A política é a média cívica de um povo:
quanto mais alta, maior a consciência democrática; quanto mais baixa, menor o
apreço republicano. Não há dúvida de que os costumes nacionais estão sofrendo
com dura invernada; quando pensamos que chegamos ao limite do tolerável, a
audácia do abuso faz com que as cercas caminhem durante a madrugada. E, de
garrote em garrote, a honra vai sendo usucapida pela contumácia da imoralidade.
A degenerescência ética é tamanha, que o malufismo foi regenerado das cinzas,
vindo a merecer foto colorida em ambiente de festa. Ora, o exemplo paulistano é
claro indicativo de que, no atual jogo político, vale tudo, mesmo que o “tudo”
seja um nada moral. Ou seria um tudo imoral?
Enquanto a resposta não chega,
precisamos ir adiante. Apesar de todas as agruras e dificuldades, este é o país
que temos que ajudar a consolidar os preceitos de uma nação verdadeira. E não
existe formação cívica sem Ensino Fundamental. Daí o porquê de termos que
investir urgentemente em Escolas e valorizar o trabalho dos Professores.
Afinal, a Escola é um lugar santo, capaz de levar o milagre do afeto a crianças
que não tiveram a graça de um lar com amor. Na Escola, se aprende a amizade, o
dever de respeitar o mestre e a responsabilidade de fazer a lição. Nesse
ambiente construtivo, a criança vai compreendendo gradativamente a complexidade
da vida para que, lá na frente, tenha condições de colaborar para um mundo
melhor e uma humanidade mais digna.
O inacreditável dos fatos é que a
Escola pública foi demolida no Brasil. Em questão de décadas, a arte de ensinar
foi reduzida a pó, e o Professor condenado a um salário aviltante. Nesse clima
de arrocho, o Aluno foi esquecido e o futuro da criança tornou-se opaco. Por
que e para quê? Será que o país ficou mais sábio com a desestruturação do
Ensino público? Ou será que a intenção era a de justamente proliferar a miséria
da ignorância para que o povo pense que a urna é uma cartola para tirar
coelhos? Afinal, quanto menor o espírito crítico de um cidadão, mais fácil se
torna manobrá-lo, fazendo do embuste um instrumento de acesso ao poder.
Aqueles que tiveram a sorte e a graça
de pais com condições podem, naturalmente, buscar o socorro do Ensino privado.
Sabidamente, no entanto, a via privada é exceção, sendo um primeiro dever dos
governos resgatar imediatamente a dignidade do Ensino público. O problema é que
fazer Escola nem sempre dá voto, pois o saber desnuda a mentira dos demagogos.
Eis a sinuca de bico da democracia brasileira: apenas temos projetos eleitorais
passageiros, mas não temos um ideal permanente de nação. Nesse contexto, a
política enterra e só o Ensino é capaz de salvar. Investir na criança é
acreditar no milagre da vida, pois educar é construir um futuro melhor. Mas
será que para a política o melhor não é o pior?
Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr, advogado, in: Zero Hora (RS)
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