplina de Física para os três anos do Ensino Médio.   Pois bem, olha só o que me aconteceu: estou eu dando aula para uma turma de segundo ano. Era 21/06/11 e, talvez, “pela entrada do inverno”, resolveu também ir á aula uma daquelas “alunas-turista” que aparecem vez por outra para “fazer uma social”. Para rever os conhecidos.
Por três vezes tive que pedir licença para a mocinha para poder explicar o conteúdo que abordávamos.
Parece que estão fazendo um favor em nos permitir um espaço de fala. Eis que após insistentes pedidos, estando eu no meio de uma explicação que necessitava de bastante atenção de todos, toca o celular da aluna, interrompendo todo um processo de desenvolvimento de uma idéia e prejudicando o andamento da aula. Mudei o tom do pedido e aconselhei aquela menina que, se objetivo dela não era o de estudar, então que procurasse outro local, que fizesse um curso à distância ou coisa do gênero, pois ali naquela sala estavam pessoas que queriam aprender' e que o Colégio é um local aonde se vai para estudar. Então, a “estudante” quis argumentar, quando falei que não discutiria mais com ela.
Neste momento tocou o sinal e fui para a troca de turma. A menina resolveu ir embora e desceu as escadas chorando por ter sido repreendida na frente de colegas. De casa, sua mãe ligou para a Escola e falou com o vice-diretor da noite, relatando que tinha conhecidos influentes em Porto Alegre e que aquilo não iria ficar assim. Em nenhum momento procurou escutar a minha versão nem mesmo para dizer, se fosse o caso, que minha postura teria sido errada. Tampouco procurou a diretoria da Escola.
Qual passo dado pela mãe?  Polícia Civil!... Isso mesmo!... tive que comparecer no dia 13/07/11, na  8.ª (oitava Delegacia de Polícia de Porto Alegre) para prestar esclarecimentos por ter constrangido (“?”) uma adolescente (17 anos), que muito pouco frequenta as aulas e quando o faz é para importunar, atrapalhar seus colegas e professores'. A que ponto que chegamos? Isso é um desabafo!... Tenho 39 anos e resolvi ser professor porque sempre gostei de ensinar, de ver alguém se apropriar do conhecimento e crescer. Mas te confesso, está cada vez mais difícil.
Sinceramente, acho que é mais um professor que o Estado perde. Tenho outras opções no mercado. Em situações como essa, enxergamos a nossa fragilidade frente ao sistema. Como leitor da tua coluna, e sabendo que abordas com frequência temas relacionados à educação, ''te peço, encarecidamente, que dediques umas linhas a respeito da violência que é perpetrada contra os professores neste país''.
Fica cristalina a visão de que, neste país:
NÃO PRECISAMOS DE PROFESSORES
NÃO PRECISAMOS DE EDUCAÇÃO
AFINAL, PARA QUE SER UM PAÍS DE 1° MUNDO SE ESTÁ BOM ASSIM.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Educação, bolsa família e desigualdade


