sábado, 31 de março de 2012

Lei de responsabilidade entra na pauta da educação brasileira

Quem atualmente se responsabiliza por cerca de 4 milhões de crianças fora da escola, por 10% da população analfabeta ou ainda pela existência de uma fila de mais de 10 milhões de pais e mães à espera de uma vaga em creches públicas? Embora a Constituição de 1988 estabeleça que é dever do Estado garantir educação de qualidade a todos os brasileiros, o país ainda não tem reposta para a pergunta.
Ao lado do Plano Nacional de Educação (PNE), a formulação de uma Lei de Responsabilidade Educacional (LRE) — nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) — deve se tornar uma das principais agendas da educação em 2012. A ideia é antiga no setor e teve uma proposta aprovada na 1ª Conferência Nacional de Educação (Conae), em abril de 2010. No fim do ano passado foi formada uma comissão especial na Câmara dos Deputados para tratar do tema e, até o fim do primeiro semestre, os parlamentares devem aprovar um projeto de lei.
A ideia inicial é criar um mecanismo que possa punir gestores que administrarem mal os recursos da área ou não cumprirem metas de melhoria da educação determinadas em lei. O Ministério da Educação (MEC) acredita que o instrumento dará mais força às metas do PNE. O Ministério Público será a instância responsável por fiscalizar e cobrar de prefeitos e governadores, além do governo federal, o cumprimento de metas educacionais e outras determinações legais.
O movimento Todos pela Educação acolheu o assunto como uma de suas principais bandeiras para este ano e promoverá em maio seminário para parlamentares e assessores legislativos como forma contribuir e acelerar a tramitação da LRE. Mas a diretora-executiva da entidade, Priscila Cruz, explica que o desafio dessa agenda é modelar a futura legislação, de modo que “não seja mais uma lei que não pega.”

Valor: Como está a tramitação da LRE neste momento?
Priscila Cruz: A comissão foi instalada, os deputados fizeram a apresentação de todos os requerimentos de solicitação de audiências públicas. Espera-se sete ou oito audiências, aí a comissão vota a matéria.

Valor: Já estão definidos os termos da LRE, gestores serão punidos, de fato?
Priscila: No nosso seminário vamos discutir a experiência da Lei de Responsabilidade Fiscal e alguns pontos para a educação. Se a gente está falando de responsabilização, a ideia é definir quem é responsável pelo quê, mas será preciso definir um modelo legislativo adequado.

Valor: Mas aí não seria flexibilizar o aspecto punitivo?
Priscila: Poderíamos criar uma lei superpunitiva, pegando todos os municípios que não aumentaram o Ideb em determinado período. Nesse caso o prefeito responderia por impobridade administrativa, por exemplo. A lei também pode ter um formato mais de controle social, que diz assim: “Olha, todo o ano o prefeito vai ter que ir à Câmara de Vereadores e o governador à Assembleia Legislativa para apresentar os resutados de vários indicadores educacionais. É uma régua que vai do superpunitivo ao controle social, é uma engenharia complicada de resolver no Congresso. Não podemos criar viés negativo de seleção, achar que a lei é ótima mas na prática acaba sendo pior porque ninguém pode querer ser secretário de Educação com uma lei dessa vigorando. Mas também não podemos fazer uma lei muito light, que pode acabar virando aquleas leis que não pegam.

Valor: E a solução seria...
Priscila: Tem que ter um mix de todos esses extremos, uma parte que você tensiona para o resultado, e também uma parte que aproxime a população da realidade da educação. O que não pode é um município não avançar no setor em quatro anos e a sensação de culpa pelo mal aprendizado ou pela escola ruim ficar com o aluno ou sua família.

Valor: Que indicadores poderiam compor a LRE?
Priscila: Pode entrar o Ideb se for aperfeiçoado, pois hoje ele é incompleto, uma escola pode construir sua nota com apenas 50% dos alunos fazendo a Prova Brasil. É preciso 85%, 90% de participação para se firmar um indicador consistente. Pode ter também um indicador de desigualdade educional. Aí o prefeito, os gestor podem trabalhar para que as piores escolas avancem mais velozmente do que as escolas que estão perto da meta do Ideb ou de um patamar da OCDE, que é 6 pontos.

Valor: A LRE pode forçar prefeitos, governadores ou gestores a focalizar os menos favorecidos?
Priscila: Isso, pode criar uma forma de estímulo. Temos que fazer uma coisa na educação brasileira que é dar mais para quem tem menos, para que eles possam superar condições de vulnerabilidade. Fazer Justiça não é dar tudo igual para todo mundo. Existe coisa inercial: quem está mais para frente tem a inércia positiva e consegue avançar mais rápido, quem está muito pra trás precisa de um empurrão a mais.

Valor: Esse lei poderia exigir maior financiamento público?
Priscila: Se falamos em estimular tem que mexer no financiamento. Nesse ponto os economistas podem dar contribuição importante. Se dou mais recursos para quem está muito mal, será que isso não vira incentivo para ele acomodar? Isso tem que ser bem pensado, junto com os recursos tem que chegar capacitação técnica, monitoramento. O prêmio do avanço seria autonomia, à medida que a rede vai melhorando vai ganhando autonomia.

Valor: Uma vez aprovada, a LRE ajuda a mudar em que medida o formato da educação no Brasil hoje?
Priscila: É uma lei diferente, não é como a Emenda Constitucional 59, que torna obrigatória a frequência escolar de crianças e jovens de 4 a 17 anos até 2016. A LRE tem um perfil de influenciar indiretamente para que a gestão faça a sua parte. Hoje quem paga a conta pela baixa qualidade da educação brasileira é o aluno, não tem mais ninguém pagando por isso, e ninguém está sendo cobrado, tensionado, até porque a pressão social é muito baixa. A LRE ajuda a criar uma pressão institucional, cria algum tipo de constrangimento para aquele gestor que não está cumprindo sua responsabilidade de melhorar a educação. Além disso, não podemos perder de vista que educação é um direito. Não pode ser um azar a criança receber uma educação ruim. Essa lei ajuda a melhorar marco legal do setor e a proteção da educação.

