terça-feira, 31 de julho de 2012

Taxa de alfabetização plena no Brasil está estagnada há 10 anos

Em dez anos, o índice de Analfabetismo no Brasil caiu pela metade. Mas se no entendimento básico de português e matemática o país conseguiu avançar, no domínio pleno ele está estagnado. Segundo dados do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011-2012, pesquisa produzida pelo Instituto Paulo Montenegro e a organização não governamental Ação Educativa, o porcentual da população que consegue desenvolver atividades mais complexas, como interpretar textos longos, comparar informações e interpretar tabelas, mapas e gráficos, se manteve no ano passado com os mesmos 26% registrados em 2001.
Para Educadores, o problema está essencialmente na falta de qualidade do Ensino. Com Professores mal formados e uma Escola despreparada para focar na dificuldade de aprendizado, os Alunos não conseguem avançar nos estudos e deixam a Escola dominando apenas a leitura de textos curtos e médios, e operações simples de matemática, que não envolvem mais de uma etapa.
Essa falta de preparo do Docente tem duas causas: a facilidade para ingressar nos cursos de licenciatura e uma formação defasada, que não faz o Professor levar em conta as diferentes realidades do Aluno na hora de ensinar. No primeiro caso, como os cursos de formação de Professores são pouco concorridos e os salários da carreira muito baixos, a profissão atrai estudantes menos preparados, que tiveram péssima formação no Ensino básico.
Para complicar, os Docentes não conseguem passar o conteúdo de forma atrativa, que permita ao Aluno perceber para que serve o que está aprendendo. Isso ocorre em países modelos em Educação, como a Finlândia, que foca no Ensino que leva em conta características individuais.
“Por isso, nos últimos anos do Ensino fundamental e nos primeiros do Ensino médio, quando justamente os assuntos são mais densos e multidisciplinares, o currículo deixa de ser atraente e o Aluno não vê sentido em frequentar a Escola”, avalia a psicopedagoga e Professora do departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Evelise Portilho.
Prova disso é que os índices de aproveitamento de matemática e leitura não evoluíram nessas séries. Eles são os mesmos há 13 anos e ficam em torno de 14%, de acordo com dados do programa Todos Pela Educação. Um de seus conselheiros, o Professor Mozart Neves Ramos, explica que os esforços do governo se concentraram em trazer mais gente para a Escola e aumentar os anos de estudo, que saltaram de uma média de 5 para 7,2 anos, mas deixaram de lado o desempenho, principalmente nos conteúdos mais difíceis.
Outro fator que contribui para a má qualidade do Ensino é a falta de uma formação continuada adequada para o Professor. Embora governos federais e estaduais ofereçam programas de capacitação aos Docentes, eles não só são fracos e insuficientes como muitas vezes não são levados a sério. “Os que efetivamente se interessam pelos cursos são os Docentes bons, que são a minoria. O resto está lá para conseguir o diploma e ser promovido e não para aprender”, diz o consultor educacional Renato Casagrande.

Baixa repetência mascara Ensino de má qualidade
Se a baixa qualidade do Ensino brasileiro é percebida pelos índices de domínio pleno, ela é mascarada por outros indicadores, como a reprovação. Ou seja, enquanto 65% da população com Ensino médio não é plenamente alfabetizada, apenas 13,1% reprovam nessa etapa.
Para os Educadores, a situação é reflexo de uma opção do Ministério da Educação (MEC) que se concretizou na redução da média para aprovação e recuperação bimestral no lugar da anual em aprovar o Aluno para reduzir os índices de evasão em vez de se preocupar com qualidade e efetividade do aprendizado. Com uma média baixa para ser aprovado (nota 5), muitos Alunos passam de ano sem aprender. “Vamos empurrando o estudante de uma série a outra para engordar os índices dos que concluem a Escola, mas eles saem sem aprender, sem qualquer domínio”, diz o consultor educacional Renato Casagrande.

Desilusão
A doméstica Aparecida Bon­­­fim é um exemplo de que aprovação não significa domínio do conhecimento. Há dez anos, ela, que tinha abandonado os estudos na antiga 3.ª série, voltou a estudar. Em pouco tempo, estava no Ensino médio. “Os Professores me aprovavam, só que eu não sabia nada. Na minha sala todos colavam, mas não me sentia confortável com isso. Queria aprender de verdade, mas não consegui.” Ela lembra que até em inglês, disciplina da qual não sabia uma palavra, foi aprovada. A falta de seriedade levou Aparecida a largar os estudos mais uma vez. 

Universidade
A falta de domínio pleno da língua portuguesa e da matemática também atinge os universitários. Os dados do Indicador de Alfabetização Funcional (Inaf) revelam que 38% deles não detêm habilidades básicas de leitura e escrita. A principal causa está na universalização do Ensino superior, que facilitou o ingresso na universidade com a ampliação da oferta de cursos e instituições privadas de Ensino que, muitas vezes, aplicam um vestibular ruim e acabam selecionando estudantes fracos.
Além da defasagem de aprendizado, que se acumula e culmina no Ensino superior, a baixa qualidade das faculdades e universidades e as mudanças nas reações em sala de aula também contribuem para um péssimo desempenho. O diretor de Educação do Instituto Superior de Administração e Economia (Isae) e Fundação Getulio Vargas (FGV), Antônio Raimundo dos Santos, explica que hoje a estrutura Escolar está preocupada mais com o lado afetivo do que com o intelectual. “Percebo que as universidades particulares, que não conseguem separar Aluno de cliente, querem deixá-lo confortável, aproximá-lo do Professor e evitar descontentamento. Virou um ambiente de perfumaria em vez de ser desafiador.”
A baixa cobrança se reflete em pouca leitura que, aliada ao uso intenso da internet, torna o conhecimento descartável. Segundo Santos, se o Professor decide exigir mais, o estudante reclama e acha ruim. Quando chega na formatura, muitos não dominam nem 10% de tudo que foi visto em quatro ou cinco anos de graduação.
Gazeta do Povo (PR)