Duas grandes mudanças aconteceram. Nos anos 60 não havia programas de transferência de renda e, naquela época, os avanços educacionais aconteciam primordialmente entre os mais ricos. Entre 1961 e 1970 a taxa de crescimento média do Produto Interno Bruto (PIB) per capita (em termos reais) foi de 3,2%. Porém, o índice de Gini (indicador mais tradicional de desigualdade) aumentou de 0,49 para 0,57.
Entre 2001 e 2010, o PIB per capita aumentou 2,4%, mas o Gini declinou de 0,58 para 0,53. Vale notar que o índice de 0,53 ainda nos deixa muito distante dos países civilizados. França, Holanda, Finlândia, Suécia e Dinamarca têm índices em torno de 0,32.
Entre 1960 e 1970, a renda dos 10% mais ricos no Brasil cresceu 66% e a renda dos 10% mais pobres apenas 28%. Entre 2001 e 2009, o processo inverte-se. A renda dos mais pobres cresceu 100%, enquanto a dos mais ricos, apenas 18%. Milagre?
A primeira explicação é que nos anos 60 a demanda por Educação crescia a um ritmo superior à oferta, pois o aprofundamento da industrialização requeria trabalhadores qualificados que não existiam na época. Em 1970, 84% da população tinha no máximo o nível primário. Apenas 50 mil pessoas concluíram o ensino superior naquele ano, num país com 92 milhões de habitantes.
Isso fez com que os salários da pequena parcela da população que tinha ensino médio ou superior aumentassem muito, o que provocou o aumento da desigualdade. Com as décadas perdidas de 80 e 90 veio o desemprego e a informalidade, e a desigualdade de renda gerou criminalidade.
Durante os anos 70, o PIB per capita cresceu em média 6%, aumentando o pique da década anterior, mas a desigualdade não se alterou muito. A década de 80 foi perdida em termos de PIB (crescimento médio de 0,85%) e de Educação, enquanto a escalada inflacionária aumentava a desigualdade.
Em termos educacionais, o número de concluintes no ensino superior estacionou em 220 mil pessoas durante toda a década. As matrículas no ensino médio (antigo segundo grau) aumentaram somente 25% em uma década. Período de trevas.
Mas, a partir de meados da década de 90, as coisas começaram a melhorar. Entre 1995 (com a estabilidade econômica) e 2009 a Escolaridade média dos 20% mais pobres dobrou, passando de dois para quatro anos de estudo. Interessante notar que entre os 20% mais ricos, a Escolaridade também aumentou dois anos em média (de oito para dez).
Mas, a razão entre a Escolaridade média dos dois grupos caiu de 4 para 2,5. A situação dos pobres era tão ruim, que mesmo um aumento que os levou para ensino primário completo em pleno século XXI pode ser considerado um grande progresso.
Quanto essa evolução educacional explica da queda da desigualdade? Os dados mostram que a Educação foi responsável por 38% do crescimento da renda do trabalho entre os 20% mais pobres. O restante decorreu de aumentos do salário mínimo e geração de empregos formais. Além disso, a Educação explica 42% da queda da desigualdade em termos de renda do trabalho e 26% em termos de renda familiar (incluindo as rendas de outras fontes) entre 2001 e 2009.
Com relação ao programa Bolsa Família, a história é parecida. Como os mais pobres tinham uma renda familiar per capita muito reduzida no início da década de 90 e não recebiam nenhuma transferência do governo, qualquer valor recebido teria um impacto muito grande sobre sua renda.
Assim, a renda familiar per capita média dos 20% mais pobres era de apenas R$ 35 em 1992, passou para R$ 50 em 2001 e R$ 85 em 2009. A renda per capita não oriunda do trabalho (transferências governamentais) passou de apenas R$ 4 em 1992 para R$ 10 em 2001 e R$ 24 em 2009, ou seja, aumentou 500%!
Em suma, o avanço social registrado nos últimos anos ocorreu basicamente porque as pessoas das classes mais baixas eram totalmente desassistidas pelo Estado, tanto em termos educacionais como em termos de transferências de renda até o início dos anos 90.
Assim, os avanços mínimos ocorridos nessas áreas tiveram impacto substancial na desigualdade. Porém, ainda teremos que percorrer um longo caminho para atingirmos um padrão em que as oportunidades sejam iguais para todos e independentes do berço.
Restam duas perguntas. Como a sociedade brasileira permitiu que 20% da sua população sobrevivesse com uma renda per capita média de apenas R$ 35 por mês até o início da década de 90? Por que nossa presidente parece obcecada com uma taxa de crescimento do PIB de 4%, quando, na verdade, a renda dos mais pobres, que elegem os políticos, está crescendo muito mais do que isso? Alguém arrisca uma resposta?
Naercio Menezes Filho, professor, in: Valor Econômico (SP)