Valor: Confia numa votação rápida?
Priscila: O presidente da comissão especial tem ideia de votá-la no primeiro semestre, até porque é ano de eleições municipais, deixar para o segundo é arriscado. Vai depender muito do teor da lei para que seja votada com agilidade. Ninguém acreditava que a Lei de Responsabilidade Fiscal pudesse ser votada, hoje ela é uma referência de boa prática.
Fonte: Valor Econômico Online

Desafio da educação

O Brasil e os brasileiros vivem um momento ímpar. O crescimento e a prosperidade alcançados nos últimos anos, aliados ao incremento e fortalecimento do mercado interno como resultado da conquista de melhorias na distribuição de renda, nos têm garantido uma exposição internacional inédita, o que contribui para realimentar o já positivo potencial de evolução. Diante dessa onda positiva, é natural que percebamos com maior nitidez algumas deficiências, especialmente as que surgiram nos momentos mais difíceis de nossa curta trajetória como nação, que soma pouco mais de 500 anos. Uma das mais perceptíveis está vinculada à qualidade da educação. Como país em pleno desenvolvimento, a necessidade de pessoas preparadas para ocupar as mais variadas funções profissionais tem crescido fortemente. Surge aí um importante gargalo. Também chamado de “apagão” da mão de obra, o fenômeno ameaça gravemente o potencial de expansão de setores inteiros, em razão da escassez de pessoal capacitado para assumir postos de trabalho. O Brasil somou importantes conquistas na área do ensino nas últimas décadas.
Primeiramente, está sendo garantido acesso a todos os ingressantes no ensino fundamental. A quase totalidade das crianças desfruta do direito constitucional à escolaridade gratuita.
O problema é garantir a adesão para que deem continuidade aos estudos ao longo dos anos. Também foi ampliada a oferta de vagas no ensino superior, não só com o crescimento e aumento da rede de universidades públicas, mas, também, com a abertura à expansão das chamadas instituições de ensino superior privadas, apoiadas por programas de concessão de bolsas ou de financiamento estudantil. Assim, o motor de grandes preocupações e esforços de governos, instituições, empresas e autoridades vinculadas à educação é a oferta de um ensino de melhor qualidade em todos os níveis educacionais. É preocupante perceber que, apesar desses esforços, a evolução nesse sentido tem ficado aquém do esperado. Em fevereiro, o movimento Todos pela educação, que instituiu metas a serem atingidas até 2022, divulgou dados preocupantes, que indicam que, sem mudanças consideráveis, as referidas metas podem não ser atingidas, especialmente em razão do ingresso tardio de nossas crianças nas escolas, dos altos índices de repetência e do elevado número de matriculados que abandonam seus estudos.
Apesar de as instâncias governamentais se esforçarem para garantir o acesso à escola, segundo os objetivos intermediários estabelecidos pelo movimento, nenhuma unidade da federação superou, em 2010, a meta estabelecida, que previa 93,4% de todas as crianças e jovens entre 4 e 17 anos matriculados e frequentando a escola. Até 2022, o percentual estabelecido pelo movimento é de 98%. O país todo e o empresariado brasileiro, em especial, precisam contar com pessoas bem capacitadas a assumirem as demandas do crescimento, que tendem a evoluir. Nesse sentido, a educação de qualidade é essencial para garantir a força intelectual e profissional necessária para atender à demanda do capital humano, sem dúvida o principal pilar de nosso progresso e soberania em termos de conhecimento. Os desafios não são poucos, mas a coordenação de esforços dedicados para qualificar o ensino e a capacitação oferecida aos brasileiros serão um fator crucial para a consolidação do desenvolvimento.
Pedro Melo, Presidente da KPMG no Brasil, in: Estado de Minas (MG)

sexta-feira, 30 de março de 2012

Cerca de 75% dos brasileiros jamais pisaram em uma biblioteca, diz estudo

O desempregado gaúcho Rodrigo Soares tem 31 anos e nunca foi a uma biblioteca. Na tarde desta terça-feira, ele lia uma revista na porta da Biblioteca São Paulo, zona norte da cidade. "A correria acaba nos forçando a esquecer essas coisas." E Soares não está sozinho. Cerca de 75% da população brasileira jamais pisou numa biblioteca - apesar de quase o mesmo porcentual (71%) afirmar saber da existência de uma biblioteca pública em sua cidade e ter fácil acesso a ela.
Vão à biblioteca frequentemente apenas 8% dos brasileiros, enquanto 17% o fazem de vez em quando. Além disso, o uso frequente desse espaço caiu de 11% para 7% entre 2007 e 2011. A maioria (55%) dos frequentadores é do sexo masculino.
Os dados fazem parte da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro (IPL), o mais completo estudo sobre comportamento leitor. O Estado teve acesso com exclusividade a parte do levantamento, cuja íntegra será divulgada nesta quarta-feira em Brasília.
Para a presidente do IPL, Karine Pansa, os dados colhidos pelo Ibope Inteligência mostram que o desafio, em geral, não é mais possibilitar o acesso ao equipamento, mas fazer com que as pessoas o utilizem. "O maior desafio é transformar as bibliotecas em locais agradáveis, onde as pessoas gostam de estar, com prazer. Não só para estudar."
A preocupação de Karine faz todo sentido quando se joga uma luz sobre os dados. Ao serem questionados sobre o que a biblioteca representa, 71% dos participantes responderam que o local é "para estudar". Em segundo lugar aparece "um lugar para pesquisa", seguido de "lugar para estudantes". Só 16% disseram que a biblioteca existe "para emprestar livros de literatura". "Um lugar para lazer" aparece com 12% de respostas.
Perfil. A maioria das pessoas que frequentam uma biblioteca está na vida escolar - 64% dos entrevistados usam bibliotecas de escolas ou faculdades. Dados sobre a faixa etária (mais informações nesta página) mostram que, em geral, as pessoas as utilizam nessa fase e vão abandonando esse costume ao longo da vida.
A gestora ambiental Andrea Marin, de 39 anos, gosta de livros e lê com frequência. Mas não vai a uma biblioteca desde que saiu dos bancos escolares. "A imagem que tenho é de que se trata de um lugar de pesquisa. E para pesquisar eu sempre recorro à internet", disse Andrea.
Enquanto folheava uma obra na Livraria Cultura do Shopping Bourbon, na Pompeia, zona oeste, diz que prefere as livrarias. Interessada em moda, ela procurava livros que pudessem ajudá-la com o assunto. "Nem pensei em procurar uma biblioteca. Nas livrarias há muita coisa, café, facilidades. E a biblioteca, onde ela está?", questiona. Dez minutos depois, passa no caixa e paga R$ 150 por dois livros.
O estudante universitário Eduardo Vieira, de 23 anos, também não se lembra da última vez que foi a uma biblioteca. "Moro em Diadema e lá tem muita biblioteca. A livraria acaba mais atualizada", diz ele, que revela ler só obras cristãs. "Acho que nem tem esse tipo de livro nas bibliotecas."
Fonte: Estado de São Paulo (SP)

