terça-feira, 3 de julho de 2012

"Não podemos nos liberar do livro"

O Roda Viva entrevistou no dia (25/06) o escritor Muniz Sodré. Estudioso da imprensa e de temas de educação, o professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançou recentemente o livro “Reinventando a Educação” e por isso foi o centro do programa para ser questionado se há modelos ideais de educação no mundo. Muniz foi claro em sua resposta: “O desafio é exatamente não se espelhar em modelo nenhum. É se descolonizar. Fugir do modelo que a Europa impôs. O desafio é reinventar!”.
Muniz Sodré é um dos mais importantes pensadores brasileiros da atualidade. Pesquisador de comunicação e jornalismo, ele escreveu mais de 30 livros. Com o conhecimento que possui, afirma que a tecnologia é um instrumento e não uma fonte de educação, pois isso ressalta a extrema importância de se manter o modelo presencial. Para ele, disciplinas de cálculos, exatas, podem ser ensinadas à distância, pelo computador, porém a iniciação social exige um professor, um pensador. A mesma opinião mantém quando a mídia é a televisão. Segundo o escritor, a televisão pode ser informativa, mas não porque queira ensinar, pois tem outros objetivos. “Eu acho que pode ser usada como um instrumento. A educação se dá por contato, sempre com um tutor”. O intelectual ressalta: “nós ainda não podemos nos liberar do livro, do impresso”. Muniz considera o ensino por meio da tecnologia algo genérico.
Ele que é professor, conta que após o regime de Getúlio Vargas a educação virou uma questão técnica, o foco passou a ser a industrialização. “O objetivo das empresas é evitar o vermelho. É preciso fazer uma separação. Ensino e informação da educação”. Para o estudioso, esses são dois caminhos diferentes que, no entanto, devem ser trilhados juntos nos tempos em que o jovem é preparado para o mercado, mas não pode deixar de se tornar um pensador social.
Para Muniz, hoje há um desprestígio do professor. O primordial para um ensino melhor seria investir em qualificação do profissional. “Salário é importante e qualificação permanente; para mim isso é possível”, afirma. Ele explica ainda que professor é aquele que aprende constantemente, está sempre aberto às novidades, portanto não é aquele que sabe mais. “A função é ser um iniciador de linguagens, para isso é preciso estar imerso na aprendizagem”.
Sodré acredita que o caminho é também investir na escola pública e em pesquisa, além de abrir mais possibilidades do ensino técnico na rede de ensino público habilitando profissionais. O professor também destaca a importância de se encontrar um modelo que contemple a diversidade cultural do Brasil.
Já quando refere-se às universidades brasileiras, ele que é emérito, não esconde a crítica ao sistema de avaliação dos candidatos às vagas. “O vestibular é uma coisa tirana”. Cursos pré-vestibulares com altas mensalidades e o estudo de matérias desnecessárias para o curso escolhido. “Se o candidato passar em medicina, a maior parte das matérias será esquecida no segundo ano da faculdade”.
Não se pode tratar universidades meramente como sindicais. Para Muniz, é fundamental haver pesquisas e não apenas uma preparação para o mercado de trabalho. "As universidades particulares não pesquisam nada", completa.
O Roda Viva é apresentado pelo jornalista Mario Sergio Conti e, para esta edição, contou com os seguintes entrevistadores convidados: Fábio Takahashi (repórter de educação do jornal Folha de S.Paulo), Mozart Neves Ramos (conselheiro do movimento Todos Pela Educação), Ocimara Balmant (repórter de educação do jornal O Estado de S.Paulo). Robinson Borges (editor do caderno de Cultura do jornal Valor Econômico) e Mona Dorf (produtora de conteúdos digitais, colunista de cultura do portal IG e apresentadora do programa Letras e Leituras na Rádio Eldorado). O Roda Viva contou com a participação do cartunista Paulo Caruso.
Fonte: Site TV Cultura

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