segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Na base do racismo, temor à semelhança?

Páginas de jornais e revistas andam repletas de notícias, interpretações e opiniões a respeito da legislação que reserva cotas em universidades e institutos técnicos de nível médio federais para candidatos que se declararem pretos, pardos ou indígenas, assim como a alunos que tenham feito integralmente o ensino médio em escolas públicas e a candidatos oriundos de famílias com renda familiar mensal per capita de até um salário mínimo e meio. Não faltam controvérsias. Mas não é só por aí que vai a discussão. Ela inclui, também, a discriminação contra a mulher no mercado de trabalho e na renda.
Segundo informações deste jornal (28/10), o primeiro Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pós-lei de cotas mostrou que 54% dos inscritos eram negros ou indígenas, enquanto a participação dessas etnias na população nacional é de 51%. E, dos 5,7 milhões de estudantes que se inscreveram para vestibulares, 1,5 milhão havia terminado em 2012 o ensino médio, 80% dos quais (1,2 milhão) em escolas públicas.
Mesmo sem a legislação nova, o número de pretos e pardos na universidade multiplicou-se por quatro entre 1997 e 2011, segundo o Censo da Educação Superior, enquanto o de brancos pouco mais que duplicou (Estado, 17/10). E a porcentagem de pretos, pardos e indígenas na população total do Estado de São Paulo é de 34,73%.
Adversários das cotas na educação também têm seus argumentos, entre eles o de que a nova legislação não promove a inclusão educacional e social dos favorecidos, apenas oculta a falta de qualidade da educação no País. E que entrar pelo caminho das cotas seria arriscado, introduziria por lei uma divisão perigosa na sociedade. Também aí não faltam números para corroborar posições. Por exemplo: segundo o Sistema de Avaliação da Educação Básica, só 12% dos alunos do 9.º período de ensino têm aprendizado adequado em Matemática; 88% não entendem frações, não sabem operar com porcentagens nem fazer cálculos com dinheiro; e só 22% têm um bom aprendizado da língua portuguesa. Não é só: ainda temos 10,9 milhões de analfabetos, 77 milhões de pessoas não têm o hábito de ler e o piso salarial médio dos professores com 40 horas semanais de trabalho é de apenas R$ 1.451,00.
Há estatísticas em profusão. O número de assassinatos de negros no País foi 132% maior que o de brancos, entre 2002 e 2010, enquanto caiu o número de mortes violentas de brancos (Estado, 30/11). Mas a renda da população negra cresceu em ritmo cinco vezes maior que a não negra em dez anos. Oito em dez pessoas que chegam à classe média são negras (FP, 18/11). A participação das mulheres na força de trabalho aumentou de 40% para 44,5%, entre 1992 e 2009, segundo o IBGE. Mas elas trabalham mais que os homens, porque adicionam 22 horas semanais de trabalho doméstico às 36 horas fora de casa, enquanto os homens somam apenas 9,5 horas a suas 43 horas semanais fora de casa. Só que a remuneração média das mulheres é cerca de 1/3 menor que a dos homens: R$ 1.020,31, ante R$ 1.505,08. Tudo isso num quadro em que o Brasil é um dos países de maior desigualdade no mundo (Estado, 29/11), com 20% da população de maior renda detendo 57% da riqueza total do País (eram 63,7% em 2001), enquanto os 40% mais pobres ficam com 11% do total.
Todas essas coisas trazem de volta à memória do autor destas linhas uma discussão de que participou há 20 anos, em Salvador, na Sociedade de Cultura Negra no Brasil, promovida pela cientista social Juana Elbein dos Santos. Ali, o historiador Joel Rufino dos Santos começou por perguntar: Os direitos humanos são um valor universal? Todos os povos os percebem, compartilham e aceitam da mesma forma? Ou tudo depende da cultura, da geografia, do segmento social do observador? Mesmo entre nós não é assim? "Grande parte do povão" - afirmou ele - não admite que se invoquem esses direitos para proteger supostos ou reais infratores, principalmente assaltantes, sequestradores, etc. Parece favorável até a que se torturem esses acusados, mesmo antes de qualquer definição judicial nos casos em que estejam expostos. "Para a parcela mais pobre da população" - disse ele -, "os únicos laços com o Estado estão no cobrador de impostos e na polícia" (revista Visão, 8/4/1992). Opinião semelhante à do escritor Márcio de Souza, que mais de uma década depois, em outra discussão, em Manaus, disse que "cultura popular só entra no noticiário quando chega a polícia".
Quem pesquisar mais verá que o quadro também é dramático quando se trata de etnias indígenas. Só em 1988, depois de séculos de violências, aconteceu a primeira condenação judicial no Brasil de um branco por assassinato de um índio. E, como sempre, disputando as terras do outro. Nada novo, se se lembrarem os assassinatos e suicídios de mais de 500 índios guarani kaiowá nos últimos tempos, como tem sido relatado pela comunicação.
Vale a pena, por tudo isso, retornar ao debate de Salvador, para destacar o pensamento exposto na ocasião pelo professor Kabengele Mutanga, professor da Universidade de São Paulo (USP) mas natural do Zaire (hoje República do Congo, país-sede de uma guerra civil em que já morreram milhões de pessoas, de etnias que disputam entre elas suas terras tradicionais, de onde foram expulsas por empresas colonizadoras).
Exilado em São Paulo, o professor Kabengele Mutanga foi contundente: "Temos de parar de falar só nos direitos dos negros, dos índios e outras minorias à base de diferenças, apenas. A base do racismo não está exatamente na negação da diferença. Está no temor da semelhança. É pelo fato de saber que eu posso fazer as mesmas coisas que ele, posso ocupar o lugar dele, que o branco racista me discrimina, persegue e mata".
As divergências são respeitáveis. Mas quem olha o panorama brasileiro, com as diferenças econômicas, a situação do mercado de trabalho e a possibilidade de acesso a oportunidades educacionais, certamente presta atenção às palavras do professor Mutanga.
Fonte: O Estado de S.Paulo (SP)

domingo, 23 de dezembro de 2012

Mostrando a Língua - 69

Queridos diqueiros, às voltas com as compras e festejos natalinos,

Nesta breve 'despedida' (volto depois de 26 de janeiro), trago 3 dicas para vcs ficarem 'degustando' enquanto aguardam o retorno. Aproveitem para botar a matéria em dia, sim? Rsssssss
São, as três, sugeridas por diqueiros atentos, dois deles, das chamadas 'áreas duras' do conhecimento - a doutora em Informática Aplicada à Educação, amiga querida Sílvia Batista e o engenheiro de produção Dr. Algê Duarte, também amigo querido de tanto tempo. A terceira foi enviada pelo amigo e confrade Vilmar Rangel, homem das Relações Públicas e... humanas, sem dúvida!
Agradeço aos três o cuidado e vigilância em relação à amada Língua Portuguesa. Eis as propostas:

Dica 1- de Sílvia Batista, que nos envia a notícia abaixo sobre o (ainda) discutido Acordo Ortográfico
Governo adia novo acordo ortográfico para 2016
http://www1.folha.uol.com.br/educacao/1204152-governo-adia-novo-acordo-ortografico-para-2016.shtml


Dica 2- de Algê Duarte (essa é boa, porque está 'no ar' e com erro!)
Querida Professora,
Apesar das inúmeras, digamos, falhas no uso correto da língua, na mídia, principalmente nos canais de TV, uma dúvida vem me incomodando, por estar sendo repetida com muita frequência. Trata-se de uma propaganda onde o ator se refere a um ganhador do prêmio, "vai pra quem mais se comportou esse ano". Por acaso não seria para quem melhor se comportou?
Um abraço, Algê.

OBS.: tomei a liberdade de grifar seu texto, ok, meu diqueiro?
 
Com outro abraço, Algê, louvo sua inquietação porque o uso está mesmo ERRADO.
Já assisti a essa propaganda e, cada vez mais, fico chocada com ou maus tratos da mídia à Língua Portuguesa. É lamentável, porque como veículo de massas, a TV acaba difundindo o erro, não é?
Considerando que, quando fazemos um elogio, como esse que o vovozinho faz, queremos saber quem se comportou bem, entre aqueles que estão na cena. Mas o vovozinho quer saber quem se comportou MUITO BEM, ou seja, ele deveria usar o advérbio MELHOR que é o comparativo de superioridade do advérbio BEM.
Como PIOR é de MAL.
Assim, amigos diqueiros, certamente neste caso, o autor do texto fez uso desta 'praga' chamada licença poética que deve considerar a Nação burra. Usam a tal licença em nome da harmonia musical, da facilidade de comunicação, da rima, da busca pelo som melhor para os ouvidos da massa. Nesta medida, estão, por exemplo, Roberto Carlos com 'detalhes tão pequenos de nós dois' (já viram detalhe grande?), João Só, com 'menina que mora na ladeira... debaixo do pé da laranjeira...' (o uso exige pé de laranja ou apenas laranjeira. O que seria um pé de laranjeira no reino da flora, né?). Ele quis forçar a rima, com certeza! Salve Chico Buarque e Zeca Baleiro que, até agora, pela genialidade que lhe concede o conhecimento da Língua, não precisaram de licença poética. 

Dica 3- de Vilmar Rangel (tomei a liberdade, meu amigo, de grifar suas propostas, ok?)
Por que não se deve dizer megas ofertas ou vales compras? Só sei que não é certo nem soa bem. Mas...qual o motivo ???
Bjks
V.

Retribuindo as bjks, Vilmar, agradeço tb suas propostas, pelo que têm de instigadoras. Vamos lá!
No caso de 'megas ofertas', não se pode grafar assim, separado. Por isso, ao escrevermos MEGAOFERTAS (que é o correto) fazemos a flexão de plural na palavra inteira, ok?
Quanto a 'vales compras', precisamos avaliar os falantes e a 'desmontagem' mental de cada um deles que é o que determina as consequências flexionais.
Veja só que graça!
1) se o falante considera que vale-refeição significa que o papelzinho 'vale uma refeição', valer, nesse caso é VERBO seguido de substantivo e NÃO FLEXIONA NO PLURAL (com 's', é claro!). Assim, teríamos: VALE-REFEIÇÕES;
2) se o falante entender que se trata de 'um vale destinado à refeição', aí, a palavra 'vale' é SUBSTANTIVO e PODE SER FLEXIONADA. Então, teríamos: VALES-REFEIÇÃO ('refeição' no singular porque é o especificador, como em horas-aula)
Uso, sempre, a opção 2, Vilmar e queridos diqueiros, porque acho que alguns se lembram de que, quando comprávamos refrigerante, por exemplo, em garrafa, o moço da venda, bar ou o que seja entregava um 'vale' em que escrevia 'vale um refrigerante'.
Lembram-se disso? (os novinhos, não, com certeza!)
Pois bem: talvez esta memória de um passado nem tão recente (rssss) me autorize a usar a segunda flexão. Sei lá! 

Grande e fraterno abraço de Natal (pós fim de mundo). Graças ao Divino, deve ter faltado papel para os Maias continuarem e escrever seu calendário. Por isso pararam no dia 21/12. E aqui estamos nós, sobreviventes nesta maravilha chamada vida.
Um ano novo de esperanças e paciência (é ano de saturno - duros trabalhos e exigências nos esperam para vencer. E venceremos!)
Obrigada por participarem desta lista tão simplesmente elaborada, mas mantida com a sofisticada escuta de vcs.
Até 2013,
Edinalda

'Não educar foi o grande erro do País no século 20'

A opção por não investir em educação no auge da explosão populacional, nos anos 60 e 70, é classificada como "o grande erro coletivo da nossa sociedade nos século 20" pelos economistas Fernando Holanda Barbosa Filho e Samuel Pessôa num dos capítulos do livro 'Desenvolvimento econômico: uma perspectiva brasileira'.
Os pesquisadores, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio, mostram que o investimento em educação era de 1,4% do PIB em 1950 e de 2,4% em 1980, comparado a pouco mais de 5% atualmente. Em outro capítulo, os economistas Pedro Cavalcanti Ferreira e Fernando Veloso, também da FGV, escrevem que, em 30 anos (de 1950 a 1980), a escolaridade média dos brasileiros cresceu menos que em um ano e meio.
Em 1950, a escolaridade média da população brasileira com 15 anos ou mais era de apenas um ano e meio. Em 1960, era de 2,1 anos, e permaneceu em torno de 2,8 anos entre 1970 e 1980. Segundo Ferreira e Veloso, entre todos os países da América Latina e do Caribe, somente o Haiti possuía indicadores de escolaridade piores que os brasileiros no período de 1950 a 1980.
Nos 30 anos após 1980, o crescimento da escolaridade foi muito mais acelerado, chegando a 7,5 anos em 2010. Mas o estrago estava feito. A população brasileira saltou de pouco mais de 50 milhões em 1950 para quase 120 milhões em 1980, criando uma imensa massa de adultos com pouquíssima educação.
Veloso nota que a lacuna educacional brasileira é vista normalmente como um imenso problema social, mas também é um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento econômico. E grande parte do efeito negativo no crescimento se dá pela perda de produtividade, ou eficiência, no setor de serviços, que representa quase 70% da economia.
Modelo equivocado. Ele observa ainda que os serviços tendem a ser negligenciados pela política econômica, muito mais preocupada com a indústria. "Em toda a discussão de desoneração, os incentivos vão quase todos para a indústria - agora, por exemplo, saiu a desoneração para a construção civil, mas ninguém fala dos serviços."
Em 1950, 63,1% da população ocupada no Brasil estava na agropecuária, 17,2% na indústria e 19,8% nos serviços. Em 1980, os serviços já respondiam por 39,4% dos empregos, a indústria por 23,4% e a agropecuária, por 37,2%. Em 2005, 61,8% da população ocupada já trabalhava em serviços, enquanto 19,5% estava na indústria e os trabalhadores na agropecuária haviam caído para 18,7%. Hoje, os serviços detêm quase 70% dos trabalhadores brasileiros.
Veloso explica que o setor de serviços brasileiro, além de ser muito grande, tem um predomínio de empresas muito pequenas e pouco produtivas e trabalhadores de baixa escolaridade. Uma parte considerável dessas empresas ainda é informal.
"Isso tudo tem a ver com o modelo de desenvolvimento que adotamos no passado. A gente investiu pouco em educação, e agora estamos pagando esse preço", diz o economista.
Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)