quinta-feira, 29 de março de 2012

Professores culpam pais e alunos por nota baixa

O aluno não aprende porque os pais não o acompanham? Para 88% dos professores do nível fundamental da rede pública no país, sim. Quase 81% também acreditam que um aluno não vai bem na escola porque não se esforça. Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo Movimento Todos Pela Educação em respostas dadas por professores da rede pública na Prova Brasil, do Inep. E levantam a questão: num sistema educacional público com má remuneração para o magistério e escolas mal equipadas, que recebem estudantes em que a própria família já tem, em geral, baixa escolaridade e frágil nível cultural, de quem é a culpa pelo mau aluno?
No Questionário do Professor da Prova Brasil de 2009, os professores receberam uma lista de possíveis causas para problemas de aprendizagem dos estudantes, para dizer com quais causas mais concordavam. Quase todos concordaram com as respostas "Falta de assistência e acompanhamento da família nos deveres de casa e pesquisas do aluno" e "Desinteresse e falta de esforço do aluno". Respostas que poderiam mostrar a responsabilidade do professor ou da escola - "Baixo salário dos professores, que gera insatisfação e desestímulo para a atividade docente" e "Escola oferece poucas oportunidades de desenvolvimento do aluno" - tiveram 30,5% e 27,4%, respectivamente.
- Como a Educação depende de vários setores, é esperado que um jogue a responsabilidade para o outro. Se você for perguntar para muitos pais, eles vão dizer que a escola não ensina direito. Mas, apesar de esperada essa responsabilização do outro, é preocupante que o professor coloque a culpa na família, se pensarmos que, nas escolas públicas, em diversas vezes não lidamos com crianças imersas no mundo letrado. Jogar a culpa para a família, nesses casos, é o professor falar "não consigo lutar contra isso". Nesse tipo de realidade, a função da escola pública é essa mesmo, é exercer um papel que a família e o meio em que o aluno vive não estão conseguindo cumprir. O contrário seria condenar a criança pobre a não aprender - analisa Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação. 

Novas formas de participação
Se a família não consegue acompanhar a Educação do aluno, diz Priscila, o papel da escola seria achar maneiras de estimular esse acompanhamento.
- Não podemos partir da suposição de que a família não apoia porque não quer. Às vezes é porque não sabe mesmo, em muitos casos os pais estudaram menos do que o filho. Além disso, a escola reclama que os pais não vão às reuniões, mas as marca na terça às 9h. A classe trabalhadora trabalha na terça às 9h - destaca Priscila, para quem o baixo número de respostas de professores colocando a responsabilidade no nível salarial e no desestímulo que isso provoca também era esperado. - Seria até antiético, eles estariam admitindo que dão uma aula ruim.
Em áreas com indicadores sociais críticos, como Norte e Nordeste, a falta de acompanhamento da família às vezes tem a ver com problemas como o analfabetismo. Ramone Maria do Nascimento, do bairro de Afogados, em Recife, tem duas filhas na escola, Vanessa e Vandressa, alunas do colégio municipal Mércia Albuquerque. A mãe não sabe sequer escrever o nome todo:
- Vanessa precisou de muita ajuda na escola. Pedia às colegas para ensinar, pois não sei ler.
Vanessa, de 11 anos, escreve com desenvoltura, mas não sabe pontuar. Não leu um só livro em 2011 ou este ano.
Na casa de Cássia Cristina da Silva, no mesmo bairro, são quatro os filhos na escola. Com pai pedreiro com pouco estudo e ela analfabeta, as crianças só não tiveram mais dificuldades porque os pais pagaram reforço.
- Hoje um reforço aqui no bairro está entre R$35 e R$45 por aluno. A gente não pode mais - reclama Cássia, que este ano comemorou o fato de a filha Cassiana ter conseguido um colégio com tempo integral.
No Mércia Albuquerque, a diretora Maria José Moura acha que atribuir culpa aos pais ou alunos é raciocínio distorcido:
- São vários fatores em comunidades como esta, com histórico de violência. A maioria dos alunos não tem pai. Outros estão com o pai preso ou envolvido com o tráfico. A comunidade não tem banheiro. Muitos alunos passavam muito tempo no banheiro, e descobri que era para aproveitarem o chuveiro, a torneira, que não têm em casa.  

Mudar a forma de participação da família parece ser a saída, afirmam pesquisadores.
- Nas séries iniciais, acredito que a responsabilidade maior pela Educação da criança seja da escola, porque são alunos mais interessados. A partir da adolescência, o interesse da família em acompanhar ganha peso maior. Agora, é mais fácil culpar os pais, quando a leitura correta é: como a escola pode mudar para conquistar esses pais? - diz João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto. - A escola trata o pai mal, só fala mal do filho. O pai não volta a segunda vez. Quando a escola poderia, em vez disso, falar sobre o que o filho tem de bom. Se o aluno picha, como converter aquilo num trabalho com artes, por exemplo. Em vez de chamar o pai só para reuniões, chamá-lo para falar de cursos para esse pai.
- A família de aluno de rede pública em geral participa pouco. O problema são as condições de participação, que afetam a qualidade dela. A escola tem de melhorá-las - afirma Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. - Estudos mostram que o chamado efeito-família tem peso similar no aprendizado ao do efeito-escola. Mas, no Brasil, o efeito-família tem um obstáculo, a baixa escolaridade de boa parte das famílias. Aí, a escola é que tem de ser a diferença.
No bairro Jockey, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, o modo que a Escola Estadual Professora Odyssea Silveira de Siqueira encontrou para atrair a família foi, além das tradicionais reuniões de pais, chamar para palestras sobre temas como drogas e gravidez; e para comemorações como desfiles ou o aniversário da escola. No início de 2011, quando o colégio ficou sem diretor por alguns meses, pais de alunos chegaram a se reunir para ajudar na limpeza e na manutenção do espaço.
- Não adianta a escola ser bilíngue se a família não mostra ao filho o valor de ter um projeto de vida. E a escola, em regiões como a nossa, precisa também educar os pais para isso - diz a professora de Ciências Marcele Kloper Balado, coordenadora do projeto Os Pais na Escola, criado há um ano no Odyssea.
- Chamar o pai só para reclamar do filho não funciona. Tem de saber como chamar esse pai - acrescenta o diretor do colégio, Carlos José Pestana Moreira, destacando a melhora dos resultados da escola nas provas do Saerj em 2011, ficando acima das notas médias do estado.  