O desafio da alfabetização plena


A publicação do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011, pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro/Ibope e pela Ação Educativa, evidencia um triste diagnóstico cujo conhecimento é de fundamental importância para mobilizar a sociedade a desenvolver estratégias que superem esse grave problema: o aumento de Escolarização, embora tenha sido essencial nas últimas décadas, não foi suficiente para assegurar a Alfabetização plena.
A análise da série histórica do estudo, que vem sendo realizado periodicamente nos últimos dez anos, mostra que apenas um em quatro brasileiros atinge nível pleno nas habilidades de leitura, escrita e Matemática. Ou seja, é capaz de ler e interpretar textos mais longos, analisar e relacionar suas partes, realizar inferências e sínteses, além de resolver problemas que exigem maior planejamento e controle.
Além disso, apesar de ter ocorrido uma redução do Analfabetismo absoluto e da Alfabetização rudimentar, só 62% dos que têm curso superior e 35% dos que têm Ensino médio completo estão no patamar dos plenamente alfabetizados. Em ambos os casos, essa proporção é inferior à observada no início da década.
O Inaf também revela que um em cada quatro brasileiros que cursam ou cursaram até o Ensino fundamental II ainda está classificado no nível rudimentar, sem avanços em todo o período, ou seja, consegue ler apenas textos curtos e fazer operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias.
Olhar a estagnação dos dados de plena Alfabetização entre 2001 e 2011 nos permite vislumbrar a situação de uma geração: são poucas as chances de um jovem que concluiu o Ensino médio ter alterado na última década sua proficiência linguística, adquirindo, assim, condições para se desenvolver no mundo profissional e social e desfrutar todas as possibilidades de uma sociedade que exige cada vez mais capacidade de expressão e de absorção de conhecimento.
Importante valorizar a mobilização crescente que envolve os setores público, privado e as organizações sociais para que a Educação pública se torne prioridade nacional, o que já está dando frutos. A ampliação do acesso ao Ensino fundamental, a crescente inserção de programas de Educação integral nas Escolas públicas e a utilização de sistemas de avaliação que ajudam a estabelecer metas e a mensurar resultados de aprendizado foram pontos essenciais para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes na Educação.
Divulgado na semana passada, o National Assessment of Educational Progress , estudo do Programa de Política de Educação e Governança da Universidade Harvard que analisa 49 países, mostrou que o Brasil ocupa a terceira posição no ranking daqueles em que a qualidade do Ensino mais avançou entre 1995 e 2009 (de 2000 a 2009 no caso brasileiro). Contudo os brasileiros continuam com desempenho inferior ao de países que tiveram até retrocesso na qualidade do Ensino.
Os dados resultantes dessa pesquisa convergem com os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) em 2010, em que o Brasil ocupou o terceiro lugar em crescimento entre todos os participantes. Mas não se pode esquecer que saímos do penúltimo lugar, portanto, todos os esforços ainda não podem ser considerados suficientes para oferecer a crianças e jovens brasileiros Educação pública de qualidade.
Não há dúvida de que a reversão desse quadro demanda dos investidores sociais privados sensibilidade para essa questão, tão essencial ao desenvolvimento humano. Exige ainda um olhar atento para aprofundar o entendimento dessas informações como ponto de partida para escolhas estratégicas de atuação, buscando sinergia e potencializando as intervenções, para evitar sobreposições e fortalecer áreas de ação conjunta.
A constatação de que o grande avanço na cobertura da Educação nesta década não tem representado maior aprendizado nas competências de Alfabetização plena aponta a necessidade de repensar formas de Ensino para os que frequentam hoje as Escolas públicas. Nesse ponto, institutos e fundações empresariais podem ser parceiros importantes do poder público, contribuindo com o desenvolvimento de metodologias inovadoras, aproveitando sua possibilidade de trabalhar com pequenos grupos, sem o compromisso inicial de ganho de escala.
É necessário ainda estruturar estratégias de mobilização social em favor do tema e fortalecer ações de advocacy junto ao poder público, com o intuito de contribuir para dar suporte a boas iniciativas políticas, que passam a ser respaldadas pela demanda qualificada da sociedade. Torna-se cada vez mais necessário, tendo em vista a busca por bons resultados educacionais, que os projetos sejam realizados em estreita parceria com os desenvolvedores e implantadores das políticas dessa área. Para isso é preciso repensar a forma de atuação, fortalecendo o trabalho junto às equipes técnicas das secretarias e deixando o protagonismo para as equipes responsáveis pelas Escolas públicas. Vínculo e aproximação são palavras-chave para que a iniciativa privada realmente possa contribuir para os avanços necessários.
O conhecimento dos dados do Inaf aponta para uma reorientação importante na forma de atuação do investimento social na Educação. Sendo essa a área de maior investimento privado no Brasil, a expectativa de resultados também deve ser grande. Para isso há que investir com foco em resultados, com a expectativa de gerar retorno. E o retorno social esperado do investimento na área educacional é, em primeiro lugar, a boa formação humana das novas gerações, garantido suas condições de desenvolvimento pleno. E nosso país só será plenamente desenvolvido se enfrentar seu mais importante desafio, fazendo da Educação a grande prioridade nacional.
Antonio Matias, vice-presidente da Fundação Itaú Social, in: O Estado de S. Paulo (SP)

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O impacto do ensino na competitividade empresarial

Nas ultimas décadas, o Brasil vem acumulando conquistas politicas, sociais e econômicas, saindo da condição de subdesenvolvido para o grupo dos emergentes. Ao dominar a superinflação e conquistar a estabilidade da moeda, o país iniciou a preparação do alicerce da sua trajetória para o crescimento. Enquanto países até pouco tempo atrás vistos como prósperos mergulham num estado de incerteza em relação ao futuro, a economia brasileira demonstra que adquiriu solidez, tornando-se um grande valor para a sociedade.
Para poder aproveitar o bom momento econômico e dar continuidade a esse crescimento, o Brasil precisa se desvencilhar dos antigos entraves, que atrapalham a competitividade, a eficiência e o desenvolvimento do país. Um dos principais gargalos diz respeito ao sistema educacional brasileiro, que não tem conseguido se adequar aos novos desafios e constantes mudanças no âmbito dos negócios, a fim de prover profissionais qualificados e capazes de atender as necessidades do mercado.
Em função desse cenário, as empresas já atuam globalmente para encontrar e tentar reter o melhor talento. Uma pesquisa realizada pela FNQ com executivos brasileiros, a partir da reprodução da McKinsey Global Survey 2010, mostra que a melhoria na educação, a produtividade do trabalho e a gestão de talentos estão entre as principais forcas de transformações que podem influenciar nos resultados das organizações. Quando comparadas a importância para os negócios e as ações efetivas, 94% dos entrevistados confirmam a preocupação com essas questões, enquanto 80% adotam medidas ativas para minimizar essa lacuna.
Outro estudo realizado pela Pricewaterhouse Coopers - PwC Brasil, em 2011, revela que a contratação de executivos com o perfil desejado para atender aos objetivos estratégicos e o mais difícil entre os diferentes níveis hierárquicos. Encontrar profissionais técnicos especializados tem sido outro desafio para a gestão de pessoas, o que leva muitas organizações a buscar alternativas para suprir suas necessidades de qualificação profissional e ganhar competitividade. Assim, o mundo corporativo passa a ser um dos melhores ambientes para formar capital humano, com a implantação de práticas inovadoras e a criação de programas próprios de capacitação, treinamento e desenvolvimento de talentos e novas lideranças. Mesmo saindo da sua vocação primária, de prover produtos e serviços competitivos, as empresas se juntam aos governos e as Escolas, na busca de uma solução para suprir esta lacuna educacional, compreendendo a importância de sua atuação em prol de grandes temas essenciais ao desenvolvimento do Brasil.
Cooperar e compartilhar boas práticas e iniciativas de quem já vem exercendo seu papel na formação de profissionais desponta, enfim, como um dos caminhos mais eficazes para mobilizar as demais organizações, incentivá-las a adotar ações gerenciais efetivas e comprovar que o conhecimento profissional pode contribuir para o crescimento e para a inovação corporativa, garantindo a continuidade da expansão econômica brasileira. 
Jairo Martins, superintendente-geral da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), in: Brasil Econômico (SP)