sábado, 22 de dezembro de 2012

Aulas de Educação física têm sido reduzidas, alerta Conselho

O presidente do Conselho Federal de Educação Física, Jorge Steinhilber, lamentou que alguns estados estejam diminuindo a carga horária da Educação física nas Escolas. Na opinião de Steinhilber, o governo federal tem desenvolvido projetos sem a preocupação com resultados efetivos para a população.Ele criticou os programas governamentais Academia da Saúde e Mais Educação. Segundo o dirigente, integrantes dos ministérios defendem que as atividades físicas desses projetos sejam ministradas por agentes comunitários de saúde ou pessoas que tenham praticado esporte. “Isso é um descaso com a qualidade e com a sociedade menos favorecida”, avaliou.
Também integrante do Conselho Federal de Educação Física, Ricardo Catunda ressaltou que existe uma tendência mundial de diminuir o tempo dessas aulas nas Escolas, para aumentar os horários de outras disciplinas. “Mas estudos recentes mostram que o nível de aptidão física e habilidade motora está diretamente ligado à condição intelectual do indivíduo”, argumentou.
Fonte: Jornal da Câmara (DF)

Acelerar estudos de superdotados ainda é raro e difícil para escolas

Para Thiago Amorim, 15 anos, estudar e aprender foram tarefas quase naturais, de tão simples. Sabia todas as letras do alfabeto com um ano e sete meses. A constatação feita por uma tia, que trabalhava com Ensino especial, o fez participar de um programa da Secretaria de Educação do Distrito Federal para superdotados. O acompanhamento ensinava aos pais como lidar com uma criança tão precoce e estimulava o então bebê na dose certa.
Aos três anos, a leitura fluente, sem nenhum tropeço, espantava a mãe, a Professora Vânia Amorim Nogueira. Quando chegou o momento de matriculá-lo em uma Escola, Vânia, que é da rede pública, tentou vagas em um colégio público para o seu filho. Inúmeros laudos de psicólogos e Educadores que acompanhavam Thiago orientavam o futuro colégio a matriculá-lo em uma série de Alfabetização, mesmo com cinco anos.

Incentivo: Caçadores de superdotados investem em crianças carentes no Rio
Em todas as tentativas, Vânia ouviu “não” como resposta. Para gestores, diretores e coordenadores, acelerar os estudos de uma criança tão pequena era quase um tabu. “Há resistência. Mesmo com os laudos, os diretores ficaram inseguros, achavam que estavam fazendo algo errado. Talvez até por desconhecimento”, reflete Vânia, que acabou matriculando Thiago em uma Escola particular. Alan Sampaio / iG Brasília Thiago Amorim, 15 anos, começou a ler com três anos e, aos cinco, já estava alfabetizado: "pude me desenvolver mais".
O colégio da rede privada entendeu o que muitos especialistas defendem: crianças com altas habilidades, em muitas situações, precisam se adequar à série não apenas pela idade. Alguns conflitos precisam ser considerados antes da decisão. O primeiro é o conhecimento do estudante, em geral muito superior ao dos colegas. O segundo é a maturidade da criança, que também pode não acompanhar a da turma.
Todos os aspectos que envolvem a rotina da criança e seu ambiente Escolar devem ser avaliados por profissionais especializados. Estudantes com altas habilidades, avançados na trajetória Escolar ou não, devem ser acompanhados por essa equipe, especialmente quem deu um salto entre as séries. Mas, de fato, a prática é pouco realizada. Ainda há desconhecimento sobre os benefícios dessa alternativa para os Alunos e a legislação que apoia a prática é falha.

Boas experiências, divulgação ruim
Essas constatações estão em uma tese de doutorado defendida este ano na Universidade de Brasília (UnB). Apesar de comuns fora do Brasil, os estudos sobre o efeito da aceleração na vida de crianças superdotadas são raros no País. A pesquisa da pedagoga Renata Rodrigues Maia-Pinto, intitulada “Aceleração de Ensino na Educação infantil: percepção de Alunos superdotados, mães e Professores”, analisa resultados pela primeira vez no Brasil, ela conta. Alan Sampaio / iG Brasília Cássio acelerou os estudos na 4ª série do Ensino fundamental e concluiu o Ensino médio com 16 anos. Para ele, período foi de muito aprendizado.
O estudo mostra que, a despeito da falta de informações sobre como crianças que avançaram alguma série ao longo da vida se saíram em suas trajetórias Escolares, as experiências investigadas pela pedagoga foram positivas. No estudo, Renata entrevistou Professores, pais, mães e 12 crianças que, ainda na Educação infantil, receberam recomendações para avançarem alguma série e participavam do programa para superdotados do DF.
“A aceleração foi uma intervenção educacional bem sucedida para os Alunos e não trouxe perdas acadêmicas ou dificuldades socioemocionais a eles. Mas ela enfrenta resistência porque não há informação sobre resultados, os Professores não conhecem os procedimentos de avanço de série”, critica a pesquisadora.
Renata ressalta que a prática é recomendada aos superdotados que se deparam com um ambiente pouco desafiador. Para Thiago, por exemplo, desenhar, pintar e aprender as letras do alfabeto quando ele já lia tudo sozinho eram tarefas entediantes. “A Escola atendeu a uma necessidade dele, o adaptou melhor aos conhecimentos que ele tinha. Mas toda a família recebeu acompanhamento, para que ele pudesse amadurecer também”, conta Vânia.
Na opinião da pesquisadora, que agora é doutora em Processos e Desenvolvimento Humano e Educação pelo Instituto de Psicologia da UnB, é preciso regulamentar a aceleração de estudos. “A legislação educacional brasileira ampara o superdotado, mas traz barreiras à aceleração no primeiro ano do Ensino fundamental, não define formas ou critérios para adoção dessa prática, tampouco prevê outras modalidades de aceleração”, diz.