Quando o filho explica o dever
Mãe de dois alunos do Odyssea, a dona de casa Joelma de Lima, que estudou até a antiga 3ª série primária, diz que aprendeu a fazer o casal de filhos explicar para ela o dever de casa:
- Explicaram raiz quadrada, que para mim era coisa do outro mundo, e uma coisa de ciência que gostei muito, sobre evolução do ser humano. Se deixar as criança por ela mesma, ainda mais a mais velha, não vai estudar como deveria - diz Joelma, concordando que não há pai ou mãe que goste de só ouvir falarem mal do filho. - Fico mais tranquila, porque não chamam só nesses momentos.
A resposta "Carência de infraestrutura física e pedagógica da escola" recebeu apenas 28% da concordância dos professores no levantamento da Prova Brasil. Mas, para Danilo Serafim, professor de Sociologia da rede estadual do Rio e coordenador geral do Sindicato dos Professores do Estado do Rio (Sepe), esse é um dos principais itens que demonstram que o culpado não é nem o pai nem o professor:
- É o sistema educacional. As políticas educacionais, que não põem contraturno nas escolas, laboratórios... Estive numa escola de Valença recentemente, e, quando chove, o professor tem de levar os alunos para o banheiro, o único lugar onde não chove lá dentro. É claro que há diferença do aluno de uma família que participa para um que tem família ausente. Mas estou perplexo com o fato de a maioria dos professores ter respondido que a causa está nos pais. Se o professor ficar apontando dedo para a família, e a família, para o professor, os reais responsáveis só vão ficar assistindo a isso de camarote.
Fonte: O Globo (RJ)

"A obrigação de curar é do médico"

Para o professor titular da Faculdade de Educação da USP Vitor Henrique Paro, autor de livros sobre gestão Escolar e participação dos pais, a Escola pública precisa trazer de volta pais de baixa Escolaridade que, eles próprios, quando alunos, não tiveram uma boa Escola.

1.   Como o sr. vê o fato de os professores terem responsabilizado os pais e o próprio aluno pelo não aprendizado dele?
VITOR HENRIQUE PARO: Não tem cabimento, a desculpa é esfarrapada. Se o aluno estivesse interessado, não precisaria do esforço do professor. Podemos dizer que 101% da didática é propiciar condições para que o aluno queira aprender. Agora, a Escola não é só o professor; tem direção, carteira, biblioteca. Botar a culpa só no professor é muito sério. Mas não se pode é culpar o aluno. A obrigação de curar é do médico, não do doente. Isso seria como o médico reclamar: "vocês só me mandam gente doente". Nesse ponto, a Escola privada não é necessariamente melhor, é que a criança já chega lá com condições mínimas para querer aprender; já chega com o pai letrado, o passeio, a viagem.

2.   De quem é a culpa?
PARO: Do sistema de Educação e da sociedade inteira. Do mau provimento da educação pelo Estado, e não estamos falando só de baixos salários de professor. Há a infraestrutura das escolas, e há o fato de que o sistema educacional público insiste em formas de ensino de 300 anos atrás, alguém falando e alguém ouvindo, coisa que só funciona com adulto, que já está querendo aprender, mas não com uma criança que precisa construir isso.

3.   Como a Escola melhora a relação com os pais?
PARO: Fiz uma pesquisa no fim dos anos 1990, numa escola municipal da periferia da cidade de São Paulo, que serviu para meu livro "Qualidade do ensino: a contribuição dos pais". Nas Escolas públicas, os pais são tratados com arrogância. Mas esse colégio passou a receber os pais com lanche, a tratar bem. E criou grupos de formação de pais, um conceito do Paulo Freire. Os pais recebiam tesoura, cola, revistas, para discutir temas como violência; como muitos pais eram analfabetos, pediam para fazerem colagens. O desempenho dos alunos melhorou, diminuíram as faltas, as pichações, os problemas com drogas. Os programas dos governos deviam incluir ações do tipo, em vez de tablets para professores. O que tem de se ver é que os próprios pais de alunos da rede pública tiveram experiências ruins com a Escola quando alunos. É preciso que a Escola os chame de volta para ela.
Fonte: O Globo (RJ)

Escola e diversidade

 
O início do ano letivo nas Escolas faz com que novas turmas se formem ou que novos alunos se juntem aos antigos colegas. Independentemente da idade dos estudantes, as salas de aula ficam repletas de alunos com grandes diferenças entre si: da estatura até a forma de se vestir e se expressar. Essas diferenças superficiais são pouco expressivas quando comparadas com as características individuais de cada um, como personalidade e história de vida. Sempre me incomodou a busca por homogeneização na sala de aula. Em algumas instituições de ensino é preciso que o estudante passe por rigoroso teste de avaliação de conhecimento para comprovar se está apto ou não a se matricular em uma determinada turma, com alunos com inteligência considerada acima do normal. Lidar com estudantes com propensões a aprender rápido pode ser estimulante em um primeiro momento, mas talvez essa seleção não cumpra o verdadeiro papel da Educação. Educar é reunir-se com professores e coordenadores para planejar o ano letivo com base na diversidade de perfis da turma. É considerar que em um grupo sempre existirão maturidades, habilidades e conhecimentos diferentes.
Por isso, é necessário sempre rever o plano de ensino ao longo de sua aplicação para confirmar se o conteúdo está sendo de fato abstraído, como é desejado. Não é porque um aluno demora mais que o outro a terminar a lição em sala de aula que sua capacidade de aprendizado seja inferior. A supervalorização da inteligência nas salas de aula pode gerar problemas de relacionamento com os próprios colegas. É papel do corpo docente da instituição valorizar as diferenças e ensinar crianças e adolescentes a conviver com as divergências de personalidade e de aprendizado. Não existe uma única receita para promover a união de turma. Algumas alternativas nesse caso passam pela promoção do convívio e do respeito à individualidade do aluno. É dever da Escola conhecer a condição inicial de cada estudante e, para isso, utilizam-se os testes de nivelamento no ato da matrícula. Após o início das atividades letivas, a diversidade pode ser incentivada e valorizada por meio de questões e atividades com diferentes níveis de dificuldade. Assim, é possível respeitar todos os ritmos de aprendizado. Para que os alunos se sintam à vontade em sala de aula é necessário, ainda, estimular a integração por meio de exercícios de expressão.
Ensinar alunos a participar e fazer comentários em grupo cria laços e facilita a aproximação com o professor. Esse estímulo pode ser feito também fora de sala de aula por meio de atividades extracurriculares de integração. Um passeio guiado com exercícios e atividades que estimulem o sentimento de pertencimento a um grupo pode gerar grandes ganhos no que diz respeito à valorização da diversidade nas Escolas. Soma-se a estes fatores, por fim, a necessidade de garantir que as características individuais dos estudantes sejam respeitadas nos conselhos de classe, que devem ser, também, momento de avaliação da situação da turma. A Educação integral só acontece quando há respeito às diferenças na turma. É função da Escola contribuir para a formação integral do indivíduo e para o aperfeiçoamento da sociedade em que vive, por meio do incentivo à pesquisa e aos valores humanos, éticos e morais, desenvolvendo no aluno o sentimento de respeito ao próximo em qualquer situação.
Fonte: Estado de Minas (MG)

