quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Iniciativa privada busca saída para melhorar ensino médio

Para que serve o ensino médio? A pergunta até parece óbvia, mas consegue fazer calar educadores experientes, especialmente aqueles ligados à escola pública.
Não é à toa, o único ponto de concordância entre todos é que as séries finais da educação básica estão em crise, o que prova o alto índice de evasão dos alunos neste período.
Pois Wanda Engel, superintendente executiva do Instituto Unibanco, garante saber a resposta e que isso não basta para a solução. "O ensino médio é a última fase da base e deve garantir as competências que um aluno precisa ter para entrar no mercado de trabalho ou continuar os estudos", explica.
"Não adianta tratá-lo mais como fase de passagem para o mercado de trabalho, pois isso só era possível quando as pessoas conseguiam emprego só com o ensino fundamental. O que não acontece mais."
No Instituto Unibanco, Wanda há anos se debruça sobre os problemas do ensino médio. E não são os únicos. Várias empresas vêm desenvolvendo soluções para esta crise. Há quem aposte em tirar os melhores da escola pública e levar a particulares, a fim de promover mais rápido a ascensão desses alunos.
É o caso do Ismart, que tem entre seus apoiadores a Fundação Lemann. Há quem prefira abrir suas próprias escolas, como Bradesco, Embraer e JBS. Seja qual for a iniciativa, Wanda alerta que mais do que mão de obra qualificada, o Brasil precisa de mão de obra escolarizada.
"Na sociedade agrícola, as pessoas podiam ter só quatro anos de estudo que garantiam seu emprego. Na sociedade industrial, a exigência era oito anos. Mas agora, na sociedade de conhecimento, precisamos de estudantes com no mínimo 11 anos de ensino", diz.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, um em cada 10 alunos de 15 a 17 anos deixa de estudar nessa fase. Os motivos?
"Pesquisas mostram que 40% dos alunos que abandonam a escola no ensino médio simplesmente não têm interesse, o que pode ser desdobrado em outros fatores: falta de condição acadêmica para continuar os estudos, pois 85% dos alunos que chegam ao ensino médio têm desempenho de 5ª série; problemas financeiros, desinteresse pelo currículo ou mesmo falta de perspectiva futura."
Pensando nessa realidade, o o Instituto Unibanco desenvolve o Projeto Jovem de Futuro, com o objetivo de aumentar o desempenho escolar dos alunos e diminuir os índices de evasão. O programa foi testado de 2008 a 2010 nas redes estaduais de Minas Gerais e Rio Grande do Sul e agora ganhou status de política pública.
O instituto assinou, em parceria com o Ministério da Educação, um termo de cooperação com seis estados - Pará, Ceará, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Piauí -, para ampliação do Projeto Jovem de Futuro do instituto, que passa a integrar o programa Ensino Médio Inovador, do governo federal.
As escolas públicas que aderirem ao projeto vão receber apoio técnico para a elaboração de um plano estratégico, assistência técnica para uma gestão para resultados e R$ 100 por aluno do ensino médio ao ano, para a implantação desse plano.
"A escola tem de aprender a ter sucesso, para isso tem de ter autonomia e, em contrapartida, melhorar substancialmente o desempenho nas avaliações escolares", diz.
A meta é que os estados acelerem, em cinco anos, sua aproximação ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 6-meta do governo federal para 2022. Estas ações, no entanto, não são suficientes para resolver o problema da evasão. "Lançamos a campanha "Estudar vale a pena" para tentar diminuir a sangria".
Fonte: Brasil Econômico (SP)

