O Brasil tornou-se um grande importador de mão de obra qualificada. Em 2011, importamos US$ 80 bilhões a mais do que exportamos em termos de bens das indústrias de alta tecnologia e média tecnologia. O saldo positivo na balança comercial de US$ 30 bilhões no ano passado encobre o progressivo déficit tecnológico apresentado a cada ano. Revela-se uma questão de fundo: o país não está conseguindo gerar riqueza por meio de novas cadeias produtivas.
As indústrias de alta tecnologia e média tecnologia (aeronáutica e aeroespacial, farmacêutica, tecnologia da informação, equipamentos de rádio, TV e comunicação, instrumentos médicos de ótica, precisão entre outros) resultam de exitosas estratégias de desenvolvimento com base em conhecimento em países como os EUA, a Finlândia, a Suécia, Coreia do Sul e até China e Índia. Países que estão se tornando os principais exportadores para o Brasil de produtos de alto valor agregado. Segundo recente estudo da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), cada US$ 300 mil dólares de exportações ajudam a sustentar 12 empregos nos setores de alta tecnologia nos países europeus. Empregos qualificados com salário médio anual de US$ 60 mil e com média de 14,5 anos de estudo. No caso brasileiro, examinando os dados do IBGE, concluímos que cada US$ 300 mil de exportações geram 1,2 de empregos com salário médio anual de US$ 3,5 mil e com 70% desses trabalhadores com 0 a 7 anos de Ensino.
A conclusão é que somos um grande importador líquido de mão de obra qualificada inserida nos produtos importados. São US$ 80 bilhões em 2011 de mão de obra qualificada disfarçada de fármacos, de aviões, de equipamentos, de máquinas e computadores e de outras de produtos para os quais a sociedade apresenta demanda cada vez mais elástica. Em 2010 o déficit foi de US$ 56 bilhões e, em 2012, talvez US$ 100 bilhões.
O erro estratégico brasileiro está nos baixos investimentos na economia do conhecimento e na cadeia produtiva da Educação translacional: Ensino fundamental, médio, técnico e superior e novas empresas. Nessas estratégias, as Escolas e universidades são espaços sociais de desenvolvimento da economia local e regional e da consequente geração de emprego, renda e competividade. Nosso modelo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nacional deveria incentivar a geração de pesquisa básica sim, mas também de novas empresas e novas indústrias. O divórcio entre as empresas e a tecnologia é evidenciado nos baixos índices de investimento privado na pesquisa translacional (a que gera novos produtos). Pior, muitas empresas e associações, mesmo bem intencionadas, criam departamentos e programas de inovação, acompanhando um mero modismo de gestão, incentivando uma criatividade ineficiente e desarticulada com o desenvolvimento econômico da comunidade local. Caminhamos rumo ao paradoxo da falta de mão de obra qualificada e, simultaneamente, da existência de elevado desemprego de jovens universitários recém-formados e do êxodo de cérebros para o exterior. É claro! A alta qualificação está ficando perigosamente disfuncional numa economia que cresce, mas regride na expansão tecnológica e na criação de novas cadeias produtivas locais. O pouco que investimos até hoje em formação de doutores criou um exército de recursos humanos qualificados, mas dissociado das necessidades reais da indústria brasileira real e potencial.
É necessária uma nova política de substituição de importações dos produtos gerados na economia do conhecimento para reverter esta espetacular evasão de divisas. Discutimos ineficientemente quanto do orçamento público investir em Educação e descuidamos ingenuamente das estratégias de desenvolvimento institucional da Educação, da articulação entre Educação e economia, enquanto os países mais dinâmicos fortalecem-se por meio delas na atual dinâmica da economia global.
Leandro de Lemos, economista, professor da PUCRS, in: Zero Hora (RS)
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