Alunos da rede estadual vão passar mais tempo na Escola


Atividades extracurriculares e desenvolvidas no contraturno ou nos fins de semana, já realizadas nas instituições, ganharão fôlego com a parceria firmada ontem entre o governo de Minas e o setor privado. As empresas vão adotar projetos e contribuir financeiramente para a execução. Pessoas físicas também podem participar. A expectativa é ampliar o programa, que atualmente atinge apenas 10% dos estabelecimentos de ensino, e torná-lo o principal aliado para a melhoria dos índices de desempenho Escolar e do novo modelo de ensino médio elaborado pela Secretaria de Estado de Educação (SEE).
De início, 11 empresas, instituições e fundações assinaram o protocolo de intenções para o Minas presente na Escola, do qual serão sócio-fundadores. Cada um receberá um catálogo com as opções de projetos já disponíveis, nas áreas de música, dança, teatro, história e esportes. Elas foram estruturadas em três eixos: Escola Viva, Comunidade Ativa; Educação em Tempo Integral e o Programa Educacional de Atenção ao Jovem (Peas Juventude). As ações estão disponíveis na internet (www.educacao.mg.gov.br).
O governador Antônio Anastasia ressaltou que a estratégia faz parte da terceira etapa do programa Gestão para a Cidadania, que conta com a presença da sociedade no espaço público. “Estaremos não só ocupando o tempo e gastando a energia desses jovens, como dando uma Educação plena e mostrando que eles estão sendo objeto da sociedade e não só do governo”, disse.
A secretária de Educação, Ana Lúcia Gazzola, afirmou que todos os alunos precisam de oportunidades reais. “Não há uma região mais carente, o esforço é para o estado inteiro. Mas algumas precisam de mais investimentos, como a Norte, que é uma das mais ricas culturalmente, com artesanato, culinária e história oral do Jequitinhonha”, relatou.
DESEMPENHO: As novas metas da participação do estado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Ministério da Educação, até 2015, foram traçadas esta semana em conjunto com a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão. A secretária de Estado de Educação, Ana Lúcia Gazzola, não revelou números, mas adiantou que um dos desafios é melhorar os resultados das Escolas municipais. “Estamos numa posição boa no país. Nos primeiros anos do fundamental somos o primeiro, nas últimas séries do nível médio estamos em terceiro, mas queremos estar em primeiro em tudo eelevar os patamares do Brasil."
Fonte: Estado de Minas (MG)

quarta-feira, 28 de março de 2012

Melhores escolas no ENEM têm carga horária de até 50 horas

A possibilidade de conquistar uma vaga em universidades públicas e privadas de todo o País a partir do resultado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) motiva a busca de estudantes por escolas que apresentam bons desempenhos na prova aplicada anualmente pelo Ministério da Educação (MEC). Mas qual é o principal diferencial das instituições de ensino que estão no topo da lista de desempenho? Levantamento feito pelo Terra com base em dados fornecidos pelas 20 melhores escolas no ranking divulgado ano passado mostra que todas possuem uma carga horária ampliada, com um montante de aulas que atinge até 50 horas por semana.
Pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) todas as escolas públicas devem cumprir uma jornada de 800 horas anuais, divididas em 200 dias letivos. Isso representa em média 20 horas por semana. Nas 20 melhores escolas no Enem 2010 - último balanço divulgado pelo MEC -, 15 (75% do total) possuem uma jornada superior a 40 horas semanais, quatro têm mais de 30 horas por semana - sendo que duas são as únicas escolas públicas da lista - e uma não divulgou a carga horária.
Para a professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), Inês Maria de Almeida, a jornada ampliada na escola é um importante diferencial para garantir a qualidade do ensino. "O sucesso da escola passa pela questão do tempo. Mas precisamos deixar claro que essa carga horária maior precisa vir acompanhada de projeto pedagógico, professores qualificados e infraestrutura", afirma a educadora, que trabalha em pesquisas sobre a implantação do ensino integral do Brasil.
Os alunos do Colégio Vértice, de São Paulo, conhecem bem os benefícios de ter uma jornada de aulas ampliada. Quarto colocado no último ranking do Enem, a escola inicia as atividades do dia às 7h15 para as turmas do ensino médio, e só termina às 19h. Questionado sobre se os alunos não se sentem cansados com uma carga horária que chega a 50 horas na semana, o diretor Adilson Garcia não tem dúvidas: "Eles adoram. Chega sete horas da noite e eles não querem ir embora, ficam aqui até mais tarde em grupos de estudo para revisar os conteúdos. Alguns pais sentem até ciúmes porque eles passam mais tempo na escola do que em casa", brinca.
O preço para uma jornada ampliada de aulas é alto. No Vértice, a mensalidade chega a R$ 3.253,00. No terceiro ano são seis aulas pela manhã, um intervalo para almoço e mais quatro aulas à tarde. Além dos conteúdos tradicionais dos vestibulares e Enem, os estudantes contam com aulas sobre sexualidade, orientação contra drogas, história da arte e esportes. "A nossa clientela é muito exigente, os pais cobram a aprovação nas melhores instituições e trabalhamos pela excelência no ensino, mas não fazemos propaganda dos resultados nesses rankings", diz o diretor, que afirma que a procura pelo colégio é sempre maior do que o número de vagas disponíveis.
O Vértice possuiu 90 professores, sendo que 25% deles possuem mestrado e todos contam com a graduação para atender os 1.013 alunos. Adilson Garcia concorda com a pesquisadora da UnB sobre a necessidade de se valorizar o corpo docente e o planejamento pedagógico. "Os resultados se fazem com uma soma de fatores. Uma boa scola não trabalha para aparecer em primeiro lugar em um ranking, e sim com foco no desenvolvimento de uma proposta educativa de qualidade", completa.
Fonte: Terra

Festival de poesia de Berlim dá destaque ao Brasil em 2012

A oficina de tradução do Festival de Poesia de Berlim de 2012 será dedicada à poesia brasileira. Seis poetas nacionais e seis alemães, mediados por um tradutor, adaptarão as obras uns dos outros durante a 13ª edição do evento, a ser realizada entre 1º e 9 de junho. Os nomes dos participantes acabam de ser definidos.

Do lado brasileiro, estarão os autores Jussara Salazar, Horácio Costa, Ricardo Aleixo, Marcos Siscar, Dirceu Villa e Érica Zíngano. Do lado alemão, marcarão presença Ann Cotten, Jan Wagner, Christian Lehnert, Ulf Stolterfoht, Barbara Köhler e Gerhard Falkner. O resultado da oficina será uma antologia binacional e bilíngue, a ser publicada em 2013 pelas editoras 7Letras, no Brasil, e das Wunderhorn, na Alemanha.