No Ensino superior: Alunos pulam a faculdade e vão direto ao mestrado
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em seu artigo 24, prevê a possibilidade de aceleração de estudos, mas reforça a possibilidade no contexto dos Alunos “com atraso Escolar”. Exige o bom desempenho acadêmico para o avanço, mas não detalha regras. Em pareceres e resoluções, o Conselho Nacional de Educação tratou do tema, sempre destacando que a medida deve “promover o desenvolvimento da aprendizagem e não aligeirar o seu percurso”.
Renata acredita que os sistemas de Ensino precisam pressionar por normas mais claras. “Essas crianças precisam de apoio, de um ambiente educacional que estimule seu potencial. E as Escolas precisam entender que há mais chances de uma criança superdotada achar pares entre crianças com o mesmo nível de conhecimento que ela. Problemas emocionais podem acontecer independentemente da aceleração”, ressalta.

A prática
No horário contrário das aulas, Thiago desenvolveu projetos com os companheiros de programa para superdotados. As atividades exploram a curiosidade das crianças, as ajudam a desenvolver ainda mais suas habilidades e são oportunidades para que eles convivam com “seus pares”. “Aqui, eles têm a noção de pertencimento a um grupo, que é importante”, comenta Samuel de Oliveira José, Professor de Altas Habilidades do DF.
Thiago brinca que, ainda na Alfabetização, percebia que não era da mesma altura dos colegas. Mas só descobriu que havia sido acelerado quando estava na 5ª série do Ensino fundamental. “Foi bom porque pude desenvolver mais meus interesses. O lado mais difícil é o relacionamento com os colegas e agora acho que vou sair da Escola muito cedo”, afirma sorrindo. Thiago vai terminar o Ensino médio com 16 anos mal completados.
Cássio Eduardo Silveira Xavier, de 16 anos, vive situação semelhante. Ele, no entanto, avançou nos estudos mais tarde. Sua mãe demorou mais tempo a conseguir mostrar aos Professores que o jovem vivia um descompasso. Cássio foi acelerado quando estava na 4ª série do Ensino fundamental. O Professor Samuel conta que o estudante foi sempre “um fenômeno”. Antes mesmo de terminar o Ensino médio, foi aprovado no vestibular da UnB (no 2º ano).
Acompanhado na sala de altas habilidades, Cássio desenvolveu projetos acadêmicos e artísticos. Hoje, toca violão, teclado e baixo. Aprendeu tudo sozinho. “Foi importante a aceleração e o acompanhamento. Isso modificou minha vida, aprendi muito”, diz.

Superdotados: uma minoria invisível
O secretário de Educação básica, César Callegari, destaca que as regras da LDB e as normas do CNE estabelecem a possibilidade de “reclassificação de Alunos por vários motivos”. “Mas esse é um atributo da autonomia das Escolas, que precisa ser feito mediante rigorosa avaliação”, diz. Ele lembra que não apenas o desenvolvimento acadêmico deve ser considerado nessa decisão, mas também possíveis ganhos sociais e emocionais da criança.
Renata reconhece que o desafio não é simples. Em sua tese, ela define: “é uma medida complexa a ser adotada pela Escola e pela família. A ausência de regulamentação legal sobre procedimentos de aceleração transfere para a Escola a responsabilidade de decidir em que condições a criança poderá ou não ser promovida e qual tipo de acompanhamento será necessário”, critica.
Fonte: iG

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

As 12 tendências tecnológicas da Educação brasileira até 2017

Laboratórios móveis, redes, inteligências colaborativas, geolocalização, aprendizado baseado em jogos, conteúdo aberto. Achou essa lista futurista demais para ser usado em escala nas escolas do Brasil, públicas e privadas? Talvez ela não seja tão inalcançável assim. O sistema Firjan reuniu um grupo de 30 especialistas para analisar o estado do uso da tecnologia em práticas no país e fez prognósticos sobre quais ferramentas já estarão sendo usadas em escala em um horizonte de até cinco anos.
O estudo “As Perspectivas Tecnológicas para o Ensino Fundamental e Médio Brasileiro de 2012 a 2017: Uma Análise Regional do NMC Report”, divulgado nesta semana, identifica 12 tecnologias emergentes que têm potencial para impactar o ensino, além das dez principais tendências e os dez maiores desafios da educação brasileira.
Entre as 12 tecnologias apresentadas, quatro foram apontadas entre as que devem começar a fazer parte massivamente das salas de aula em menos de um ano: ambientes colaborativos, aprendizagem baseada em jogos e os dispositivos móveis representados por celulares e tablets; outras quatro estavam entre as que devem começar a ter seu uso mais frequente em dois ou três anos: redes, geolocalização, aplicativos móveis e conteúdo aberto; e mais quatro foram podem ser esperadas em um período de quatro ou cinco anos: inteligência coletiva, laboratórios móveis, ambiente pessoal de aprendizagem e aplicações semânticas. (Alguns desses termos podem ainda não estar claros, por isso o Porvir preparou um infográfico explicativo, confira abaixo).
Feito pela primeira vez no Brasil, o estudo insere um capítulo regional ao já tradicional Horizon Report, que anualmente faz previsões sobre o uso da tecnologia no universo educacional. O panorama global permitiu também comparações entre o contexto brasileiro e o internacional. Bruno Gomes, assessor de tecnologias educacionais do Sistema Firjan e participante tanto da pesquisa global quanto da nacional, ressalta alguns pontos em que nós nos distanciamos muito do mundo. “No Brasil, a gente já consegue ver o hardware, as coisas físicas em sala de aula, como o celular e o tablet. Mas falta a internet, então tudo que é feito na nuvem ou depende de uma rede boa e estabilizada vem depois”, diz.
Por isso, enquanto nos países ibero-americanos e na pesquisa global a computação em nuvem é uma realidade esperada em um ano, os especialistas brasileiros nem sequer apostaram nela para um panorama de até cinco anos. “Outra curiosidade é que, conteúdo livre, que já está acontecendo no mundo, ainda não vai acontecer no Brasil neste ano. O brasileiro ainda é apegado à autoria”, acrescenta Gomes.
Apesar das diferenças, alguns pontos são comuns em todas as partes do mundo, principalmente no que diz respeito aos desafios encontrados. “Formação de professores é um problema para o mundo”, ressalta Gomes. No relatório divulgado durante o evento Conecta 2012, que terminou hoje, os especialistas destacam também outra relevante coincidência entre o que esperam ver no Brasil e o que está posto no mundo. “Os 30 membros do conselho deste projeto concordaram com o conselho global em relação à tendência mais importante. Eles perceberam as portas se abrindo nas escolas de educação básica no Brasil para modelos de aprendizado híbrido e colaborativo”, afirmam os autores do relatório.
Fonte: Portal Porvir