Os avanços na educação


A reforma educacional em curso na rede pública estadual foi estruturada para, entre outros objetivos, fortalecer as ações pedagógicas das escolas, com foco na sala de aula e na valorização dos professores.
Dentro dessa reforma, ou Pacto pela Educação, o programa Reconhecer foi criado para motivar os profissionais que estão na sala de aula e incentivar o retorno daqueles que estavam afastados, chegando a premiar 11 mil professores regentes no ano passado.
Em 2012, tutores, coordenadores pedagógicos das escolas, diretores, vice-diretores e secretários-gerais também serão contemplados.
Conseguimos, em um primeiro momento, maior assiduidade dos professores, dedicados a um trabalho desempenhado sem interrupções ou ausências - o que certamente tem refletido em melhor aproveitamento das aulas por parte dos alunos. Agora queremos que eles recebam todo o suporte que precisam da escola para elevar a qualidade do planejamento das suas aulas.
Por isso a ampliação do Reconhecer, para estimular a participação dos profissionais responsáveis pela gestão e pela vida pedagógica das escolas na preparação das aulas, no acompanhamento e na avaliação desse trabalho, realinhando-o quando necessário.
A partir deste ano, em que o bônus passa de R$ 1,5 mil para R$ 2 mil e será pago semestralmente, o professor terá de comprovar assiduidade e também apresentar quinzenalmente o planejamento das aulas. Uma forma de aprimorar o seu trabalho e facilitar o acompanhamento por parte da Secretaria da Educação.
O reconhecimento ao mérito é uma estratégia que vem sendo utilizada por países que promoveram reformas nos seus sistemas educacionais, mostrando-se eficaz.
No Pacto pela Educação de Goiás, ela está no Reconhecer e também em outros programas, como o Prêmio Escola, que premia as unidades com até R$ 20 mil por etapa do ensino conforme metas estabelecidas de acordo com o Ideb; e o Prêmio Aluno, que a partir deste ano beneficiará estudantes com melhor desempenho por regionais de ensino.
Neste ano letivo de 2012, que se iniciou ontem, vamos tornar realidade muitas outras ações. Uma importante meta é reestruturar o modelo da escola de tempo integral, estendendo-o a outras regiões do Estado.
Vamos instituir em Goiás o plano de apoio às escolas em situação de maior vulnerabilidade. Escolas da região do Entorno de Brasília e todas as unidades da rede que não alcançarem as metas estabelecidas no Ideb serão acompanhadas por profissionais qualificados.
Nas escolas vulneráveis, os professores serão reconhecidos com bônus até três vezes acima do valor do Reconhecer.
A escola pública tem o dever de oferecer o melhor aos seus estudantes.
Todos têm o direito de aprender. E é com esse compromisso que estamos aprofundando a implantação da reforma, mudando práticas antigas e introduzindo novos conceitos.
Thiago Peixoto, in: O Popular (GO)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Inspetores escolares


A inspeção Escolar vem atrelada à orientação pedagógica e administrativa exercida pela figura do professor, supervisor pedagógico e outros que venham a atuar no campo da Educação, graduados ou pós-graduados na área, com o objetivo de atuar no campo educacional, podendo se fazer presentes nas superintendências regionais de ensino ou Escolas da Educação básica e superior.
O inspetor Escolar tem a função de buscar, com os seus, o sucesso educacional das Escolas vinculadas à sua carteira profissional, incentivando o fazer pedagógico, direcionando o fazer administrativo e alçando suporte ao crescimento da instituição.
A figura do inspetor apareceu pela primeira vez em 1932, quando a legislação pertinente deu início à pontuação de seus afazeres, enfatizando a sua importância no campo educacional. Várias reformas no âmbito educacional foram realizadas e em cada uma delas a sua figura passou a ocupar cada vez mais lugar de destaque na administração do fazer pedagógico e na manipulação positiva da sua atuação.
A evolução da primeira Lei de Diretrizes da Educação nacional, promulgada em 1961, veio estabelecer em 1996 a sua função de zelador de todo um sistema e figura ativa dentro das Escolas, promovendo a interação entre o setor pedagógico, administrativo e humanístico, colocando toda a estrutura docente em contato com a comunidade Escolar.
Dentro das Escolas, a sua função não se resume somente ao campo burocrático, visando papéis e direcionando o setor administrativo, mas engloba o dever de levar ao sucesso as instituições Escolares, incentivando a sua autonomia como órgão da administração pública.
Tal autonomia se resume à liberdade pleiteada pelas Escolas, sendo capazes de identificar a sua realidade e procurar de forma eficaz alavancá-la dentro de parâmetros estatísticos quantitativos e qualitativos.
A autonomia presente nas Escolas e incentivada pelo inspetor não se refere ao desmembramento de todo o sistema, mas à independência de poder identificar, desde o nível de sua clientela, as características típicas de sua comunidade até os anseios de seus alunos, procurando fundi-los a uma nova realidade, capaz de produzir efeitos duradouros.
A ação do inspetor dá suporte às Escolas, direcionando-as na elaboração do seu projeto político pedagógico (PPP), que será de suma importância para a construção de suas bases educacionais. O PPP tem a função de identificar fatores positivos e negativos da instituição Escolar, buscando o crescimento administrativo e pedagógico.
O projeto conterá ações que incentivarão o processo de ensino-aprendizagem e aperfeiçoarão o saber pedagógico, refletindo nos alunos, no corpo docente e administrativo o verdadeiro sucesso do trabalho em equipe.
Nenhuma Escola consegue alavancar os seus índices se não investir na criticidade e no desenvolvimento do bem comum, injetando em seus educandos a vitamina do prazer e do amor (citada pelo educador mineiro Rubem Alves), que resultarão em crescimento pessoal, intelectual e social.
Fonte: Estado de Minas (MG)