De acordo com a proposta do projeto de traduções, realizado desde 2002, os autores trabalham em conjunto, aos pares, com a ajuda de um intérprete. Após o tradutor preparar uma versão bruta dos textos, os poetas passam dias trabalhando em cima dos poemas. Eles se envolvem diretamente no processo de tradução, preocupando-se com rimas, ritmo e sentido.

O poeta brasileiro Ricardo Domeneck, residente em Berlim, foi convidado neste ano pela Literaturwerkstatt – organizadora do festival – para realizar a curadoria da oficina de traduções e escolher os autores brasileiros. "eram apenas seis poetas e era impossível representar todo o Brasil. Então, a minha preocupação primordial foi a qualidade dos textos", diz. "também me preocupei em que fossem poetas que ainda não tivessem sido traduzidos na Alemanha."

Luisa Frey, in: UOL

Dilma lança programa de ensino

Formar agricultores em universidades e em cursos técnicos para que apliquem os conhecimentos adquiridos em ações para aumentar a produtividade nas pequenas propriedades e garantir a distribuição de renda é o objetivo do Programa Nacional de Educação no Campo (Pronacampo). O programa foi lançado ontem pela presidenta Dilma Rousseff, em cerimônia no Palácio do Planalto.
“Estamos apostado que esta geração e, sobretudo, que uma outra geração vai se beneficiar com tudo isto, mudando a feição do campo brasileiro, garantindo que ele será um local digno de se morar”, disse a presidenta.
Dilma destacou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo os quais uma parte significativa das pessoas extremamente pobres que vivem país estão em áreas quilombolas e assentamentos de reforma agrária, e disse que é preciso usar a Educação para mudar essa realidade.
“Dentro da nossa estratégia de combate à miséria no país, este programa é um dos eixos estratégicos, porque aposta não só em retirar as pessoas da condição de miséria, mas em garantir que as gerações futuras tenham outro tipo de horizonte, de oportunidades pela frente.”
O Pronacampo vai oferecer apoio técnico e financeiro aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios para implementação de políticas de ensino voltadas para Escolas rurais e de áreas onde vivem quilombolas. O programa está dividido em quatro eixos: gestão e práticas pedagógicas; formação de professores; Educação de jovens e adultos e Educação profissional e tecnológica; e infraestrutura física e tecnológica. As metas estão previstas para o período 2012-2014.
Segundo dados do Ministério da Educação, 23,18% dos que vivem no campo e têm mais de 15 anos são analfabetos e 50,95% não concluíram o Ensino Fundamental.
Fonte: Diário de Cuiabá (MT)

terça-feira, 27 de março de 2012

Piso do magistério prejudica as finanças estaduais e municipais

Em uma época não muito distante, os administradores brasileiros definiam suas prioridades e começavam a gastar sem saber muito bem como iriam financiar as novas despesas. Julgavam que apenas as boas intenções de uma proposta eram suficientes para torná-la exequível. O resultado dessa mentalidade, que infelizmente predominou durante um longo tempo, foi a completa desorganização das finanças públicas. Esse quadro só foi alterado com a aprovação da lei complementar 101, de 2000, mais conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
A LRF estabeleceu - e este é um dos seus pilares - que uma ação governamental que acarrete aumento de despesa precisa ser acompanhada de estimativa de seu impacto orçamentário-financeiro no exercício em que vai entrar em vigor e nos dois subsequentes, demonstrando-se a origem dos recursos para o seu financiamento.
O aumento da despesa terá, portanto, que ter adequação orçamentária e financeira e ser compatível com o Plano Plurianual (PPA) e com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Ou seja, ela precisa ter dotação orçamentária específica e suficiente e não ferir dispositivos da LDO e do PPA. Do contrário, a nova despesa será considerada irregular e desautorizada.
Não é necessário enumerar os benefícios da LRF, que completará 12 anos em 4 de maio. Com a lei, a administração pública ficou mais responsável, transparente e todos os indicadores fiscais do setor público melhoraram. O Brasil, hoje, destaca-se no cenário internacional, entre outras coisas, por solidez fiscal, e a LRF é um exemplo discutido em todo o mundo.
Não se pode esquecer esse princípio básico da LRF - para criar uma despesa é preciso ter definida a fonte de recursos que irá custeá-la - quando se discute a valorização da carreira e a remuneração digna dos professores. Os especialistas são unânimes em afirmar que essa valorização do magistério é condição essencial para o Brasil ter uma Educação de qualidade.
E nada mais prioritário no país do que colocar todas as crianças e os jovens em Escolas de qualidade, que tenham como meta a inovação, a ciência e a tecnologia. Vive-se hoje em uma sociedade do conhecimento e os países que não se prepararem para essa nova realidade não terão condições de competir.
O piso salarial nacional para os professores da rede pública foi criado em 2008 e, à época, ele foi fixado em R$ 950. Com o reajuste de 22,2% deste ano, o piso já está em R$ 1.451 - um aumento nominal de 52,7% em quatro anos. O ganho real, considerando a variação do IPCA do momento em que ele começou a ser pago até hoje, foi de 21,9%. Depois que foi instituído, o piso dos professores subiu mais do que o salário mínimo.
O aumento de 22,2% provocou protestos de prefeitos e governadores, muitos deles do PT, que não estão contra a valorização do magistério, mas se perguntam como farão para pagar a conta e, ao mesmo tempo, manter suas administrações dentro dos parâmetros definidos pela LRF. O piso também vale para os aposentados do magistério público da Educação básica.
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, disse que o piso de R$ 1.451 criou um problema para os prefeitos. "Se eles pagarem o piso, irão descumprir o limite de 54% da receita corrente líquida para gastos com pessoal na área do executivo municipal, definido na LRF", afirmou. Ziulkoski alerta que, se for mantido o atual critério de correção do piso dos professores, o reajuste previsto para 2013 será de 21,8%.
É evidente, portanto, que a fórmula de correção do piso, prevista na Lei nº 11.738/2008, precisa ser alterada. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou fazer a mudança ao encaminhar, ainda em 2008, um projeto de lei que previa o reajuste do piso pelo INPC do ano anterior. Depois que o projeto foi aprovado em caráter terminativo pela Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara, um grupo de deputados solicitou que a decisão da CFT fosse submetida ao plenário.
Em entrevista a este jornal, o ministro Aloizio Mercadante defendeu que o piso salarial continue tendo reajustes reais nos próximos anos. Ele deseja para o piso uma política de valorização parecida com a do salário mínimo. O assunto certamente será debatido pelo Congresso, mas é preciso definir fontes de recursos para o financiamento desses gastos, sob pena de tornar inviáveis as finanças estaduais e municipais. E para fechar a equação, não se pode contar com os royalties do pré-sal, pois essa é uma receita que ainda vai demorar muito para ingressar nos cofres públicos em quantidade suficiente para bancar os gastos adicionais.
Fonte: Valor Econômico (SP)