A política comanda a educação

 
O Brasil precisa urgentemente atacar, com políticas públicas sérias, o seu tripé principal: Educação, Segurança e Saúde. Não se compreende por que o investimento em Educação é tratado de forma política e não como uma obrigação constitucional.
Temos hoje professores desmotivados, sem salário adequado, e escolas públicas sucateadas pelo país afora. Enfim, não se dá o devido valor à Educação brasileira. Recentemente, foi indicado para a pasta da Educação o político “profissional”, Aloizio Mercadante, que nada entende da área.
É a indicação política que continua a corromper as nossas instituições. Quantos profissionais da área de Educação, competentes e apolíticos, existem, e o governo federal foi lançar mão logo do senhor Aloizio Mercadante, sem conhecimento da área? Esta é a prova incontroversa do menoscabo federal com a Educação brasileira.
A senadora Ana Amélia (PP-RS) fez importante aparte, dia 9, no discurso do senador Sérgio Souza (PMDB-PR), que falava sobre Educação no Brasil, ao criticar o comportamento da presidente Dilma, que vetou a exigência de Ensino Fundamental para o exercício da profissão de cabeleireiro e manicure.
Ora, por que o requisito Educação formal foi deixado em plano inferior pela presidente da República? Por quê? Para agradar ao seu eleitorado? Ou o compromisso federal com o fortalecimento da Educação é apenas um jogo de interesse ou peça de retórica?
Lamentavelmente, a Educação brasileira é tratada de forma política e serve de pano de fundo para encobrir a incompetência de nossos governantes. A política de cotas para negros demonstra o alto grau de deficiência do ensino da rede pública brasileira.
Em vez de o governo investir substantivamente numa escola pública de alta qualidade, para nivelar todos: pobres, ricos, negros, brancos etc., prefere colher dividendos políticos ao facilitar a entrada de “negro” na universidade pública em detrimento, por exemplo, de um “branco” pobre que tenha alcançado, em vestibular, uma classificação superior ao “negro”, desmerecendo assim os fatores de competência entre cidadãos. Isso é não é política deEducação.
Vejam, também, no plano de política representativa. Prega-se hoje, como necessidade indispensável, que todos os cidadãos tenham Educação formal completa: primeiro, segundo e terceiro graus. Hoje, para qualquer empreguinho razoável exige-se conclusão do ensino médio.
Por que também não se muda a Constituição Brasileira para que todos os representantes políticos, desde vereador, tenham, no mínimo, a conclusão do ensino médio? É inconcebível que parlamentares que votam as leis do país não tenham Educação formal adequada para o exercício do mandato.
Isso é muito sério! Ah, mas o ex-presidente Lula não tinha Educação formal completa! Mas o Brasil tem que se pautar por modelos educacionais de Primeiro Mundo. Não podemos ficar batendo palmas para os Tiriricas da vida.
É um grande retrocesso, para um país que almeja espaço no cenário internacional das nações desenvolvidas, continuar a permitir que o seu Parlamento seja constituído de cidadãos sem formação cultural adequada.
O Congresso Nacional deveria envidar esforços para que o nível educacional de nossos parlamentares, a começar dos vereadores, obedecesse aos padrões culturais que estão sendo exigidos dos demais brasileiros.
Fonte: Diário de Cuiabá (MT)

