Para cada criança ou adolescente superdotado no Brasil, há outras 140 mentes brilhantes anônimas. O número de talentos não identificados e, portanto, desperdiçados no país chega a 1,2 milhão de meninos e meninas — considerando a estimativa mais rigorosa da Organização Mundial da Saúde, de 3% de detentores de altas habilidades em qualquer população analisada. Reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC), entretanto, só existem 9.208 alunos, das redes pública e privada, nas turmas da creche ao ensino médio, incluindo as séries para jovens e adultos. O Distrito Federal se destaca, com a maior proporção de superdotados, cerca de 5% .
“Países que já perceberam que esse capital humano pode ajudá-los a crescer socialmente passaram a investir, alcançando o índice aceito hoje na literatura, de 15% a 20% de alunos altamente capazes. Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão, entre outros, têm políticas sérias”, afirma Maria Cristina Dellou, presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação. No Brasil, embora haja legislação, programa federal e recursos para trabalhar com os superdotados, faltam professores capacitados para identificar e lapidar os talentosos, na avaliação de Maria Cristina, que é doutora em Educação.
Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Denise de Souza Fleith tem percepção igual. “Professores com 20 anos de sala de aula dizem que nunca tiveram um superdotado. Será? É preciso romper também com uma questão cultural e ideológica, que desconsidera a existência das pessoas com altas habilidades ou chega a hostilizá-las”, afirma Denise. O mito de que o superdotado tem de ser gênio em todas as áreas do conhecimento também dificulta a identificação.
“Não é raro o aluno se tornar desinteressado, porque tem de ficar repetindo mecanicamente o que ele sabe analiticamente, em função do raciocínio adiantado em relação à turma”, diz o professor Benilton Rezende Monteiro, que atende superdotados na área de ciências no DF. Em 2006, o MEC instalou núcleos para superdotados nas 27 unidades da Federação. Muitos, porém, funcionam precariamente. “Temos conhecimento que DF, Mato Grosso do Sul e Paraná desenvolvem políticas adequadas. Os demais estados fazem do jeito que podem”, diz Maria Cristina. O MEC foi procurado, mas não retornou os contatos da reportagem.
Fonte: Correio Braziliense (DF)
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