O salto necessário da Educação

A proposta que aumenta os gastos públicos com a Educação para 10% do PIB em um período de dez anos está em processo de tramitação no Senado Federal. Sem entrar na polêmica, fundamentada na inexistência de recursos disponíveis para investir o dobro na Educação pública brasileira, a intenção aqui é demonstrar a crescente relevância que o tema assume, mobilizando diversos atores na busca por mais investimento e qualidade no sistema de Ensino nacional.
Partindo para o contexto global, a Educação tem sido apontada como a grande saída para os problemas enfrentados atualmente. A erradicação da pobreza, a escassez de recursos naturais, a obsolescência do modelo econômico vigente e a falta de valores que desencadeiam crises em instituições de caráter público ou privado são alguns conflitos crônicos desta era que poderiam ser solucionados com uma formação mais voltada a valores como ética e responsabilidade corporativa. 
A Organização das Nações Unidas é uma das instituições que compartilham esse posicionamento. Durante a última Conferência da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, o tema foi debatido em inúmeros painéis dentro do Fórum de Sustentabilidade Corporativa, que reuniu mais de mil empresas no Rio de Janeiro. Dentro do mesmo evento, ocorreu o Fórum Global dos Princípios da Educação Empresarial Responsável, que integrou mais de 300 representantes de instituições de Ensino do mundo todo. Entre seus resultados, mais de 260 universidades e Escolas de negócio assinaram uma declaração se comprometendo a promover a sustentabilidade para seus diversos públicos. 
Outra ação digna de nota e que também ocorreu durante a Rio+20 foi a homologação das diretrizes curriculares nacionais para a Educação ambiental e para a Educação indígena, anunciada pelo ministro Aloizio Mercadante. Por mais que trate apenas de questões ambientais e culturais, deixando de fora outras vertentes importantes da sustentabilidade, a medida garante que crianças e jovens cheguem à universidade mais sensibilizados nestas questões.
Ainda sobre a necessidade de despertar esta consciência, o estudo Rethinking the MBA: Business Education at a Crossroads é outra prova dessa lacuna entre o Ensino e a realidade. Desenvolvido pelas principais Escolas de negócio do mundo, o documento demonstra a crença, por parte do mercado, de que os currículos dos MBAs estão aquém da demanda no que diz respeito a valores voltados à sustentabilidade. 
Assim, é preciso unir diversos fatores para a concretização desta meta. Don Tapscott, coautor de MacroWikinomics, afirma que o investimento em Educação é estratégico para o Brasil criar bases sólidas de crescimento. Voltando à questão dos recursos necessários para conseguir educar mais e melhor, Tapscott defende a internet como grande trunfo para ter mais alcance com menos custos. 
Finalmente, é preciso rever o método que vem sendo utilizado para ensinar nossos futuros líderes. Cada vez mais é preciso fugir de padronizações e avaliações míopes sobre o Ensino brasileiro e buscar o incentivo das características e competências individuais. Mais que aprendizado, nossos estudantes precisam de inspiração para agir, e assim, alcançar o que a Unesco chama de 5.° Pilar da Aprendizagem: “Aprender a se transformar e a transformar a sociedade”.
Norman de Paula Arruda Filho, presidente do Isae/FGV, in: Gazeta do Povo (PR)

domingo, 29 de julho de 2012

Reflexão sobre o ensino

Este é um desabafo de quem vê Alunos de-formados por um sistema de Ensino que nada tem a ensinar, mas muito a aprender. Embora tanto se fale a respeito do Ensino, com críticas no que diz respeito à sua qualidade, é interessante observar a passividade dos sujeitos envolvidos.
Os Alunos deixaram de ser indivíduos que têm o objetivo de buscar conhecimento. Eles apenas buscam um diploma. Deveria ser objetivo das instituições de Ensino repassar aos Alunos, além do conhecimento e da capacidade de saber fazer, noções de ética e respeito. Entretanto, as próprias instituições tratam o Aluno como cliente. E o Professor como serviçal deste cliente.
E como o cliente tem sempre razão, cabe ao Professor ser gentil, compreensivo e benevolente com o Aluno. O resultado é a criação de Alunos rebeldes, desrespeitosos, sem interesse em aprender, desafiando a tudo e a todos que tentem interromper sua caminhada rumo ao esperado diploma. Mas do que vale um Aluno formado numa instituição que o trata como cliente e a ele é servil? Será que o mercado de trabalho será assim tão condescendente com ele?
E a instituição que apoia esta inversão de valores, que está apenas interessada em números, sem pensar na qualidade do material humano que coloca no mercado? Será que este mesmo mercado, cada dia mais exigente, não cobrará o preço por este descaso?
Será que não é possível desenvolver um Ensino sério, com comprometimento com o futuro – do Aluno, da instituição, do mercado e da nação? Será que uma instituição com tal objetivo não tem lugar no mercado? Será que as exigências do mercado não trariam uma resposta positiva? Como as instituições querem ser vistas?
Se o Ensino no Brasil vai muito mal não se pode culpar apenas o investimento público. As instituições privadas deveriam mostrar através do resultado de seu trabalho a competência que tanto é cobrada do governo. Blumenau tem condições de ser um polo de excelência no Ensino: pela qualidade dos profissionais que aqui atuam, pela sua história e pela força de seu povo. A comunidade toda seria valorizada.
Charlotte Monnet, professora, in: Jornal de Santa Catarina (SC)