Alfabetização na idade certa

Se o ministro Aloizio Mercadante tivesse filho em idade escolar e o matriculasse em escola particular, saberia que a idade certa para alfabetizar é 6 anos.
Por que o MEC propõe que isso ocorra aos 8 anos na escola pública? Dois Brasis? Ministros não precisam ser especialistas e os recém-chegados ao posto têm direito a período de aprendizagem. Nada como examinar as melhores práticas e a evidência científica para aprender rápido.
Num sistema educativo ordenado, tudo se inicia com o currículo, que estabelece o que o aluno deve aprender, de preferência em cada série escolar. Um currículo, portanto, também define quando o aluno deve ser alfabetizado.
Decidir quando o aluno deve se alfabetizar não pode depender da crença ou vontade de secretários de Educação. É direito fundamental do aluno. Vale lembrar que currículo nada tem a ver com métodos de ensino. O Brasil não tem currículo há décadas.
Como saber a idade certa para alfabetizar? No país, há inúmeras experiências bem-sucedidas. Praticamente todas as escolas particulares alfabetizam aos seis anos. E há pelo menos algumas dezenas de municípios de tamanho e nível de desenvolvimento variado que o fazem de maneira regular e sistêmica em todas as escolas da rede pública.
No plano internacional, os países que adotam o código alfabético de escrita alfabetizam os alunos no 1º ano da escola formal. Há duas exceções. Os de língua inglesa, que levam mais tempo (3 anos) por conta da quantidade de fonemas e da complexidade do código ortográfico.
E os de língua francesa, que ensinam a ler no 1º ano, mas até o final do 2º muitas crianças apresentam dificuldades ortográficas conhecidas: uma palavra com o som ô pode se escrever o, ô, ot, au, eau, eaux, etc. O sistema de escrita da língua portuguesa tem complexidade média, pode ser aprendido em quase sua totalidade ao final de um ano de uma boa escola.
A evidência científica também permite definir o que seja alfabetizar e entender o conteúdo, a natureza e o processo de alfabetização. A Ciência Cognitiva da Leitura — ignorada pela comunidade acadêmica e pelo MEC, mas reconhecida como paradigma científico da área — tem suas respostas. A Academia Brasileira de Ciências publicou um relatório sobre o tema em 2011 que valeria ser levado a sério pelas novas autoridades.
Como saber que um aluno é alfabetizado? Proposta pelo MEC, a Provinha Brasil não tem consistência conceitual nem metodológica e sua aplicação não obedece a nenhum rigor. Somente um teste apoiado em definição científica rigorosa de alfabetização permitirá avançar. Por coincidência, os bons testes medem exatamente o que o povo comum pensa a respeito de o que é alfabetização: nada mais simples do que um teste de leitura e ditado.
O Brasil precisa de um programa de ensino, de professores formados adequadamente, de materiais didáticos consistentes e de alta qualidade, como também de avaliação consistente. E requer de um ministério que estabeleça poucas e vigorosas políticas e incentivos para redes de ensino com bons resultados, não que seja balcão de programas e campanhas.
O programa Alfabetização na Idade Certa, tal como proposto, não avança em nada e retrocede no essencial. O novo ministro tem todo o direito — e o dever — de chamar a si essa responsabilidade. Com todo o respeito, antes de embarcar em canoas furadas, é como se Mercadante tivesse que se “alfabetizar” nos vários temas sobre os quais vai tomar importantes decisões.
João B. A. e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, in: Correio Braziliense (DF)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Piso nacional do professor vai a R$ 1.451

O Ministério da Educação (MEC) reajustou ontem o piso do magistério em 22,22% - o valor, válido para este ano, passou agora para R$ 1.451. Isso significa que todas as redes públicas de ensino do País devem pagar no mínimo essa quantia para um professor que faz jornada de 40 horas semanais. O pagamento do piso é retroativo ao mês de janeiro.
O anúncio foi feito ontem, por meio do site do ministério. O reajuste é determinado pela Lei 11.738, de 2008. Em 2011, o aumento havia sido de 15,85%, o que fez com que o piso subisse para R$ 1.187,14.
Segundo o MEC, a correção do piso acompanha a variação do valor anual mínimo por aluno, que é definido pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) do período.
A discussão da Lei do Piso já foi parar no Supremo Tribunal Federal que, no ano passado, considerou-a constitucional. Algumas redes pagam valores acima do estipulado. Na rede estadual de São Paulo, o piso para a 40 horas é de R$ 1.894,12.
Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)

Hora de colocar a nova ortografia em prática

No último ano de adaptação ao Acordo Ortográfico no Brasil, professores afirmam que neste ano letivo vão cobrar mais o uso das novas normas pelos alunos.
Muitos professores reclamam que não receberam treinamento ou orientações das secretarias de Educação sobre a nova ortografia, que ainda provoca muitas dúvidas nas salas de aula. E ainda há algumas escolas usando livros não adaptados às novas regras, em casos considerados excepcionais.
Em 1990, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe assinaram o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, mas ele só passou a valer no Brasil depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o promulgou, em setembro de 2008.
Ficou estabelecido um período de transição de 1 de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, com o convívio das duas normas no país. A partir de 1 de janeiro de 2013, as novas regras passam a ser obrigatórias. O acordo alterou 0,5% das palavras do vocabulário comum do brasileiro, menos que em Portugal, que teve 1,6% das palavras atingidas.
Professores de várias regiões do país afirmam que, desde que o acordo passou a vigorar, eles passaram a ensinar nas salas de aula a nova ortografia e que as mudanças têm sido absorvidas de maneira gradual.
- Como este vai ser o último ano de transição, a matéria vai ser mais cobrada dos alunos. Até agora eu fiz uma cobrança muito light, não descontava pontos nas provas de quem não usasse as regras novas - afirma a professora Maria Sufaneide, que dá aulas numa escola estadual da capital paulista.
Segundo o professor de Português Marcos Fábio, que dá aula no Ceará, educadores e alunos ainda têm muitas dúvidas:
- Todos nós temos que recorrer ao dicionário, sempre surgem dúvidas, principalmente sobre o hífen.
Para alguns, a mudança não foi tão ruim. Aluno do 1 ano do Ensino Médio do colégio particular Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, Gabriel Luna, de 14 anos, diz que as novas regras são mais fáceis.
- Eu achava mais difícil, por causa dos acentos. Logo que saiu o acordo, já comecei a escrever usando as regras novas, para me adaptar mais rápido.