TECNOLOGIAS DE SALA DE AULA – ESPECIALISTAS INDICAM FERRAMENTAS QUE ESTARÃO NAS ESCOLAS ATÉ 2017

 
1 ano ou menos – Polarização de dispositivos

ü  Ambientes colaborativos;
ü  Espaços online que visam facilitar a colaboração e o trabalho em grupos. Nesse tipo de ambiente, a interação acontece independente de onde os alunos estejam;
ü  Aprendizagem baseada em jogos;
ü  Interação de jogos nas experiências educacionais; os benefícios têm se comprovado em desenvolvimento cognitivo, colaboração, solução de problemas e pensamento crítico;
ü  Celulares: Especialmente quando se fala em smartphones, são o ponto de convergência de muitas tecnologias; permitem acesso a um volume muito grande de informações na palma da mão;
ü  Tablets: Como os celulares, têm a facilidade da mobilidade e possibilitam aulas dentro e fora da escola. Dispositivos aumentam o leque de recursos pedagógicos.

2 a 3 anos – Uso dos softwares
ü  Redes;
ü  Investimento em banda larga para grandes eventos esportivos e o maior número de smartphones facilitam acesso rápido, barato e fácil a todos os tipos de informação;
ü  Geolocalização;
ü  Ferramentas recentes permitem a determinação da localização exata de objetos físicos, além da combinação com dados sobre outros eventos, objetos ou pessoas;
ü  Aplicativos móveis;
ü  Nova indústria de desenvolvimento de softwares cria um universo de novas possibilidades educacionais, com compartilhamento de descobertas em tempo real;
ü  Conteúdo aberto;
ü  Conteúdo disponibilizado gratuitamente, via web, dá acesso não apenas à informação, mas ajuda no desenvolvimento de habilidades de pesquisa, avaliação e interpretação.
 
4 a 5 anos – Apropriação dos softwares
ü  Inteligência coletiva;
ü  Conhecimento existente nas sociedades ou em grandes grupos. Como hoje a produção de conhecimento não é mais um monopólio, várias redes são criadas cotidianamente;
ü  Laboratórios móveis;
ü  A tecnologia facilitou que pesados equipamentos, antes disponíveis apenas em bons laboratórios de ciências pudessem ser inseridos em simples celulares;
ü  Ambiente pessoal de aprendizagem;
ü  Formado por uma coleção pessoal de ferramentas montadas para apoiar seu próprio aprendizado; lista é organizada de forma independente e é focada em objetivos individuais;
ü  Aplicações semânticas;
ü  Aplicativos que organizam informações de várias fontes e fazem associações entre elas, apresentando o resultado de forma atraente ao usuário.
Fonte: Portal Porvir

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Fim do elitismo

Se é possível despertar em jovens de comunidades pacificadas do Rio de Janeiro sem conhecimento musical o interesse por Bach, Beethoven, Chopin e ensiná-los a tocar as composições dos grandes mestres, isso é a prova de que a música clássica, assim como a popular, está chegando aonde o povo está. Só que, em muitos casos, os alunos no lugar de aprenderem com instrumentos de cordas feitos por lutier, por exemplo, essas crianças e jovens lançam mão de diferentes materiais para construir seus próprios instrumentos musicais. Lixo reciclável despejado desordenadamente pelas ruas da cidade tem ganhado vida nova ao ser transformando em instrumentos de percussão e de corda e até mesmo em teclados.
É o que acontece no projeto “Reciclagem, Misancén e Música”, uma criação do músico, ator, escritor, cineasta, psicanalista e pesquisador Marcelo Gularte.
A ideia surgiu quando ele precisou superar a perda do irmão assassinado, há alguns anos, numa tentativa de assalto, em Jacarepaguá. Indignado com a violência urbana, ele não quis esperar das autoridades a solução para o fim da sua perda familiar. Gularte foi à luta e arquitetou um plano pacífico para se vingar. — Eles aqui são livres para entrar e sair. Há uma metodologia que é flexível e humanizada, focando caso a caso. Todos têm suas particularidades que são respeitadas. Aqueles que querem firmar um compromisso encontram apoio total para desenvolver suas aptidões criativas.
É importante que eles mesmos descubram isto e se sintam estimulados a vivenciar a arte — conta Gularte. — Focamos no simples que vira útil, quem aprende a reciclar o que estava no lixo, abandonado, sem função e sem futuro, um dia percebe que com vontade, alguma habilidade e informação a gente consegue mudar os objetos, as ideias, os comportamentos e as pessoas.
Em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, Gularte está implementando outros quatro núcleos do projeto em vilas olímpicas, beneficiando cem moradores de comunidades como as do Complexo do Alemão, de Acari e do Mato Alto.
A iniciativa foi apadrinhada pelo multiinstrumentista Hermeto Pascoal e pelo compositor e Educador Luiz Carlos Csekö. Mas foi com o advento de um prêmio recebido através do Ministério da Cultura em 2010, que o projeto firmou uma base sistemática em seu local de origem, a comunidade do Mangueiral, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro. — Estamos conseguindo abranger um número interessante, mas ainda não é suficiente. Conto com o apoio na produção de amigos queridos, como a artista plástica, Educadora e atriz Lenita Arêas, os Educadores, o lutier Mauro Matias e o músico Allan Santos. Nossa oficina esta atendendo atualmente duas turmas, cada uma delas com 20 Alunos. São crianças, jovens e adolescentes.
As oficinas ocorrem às segundas, quartas e sextas, na sede da associação de moradores. Todos são bem-vindos — diz. Com a pacificação, projetos desse tipo puderam adentrar territórios antes inacessíveis por conta da violência urbana. — Hoje temos vários núcleos, cada um com sua orquestra — comemora a violoncelista Fiorella Solares, viúva do maestro David Machado, idealizador do projeto “Orquestra Infanto-Juvenil das Comunidades Pacificadas”. — Há também um conjunto de violoncelistas que possui dez integrantes. Temos, além disso, um sexteto de cordas que surgiu do núcleo da Tijuca, que fica no Morro dos Macacos.
 Fonte: O Globo (RJ)

Educação para quê?