União por mais respeito na escola

Agora, a iniciativa oficial para fazer com que a escola seja um espaço de uma convivência pacífica ganhou ares de questão internacional. Um acordo foi firmado entre a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), os Estados Unidos e o Brasil e teve seu lançamento nesta quarta-feira, na França.
Trata-se do projeto Ensinando o Respeito para Todos, cujas diferentes formatações nos países participantes deverão ter como ponto em comum o respeito ao ser humano. Esse processo de integração e atuação surge com uma previsão de duração de três anos.
Nesse período, será incentivada a aplicação de currículos que tenham como foco principal um convívio harmonioso dentro do espaço escolar. Em verdade, um ambiente saudável é fundamental não apenas para evitar conflitos individuais e coletivos, mas, sobretudo, para garantir condições essenciais para que o aprendizado ocorra.
Os recursos para implantação do programa virão de fundos geridos pelos Estados Unidos e o gerenciamento de sua aplicação será feito pela Unesco. As escolas terão dotação privilegiada porque exercem, mesmo com deficiências, um papel integrador que soma na luta contra a discriminação racial e étnica.
A valorização da dignidade do outro será estimulada e constará expressamente dos conteúdos a serem ministrados. As melhores práticas serão premiadas e reconhecidas como exemplo a ser seguido.
O lançamento do projeto foi prestigiado pela diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, pela secretária adjunta para Organismos Internacionais do Departamento de Estado dos EUA, Esther Brimmer, e pelo secretário-executivo da Secretaria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, Mário Theodoro Lisbôa. Todos estão unidos na luta por umaEducação que dissemine valores positivos e previna conflitos.
Fonte: Correio do Povo (RS)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Deficiência começa no ensino básico

O professor Murilo Mangabeira, 27 anos, sabe o valor de uma boa Educação. Por isso, é um defensor contumaz de que o ensino deve começar cedo — e, sobretudo, com muita qualidade. Para ele, não basta apenas abrir as portas das escolas à criançada sem o compromisso de se formarem cidadãos que farão a diferença no mercado de trabalho.
Isso vale, principalmente, para os centros públicos de ensino, que, infelizmente, andam despejando no mercado pessoas que mal entendem o que leem e são incapazes de resolver questões mínimas de matemática.
Não à toa, Murilo repete: “É uma convenção achar que escola pública tem que se contentar com o básico, com uma estrutura mínima. Não adianta montarem bibliotecas, se não colocam livros suficientes. De nada vale fazer uma quadra de esporte, se não colocam cobertura. O básico não é suficiente”.
Porém, o que mais assusta o professor, que há três anos leciona sociologia para alunos do ensino médio e fundamental em Samambaia, cidade do Distrito Federal, é o fato de não haver uma preocupação evidente com o aperfeiçoamento dos profissionais da área.
“Não basta uma especialização de um ou dois anos. O professor precisa se dedicar a um processo de formação continuada. Senão, corre o risco de se tornar um técnico da Educação, com conhecimentos superficiais”, explica.
As palavras de Murilo só reforçam a necessidade de uma revolução no ensino básico do país. Embora, nos últimos anos, tenha havido um avanço no acesso de crianças e adolescentes às escolas, muitos ainda não conseguem notas suficientes para ingressar nas universidades. Mesmo quando entram, há um problema maior: conseguir acompanhar o conteúdo dado em sala de aula.
“O índice de jovens que apresentam falhas no aprendizado é muito alta. Apenas 11% dos que concluem o ensino básico conseguem um nível razoável de absorção do conteúdo de ciências exatas, como matemática”, diz Mozart Neves Ramos, conselheiro da ONG Todos pela Educação.
Essa, por sinal, é uma das razões de o país estar na lanterna do desempenho nessa área: 57° lugar de um ranking com 65 países listados pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês).
A situação é alarmante, reconhece Rodrigo Capelato, diretor executivo do Sindicato das Entidades de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp).
“Como a maioria dos alunos das faculdades privadas acabam vindo das redes públicas, é difícil haver um nivelamento nas turmas, especialmente na área de exatas. Praticamente, 90% das universidades acabam tendo que dar cursos complementares para equiparar os alunos em sala de aula”, revela.
Fonte: Correio Braziliense (DF)