Para romper com o analfabetismo funcional

A recente divulgação dos dados da oitava edição do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro e pela Ação Educativa, com apoio do Ibope, oferece um painel extenso e consistente dos níveis de alfabetismo de jovens e adultos brasileiros nos últimos dez anos.
Diferentemente das estatísticas fornecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que se baseiam em dados autodeclarados, o Inaf é realizado por meio de uma entrevista e um teste, avaliando efetivamente as habilidades de leitura, escrita e Matemática de brasileiros entre 15 e 64 anos de idade, classificando-os em quatro níveis de Alfabetização: Analfabetos, alfabetizados em nível rudimentar - estes dois considerados como Analfabetos funcionais -, alfabetizados em nível básico e alfabetizados em nível pleno - considerados juntos como alfabetizados funcionalmente. É este último nível, o pleno, que precisamos universalizar, pois é a condição necessária para a inserção digna e autônoma na atual sociedade, crescentemente complexa.
Os dados revelam que o Brasil parece ainda não se ter dado conta da urgência e da gravidade dos problemas que enfrenta no campo da Educação.
Ainda que se tenha reduzido a proporção de Analfabetos funcionais e aumentado os que estão no nível básico, é preciso mais, bem mais. Nossas atenções devem estar voltadas para o nível pleno de alfabetismo - e aqui houve retrocessos preocupantes. Entre 2001 e 2011, o domínio pleno da leitura caiu de 22% para 15% entre os que concluíram o Ensino fundamental II, e de 49% para 35% entre os que fizeram o Ensino médio. Com Ensino superior, 38% não chegam ao nível pleno.
Como referência, no nível pleno estão as pessoas que conseguem ler e compreender um artigo de jornal, comparar suas informações com as de outros textos e fazer uma síntese dele. Em Matemática, as que resolvem problemas envolvendo porcentuais e proporção, além de fazerem a interpretação de tabelas e gráficos simples.
Não conseguimos avançar do básico para o pleno, nível estagnado há dez anos. Mesmo que o Inaf não seja um indicador Escolar, pesquisando até mesmo pessoas que nunca tiveram acesso à Escola, podemos atribuir parte desses resultados, justamente, à falta de acesso e à insuficiente aprendizagem dos Alunos ao longo da Educação básica. Ainda hoje não conseguimos garantir que todas as crianças e todos os jovens estejam na Escola e adquiram as habilidades esperadas em cada série em disciplinas básicas como Português e Matemática.
Tal situação evidencia a urgência de um investimento eficiente, consistente e focado nos anos iniciais. É neles que todo o problema começa, mas também é neles que a solução deve nascer.
Portanto, como sociedade, precisamos exigir que todas as crianças estejam plenamente alfabetizadas até os 8 anos de idade. Sem se perder em discussões ideológicas estéreis, sem concessões de espécie alguma. É um direito de nossas crianças, que precisa ser assegurado.
Esse é o primeiro passo, e ainda estamos muito longe de considerá-lo um patamar vencido. A Prova ABC - a primeira avaliação externa da Alfabetização das crianças de 8 anos realizada em 2011 pelo movimento Todos Pela Educação, pelo Instituto Paulo Montenegro/Ibope, pela Fundação Cesgranrio e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) - mostrou que pouco mais de metade das crianças avaliadas apresentara aprendizado adequado em leitura e escrita no final do terceiro ano do Ensino fundamental, e essa proporção cai para pouco mais de 40% em Matemática. As que não conseguem alfabetizar-se nessa etapa passam a acumular lacunas cada vez maiores, o que dificulta ou até mesmo impossibilita a sua aprendizagem nas etapas posteriores.
Dessa maneira, os dados revelados pelo Inaf 2012, somados aos indicadores produzidos pela Prova ABC, expõem o grande desafio educacional deste início do século 21: garantir a todos a Alfabetização plena, pré-requisito para a garantia do aprendizado ao longo de toda a vida Escolar de crianças e jovens.
Para mudar esse cenário é fundamental avançarmos rapidamente na agenda que deveria ter sido cumprida no século passado e romper com o descaso histórico com a qualidade da Educação, direcionando muito mais esforços para assegurar que todos os Alunos atinjam a competência em leitura, escrita e Matemática. E para isso é necessário começar pela base, desde a Educação infantil.
O Sistema de Avaliação da Educação básica (Saeb) - a avaliação bianual realizada pelo Inep para monitorar a aprendizagem no final de cada ciclo - comprova essa tese. A pontuação média em Língua Portuguesa dos Alunos do terceiro ano do Ensino fundamental que não cursaram a Educação infantil é de 169, enquanto a dos que a cursaram é de 187. Se a Educação infantil tivesse uma qualidade muito boa no Brasil, esse impacto seria ainda maior.
Todas as evidências científicas apontam para a qualidade dos Professores como fator determinante. Um bom Professor é um ótimo começo. Assim, é preciso atrair os melhores Professores para essa etapa do Ensino, os mais experientes e mais bem preparados para trabalhar com as crianças que cursam os anos iniciais. As faculdades de Educação precisam ser reformuladas, colocando o foco na aprendizagem dos futuros Alunos de seus Alunos.
É vergonhoso que o país que tem o sexto produto interno bruto (PIB) do mundo esteja entre os piores em Educação. Não obstante o Brasil conseguir acumular riquezas, não consegue distribuí-las de forma justa, e a má distribuição de renda é reflexo da Educação de baixa qualidade.
Mais do que garantir Escola para todos, é preciso universalizar a aprendizagem.
Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)

sábado, 28 de julho de 2012

Melhoria da Educação do brasileiro contribui para queda da informalidade no trabalho