 Rio promove treinamento

Para alguns professores, o governo deveria fornecer treinamento específico para os educadores sobre o novo acordo.
- Muitos colegas que dão aulas de Português têm dúvidas, que dirá os de outras disciplinas. Seria interessante um curso de formação. E não adianta dizer que vai ter curso online. Se o acordo ortográfico era tão importante, deveria haver uma forte preocupação com a formação de quem vai transmiti-lo - diz Alayr Pessoa Filha, professora de Língua Portuguesa do Liceu Estadual Nilo Peçanha, em Niterói.
No Rio, o governo do estado afirma que parte dos professores já recebeu treinamento sobre o novo acordo, e outra parcela receberá neste ano. Em São Paulo, a prefeitura e o governo do estado afirmaram que treinarão professores em 2012. E o governo do estado diz que já fez várias ações de divulgação sobre o novo acordo para os professores, além de ter disponibilizado material sobre o assunto.
O GLOBO ouviu professores e secretarias de Educação de vários estados e a maioria afirma que todos os alunos da rede pública já está usando livros didáticos adaptados ao acordo ortográfico.
No Mato Grosso, porém, a secretaria estadual de Educação informa que uma pequena quantidade de livros não adaptados continua sendo usada em algumas salas de aula de forma complementar.
Isso acontece quando o total do material didático com as novas regras não é suficiente para o número de alunos, devido ao aumento de estudantes de uma turma após o recebimento das publicações, ou para substituir livros danificados.
- A direção da escola fala para trabalhar o acordo ortográfico no quadro-negro ou com material fotocopiado. Isso confunde o aluno. Mas a gente frisa toda aula as novas normas - afirma a professora Anny Weicler, que ensina Língua Portuguesa em uma escola estadual de Cuiabá.
O Ministério da Educação (MEC), que encaminha livros didáticos para 99% das escolas públicas de todo país, afirma que todo material que enviou para uso a partir de 2010 para alunos de 1 ao 5 ano do ensino fundamental já estava de acordo com as novas regras.
Segundo o MEC, livros com a nova ortografia começaram a ser usados por estudantes do 6 ao 9 ano do ensino fundamental em 2011. O ministério diz que distribuiu publicações adaptadas para o ensino médio em 2012. A compra dos livros é feita a cada três anos e são usados por igual período.
No entanto, a distribuição de dicionários escritos com a nova ortografia será feita pelo MEC apenas entre junho e setembro deste ano, para 1 milhão de salas de aula. Mas alguns estados não esperaram o MEC e já compraram seus próprios dicionários.
Além de livros e dicionários, o MEC investiu na compra de 204 mil exemplares do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (conhecido pela sigla Volp), editado pela Academia Brasileira de Letras para esclarecer dúvidas sobre a grafia das palavras.
Todos os exemplares, segundo o ministério, já foram distribuídos. Mas isso não quer dizer que eles estejam sendo usados: há professores de Língua Portuguesa que garantem que nunca viram o Volp nas suas escolas.
Em São Paulo, alunos afirmam que materiais didáticos que supostamente estão de acordo com as novas regras ainda apresentam palavras na grafia antiga.
- Os livros estão adaptados, mas nas apostilas ainda há "erros" ortográficos, apesar de elas terem um carimbo dizendo que o material passou por revisão para se adequar ao acordo. Já vi a palavra ideia acentuada, por exemplo - afirma Rafael Blessa, aluno do 3 ano do Ensino Médio da Escola Estadual Buenos Aires, na capital paulista.
O governo de São Paulo informa que todo material distribuído, no entanto, está de acordo com a nova ortografia.
As regras ortográficas não são objeto de preocupação só de estudantes do ensino regular. Muitas empresas têm disponibilizado para os funcionários cursos para que passem a escrever de acordo com as novas regras.
- De todas as empresas que nos contrataram para prestar treinamento de Língua Portuguesa para funcionários, 80% solicitaram que incluíssemos um módulo sobre a nova ortografia. As empresas estão preocupadas, principalmente as que têm funcionários que lidam com o público - afirma Ana Catarina Kretly, gerente de Marketing da Scritta, empresa que presta consultoria de comunicação a companhias.
Apesar de o decreto prever a obrigatoriedade do uso da nova ortografia a partir de 1 de janeiro de 2013, ação popular que tramita na Justiça Federal pede que o prazo seja adiado.
Impetrada pelo movimento Acordar Melhor, a ação afirma que a Academia Brasileira de Letras (ABL) desrespeitou o acordo assinado entre os países de língua portuguesa ao fazer alterações em palavras publicadas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp).
- O Congresso Nacional teria que aprovar as alterações que o Volp apresentou ao acordo - disse o professor Ernani Pimentel, líder do Acordar Melhor.
O acadêmico Evanildo Bechara nega que a ABL tenha desrespeitado o acordo:
- Se for escrito num sistema ortográfico uniforme, um livro escrito em português na Europa, no Brasil, ou na África não precisa ser atualizado para ser publicado em outro país - afirma.
Fonte: O Globo (RJ)