O novo professor

domingo, 22 de janeiro de 2012

Os professores e as novas tecnologias

Não é nenhuma novidade que o trabalho dos professores não encerra com o toque da sineta da Escola onde trabalham. Reuniões, planejamento, estudo, formação e demais afazeres acontecem fora do tempo contratado, salvo raríssimas exceções.
Talvez, a grande novidade, principalmente para os que não atuam na área, seja o fato de os professores integrarem o grupo de profissionais que mais têm intensificado o seu trabalho com o surgimento das tecnologias da informação.
Se, por um lado, as redes de informação ampliaram as possibilidades de interação e aprendizagem, por outro, têm produzido uma excessiva carga de trabalho extraclasse.
Não se trata de aversão ao uso da tecnologia no contexto da Educação. Trata-se, sim, da necessária definição de como esses procedimentos podem garantir mais qualidade na Educação sem prejudicar a saúde do professor.
Vejamos que, em outros tempos, o trabalho do professor já extrapolava em muito o contrato de trabalho estabelecido. No entanto, com o aumento do uso dos meios eletrônicos, muitas novas funções e tarefas foram sendo agregadas ao trabalho docente. Para ilustrar, vamos objetivamente tratar de três.
A primeira tarefa designaremos de uso da máquina. Refere-se ao uso das ferramentas e dos programas que a tecnologia dispõe - o que exige mais tempo para cursos de formação.
A segunda é a da conexão, ou seja, de responder as demandas, o que significa que muitos professores passam boa parte de seu tempo lendo e respondendo e-mails da Escola e dos seus alunos, atualizando blogs e sites da instituição de ensino.
E a terceira é a questão das aulas à distância, que o professor acaba proporcionando ao responder fóruns, participar de chats e ao postar artigos. É o acompanhamento dos processos que a tecnologia viabiliza, mas que demanda tempo.
A atividade docente implica em um permanente processo de envolvimento, que é efetivamente indescritível, porém, é urgente delinear limites ao trabalho extraclasse.
A função educativa formal, sistemática de sala de aula, pressupõe consideração das atividades extracurriculares, pois o professor já não é mais mediador somente na presença do aluno. Urge, pois, apostar numa nova relação estabelecendo vínculos que viabilizem um trabalho com tempo, dedicação e atenção.
A docência sempre exigiu muito trabalho fora do expediente, mas, se uma Educação de qualidade requer tempo, é necessário também reconhecer um tempo para uma vida de qualidade dos que a ela se dedicam profissionalmente.
Hedi Maria Luft, doutora em educação, in: Correio do Povo (RS)

Uso de aparelhos eletrônicos poderá ser proibido em sala de aula


A Câmara analisa o Projeto de Lei 2806/11, do deputado Márcio Macêdo (PT-SE), que restringe o uso de aparelhos eletrônicos portáteis, incluindo celular, em salas de aula de ensinos básico e superior.
Pela proposta, só serão permitidos aparelhos relacionados ao “desenvolvimento de atividades didáticas e pedagógicas” após autorização dos professores ou da diretoria da escola. O projeto é semelhante a substitutivo aprovado pela Comissão de Educação e Cultura ao PL 2246/07, do ex-deputado Pompeu de Mattos. O texto foi arquivado no fim da legislatura passada.
Macêdo lembrou que o projeto de 2007 proibia apenas o uso de aparelhos celulares em sala de aula. O substitutivo, que serviu de base para a proposta apresentada por Macêdo, estendeu a proibição a outros aparelhos portáteis.
“Na discussão do projeto na comissão, em 2009, concluiu-se que, para preservar a essência do ambiente pedagógico, cabe a extensão da proibição de uso em sala de aula a todos os equipamentos eletrônicos portáteis que desviam a atenção do aluno do trabalho didático desenvolvido pelo professor”, destacou.

