domingo, 11 de março de 2012

Educação: futuro em jogo

Uma análise dos dados acumulados dos quatro primeiros relatórios de monitoramento das cinco metas do movimento Todos Pela Educação, o De Olho nas Metas, revela avanços importantes nas séries iniciais do ensino fundamental (EF), tanto no atendimento quanto na aprendizagem e conclusão escolar. Por seu lado, esses mesmos dados mostram uma nítida estagnação na aprendizagem escolar nas séries finais do EF e no ensino médio (EM), especialmente em matemática. De acordo com análise realizada pelo professor Tufi Machado Soares, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), para a publicação deste ano, se a taxa de conclusão continuar no atual nível de crescimento, teremos apenas 65% de nossos jovens concluindo o EM na idade correta (até 19 anos) em 2021, muito abaixo da meta desejável de 90%.
É importante ressaltar que as metas do movimento são para 2022 e, se alcançadas, colocarão o Brasil no estágio em que se encontravam, em 2005, os países da União Europeia. Portanto, um crescimento discreto ou mesmo uma estagnação, em alguns casos, significa aqui retrocesso, pois o fosso que já nos separa dos países mais desenvolvidos continuará crescendo. Daí o caráter de urgência que precisa ser dado à Educação.
Um ponto alarmante que deve ser destacado desse relatório é o percentual de aprendizagem escolar dos alunos da rede pública ao final do EM em matemática. Na média nacional, apenas 5,8% deles saem dessa etapa sabendo o que era esperado. Isso sem falar que muitos ficaram no meio do caminho, ou seja, não conseguiram sequer terminar a EB (como o nome aponta, o básico para a sua Educação). Porém, mesmo entre esses que conseguiram concluir o básico, o percentual de aprendizagem adequada é absolutamente vergonhoso para o nosso país. Se esses resultados, como veremos a seguir, ocorressem em outros países, que entendem o verdadeiro papel de uma Educação de qualidade para todos, seria caso de “parar” o país para repensar o que está acontecendo.
No Piauí, por exemplo, o percentual de alunos das escolas públicas com aprendizado adequado em matemática, ao final das séries iniciais do EF, é de 15,7%; quando concluem essa etapa, o percentual já cai para 6,4%, e, ao final do EM, vem o pior desempenho, o percentual é de apenas 1,3%. Ou seja, de cada 100 alunos que concluem o EM nesse estado, apenas um aprendeu o que seria esperado em matemática. A situação do Piauí se repete em outros estados. No Amapá, por exemplo, o percentual é de 1,8%; no Rio Grande do Norte, de 1,6%; em Mato Grosso, de 1,5%.
Mesmo no estado mais rico do país, São Paulo, o percentual é de apenas 7,5%. Em língua portuguesa, os percentuais são um pouco melhores, mas nada que nos permita comemorar, tendo a média nacional da rede pública sido de 23,3% para o 3º ano do EM. Mesmo quando contemplamos também os alunos das escolas particulares, os dados não são animadores, atingindo percentual de apenas 11% em matemática e 28,9% em língua portuguesa no 3º ano do EM.
Esse é o verdadeiro drama juvenil. Não querer enxergar esse drama é negar a própria capacidade do Estado brasileiro de cuidar de seus jovens. Em vez de uma boa Educação, é preferível cuidar (e mal) dos problemas que decorrem de sua ausência, como as drogas, o alcoolismo e as elevadas taxas de homicídio juvenil.
Os números mostram que é o momento para lançar a versão 2.0 do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que, na primeira fase, estabeleceu um indicador de qualidade para a EB, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Esse índice trouxe a cultura de metas para as escolas, municípios, estados e União, e produziu avanços importantes nas séries iniciais do EF, mas ainda não vem produzindo o efeito esperado nas séries finais dessa etapa, e, muito menos, no EM, que vive uma grave crise.
Presidente Dilma, ministro Mercadante, é chegada a hora de convocar os governadores e tomar decisões estratégicas e compactuadas para o enfrentamento, trazendo no bojo o compromisso da sociedade, em especial dos pais e das famílias. Caso contrário teremos um país de economia próspera, mas incapaz de formar os nossos jovens para aproveitá-la. É o futuro que está em jogo.
Mozart Neves Ramos, in: Correio Braziliense (DF)

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