Mercadante aponta três desafios para a educação

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse ontem que o Brasil é a sétima economia do mundo e caminha para ser a quinta. Segundo ele, no entanto, o País não terá reconhecimento internacional enquanto não resolver a questão da Educação, afirmou, durante almoço- debate com 270 empresários associados ao Lide Grupo de Líderes Empresariais, presidido por João Doria Jr., em São Paulo. O ministro ressaltou que o Brasil possui um atraso profundo na área de Educação e que é possível aprender com iniciativas internacionais.
Mercadante apontou três grandes desafios na área: préescola, alfabetização na idade certa e a Educação no campo. Segundo o ministro, é preciso acelerar a construção de creches, lembrando que o índice de crianças nas creches subiu de 9,4%, em 2000 para apenas 21,6% em 2010. Na pré-escola, o índice passou De 51,4% (2000) para 80,1% no ano passado. Ainda no tema de alfabetização, Mercadante afirmou que no Norte e Nordeste apenas entre um terço e um quarto das crianças são alfabetizadas na idade certa. É preciso um esforço do Brasil neste sentido e, por isso, na próxima semana, será lançado o programa alfabetização na Idade Certa e, assim, melhorar tais índices, completou.
Em relação aos professores, o ministro lembrou que é preciso melhorar sua autoestima. Hoje temos dois milhões de professores, sendo que 600 mil não possuem graduação e outros 300 mil ainda estão terminando os estudos. Ele lembrou que o piso atual, de r$ 1.451 é pouco mais de dois salários mínimos. não vamos ter bons profissionais se não tivermos salários competitivos. Temos que vincular o pré-sal ao futuro e deixar para as novas gerações um país autossuficiente em Educação, ciência e tecnologia. Sobre a formação de mão-de- obra, Mercadante lembrou que o Brasil tem seis engenheiros para cada mil habitantes; nos Estados Unidos são 40 e no Japão, 26 para cada mil.
Em relação aos médicos, para cada mil habitantes, o Brasil possui 1,8 e os Estados Unidos, 2,4. O ministro comentou que, no caso dos médicos, o financiamento pelo Fies garante 100% de abatimento da dívida do financiamento caso o profissional trabalhe para o SUS (Sistema Único de Saúde) após formado. Ele vê uma oportunidade para parcerias público- privadas na área, e sugeriu a participação de hospitais de excelência na criação de cursos de medicina em universidades.
Durante o evento, foi realizada a 75ª edição da pesquisa de índice Lide-FGV de clima empresarial. O índice geral manteve- se igual ao da medição anterior, com nota de 6,3. A eficiência geral do governo alcançou 4,6. Em relação a situação atual dos negócios, a pesquisa revelou queda em relação a dezembro do ano passado: 49% consideram melhor contra 59% na edição anterior. Para 49% os negócios se mantiveram iguais (31% em 2011) e 6%, pior (10% na edição anterior). Na previsão para empregos (diretos e indiretos) houve pequena alteração em relação a sondagem anterior: empregar ficou com 46%, manter com 48% e demitir com 6%.
Na edição anterior, os índices foram 44%, 52% e 4%, respectivamente. Ainda segundo a pesquisa, o fator que mais afeta o crescimento é a carga tributária, com 75% das respostas. Fundado em junho de 2003, o Lide - Grupo de Líderes Empresariais possui oito anos de atuação, registrando crescimento de 700%. Atualmente são 920 empresas associadas (com os braços regionais e internacionais), que representam 46% do PIB privado nacional.
O objetivo do grupo é difundir e fortalecer os princípios éticos de governança corporativa no brasil, promover e incentivar as relações empresariais e sensibilizar o apoio privado para programas comunitários. Para isso, são realizados inúmeros eventos ao longo do ano, promovendo a integração entre empresas, organizações, entidades privadas e representantes do poder público, por meio de debates, seminários e fóruns de negócios.
Fonte: Jornal do Commercio (RJ)

segunda-feira, 26 de março de 2012

As barreiras à modernização do financiamento ao ensino

Quando se fala em financiamento da Educação no Brasil, é comum ouvir que o país investe pouco nessa área. Porém, como a sociedade pode ter certeza que é pouco realmente e que o valor utilizado atualmente não é capaz de atender as demandas sociais? Um estudo lançado em 2007 pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação vem sendo difundido como referência para o financiamento da Educação no Brasil. Trata-se do Custo de aluno Qualidade Inicial (CAQi), que inverte a lógica do financiamento tradicional: ao invés de distribuir determinado valor, via tributos, às redes de ensino público, leva em conta o que é necessário ser investido para que todos os níveis alcancem um padrão mínimo de qualidade - o que é previsto na Constituição Federal.
Nestes quatro anos de trabalho, o CAQi só recebeu elogios, ao ponto de se discutir hoje se ele deveria se tornar a 21ª meta do Plano Nacional de Educação, em discussão no Congresso. O CAQi está sendo usado para calcular o custo da Educação integral para a Unesco. Este é um primeiro esforço para tirar o Brasil do padrão mínimo, afirma Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Antes disso, porém, o país precisa atingir o mínimo. Por isso, o CAQi está presente em todas as discussões sobre a necessidade de se investir pelo menos 10% do PIB em Educação, e não os 7% defendidos pelo governo. Também foi aprovado em maio de 2010 pelo Conselho Nacional de Educação como o instrumento que normatiza os padrões mínimos de qualidade da Educação básica. A resolução aguarda homologação do ministro da Educação há dois anos. Esse instrumento também já é bastante conhecido pelos políticos brasileiros.
Só no Congresso Nacional, o CAQi foi apresentado cinco vezes a mais recente delas foi ontem na reunião sobre Recursos e investimentos educacionais e o CAQ (Custo aluno-Qualidade), realizada pela Comissão Especial que trata do PL 8035/2010 (Plano Nacional de Educação). No Senado a Campanha também fez uma apresentação. Sem contar as 27 audiências públicas em todos os estados sobre o tema. Se todos são a favor, por que o CAQi não vira política pública? O problema é que se for homologado, a União terá de colocar a mão no bolso para cumprir seu papel instituindo um Regime de Colaboração verdadeiro, afirma Cara. Dados de 2009, mostram que de cada R$ 1 investidos em educação, a União contribuí com R$ 0,20; estados com R$ 0,41 e municípios com R$ 0,39. Isto não é um problema só desse governo. Nunca um governo central ou federal no Brasil se responsabilizou pelo investimento em Educação Básica, que acabou sendo passada para estados e municípios.
O impasse sobre a responsabilização dos investimentos pode ser visto nas discussões do PNE. Não estamos tratando aqui de uma questão técnica. Se fosse isso, o parecer do Ipea mostrando que o país tem condições de investir 10% do PIB em Educação já resolveria a questão. O debate é outro, de cunho político. Como é calculado O CAQi leva em conta quais insumos são necessários para uma Educação de qualidade como remuneração digna aos professores, política de carreira, número adequado de alunos por sala, material didático e de apoio, laboratórios, banda larga, entre outros.
Fonte: Brasil Econômico (SP)