Tramitação
O projeto, que tramita em caráter conclusivo, será analisado pelas comissões de Educação e Cultura; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Íntegra da proposta:

PL-2806/2011
Fonte: Agência Câmara

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Escola, família e responsabilidades

Sem extirpar das costas do professor o seu quinhão de responsabilidade, analisemos a situa-ção atual da Educação brasileira, que, diante de diversos resultados de testagens (em geral, com resultados negativos e preocupantes), aponta para as causas que podem estar muito além do ambiente Escolar, onde a aprendizagem formal deve acontecer.
Com certeza, a culpa também é do professor (deixando claro: culpa não é dolo!), pois não tem oportunidades de se atualizar ou não aplica as metodologias defendidas nos cursos de formação, está desmotivado, perdeu seu papel e espaço como autoridade, sem falar nos salários vergonhosos.
E ainda existem mesmo aqueles (raríssimos) casos de professores infrequentes e negligentes que, além de faltarem levianamente ao trabalho, não preparam aula, tornam-se reféns dos livros didáticos, pois tudo lhes é considerado esforço em demasia.
Mas existe uma dúvida em relação à suposta culpa exclusiva do professor, pois ela é sugerida ao longo dos últimos anos devido ao fracasso Escolar – estranhamente em uma época em que a sociedade vive a desestruturação dos valores familiares e o assistencialismo material a pais relapsos – e, por isso, ficou sobre os ombros do docente o dever de sanar ausências paternas ocorridas desde o período pré-escolar, sendo que isto significa não apenas cinco anos anteriores à alfabetização, mas as outras 20 horas diárias em que a criança está fora da Escola, com (ou sem) sua família, bem como fins de semana, férias e feriados.
Isto significa que quatro horas-aula diárias, durante 200 dias por ano (isto se o aluno não faltar) devem ser suficientes para cobrir lacunas de oportunidades que alguns indivíduos não tiveram em seus lares, socializá-los como cidadãos em potencial, que são, e ainda prepará-los para serem testados em uma avaliação formal e escrita quanto a sua leitura, compreensão de texto e raciocínio lógico-matemático!
Será que a sociedade e as autoridades competentes ainda não perceberam? Permanecem batendo na mesma tecla, criticando e responsabilizando os professores que têm diante de si um tempo e recurso mínimos para um trabalho máximo?
Será que não percebem que os familiares que convivem e conhecem a criança desde que nasceu têm a obrigação de educá-la para o convívio na Escola e na sociedade? Têm a obrigação de dar-lhe atenção, cuidados, estímulos, afeto, além do exemplo da leitura e escrita (ainda que rasa) e da matemática? Como um professor em parcas quatro horas poderá competir com seis (ou mais) anos de experiência negativa na vida familiar da criança?
Afinal, se as horas extraclasse das crianças não influenciassem em sua aprendizagem, todos os alunos de professores pesquisadores, criativos, objetivos e compromissados com o processo de ensino-aprendizagem obteriam sucesso. Mas infelizmente, para alguns educandos (e educadores também!), somente o esforço e a dedicação do docente não têm sido suficientes para que aprendam tanto quanto necessitam e merecem aprender.
Dentre muitos casos presenciados ao longo dos anos de magistério público estadual, poderia destacar vários exemplos curiosos que comprovam que o compromisso da família é o primeiro e essencial passo a ser dado antes de a criança entrar na idade Escolar.
Teria vários relatos para comprovar que a Escola por si não é suficiente para alfabetizar quem quer que seja, afinal, o indivíduo é um ser cognitivo, social, cultural, emocional, físico e afetivo, e estas partes não se separam em gavetas, como muitos podem pensar.
Elas interagem entre si e influenciam o desempenho umas das outras; e, por isso, toda sociedade (família,Escola, governos) deve se responsabilizar para garantir que o frágil ser em formação tenha o equilíbrio necessário para que a aprendizagem aconteça naturalmente e com sucesso.
Maira Sofia W. Lamaison, pedagoga, in: Zero Hora (RS)