A formação nem sempre é de qualidade, mas o aumento do número de anos estudados tem contribuído de forma relevante para a geração de empregos com carteira assinada. Pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), revela que 60% da queda da informalidade entre 2002 e 2009 decorrem da maior escolarização do brasileiro.
Com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os pesquisadores dividiram a queda da informalidade em dois componentes. O efeito composição está relacionado à formação educacional. O efeito nível mede os demais fatores, como crescimento da economia, expansão do crédito e medidas de estímulo pelo governo. A predominância da educação surpreendeu os pesquisadores.
“Esse resultado nos causou perplexidade, e mostra, acima de tudo, que a educação está mudando diversos aspectos da economia do país, inclusive a estrutura do mercado de trabalho”, diz Rodrigo Moura, que fez a pesquisa com o professor Fernando Holanda Barbosa Filho. O estudo considerou como trabalhadores informais apenas os empregados sem carteira assinada. Profissionais que trabalham por conta própria, como eletricistas e encanadores, foram enquadrados como trabalhadores formalizados.
Pelo critério dos pesquisadores, a taxa de informalidade entre os trabalhadores caiu de 43,6% em 2002 para 37,4% em 2009. No mesmo período, foram criados cerca de 9 milhões de empregos com carteira assinada em todo o país. Em todas as faixas educacionais, a taxa de informalidade caiu. Esse recuo está ligado ao efeito nível porque, para um mesmo nível de escolaridade, a economia criou mais empregos formais.
O efeito composição aparece ao comparar o tempo de estudo ao total da força de trabalho. De 2002 a 2009, a parcela de trabalhadores sem o ensino médio completo caiu de 66% para 53%. Nesse caso, o mero ganho de anos de estudo impulsiona significativamente a formalização, porque a proporção de trabalhadores informais é bem maior na população de menor escolaridade.
Com ensino médio completo, o vendedor Rodrigo Castro, 21 anos, trabalha em uma banca de produtos de informática na Feira dos Importados, em Brasília. Ele acredita que o estudo foi determinante para conseguir emprego com carteira assinada. “A educação não me qualificou muito bem, mas ajudou”, diz. Antes do primeiro emprego formal, Rodrigo trabalhou por cerca de um ano e meio sem carteira assinada em uma lan house no interior da Bahia.
Para Rodrigo Moura, coautor da pesquisa da FGV, depois de elevar o tempo de estudo da população, o próximo desafio do país será a melhoria da qualidade do ensino. “O Brasil hoje tem maior proporção de trabalhadores com nível médio e superior, mas o percentual de instituições privadas de ensino superior de alta qualidade é bem baixo”, diz.
Apesar da qualidade questionável de boa parte das instituições de ensino superior, a gerente de lanchonete Fernanda dos Santos, 30 anos, não pretende desistir de estudar. Atualmente no primeiro emprego formal, ela tem o ensino médio completo, mas pretende cursar administração para conseguir um trabalho melhor e se adaptar a um mercado cada vez mais exigente. “Hoje, boa parte dos empregadores só aceita quem tem nível superior”, constata.

Avanço do emprego formal é irreversível, diz especialista
Impulsionado pelo aumento da escolaridade do brasileiro, o avanço no emprego formal desde 2002 é irreversível. Na avaliação dos autores de pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), nem a atual desaceleração da economia, que tem reflexos na criação de empregos, é capaz de fazer a informalidade voltar a subir.
Segundo Rodrigo Moura, um dos autores do estudo, a educação é justamente o fator que impede o retorno dos empregos precários, por causa da conscientização em relação aos direitos trabalhistas e previdenciários. “A população mais educada aceita menos o contrato informal. Essa tendência é observada para qualquer ano em que a taxa de informalidade cai”, explica.
Com direitos previdenciários e trabalhistas assegurados por lei, quem passa por um emprego com carteira assinada não quer voltar ao mercado informal. Funcionária de uma lanchonete, Fernanda dos Santos, 30 anos, está no primeiro emprego formal. Há dois anos começou como auxiliar, mas foi subindo de posto até ser promovida a gerente. Ao comparar a experiência com o trabalho anterior, ela constata que o emprego legalizado dá segurança.
Antes da lanchonete, Fernanda trabalhou oito meses como recepcionista, sem carteira assinada, num curso de inglês, de onde foi mandada embora sem aviso prévio. “Quando você trabalha sem carteira assinada, você está entrando sem nada e, com certeza, vai sair sem nada”, constata. Outro problema de não ter carteira assinada, destaca, é a dificuldade em comprovar o tempo de experiência no trabalho. “O empregador pede o registro na carteira para verificar os trabalhos anteriores”.
O vendedor de produtos de informática Rodrigo Castro, 21 anos, também está no primeiro emprego formal e lista os benefícios do trabalho legalizado. “Trabalhar com carteira assinada tem muitos benefícios de que não posso abrir mão, como aposentadoria”, ressalta Rodrigo, que também não quer voltar à informalidade. Antes do atual emprego, ele trabalhava em uma lan house no interior da Bahia sem carteira assinada. “Não trabalharia novamente num emprego informal”, diz.
Em épocas de desaceleração da economia, como a atual, a geração de empregos formais está em queda. Segundo o Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged), do Ministério do Trabalho, 250,3 mil postos de trabalho formais foram criados no país nos cinco primeiros meses do ano, o nível mais baixo para o período desde 2009. Apesar de uma possível estagnação no mercado de trabalho, o professor da FGV acredita que não haverá reversão no processo de formalização da economia.
“Mesmo que o nível de emprego se acomode, há um fluxo muito alto do trabalho informal para o formal. Quando uma vaga de emprego informal é destruída e uma vaga formal é criada, só ocorre uma mudança entre setores, o que deve continuar”, alega.
Fonte: Agência Brasil

Cotas sim, mas para quem?

As muitas polêmicas sobre as cotas sociais, raciais, de inclusão etc. estão servindo para que a sociedade possa discutir mais amplamente a questão da Educação no Brasil. É uma possibilidade de aprofundarmos uma de nossas mais consensuais mazelas, mas que atinge desigualmente a população e, em regra, faz mal ao desenvolvimento de nosso país.
Segundo informações oficiais da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul, com base no Censo Escolar da Educação básica 2010 (MEC/Inep), 411.485 estudantes estavam matriculados em 2010 para o Ensino médio no Estado. Destes 43.912 (11,95%) em Escolas privadas e 367.573 (88,05%) em Escolas públicas, predominantemente estaduais.
Com essa informação, e tendo em vista que a UFRGS está em processo de reavaliação da política de cotas, após coincidente decisão do Supremo Tribunal Federal, de que tal política é constitucional (não fere direitos assegurados), gostaria que ponderássemos sobre a possibilidade de um erro histórico cometido pela política de cotas. Um erro basilar. Qual seja: a quem se destina tal política e a quais propósitos diz responder.
Sim, porque, na verdade, falamos de cotas (reserva de vagas a ser ocupada por determinado público, mediante determinas condições) que, no caso da UFRGS, significa reservar 30% das vagas a estudantes oriundos de Escolas públicas.
Por que 30% de vagas para estudantes oriundos de Escolas públicas? Por que não reservar 15% para estudantes provenientes de instituições privadas?
Sim, seria mais lógico, justo e possibilitador de oportunidades de ascensão social, uma proporção adequada com o número percentual de disputantes. Afinal, se menos de 15% de estudantes oriundos de Escolas privadas têm assegurada a possibilidade de disputa de 70% das vagas, estamos, apenas e novamente, reproduzindo e mantendo o status quo. Uma injustiça!
No sistema atual, embora um avanço frente aos mais de 90% antes destinados aos egressos do Ensino privado, ou de Escolas públicas autorizadas a fazer seu ‘pré-vestibular’ de ingresso (selecionando os ‘mais aptos’ a manter a ‘excelência’ da instituição), ainda se dá privilégio a uma minoria da sociedade. Uma minoria, que por inúmeras razões, não precisa de privilégios, pois já os têm. Não necessita ser ainda mais apoiada pelo dinheiro público, mas também não pode ser discriminada e impedida de entrar na universidade pública!
Assim, uma possibilidade para a UFRGS poderia ser reservar um percentual de vagas, avaliável a cada período, para estudantes oriundos do Ensino privado. Claro, até termos uma sociedade em que tais distinções não signifiquem privilégios desmedidos. Inclusive porque, muitos estudantes oriundos de Escolas públicas que não conseguem entrar na UFRGS também não conseguem pagar uma faculdade particular. O inverso é, no mínimo, raro.
José Carlos Strurza de Moraes, cientista social e professor, in: Zero Hora (RS)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

