O Roda Viva entrevistou no dia
(25/06) o escritor Muniz Sodré. Estudioso da imprensa e de temas de educação, o
professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançou
recentemente o livro “Reinventando a Educação” e por isso foi o centro do
programa para ser questionado se há modelos ideais de educação no mundo. Muniz
foi claro em sua resposta: “O desafio é exatamente não se espelhar em modelo
nenhum. É se descolonizar. Fugir do modelo que a Europa impôs. O desafio é
reinventar!”.
Muniz Sodré é um dos mais importantes
pensadores brasileiros da atualidade. Pesquisador de comunicação e jornalismo,
ele escreveu mais de 30 livros. Com o conhecimento que possui, afirma que a
tecnologia é um instrumento e não uma fonte de educação, pois isso ressalta a
extrema importância de se manter o modelo presencial. Para ele, disciplinas de
cálculos, exatas, podem ser ensinadas à distância, pelo computador, porém a
iniciação social exige um professor, um pensador. A mesma opinião mantém quando
a mídia é a televisão. Segundo o escritor, a televisão pode ser informativa,
mas não porque queira ensinar, pois tem outros objetivos. “Eu acho que pode ser
usada como um instrumento. A educação se dá por contato, sempre com um tutor”.
O intelectual ressalta: “nós ainda não podemos nos liberar do livro, do
impresso”. Muniz considera o ensino por meio da tecnologia algo genérico.
Ele que é professor, conta que após o
regime de Getúlio Vargas a educação virou uma questão técnica, o foco passou a
ser a industrialização. “O objetivo das empresas é evitar o vermelho. É preciso
fazer uma separação. Ensino e informação da educação”. Para o estudioso, esses
são dois caminhos diferentes que, no entanto, devem ser trilhados juntos nos
tempos em que o jovem é preparado para o mercado, mas não pode deixar de se
tornar um pensador social.
Para Muniz, hoje há um desprestígio
do professor. O primordial para um ensino melhor seria investir em qualificação
do profissional. “Salário é importante e qualificação permanente; para mim isso
é possível”, afirma. Ele explica ainda que professor é aquele que aprende
constantemente, está sempre aberto às novidades, portanto não é aquele que sabe
mais. “A função é ser um iniciador de linguagens, para isso é preciso estar
imerso na aprendizagem”.
Sodré acredita que o caminho é também
investir na escola pública e em pesquisa, além de abrir mais possibilidades do
ensino técnico na rede de ensino público habilitando profissionais. O professor
também destaca a importância de se encontrar um modelo que contemple a
diversidade cultural do Brasil.
Já quando refere-se às universidades
brasileiras, ele que é emérito, não esconde a crítica ao sistema de avaliação
dos candidatos às vagas. “O vestibular é uma coisa tirana”. Cursos
pré-vestibulares com altas mensalidades e o estudo de matérias desnecessárias
para o curso escolhido. “Se o candidato passar em medicina, a maior parte das
matérias será esquecida no segundo ano da faculdade”.
Não se pode tratar universidades
meramente como sindicais. Para Muniz, é fundamental haver pesquisas e não
apenas uma preparação para o mercado de trabalho. "As universidades
particulares não pesquisam nada", completa.
O Roda Viva é apresentado pelo
jornalista Mario Sergio Conti e, para esta edição, contou com os seguintes
entrevistadores convidados: Fábio Takahashi (repórter de educação do jornal
Folha de S.Paulo), Mozart Neves Ramos (conselheiro do movimento Todos Pela
Educação), Ocimara Balmant (repórter de educação do jornal O Estado de
S.Paulo). Robinson Borges (editor do caderno de Cultura do jornal Valor
Econômico) e Mona Dorf (produtora de conteúdos digitais, colunista de cultura
do portal IG e apresentadora do programa Letras e Leituras na Rádio Eldorado).
O Roda Viva contou com a participação do cartunista Paulo Caruso.
Fonte: Site TV Cultura
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