A Galleria del" Accademia, de Florença, exibe muitas obras-primas da criação artística universal. A mais famosa delas é o Davi de Michelangelo (1475-1564). Perto dele estão outras esculturas, do mesmo artista, que me chamaram mais a atenção. São cinco peças aparentemente inacabadas, em que figuras humanas estão emergindo do bloco de mármore ao qual pertencem. Elas não são obras incompletas. Michelangelo deixou-as assim de propósito. São a ilustração mais vivida da concepção que ele tinha sobre o seu ofício. Michelangelo entendia que o escultor não era o criador da escultura: sua função seria apenas libertá-la do bloco de mármore que a aprisionava. Ele dizia poder visualizar perfeitamente a obra acabada ao olhar para o bloco de mármore, e sua função seria apenas “revelar aos olhos dos outros aquilo que os meus já veem”.
Nesta coluna falo bastante sobre Educação, seus problemas e o que precisamos fazer para melhorar, mas acabo não sendo explícito sobre a finalidade da Educação que defendo. É verdade que a Educação é fundamental para o desenvolvimento econômico, e que o país precisa de Escolas melhores para crescer. Mas toda formulação macro depende de uma explicação micro, que apresente a lógica no nível do indivíduo. Ninguém vai à Escola porque quer que seu país se desenvolva, nem mesmo para ter uma carreira melhor no futuro uma criança de 7 anos não faz projeções de prazo tão longo nem, quando mais crescida, permanece em uma Escola chata e frustrante. Pessoalmente, estou com Michelangelo. Acho que a boa Escola, o bom Professor, liberta o Aluno e faz com que ele possa desenvolver suas potencialidades e sonhos até os limites impostos pelo ambiente. Deixe-me elaborar.
Todos nascemos com um nível de inteligência geral (que a pesquisa chama de “g”) cujo potencial é definido por nossos genes e posteriormente moldado por fatores do ambiente a que somos expostos (há uma enorme discussão acadêmica sobre quais os pesos da genética e de fatores ambientais na inteligência final do adulto. Não sou competente para resumir essa literatura aqui, mas há um consenso de que não se pode entender a inteligência humana sem levar em consideração tanto fatores genéticos quanto ambientais e a interação entre eles). Alguns de nós (ou todos nós, se você acredita em Paulo Coelho) nascemos com talentos não relacionados com a inteligência tradicional (lógico-dedutiva), como o talento musical. esportivo, interpessoal. comunicativo e outros.
A combinação dos fatores genéticos com um ambiente ideal, estimulante, traça o limite para o progresso de cada pessoa ao longo de sua vida. Depois da concepção do embrião que dará origem à criança, esse limite máximo vai sendo reduzido pelas dificuldades da vida. Hoje sabemos que, se a futura mãe fuma, bebe ou passa por episódios agudos de stress durante a gravidez, seu filho terá danos para toda a vida. Depois do nascimento, há uma série de variáveis que conspiram para que o horizonte de possibilidades seja rebaixado. Algumas de ordem familiar pais castradores, distantes ou irresponsáveis, que traumatizam seus filhos , outras de natureza totalmente aleatória (não adianta ter a genética para o surfe se o sujeito nasce no interior da Sibéria, por exemplo). Há diversas instituições que podem contribuir para que uma pessoa atinja seu pleno potencial. A Escola é, disparado, a mais importante delas.
A função primeira da Escola é dar a seus Alunos os instrumentos de que necessitam para navegar no mundo: o domínio básico da escrita e das operações matemáticas. Sem elas, é impossível funcionar de maneira autônoma. Depois, a Escola precisa transmitir aos Alunos uma vasta base factual, expondo-os ao conhecimento acumulado pela humanidade. Não apenas porque esse conhecimento é indispensável para o desenvolvimento do raciocínio (falo mais sobre isso em artigo futuro, sobre neurociência), nem porque, se bem ensinado, é intelectualmente estimulante, uma vez que crianças são naturalmente curiosas, mas também porque essa exposição é necessária para que demos às crianças a chance de ter contato com suas reais vocações. Talvez uma criança nasça com o potencial de se tornar um médico extraordinário, mas precisará de algum contato com a biologia para facilitar o encontro com a sua vocação. Claro, não podemos ensinar na Escola todos os milhares de especializações do conhecimento humano, mas precisamos abordar as grandes áreas nas quais esses conhecimentos estão inseridos (genericamente: linguagem, matemática, ciências sociais, humanas e exatas, artes e Educação física). Finalmente, a boa Escola precisa fazer com que os Alunos possam usar esses diversos conhecimentos como ferramenta para desenvolver sua própria capacidade de pensar. Não é importante estudar história para saber nomes e datas, mas sim ser exposto a nomes e datas para que se perceba como o estudo da história pode explicar o presente. Quanto mais ferramentas analíticas a pessoa tiver à sua disposição, melhores serão suas decisões, e mais próximo de seu máximo potencial ela vai chegar. Por isso é que mesmo o Aluno que sabe que vai ser advogado deve estudar química: se bem ensinada, é mais uma ferramenta para ajudá-lo a pensar. Uma boa Educação gera multiplicidade: de interpretações e de opções.
Um mau sistema educacional gera bloqueios, limites. A má Escola é como o mau escultor: ela vai deixando tantas arestas, com tantos pedaços de mármore cobrindo a forma original, que ao fim do processo já nem é possível divisar a linda escultura que há dentro daquele bloco de pedra.
O problema da Educação brasileira não é apenas relevante porque priva o país de riquezas e desenvolvimento. Riqueza não é um fim, é um meio. A finalidade da vida é a felicidade, a plenitude. E é isso que nos é roubado ao termos um sistema educacional tão incompetente: a cada dia, milhões de brasileiros ficam mais e mais longe do limite de suas realizações, da concretização de seus projetos. Quantos brilhantes escritores não estamos perdendo entre todos os Analfabetos funcionais que saem de nossas classes de português? Quantos futuros médicos, advogados e engenheiros tiveram de sacrificar seus sonhos e viver uma vida apequenada porque não conseguiram entrar em uma universidade? Milhões e milhões, certamente.
Não é fácil aceitar que o papel da Educação é a libertação do potencial de cada indivíduo. Presume aceitar que somos diferentes, com capacidades distintas e possibilidades idem. Requer que se admita que a Escola não pode criar o novo homem, moldar o Aluno. O Professor pode apenas dar asas ao Aluno para que alce voos mais altos, não determinar o local de chegada. No Brasil, crê-se que um sistema educacional justo é aquele que entrega, ao fim do processo, as mesmas esculturas, como se todos os mármores tivessem as mesmas origens e aspirações. Para chegar a esse nivelamento, o único caminho possível é a equalização por baixo, a chegada ao mínimo denominador comum. Se aceitamos as diferenças como inerentes à condição humana, percebemos como a busca pela igualdade é a mais atroz das formas de injustiça. Que em 2013 sejamos mais eficazes ao impedir essa mutilação silenciosa das nossas crianças. São os meus votos para o novo ano.
Fonte: Revista Veja

