domingo, 22 de julho de 2012

"Escolas autônomas têm mais sucesso", diz secretário do MEC

A série de reportagens que o GLOBO publicou sobre escolas que atendem crianças de baixa renda e têm Índice de Educação Básica (Ideb) acima de 6, média estabelecida pelo Ministério da Educação (MEC) para 2002 e índice considerado no patamar dos países desenvolvidos, reafirmou para César Calegari, secretário de Educação Básica do MEC, que é possível oferecer educação de qualidade quando a “escola se apodera e assume suas ideias, aumentando o grau de autonomia”:
— Esse é o denominador comum das escolas que, mesmo estando em lugares precários, conseguem oferecer educação de qualidade. Escolas mais autônomas têm mais sucesso e isso tem orientado as políticas do MEC.
Segundo ele, o Ministério tem trabalhado para fortalecer as equipes das escolas, oferecendo cursos de formação de professores, diretores e vices.
— A formação continuada é importante porque não basta boa vontade. É preciso preparo, é preciso que o professor saiba como avaliar o aluno e ele teve ter recursos para isso. Desse modo, pode reconhecer o potencial das crianças e pode capacitá-las, desenvolvendo ações individuais e coletivas.
Para o secretário, é fundamental ainda que cada integrante da equipe, do porteiro até os responsáveis pela direção, dominem o projeto educacional da escola em que trabalham.
— Crianças e jovens expostos mais intensamente ao projeto educativo se desenvolvem melhor. Além disso, o horário integral também é um fator importante. O turno de sete horas oferecido pelo Mais Educação proporciona que além das aulas as crianças tenham contato com a área cultural e esportiva, por exemplo. Por conta disso, ampliamos o programa, que hoje já funciona em 30 mil escolas.
De acordo com ele, para que mais escolas apresentem o mesmo resultado das 82 que, em 2009, atendiam crianças pobres e tinham Ideb acima de 6, é preciso ainda que o “país faça um esforço para aumentar o investimento em educação”.
— Investir 10% do PIB na educação é necessário. Mas isso não é suficiente. Precisamos melhorar os salários, ampliar a jornada dos alunos, fazer com que professores tenham dedicação exclusiva a uma única escola e ainda garantir que nenhuma criança de 8 anos chegue ao terceiro ano do fundamental sem estar alfabetizada. Esse é o mantra do MEC — diz Calegari.
Ele acrescenta que é necessário que as famílias sejam mobilizadas para que o aprendizado aconteça:
— Isso é decisivo. As escolas têm que interagir com as famílias, já que desse jeito tudo anda bem. Pelo que vimos na reportagem, nas escolas há uma preocupação em fazer com que o aluno não falte. E se falta, envolvem a família para que volte. Mãe e pai têm que se envolver, porque muitas vezes não sabem que o aprendizado é contínuo e por isso deixam o filho faltar.
Economista Ernesto Martins Faria, da Fundação Lemann, comenta série de reportagens:
“O aprendizado é um direito de todos e, por isso, pais, escola e sociedade devem se mobilizar para garanti-lo. No entanto, existem alguns alunos que exigem mais esforços do que outros, e devido a isso, infelizmente, muitas escolas não têm conseguido garantir o direito desses alunos,e o pior, muitas desistem deles.
Os números e histórias que essa série de reportagens traz apontam que, embora exija muito comprometimento e esforço da equipe escolar, várias escolas do país estão buscando com afinco garantir o aprendizado de alunos de baixo nível socioeconômico, alunos que, em sua maioria, entram mais defasados na escola.
Provavelmente, alguns dos motivos de sucesso dessas escolas são a liderança do diretor e uma atenção individualizada aos alunos. Os dados apontam que o percentual de professores que relatou que o diretor os anima e os motiva é mais alto nessas escolas. Nelas também são tomadas mais medidas para evitar com que os alunos faltem às aulas.
Esses números indicam uma implantação de uma cultura escolar diferente da existente na maioria das escolas públicas do país. Quando isso ocorre, a rotatividade do corpo docente cai e o clima das escolas é mais favorável ao aprendizado, como também apontam os dados.
Além desses aspectos que foram apontados pelos números, há características mais qualitativas e que exigem que as escolas com bons resultados sejam observadas mais de perto como questões pedagógicas próprias do conteúdo dado nas disciplinas, manejo de sala de aula, didática dos professores e uso do tempo em sala de aula. O estudo com base em evidências não pode parar!”
Fonte: O Globo Online

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