sábado, 10 de março de 2012

Currículo maior nem sempre é melhor

Desde o começo de 2011 tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que obriga a inclusão da Educação Ambiental e da Educação no Trânsito como disciplinas obrigatórias no Ensino Fundamental e Médio de todas as Escolas públicas e privadas do país. Outras 250 propostas de mudança curricular também aguardam a aprovação dos parlamentares. A grande quantidade de projetos levanta a discussão sobre a qualidade da formação na Educação Básica diante de um currículo abarrotado de conteúdo.
Se de um lado acredita-se que assuntos relevantes à sociedade precisam ser levados à sala de aula – já que a Escola costuma ser apontada como solução para os problemas –, do outro, o in­­chaço curricular pode acarretar na redução da carga horária de disciplinas básicas como Por­­tuguês, Matemática e História, o que pode fazer falta na formação do estudante.  

INTERDISCIPLINARIDADE
A discussão sobre a inclusão de novos conteúdos na Escola, principalmente temas atuais, levanta um debate maior sobre o objetivo da Educação formal. Ou seja, que tipo de pessoa a Escola quer formar e quais são seus limites e seu papel.
Educadores garantem que não é uma discussão simples. Prova disso é que a reestruturação Escolar é debatida há anos pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
A professora do curso de Pedagogia da Universidade Positivo (UP) Ivana Cristina Lima de Almeida acredita que o primeiro passo é a definição de qual currículo se deseja ter hoje e de que forma ele é aplicado. Se for aquele que atende às demandas da sociedade, o melhor seria o modelo interdisciplinar, opção da maioria das instituições de ensino do país que prevê o diálogo entre as disciplinas. Mas existem outros dois modelos, um considerado ultrapassado, o pluridisciplinar, e o visto como ideal, mas difícil de ser alcançado, o transdisciplinar.
O primeiro trabalha várias disciplinas que não precisam dialogar entre si. Era o modelo tradicional de currículo antes da lei que implantou os temas transversais no currículo. Já a transdisciplinaridade vai além da interdisciplinaridade, pois é a interação máxima entre as disciplinas, proporcionando um novo conhecimento.
Veja quais são os temas transversais mais discutidos em sala de aula:

Implantados em 1997:
Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual e Pluralidade Cultural.


Implantados a partir de 2007:
Música, Cultura Afro Brasileira, Cultura Indígena, Filosofia, Sociologia, Artes e Direito da Criança e do Adolescente.


Para a secretária municipal da Educação do Rio de Janeiro, Claudia Costin, o impacto no currículo básico é comprometedor, pois são os conteúdos tradicionais que dão ao aluno a capacidade de escrita, espírito crítico, investigação e raciocínio lógico – a base para que o estudante seja capaz de analisar e refletir sobre qualquer outro assunto. “No Brasil, a carga horária fica entre quatro e cinco horas por dia, o que é muito pouco. Com mais disciplinas, teríamos de reduzir o tempo das que existem ou entrar em outra questão complicada: a Educação integral para dar conta de tudo”, diz.
Outro aspecto que Claudia acredita ser um problema é a quantidade de analfabetos funcionais no país: 20% dos brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se não há nem o domínio da leitura e da escrita, o ideal é que se invista nisso e não em novos conteúdos que talvez nem sejam compreendidos sem o domínio das capacidades básicas.

Fonte: Gazeta do Povo (PR)

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