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O corpo no Ensino Infantil

Antes mesmo de as crianças aprenderem a falar ou andar, suas vontades e seus sentimentos podem ser compreendidos por meio da linguagem corporal. Essa forma de comunicação não verbal pode ser muito explorada em sala de aula durante o Ensino infantil como forma de potencializar o aprendizado de forma lúdica e propícia à faixa etária dos pequenos estudantes. A linguagem corporal se expressa de diversas formas. Os gestos e a postura dos indivíduos podem expressar uma variedade de sentimentos e pensamentos.
Até mesmo a voz pode ser considerada um gesto, uma vez que é possível valer-se da sua entonação para expressar ideias diferentes. Pense, por exemplo, em um bebê que ainda está balbuciando as primeiras palavras. Estudos de neurolinguística evidenciam que quando a criança começa a apontar objetos com uma intenção orientada, esse é o primeiro indício de que a comunicação verbal está prestes a surgir. O poder da linguagem corporal é imenso. As atitudes corporais, sejam elas de qual natureza forem, são muito fortes e próximas do que a personalidade do indivíduo é de fato. Por essa razão, a não ser que a pessoa seja treinada para isso (em aulas de teatro, por exemplo), é pouco provável que ela consiga dissimular suas emoções e seus sentimentos mais verdadeiros.
Outra peculiaridade importante diz respeito ao reforço ou à negação do que está sendo dito pela comunicação verbal. Se a linguagem corporal é um processo intencional ou não ligado às experiências, sentimentos e atitudes dos indivíduos, não há como não correlacioná-la ao outro e ao ambiente. Percebemos que a relação do indivíduo com o corpo surge no momento do seu nascimento e é amadurecida por meio das situações vividas por ele ao longo da vida. Como a Escola faz parte de um momento muito importante da formação da pessoa, não temos como negar seu papel no desenvolvimento da relação entre a criança e o corpo. Muitas instituições já entenderam que é preciso estimular a corporeidade dos pequenos estudantes desde o Ensino infantil. Assim, as atividades do maternal ao 2° período já incluem objetivos que trabalhem o corpo como elemento cognitivo. Um exemplo disso são as cirandas. Mesmo tradicional, a brincadeira de roda pode ganhar diferentes propostas educacionais quando os Educadores estimulam as crianças a brincar variando o sentido da formação da roda. Ao inverter o sentido clássico do jogo, as crianças criam uma nova relação com o espaço e com o seu corpo, o que incute nelas uma noção mais ampla de sua corporeidade, reforçando o aprendizado intrínseco à brincadeira.
Potencializar o aprendizado e a relação com o corpo só é possível com incentivo dos Educadores. Durante muitos anos o corpo esteve presente em sala de aula, mas nunca foi considerado como elemento cognitivo. Hoje, a necessidade de profissionais capacitados para lidar com as novas necessidades do Ensino infantil é grande e urgente. Os novos Professores dessa faixa etária devem estar plenamente atualizados sobre a necessidade de envolver todo o potencial do Aluno enquanto indivíduo em seu processo de aprendizagem. Crianças estimuladas a lidar bem com o seu corpo desde a infância chegarão à juventude mais adaptadas às atividades orais, o que as tornará profissionais com domínio da oratória e de sua postura no mercado de trabalho.
Fonte: Estado de Minas (MG)

"Não podemos cometer os erros de outros países com os royalties para a Educação"

A medida prevê que 100% dos royalties dos contratos futuros de exploração de petróleo sejam destinados à educação. Até 2020, o montante pago pelas empresas em royalties deve dobrar, para R$ 54 bilhões. Hoje, o Brasil gasta cerca de R$ 200 bilhões em educação. Mercadante diz que é preciso aproveitar a riqueza do petróleo para preparar o País para a sociedade do conhecimento. “É isso que dá maior competitividade ao País e gera empregos melhores”, afirmou à DINHEIRO.

DINHEIRO – Qual é a importância, para a educação, da destinação de 100% dos royalties do petróleo?
ALOIZIO MERCADANTE – O debate ainda está aberto, vai depender do Congresso Nacional. O petróleo é uma riqueza não renovável e o melhor destino para esses recursos é a educação. Usar os royalties para a educação ajuda a preparar o País para a sociedade do conhecimento, ajuda a dar sustentabilidade ao desenvolvimento. Já somos a sexta maior economia mundial. Temos de gerar mais valor agregado e para isso precisamos investir em pesquisa e desenvolvimento, o que depende da educação.

DINHEIRO – Para onde irão esses recursos?
MERCADANTE – A lei prevê que toda a receita do pré-sal irá para um fundo soberano, no Exterior – para evitar a desvalorização do real –, e que metade do rendimento desse fundo vá para a educação. Todos os royalties dos contratos futuros nas áreas de concessão, que são os poços que não ficam no pré-sal, serão integralmente destinados à educação. Tanto a parte da União quanto a dos Estados e dos municípios. O fundo vai crescer rapidamente.

DINHEIRO – Qual é o volume de recursos estimado?
MERCADANTE – Não sabemos exatamente, mas os recursos para a educação vão aumentar muito nos próximos anos. Hoje, os royalties e as participações especiais somam R$ 27 bilhões. Esse volume deve dobrar em 2020 e parte desses recursos, que vem dos novos contratos, precisa ser destinada à educação. Hoje, o município que mais recebe recursos de petróleo, que é Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, tem o pior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Estado. Outros municípios que também recebem muitos recursos, como Macaé, também têm o Ideb baixo. Não estamos usando esses recursos com uma visão estratégica.

