sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Seus formandos terão emprego? - PARTE 1

O estudo "Desconectados – Habilidades, Educação e Emprego na América Latina", publicado em março deste ano pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), revela que há uma grande defasagem nas habilidades aprendidas nas escolas latino-americanas em relação àquelas que o mercado de trabalho requer dos jovens com nível médio completo, como responsabilidade, comunicação e criatividade.
Elaborado por Marina Bassi, Matías Busso, Sérgio Urzúa e Jaime Vargas, o documento foi feito com base em duas pesquisas com jovens de nível médio e empresas que absorvem pessoas egressas do ensino secundário sediadas na Argentina, no Brasil e no Chile.
A situação de trabalho dos jovens, de acordo com o estudo, piorou. Foi constatado que a cobertura do sistema educacional aumentou, mas a qualidade não acompanhou a expansão, seguida por significativa redução dos salários de trabalhadores com instrução secundária, níveis de desemprego historicamente altos, além da participação baixa e estagnada no mercado de trabalho. Verificou-se ainda salários praticamente sem crescimento há três décadas e informalidade crescente.
Por outro lado, a maioria das empresas dá prioridade às habilidades “socioemocionais ou flexíveis relacionadas à personalidade”. As companhias entrevistadas atribuíram em média 55 pontos a essas habilidades, contra 30 pontos referentes a conhecimento e apenas 15 pontos relativos ao conhecimento técnico das tarefas a realizar, conhecidas como habilidades específicas.
Cerca de 80% das empresas pesquisadas informaram que as habilidades mais difíceis de encontrar são aquelas relacionadas ao comportamento, como empatia, adaptabilidade, cortesia, responsabilidade e comprometimento. Pelo menos 30% das companhias consideram que a formação recebida na escola secundária não é suficiente para o desempenho das tarefas requeridas.
Segundo Marina Bassi, “os jovens da região que decidem procurar emprego depois de terminar a escola secundária começam em desvantagem. Infelizmente, a escola não lhes dá as ferramentas que o mercado de trabalho pede, e eles enfrentam uma realidade em que não conseguem progredir”, afirma.
 
Influência
Segundo a presidente do Grupo DMRH, Sofia Esteves, até a década de 1970 os processos seletivos eram baseados na indicação. “As empresas acreditavam que se o pai fosse um bom funcionário, ou se a indicação viesse de um bom funcionário, o candidato teria rendimento condizente”, explica.
Na década de 1980, o conhecimento técnico, representado pela experiência, tornou-se o diferencial. Contudo, os jovens sofriam para entrar no mundo do trabalho, pois deveriam ter experiência, mesmo em início de carreira. O reflexo disso, segundo Sofia, veio na década seguinte, com a valorização do vestibular e da qualidade na formação, quando algumas empresas limitavam os processos seletivos a determinadas escolas ou universidades.
Na década de 2000, as competências comportamentais ganharam importância nas seleções, dando oportunidade a jovens de várias origens e escolas, e o inglês foi um fator determinante na seleção. “Na década corrente, descobriu-se que não adianta [o jovem] ser inteligente ou ter experiência, formação em faculdade de primeira linha e todas as competências comportamentais se [sua] filosofia de vida e valores não forem os mesmos que a empresa acredita”, afirma.
Em 2010, segundo a consultora, as características que mais reprovaram candidatos jovens nas etapas iniciais de seleção foram a deficiência em capacidade de análise e a sustentação da opinião pessoal. Se a pessoa não consegue elaborar uma análise crítica e se aprofundar em um determinado tema, não conseguirá colocar seu ponto de vista e argumentar bem: “os jovens de hoje em dia sabem muito pouco de quase tudo e não têm segurança de entrar numa discussão profunda, algo de que as empresas estão carentes”, revela.
Fonte: Revista Gestão Educacional

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