As crianças e o PIB

A incoerência da presidente Dilma Rousseff: ela disse que o PIB, o Produto Interno Bruto — soma de tudo o que o país produz anualmente — é menos importante do que a assistência à infância no Brasil. Nisso, ela cometeu tremendo escorregão na lógica oratória. A rigor, a formação educacional de cada brasileiro é fator que pode ser considerado positivo ou negativo no PIB, conforme a Educação seja ótima ou péssima. Sob esse aspecto, os Educadores lamentam que nossa média educacional não seja excelente, como noutros países pobres na América do Sul.
Temos boas Escolas públicas primárias (uma, no Piauí, em Cocal dos Alves, ganha, todos os anos, os maiores prêmios no Ensino de matemática para seus Alunos). Esse mérito, diga-se, a bem da verdade, é muito mais do Professorado, que, embora mal pago e sem muito investimento do governo, cumpre, com orgulho, seu dever profissional.
Trata-se de um sacrifício que o Planalto não reconhece, embora gaste muito mais com a burocracia administrativa, com os sindicatos que dão automóveis como prêmios aos sindicalizados e a criação de mais 50 mil vagas de vereadores em municípios falidos. Seria o caso de a Constituição, para conter o apetite pecuniário dos edis, exigir, nesses municípios, que os munícipes fossem obrigados a contribuir para pagar a manutenção de seus vereadores.
De mais a mais, a proposta que fixa em 10% do Orçamento da União o investimento obrigatório na Educação, aprovada em junho último, na Comissão de Educação da Câmara, foi ignorada por Dilma e os que a cercam no Planalto, contrário a tal medida.
Se a sancionasse, ela corrigiria o escorregão oratório e poderia salvar a juventude brasileira ainda em seu mandato. Comparada aos governos que a precederam, Dilma teria tomado a melhor iniciativa para o Brasil resolver parte das injustiças na Educação. Mas ela não o fez. Preferiu continuar dando esmolas humilhantes a solucionar um problema crucial de nossa juventude e dos mestres que a educam.
Rubem Azevedo Lima, in: Correio Braziliense (DF)

Com aumento de renda, brasileiro investe mais em qualificação

O governo está assistindo a uma mudança estrutural no mercado de trabalho brasileiro. Com o crescimento da renda das famílias, mais pessoas estão se dedicado aos estudos antes mesmo de sair à procura de emprego. Dados compilados pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda mostram que 26,2% da chamada População Não Economicamente Ativa (Pnea) — em idade de trabalho, mas que não está em busca de nenhuma ocupação — tinha 11 anos ou mais de Ensino regular em 2011. Há uma década, esse percentual era de 18,6 Já aqueles sem instrução ou com menos de um ano de estudo representam 6% da mesma amostra ante 8,1% em 2002. “Está havendo uma significativa revolução no mercado de trabalho brasileiro pelo nível de qualificação, seja por Educação formal ou pela qualificação profissional”, disse ao Brasil Econômico o secretário-adjunto da SPE, Júlio Alexandre Menezes da Silva. “Todos os indicadores apontam para uma revolução, pois, nos últimos dez anos, cresceu de maneira significativa a Educação de toda a população brasileira e dos trabalhadores.” E justamente esse movimento é um dos pontos que tiram do radar quaisquer preocupações sobre o recuo na geração de vagas que está ocorrendo no mercado de trabalho em razão da desaceleração da atividade econômica desde o final do ano passado, como deve mostrar hoje o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a ser divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). “Estamos acompanhando esse recuo, mas sem maiores preocupações porque tem todo esse movimento estrutural mais relevante ocorrendo”, afirmou, ressaltando que a economia vai voltar a acelerar, o mercado de trabalho, agora de melhor qualidade, vai acompanhar e seguirá dando sustentação ao crescimento futuro.
Não por menos o ministro da Fazenda, Guido Mantega, responde com tranquilidade quando questionado sobre os dados que mostram a geração de postos caindo. Lembra que a taxa de crescimento da população ocupada nos últimos três anos é maior do que a expansão da População Economicamente Ativa (PEA). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há um aumento de 3,5%, 2,1% e 1,9%, respectivamente, entre 2010 e 2012 das pessoas com algum tipo de ocupação remunerada. Do lado da força de trabalho, no mesmo período, a expansão é de 2%, 1,2% e 1,3% (veja quadro ao lado). Silva explica que, além da questão demográfica, pois os brasileiros estão tendo menos filhos, a decisão pessoal e familiar de retardar a entrada no mercado de trabalho para se qualificar mais influencia diretamente esses dados. Perigos Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, já vê alguns riscos quando a economia recuperar. Segundo ele, é preciso contar com o fator de escassez de mão de obra quando a atividade estiver a pleno vapor. “Será preciso aumentar muito a produtividade sob o risco de colocar um limitador ao crescimento econômico”, avalia. “Justamente por isso é necessário, cada vez mais, discutir e colocar em prática questões voltadas à inovação e tecnologia.”
O secretário adjunto da SPE rebate, dizendo que o governo discorda totalmente da tese de “apagão de mão de obra”. “Não vemos esses riscos de maneira geral. Pode ocorrer em algum setor específico, e, é por isso que trabalhamos na qualificação e facilitação para que a migração de profissionais de um setor para outro aconteça”, afirmou Silva, ressaltando que o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) visa unir a oferta de mão à necessidade da região ou do setor de atividade.
Fonte: Brasil Econômico (SP)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

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Salve, salve, queridos diqueiros!
A dica de hoje, ancora-se (bonito, né?) nas perguntas de nosso diqueiro VILMAR RANGEL, escritor, amigo, confrade da ACL, a quem estou 'devendo explicações' (rsss). Eis a consulta de nosso Vilmar:

Caríssima: aguardo dica sobre a manutenção de hífen em bem-vindo, em pré-lançamento, em recém-nascido etc
= = =
Outra dúvida: o uso de pontuação após o vocábulo (?) etc, alguma vez li que sendo o final de uma enumeração, isto é, marcando o final de uma lista ou algo equivalente, não há necessidade de se usar ponto ou vírgula, conforme a oração.
Que diz ???
Bjs

Vamos por partes, como em uma boa feijoada, sim?
 1- a regra do hífen é, sem dúvida, a mais confusa da Nova ortografia, mas os casos que nosso consulente aponta são de fácil explicação.
a) bem-vindo e recém-nascido - hífen MANTIDO para todas as palavras precedidas de além, aquém, recém, bem e sem;
b) pré-lançamento - hífen MANTIDO em palavras precedidas de pré, pós e pró, quando forem tônicos e conservarem autonomia vocabular. Ou seja,pré-jurídico, mas prejulgamento (em que o pre é átono e não tem autonomia vocabular).