DINHEIRO – Quais países são exemplos a serem evitados e quais devem ser seguidos no bom uso dos recursos do petróleo?
MERCADANTE – Iraque, Irã, Arábia Saudita e Líbia são grandes produtores de petróleo e são prisioneiros da “doença holandesa”. Quando a Venezuela descobriu o petróleo, nos anos 1970, o economista Celso Furtado escreveu que poderia ser o primeiro país a romper o ciclo de subdesenvolvimento. Na mesma época, a Noruega descobriu petróleo. A Venezuela não conseguiu diversificar sua economia, não conseguiu dar um salto de desenvolvimento. Criou uma cultura parasitária. Já a Noruega tem um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano do mundo. É uma exceção entre os grandes produtores de petróleo. Não podemos repetir os erros dos outros. Mas, em vez de pactuar por um projeto de futuro, já estamos vendo no Brasil um acirramento da disputa por esses recursos.

DINHEIRO – O sr. teme que o Congresso derrube o veto da presidenta Dilma no projeto de divisão dos royalties?
MERCADANTE – Espero que os parlamentares compreendam a importância da mudança, já que ela preserva os contratos atuais e só muda os futuros. A nova lei retira receita da União e dos Estados e municípios produtores e aumenta a receita dos não produtores. Mas, se o Congresso derrubar o veto, vou continuar a minha luta para que a educação tenha mais recursos. O Plano Nacional de Educação (PNE), que está no Senado, dobra os recursos e cria várias metas, como aumento de creches, de vagas, escola em tempo integral. Mas não definiu uma única fonte de financiamento. O risco é o PNE virar o Protocolo de Kyoto, com o qual todo mundo concorda, mas ninguém cumpre.

DINHEIRO – A obrigatoriedade de a Petrobras entrar em todos os projetos do pré-sal, num momento em que já tem dificuldades de tocar o seu plano de investimentos, não será um fardo para a empresa?
MERCADANTE – Se olharmos a história da Petrobras sob essa ótica, ela nunca teria sido criada. Hoje a Petrobras é a empresa com maior competitividade no setor, com tecnologia altamente sofisticada. Sendo a única operadora, ela terá mais controle sobre a tecnologia e será cada vez mais eficiente.

DINHEIRO – Mas ela terá de desembolsar um volume de recursos muito elevado.
MERCADANTE – Mas é muito menos do que se tivesse de competir com outras empresas. A Petrobras vai investir em tecnologia, o que é importante para o País. Hoje 25% dos investimentos brasileiros vão para a cadeia de petróleo e gás. O regime de partilha aumenta, ainda, a participação do Estado na receita.

DINHEIRO – Muitas empresas têm hoje dificuldade para contratar alguns profissionais qualificados. O que o Ministério da Educação está fazendo para resolver isso?
MERCADANTE – Lançamos o Programa Nacional de Ensino Técnico (Pronatec), que alcançou dois milhões de alunos em um ano. Na última década, ampliamos em 150% o número de matrículas no ensino superior, induzidas pelo ProUni, de bolsas de estudo, e pelo Fies, de financiamento estudantil, com 500 mil contratos de financiamento subsidiado. As universidades federais aumentaram o número de vagas de 300 mil para um milhão. Nossa pesquisa também mostra que aumentou a qualidade das escolas brasileiras nos últimos anos.

DINHEIRO – Ainda faltam engenheiros no Brasil, o que afeta diretamente a produtividade das empresas.
MERCADANTE – Já estamos aumentando o número de vagas nas escolas. Entre os alunos do Fies, por exemplo, o número de estudantes de engenharia aumentou de 6% para 9% do total. Agora estamos trabalhando para tentar reduzir a evasão, que ocorre porque o aluno consegue emprego no meio do curso, ou porque tinha deficiência no ensino de física e matemática e não consegue acompanhar. O programa Ciência Sem Fronteiras, de bolsas de estudo no Exterior, está focando nas áreas tecnológicas e de engenharia. Isso vai gerar inovação e competitividade na economia.

DINHEIRO – Como está o acordo com Portugal e Espanha para trazer engenheiros de lá?
MERCADANTE – Há um acordo para reconhecer os diplomas, para atrair profissionais qualificados. Estamos negociando, exigindo reciprocidade.

DINHEIRO – Apesar do aumento do acesso ao ensino superior, o Brasil ainda vai muito mal nos rankings de educação.
MERCADANTE – Não. O Brasil hoje tem 13% da produção científica mundial.

DINHEIRO – Mas o País tem poucas patentes, que é o que importa para a indústria.
MERCADANTE – É verdade, ainda temos poucas patentes. No mundo, dois terços das patentes são gerados no setor privado. No Brasil, dois terços são gerados no setor público, por universidades, institutos de pesquisa. O setor privado precisa ter a cultura de inovação. Durante anos, o empresário brasileiro achava que modernizar era comprar uma máquina nova, em vez de buscar novos processos. Hoje o Movimento Empresarial pela Inovação, criado pela Confederação Nacional da Indústria, tem um fórum que reúne as maiores empresas brasileiras, e o governo está ampliando fortemente o orçamento para inovação com a Financiadora de Estudos e Projetos e os incentivos da Lei do Bem.

DINHEIRO – As empresas sempre reclamam que a Lei do Bem, que dá benefícios fiscais para a inovação, é pouco utilizada porque os projetos não são aprovados. Por quê?
MERCADANTE – É um incentivo fiscal que tem risco, por isso é preciso certo rigor no projeto. A universidade está muito distante do mundo da produção. Os empresários têm pouco apetite para inovação. Mas eles sabem que para ser competitivo é preciso avançar nessa direção. O governo está implantando a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial. Estamos mandando mil professores do Senai e mil das universidades federais para o Instituto Franz Rolf, na Alemanha, para intercâmbio de aprendizado.

DINHEIRO – E a posição do Brasil nos rankings internacionais, que sempre colocam o País como lanterninha no mundo?
MERCADANTE – O Programa de Avaliação da Organização para Cooperação e Desen­volvimento Econômico, no qual o Brasil está na 54ª posição entre 65 países, tem muitos problemas de metodologia. A China, que está em primeiro lugar, participa com apenas 26 escolas de Xangai, enquanto nós participamos com o Brasil inteiro, com escolas escolhidas por eles. Fomos o terceiro país que mais evoluiu.

DINHEIRO – Como está o uso dos tablets nas escolas?
MERCADANTE – Estamos priorizando o ensino médio. Primeiro, os professores, porque os alunos já estão acostumados com a tecnologia. Temos 600 mil professores, e 170 mil não têm formação nas disciplinas correspondentes, principalmente física, química e matemática. Já temos cinco mil tablets em projetos piloto e, no próximo ano, os tablets começam a chegar às salas. O aparelho que estamos entregando vem com projetor digital e permite que o professor use em sala o material que produzimos e que pode ser acessado pela internet. É inconcebível que o professor não possa usar a rede para preparar uma aula.
Fonte: Revista Isto É Dinheiro