Lembrança da ditadura

Tornou-se acesa a discussão em torno da implantação de um currículo único nas escolas de Educação básica de todo o País. Os argumentos são os mais variados, entre eles o de que assim não se prejudicará a criança ou o jovem que necessitar transferência de um estado para outro. 
A tão decantada diversidade cultural do Brasil, que levou grandes escritores, como Gilberto Freyre, a proclamar a existência de vários brasis em regiões diferentes, foi deixada de lado.
Os autores da iniciativa querem um só Brasil, de Norte a Sul, como se isso fosse possível. Não cola o argumento de que serão deixados 30% dos currículos para serem determinados pelos conselhos estaduais e municipais de Educação. Isso cheira a uma perigosa centralização. 
Parece que alguns educadores, que não tiveram a experiência da ditadura Vargas, sentem saudade do que não conheceram. Havia o livro único, sintoma claro da falta de liberdade dos nossos escritores, além de um controle inviável por parte do então Ministério da Educação e Saúde. Trabalhava-se com medo de desagradar aos poderosos - e isso podia dar até cadeia. 
Quando se perde um tempo precioso na discussão desse tema, esquece-se uma questão essencial: há uma clara desnacionalização de algumas das principais editoras brasileiras, que estão sendo adquiridas por firmas espanholas, portuguesas, inglesas e americanas.
Quando não é a totalidade das ações, é uma espécie de parceria em que perdemos o comando. Nossos intelectuais, tão ciosos na defesa dos interesses nacionais, estão quietos em relação a esse processo galopante de alienação. 
Há um pormenor que nos angustia: a compra de livros didáticos por parte do governo brasileiro. São grandes aquisições, de milhões de livros, que ficam sob a orientação de firmas estrangeiras. São os seus diretores que irão nortear o que se deve fazer para melhorar o ensino da língua portuguesa?
No momento em que se pretende valorizar a cultura africana, nas lições de história, entregamos a elaboração dos nossos livros a um poder alienígena? Não basta argumentar que os autores serão brasileiros.
Eles estarão submetidos a uma orientação que não é nossa. Se caminharmos para o currículo único, mais fácil será ainda a conquista das mentes dos nossos estudantes, pois não haverá a oferta democrática de opções, nas diversas disciplinas que compõem a grade curricular.
Convém pensar também no destino das pequenas e médias editoras brasileiras, que certamente serão sufocadas por esse perigoso sistema. Fica o alerta. 
Arnaldo Niskier, professor, in: O Globo (RJ)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Independência pelos livros

A transformação social do Brasil nos últimos 10 anos, fruto da consolidação da estabilidade econômica, resultou na ascensão de mais de 40 milhões pessoas à classe média e em um mercado consumidor invejável.
Depois de mais de duas décadas de estagnação, hiperinflação e desemprego recorde, esse contingente de brasileiros pôde ir às compras, reformar a casa, botar o primeiro carro na garagem. Enfim, satisfazer necessidades relegadas por tanto tempo. Mas quando descontados todos os avanços, nada salta mais aos olhos do que o baixo nível educacional da nação que caminha, a passos largos, para se tornar a quinta potência do mundo até 2015.
“Se o Brasil quiser completar os 200 anos de independência, em 2022, livre das amarras do atraso, a única opção que lhe resta é fazer a revolução da Educação. E ela precisa começar já, ou jamais seremos referência nesse tema que tem nos custado tão caro”, diz Mozart Neves Ramos, conselheiro da ONG Todos pela Educação. Felizmente, ainda que o ritmo não seja o desejado, as mudanças estão se impondo no horizonte.
Em muitas famílias, pela primeira vez, um de seus integrantes está tendo acesso à universidade, seja pelo aumento da renda, seja por meio de uma bolsa de estudo ou de um financiamento bancário.
Com mais anos de estudo no currículo, os brasileiros estão deixando para trás um destino que, para muitos, parecia traçado: conseguir, no máximo, um subemprego e viver açoitado pela pobreza e pela falta de perspectivas. Não à toa, tornaram-se exemplos para os mais próximos.
Atualmente, o Brasil oferece 29,5 mil cursos em instituições públicas e privadas de nível superior, três vezes o número existente em em 2000. Naquele ano, cerca de 300 mil estudantes concluíam, anualmente, a graduação. Pelas contas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), pelo menos 1 milhão de profissionais foram formados em 2011.
Fonte: Correio Braziliense (DF)