2- uso de pontuação após a forma reduzida etc ( et caetera- latina)- não há necessidade mesmo de pontuação ou mantém-se a pontuação da enunciação, seja qual for ela.
Ex.: Na viagem compramos CDs, postais, perfumes, um talismã etc.
OU
Na viagem compramos CDs, postais, perfumes, um talismã, etc.
Grande  fraterno abraço atrasado pelo DIA DO AMIGO,
Edinalda

Colégios públicos mantêm vestibulinhos

Na seleção do Colégio de Aplicação da Uerj (CAp Uerj) para o 6º ano do ensino fundamental, ano passado, a escola teve 2407 candidatos competindo por 30 vagas. Uma proporção de 80,2 estudantes para cada vaga. Quase a mesma relação do vestibular para Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que foi de 85,5.
A diferença é que, no CAp, quem estava na disputa eram crianças de 10 anos de idade. Da mesma forma, o Pedro II e o Colégio Militar, outras instituições públicas que realizam prova para ingresso no 6º ano, também têm seleções concorridíssimas.
Enquanto alguns educadores creditam o diferencial desses colégios justamente ao rígido processo de avaliação, outros especialistas questionam as provas, alegando que toda essa pressão para ser admitido prejudica a integridade psíquica e emocional das crianças.
Em São Paulo, a polêmica foi parar na Justiça. Com base em recomendações do Conselho Nacional de Educação (CNE) que proíbem os chamados vestibulinhos para o acesso à educação infantil e ao começo do ensino fundamental, a procuradora geral da República Eugênia Gonzaga moveu, em 2005, a primeira ação no Ministério Público Federal (MPF), em São Paulo, pedindo a abolição da prática no Estado. Em abril deste ano, a Justiça Federal intimou o fim das provas como ingresso. Desde então, colégios paulistas estão buscando outras formas de seleção.

Procuradora critica, mas diretor do CAp se defende
Em seu ensino infantil, Pedro II e CAp realizam sorteios para admitir alunos. Apesar de o ingresso no 6º ano não estar especificamente citado na ação do MPF, a procuradora considera a prova de seleção ilegal também nessa etapa da escolaridade. Para ela, tal carga de pressão sobre os pequenos é incompatível com o estatuto infância e da adolescência. No caso do Rio, ela orienta os pais que não se sentirem à vontade com os exames a registrar denúncias na Procuradoria Regional dos Direito do Cidadão.
— Esse tipo de seleção é absurda. É uma prática inconstitucional, que compromete a integridade física da criança. A família cria uma expectativa e, com isso, joga para os pequenos todo o peso da responsabilidade de ter que passar naquele concurso — diz.
Por outro lado, o professor Lincoln Tavares, diretor do CAp Uerj, defende que o preenchimento das vagas por mérito é justo e um dos principais fatores para a manutenção do padrão de qualidade do colégio. Tavares também alega que o tipo de exame promovido para a seleção privilegia o raciocínio lógico e não a decoreba, não sendo necessário, por isso, um grande aumento na carga de estudos ou a preparação em cursinhos.
— O CAp Uerj só tem condição de receber 30 alunos por ano no 6º ano. Se existem mais pessoas querendo ter acesso à instituição do que vagas, é preciso criar um critério de seleção. Até o momento, entendemos que as provas são um método justo e eficiente para definir quem deve entrar no colégio, mas nada impede que, daqui a algum tempo, a gente venha a reformular isso — explica o diretor.
Os cursinhos preparatórios, no entanto, são uma realidade comum para as crianças que tentam vagas em escolas como o CAp, o Pedro II e o Colégio Militar. No curso Radical, em Botafogo, as salas são sempre cheias de pequenos candidatos, que frequentam as aulas pelo menos duas vezes por semana, em turnos opostos ao colégio regular.
Sara Grossi, de 12 anos, está no 6º ano da Escola Municipal José de Alencar e faz o preparatório pela terceira vez para as provas do Pedro II e do CAp Uerj. Ela começou a treinar em 2010, ainda no 4º ano; fez a prova para valer no ano passado, no 5º ano e, como não passou, continua no cursinho na perspectiva de, agora, ser aprovada — mesmo que seja preciso repetir uma série. Ela garante que não se sente pressionada a passar, mas conta que ficará desapontada se não entrar em um dos colégios este ano.
— Já fiz a prova três vezes e sinto que estou melhorando. Nadar e morrer na praia também não dá, né? — diz. Coordenador do preparatório do 6º ano do Radical, o professor André Pereira explica que existe toda uma preocupação em trabalhar, junto com o conteúdo, o psicológico das crianças, fazendo com que elas encarem a prova de uma maneira tranquila. Ele conta também que tem evitado divulgar os resultados dos alunos para não estimular a concorrência entre eles.
— Antes, eu costumava pregar no quadro de aviso a lista dos primeiros colocados. Mas parei com isso porque observei que as crianças estavam ficando muito competitivas — afirma.
Fonte: O Globo (RJ)

