O governo está assistindo a uma mudança estrutural no mercado de trabalho brasileiro. Com o crescimento da renda das famílias, mais pessoas estão se dedicado aos estudos antes mesmo de sair à procura de emprego. Dados compilados pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda mostram que 26,2% da chamada População Não Economicamente Ativa (Pnea) — em idade de trabalho, mas que não está em busca de nenhuma ocupação — tinha 11 anos ou mais de Ensino regular em 2011. Há uma década, esse percentual era de 18,6 Já aqueles sem instrução ou com menos de um ano de estudo representam 6% da mesma amostra ante 8,1% em 2002. “Está havendo uma significativa revolução no mercado de trabalho brasileiro pelo nível de qualificação, seja por Educação formal ou pela qualificação profissional”, disse ao Brasil Econômico o secretário-adjunto da SPE, Júlio Alexandre Menezes da Silva. “Todos os indicadores apontam para uma revolução, pois, nos últimos dez anos, cresceu de maneira significativa a Educação de toda a população brasileira e dos trabalhadores.” E justamente esse movimento é um dos pontos que tiram do radar quaisquer preocupações sobre o recuo na geração de vagas que está ocorrendo no mercado de trabalho em razão da desaceleração da atividade econômica desde o final do ano passado, como deve mostrar hoje o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a ser divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). “Estamos acompanhando esse recuo, mas sem maiores preocupações porque tem todo esse movimento estrutural mais relevante ocorrendo”, afirmou, ressaltando que a economia vai voltar a acelerar, o mercado de trabalho, agora de melhor qualidade, vai acompanhar e seguirá dando sustentação ao crescimento futuro.
Não por menos o ministro da Fazenda, Guido Mantega, responde com tranquilidade quando questionado sobre os dados que mostram a geração de postos caindo. Lembra que a taxa de crescimento da população ocupada nos últimos três anos é maior do que a expansão da População Economicamente Ativa (PEA). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há um aumento de 3,5%, 2,1% e 1,9%, respectivamente, entre 2010 e 2012 das pessoas com algum tipo de ocupação remunerada. Do lado da força de trabalho, no mesmo período, a expansão é de 2%, 1,2% e 1,3% (veja quadro ao lado). Silva explica que, além da questão demográfica, pois os brasileiros estão tendo menos filhos, a decisão pessoal e familiar de retardar a entrada no mercado de trabalho para se qualificar mais influencia diretamente esses dados. Perigos Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, já vê alguns riscos quando a economia recuperar. Segundo ele, é preciso contar com o fator de escassez de mão de obra quando a atividade estiver a pleno vapor. “Será preciso aumentar muito a produtividade sob o risco de colocar um limitador ao crescimento econômico”, avalia. “Justamente por isso é necessário, cada vez mais, discutir e colocar em prática questões voltadas à inovação e tecnologia.”
O secretário adjunto da SPE rebate, dizendo que o governo discorda totalmente da tese de “apagão de mão de obra”. “Não vemos esses riscos de maneira geral. Pode ocorrer em algum setor específico, e, é por isso que trabalhamos na qualificação e facilitação para que a migração de profissionais de um setor para outro aconteça”, afirmou Silva, ressaltando que o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) visa unir a oferta de mão à necessidade da região ou do setor de atividade.
Fonte: Brasil Econômico (SP)
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