Ministro anuncia programa para qualificar professores

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou a criação de um programa específico para qualificar professores. O projeto Escola sem Fronteiras levará professores de todo o país para conhecer o trabalho desenvolvido em instituições de ensino de excelência, no Brasil e no Exterior.
Oprograma foi apresentado ontem pela manhã, durante o evento de abertura da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, em São Paulo. De acordo com o ministro da Educação, o investimento nos professores é fundamental para a qualificação da Educação brasileira.
– Se estamos mandando nossos estudantes para as melhores universidades do mundo, por que não fazer o mesmo com os professores – argumentou Mercadante, referindo-se ao programa Ciência sem Fronteiras, também do governo federal, que distribui bolsas de estudo para universitários brasileiros.
Conforme o ministro, neste novo projeto, os professores vão receber bolsas de estudo para conhecer de perto a realidade e o funcionamento de Escolas de alto padrão. Eles poderiam ser selecionados pela nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) ou pelo desempenho em alfabetização, sugeriu o ministro.

Olimpíada mobiliza milhões de estudantes no Brasil
A Olimpíada de Língua Portuguesa, parceria entre a Fundação Itaú Social e o Ministério da Educação (MEC), foi destacada também como uma estratégia para formação de docentes. Na última edição, em 2010, mais de 60 mil Escolas públicas participaram, mobilizando 239,4 mil professores e 7 milhões de alunos dos ensinos Fundamental e Médio.
Todas as Escolas públicas do Brasil recebem material didático específico para desenvolver em sala de aula quatro diferentes gêneros textuais: poema (5º e 6º anos), memórias (7º e 8º anos), crônica (9º ano e 1º ano do ensino médio) e artigo de opinião (2º e 3º anos do ensino médio). Os melhores trabalhos são premiados. As inscrições começaram ontem e seguem até 25 de maio, pelo site www.escrevendoofuturo.org.br
Ao final do evento, em entrevista coletiva, Mercadante prometeu também o lançamento, nas próximas semanas, do Pronacampo, programa que deve estabelecer melhorias nas Escolas de áreas rurais.
O ministro propôs, ainda, que o Brasil seja sede, em 2016, de uma olimpíada educacional, aproveitando os Jogos Olímpicos que serão realizados no Rio.
Fonte: Zero Hora (RS)

domingo, 25 de março de 2012

Uniforme inteligente entrega aluno que cabula aula na Bahia

Desde o início da semana, alunos da rede municipal de Vitória da Conquista, na Bahia, não vão mais poder cabular aulas. Um "uniforme inteligente" vai contar aos pais se os alunos chegaram à Escola - ou "dedurar" se eles não passaram do portão.
O sistema, baseado em rádio-frequência, funciona por meio de um minichip instalado na camiseta do novo uniforme, que começou a ser distribuído para 20 mil estudantes na segunda-feira.
Funciona assim: no momento em que os alunos entram na Escola, um sensor instalado na portaria detecta o chip e envia um SMS aos pais avisando sobre a entrada na instituição.
Fonte: Folha de S.Paulo (SP)

Espaço para os erros


Rosemeire e Frederico se preocupam em acompanhar as lições do filho, Octávio, para o caso de surgir alguma dúvida: sem definição de nota mínima para parabenizar o menino
Na busca por garantir um bom desempenho Escolar dos filhos, muitos pais ficam em dúvida sobre qual é a melhor forma de agir. É mais eficaz pressionar crianças e adolescentes constantemente para que eles não percam a disciplina e mantenham sempre boas notas ou evitar o excesso de cobrança para que o estresse não prejudique o rendimento?
Dois pesquisadores franceses trazem novas informações que podem ajudar os pais nessa difícil tarefa. Depois de realizar um estudo com alunos do 6º ano do ensino fundamental (idade média de 11 anos), Frédérique Autin e Jean-Claude Croize, pesquisadores, respectivamente, da Universidade de Poitiers e do Centro Nacional de Pesquisa Científica, concluíram que, quanto mais tranquilos e com menos receio de falhar, melhor se saem os estudantes.
Segundo a pesquisa, publicada na edição deste mês do Journal of Experimental Psychology, a pressão para obter um bom desempenho e o medo de errar podem interferir no funcionamento da mente e prejudicar o rendimento dos estudantes. Para os especialistas, as crianças tendem a se sair melhor na Escola quando se sentem confiantes e são ensinadas a ver a falha como algo normal e parte do aprendizado. Essa abordagem, acreditam, garante melhores resultados que a pressão constante.
Para chegar a essa conclusão, ela e seu colega dividiram a pesquisa em três fases. Na primeira, 111 estudantes precisavam resolver problemas de anagramas que não tinham sido ensinados a solucionar. Para um grupo desses alunos, os educadores e os pais diziam, antes da tarefa, que a dificuldade e a falha são aspectos comuns do aprendizado. Para a outra parte, era simplesmente pedido que respondessem às questões. “Os estudantes do primeiro grupo trabalharam melhor do que os outros, especialmente nos problemas mais difíceis e, aparentemente, sem solução”, revela Autin.
O segundo experimento contou com 131 alunos. Em um primeiro momento, parte dos alunos teve de resolver um anagrama bem simples para seu nível de Escolaridade. Depois, todos tiveram de completar um teste de interpretação textual. Parte deles ouviu de adultos que o aprendizado é resultado de um esforço e outro não ouviu nenhuma mensagem. Nesse caso, os alunos com quem adultos tinham conversado e aqueles que já tinham resolvido o anagrama simples se saíram melhor que os demais.
Por fim, em um terceiro experimento, 68 crianças responderam a um questionário que incluía perguntas de interpretação de texto e sobre como eram cobradas por seus pais e professores. Os pesquisadores notaram, então, que aquelas que viviam sob menos pressão se saíram melhor nas perguntas de interpretação.
Autin esclarece ao Correio que muitas crianças crescem em um ambiente no qual há uma “obsessão com o sucesso”. “Reconhecer que a dificuldade é uma etapa crucial no processo de aprendizagem poderia parar com o círculo vicioso que faz com que momentos difíceis criem sentimentos de incompetência, que, por sua vez, resultam em deturpações no aprendizado”, salienta a coautora do estudo.
Fonte: Correio Braziliense (DF)