Priorizar investimento é desafio na Educação

À exceção de quem gere o orçamento nacional, a notícia de que a Câmara dos Deputados aprovou a destinação de 10% do PIB para a educação foi comemorada por professores, alunos e pais com filhos em idade escolar. Afinal, quem não quer um País que priorize a educação?
Passada a euforia, surgem os questionamentos. Como foi definido esse porcentual? Aumentar os recursos é uma medida suficiente para melhorar a aprendizagem? Em quais ações, efetivamente esse dinheiro será investido?
Diante dessas questões, os especialistas são unânimes: se quisermos uma educação de qualidade, é preciso, sim, aumentar o investimento em educação. Mas só o porcentual não diz muita coisa.
"Do jeito em que estão as coisas hoje, dinheiro a mais não causará impacto nenhum", diz Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação. Para ela, é urgente uma mudança na forma de gerir os recursos. "É preciso crescer, mas com um planejamento específico, que estabeleça, por exemplo, quanto deve ser investido na formação de professores e na implementação de escolas de tempo integral".
Ela afirma, por exemplo, que os avanços da última década - o porcentual do PIB investido em educação subiu de 3,9% em 2000 para 5,1% em 2010 - não tiveram impacto na aprendizagem de matemática. "Ficamos estagnados. Essa é a prova cabal de que o investimento só funciona com gestão financeira e pedagógica bem feita."
Prioridades. Uma boa maneira de começar essa gestão financeira é atrelar os recursos a cada uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE). Antes da meta 20, que estabelece o montante do financiamento, há outras 19 que dependem de investimento para serem cumpridas.
"Professor com dedicação exclusiva a uma escola, ensino de tempo integral. Tudo isso custa muito e é preciso priorizar esses itens, mostrando quanto exatamente será destinado. Quando começamos a colocar os custos de cada item, elencamos prioridades. É um debate mais complexo", afirma Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann. "Além disso, quanto mais concreto for o plano, melhor para a sociedade entender e cobrar as pessoas certas."
Na lista de cobrança, segundo os estudiosos, é o próprio governo federal quem mais deve ser questionado por conta de sua pequena participação no financiamento da educação.
A legislação brasileira estabelece um regime de colaboração em que a União despende 18% das receitas adquiridas com impostos, enquanto Estados e municípios aplicam 25% de suas arrecadações de tributos.
"Nesse regime de colaboração, quem arrecada mais, investe menos. Atribui-se para o ente federado mais frágil, o município, a maior responsabilidade, que são o ensino infantil e fundamental", diz Flávio Caetano da Silva, especialista em financiamento da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).
Para ele, além do repasse insuficiente, falta suporte técnico. "Precisamos ter em mente que o País não é feito de grandes municípios. Mais de 70% da nossa malhar urbana é composta por cidades com até 50 mil habitantes e muitas carentes de formação técnica. Esse custo de formação é caro e também deve estar no pacote. Logo se percebe que os 10% não são exagero."
Longe disso, explica Nelson Cardoso, que estuda o tema na Universidade Federal de Goiás (UFG). Ele rebate àqueles que afirmam que o investimento de 10% seria exagerado se comparado a países desenvolvidos, como Alemanha e Japão, que aplicam menos de 5%. "A Bolívia investe 6,5% e o Canadá 5,2%. Alguém acredita que a educação boliviana seja melhor? Claro que não", afirma Cardoso.
Ele explica que não há sentido em analisar os recursos financeiros sem considerar o quantitativo de pessoas em idade educacional e o valor total do PIB do país. "É óbvio que a Bolívia arrecada muito menos e tem muito mais estudantes. Logo, só é possível discutir qualquer coisa com base no investimento por aluno."
E, nesse quesito, estamos mal. Dados apresentados pelo professor Amaury Gremaud, da Faculdade de Economia e Administração da USP de Ribeirão Preto, mostram que o Brasil investe menos de um terço do que a média empenhada pelos outros membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) (veja tabelas nesta página).
E, se considerado o destino desses recursos, percebe-se que, no Brasil, o custo de um aluno do ensino superior é cinco vezes maior do que o de um estudante da educação básica. Os países da OCDE também gastam mais com o universitário, mas não existe essa disparidade brusca em relação aos outros níveis.
Divisão. Em um país que ainda luta pela universalização do acesso e tem 27% de sua população na categoria de analfabetos funcionais, essa divisão precisa ser mais uniforme. "E tem de começar no infantil. Porque depois que a árvore entorta, ficam os colegas ao longo dos anos lutando contra o fracasso escolar, remendando com merendinha, livro, texto, aumento da jornada", diz Cândido Gomes, da Universidade Católica de Brasília. "Daí é tarde demais."
O Estado de São Paulo (SP)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Educação atualizada

Novos paradigmas desafiam os profissionais de Educação. Os lançamentos constantes de games e softwares que se dedicam à área educacional são a prova do aquecimento e mudanças desse mercado. O novo perfil dos Alunos brasileiros justifica a escolha: os chamados “nativos digitais” – jovens que nasceram na era da internet – estabeleceram, comprovadamente, uma forma diferente de aprender. Segundo especialistas, eles demandam processos educacionais que possibilitem testes e interatividade, que é a forma como aprendem por meio dos games. É nesse contexto que a tecnologia é aplicada para aprimorar e tornar os processos educativos mais eficazes, sem a intenção de substituí-los. As mudanças no perfil do estudante brasileiro conduzem o processo: as dificuldades que surgem em sala de aula motivam a criação de soluções que, em seguida, são replicadas por meio de softwares que garantem a eficiência do processo em diferentes variáveis. Somado a isso, a entrada de mais Alunos na Educação fundamental e superior implica também novos desafios de metodologia e abordagem. Diante desse desafio, torna-se necessário o desenvolvimento de métodos de avaliação de aprendizagem mais individualizados e mais aperfeiçoados.
Outros fatores contribuem para a formação de um contexto favorável para a tecnologia educacional. Os números que apontam o crescimento da população economicamente ativa no Brasil e o aumento progressivo na quantidade de estudantes reforçam a necessidade de reestruturação do sistema no país. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a população de estudantes universitários cresce 9% ao ano no país, enquanto o crescimento da população é de 1,2% ao ano. A adaptação das Escolas ao novo contexto torna-se então fundamental para manter a qualidade da Educação continuada. As instituições de Ensino têm que aumentar a forma de abrangência para saber lidar com essa massa que surge. Além disso, o aumento no número de vagas e cursos de Ensino a distância no Brasil explica também a busca de gestores por processos de tecnologia educacional. Mais do que ter a tecnologia como suporte, as instituições se preocupam também com a realização das provas presenciais, exigência do Ministério da Educação para reconhecimento das disciplinas. 
O fato de um mesmo teste ser aplicado em diferentes cidades e por diversos Professores desperta a preocupação sobre o padrão de qualidade oferecido pelas instituições, o que só pode ser garantido com a centralização dos testes de milhares de Alunos em apenas um centro para que, depois, sejam tecnologicamente distribuídos por todo o país. É nesse contexto que a tecnologia surge como uma forma de diferenciação dentro das instituições de Ensino e gera valor agregado, garantindo que a qualidade do conteúdo se mantenha, apesar do aumento no número de Alunos e suas novas demandas de aprendizagem. Ao garantir melhorias na qualidade de Ensino dos Alunos e na gestão das instituições, a tecnologia possibilita que as instituições aumentem o desempenho e reduzam o custo. Nesse processo, a atualização constante é essencial para instituições que desejam oferecer metodologias mais eficazes e processos mais eficientes para seus Alunos.
Estado de Minas Gerais (MG)