Futuro digital

Quando o Ministério da Educação anunciou recentemente que, até o fim deste ano, distribuirá 600 mil tablets para professores de 52 mil escolas do ensino médio da rede pública, além de 78 mil projetores digitais para exibir conteúdos didáticos na sala de aula, a boa notícia foi recebida como mau agouro.
"Dilma abandonou programa de Lula", apressaram-se em dividir alguns. "Como o governo vai distribuir tablets, se não cumpriu a meta de distribuir um computador por aluno?", questionaram outros.
Nem uma coisa, nem outra. O governo Dilma não abandonou programa algum, mas tão somente acompanhou a evolução da indústria de informática - seguramente a de renovação mais veloz do mundo. Quando o ex-presidente Lula lançou o programa Um Computador por Aluno (UCA), havia 25 anos que os laptops figuravam como o meio mais moderno de comunicação digital.
Hoje, não são mais. Em seu lugar, entraram os tablets, que estão há menos de dois anos no mercado. Distribuí-los agora às escolas públicas de ensino médio, portanto, significa aproximar jovens e adolescentes de uma ferramenta que certamente lhes será de muita utilidade no mercado de trabalho.
Outra vantagem do novo programa, não devidamente relevada, é a economia que gerará aos cofres públicos. De acordo com valores de 2008, quando o UCA foi lançado, cada computador sairia por R$ 550, sem contar gastos adicionais com a compra de softwares e periféricos.
Já no caso dos tablets, que estão sendo fabricados no Brasil, o custo estimado por equipamento varia entre R$ 250 e R$ 300 - quase a metade do custo do laptop. Afora essa redução significativa de preço, os tablets sairão da fábrica com todos os softwares básicos instalados e configurados para conectar-se tanto com redes externas, como a internet, quanto internas, como as redes das escolas, por meio da tecnologia wireless (sem fio).
Outro indicador mostra o acerto da opção pelos tablets, pois serão eles, ao lado dos celulares inteligentes, os smartphones, os principais responsáveis pelo aumento do tráfego de dados no Brasil.
Conforme aponta recente levantamento da Cisco, uma das maiores empresas de telemática do mundo, o tráfego de dados desses aparelhos crescerá 79% ao ano até 2016 no nosso país, principalmente por conta do aumento do acesso à internet móvel pelas classes C, D e E.
Aqui, mais uma vez, consolida-se o resultado das políticas de inclusão social implementadas pelos governos do PT, gerando aumento de demanda em um mercado que antes era restrito e exclusivo das classes sociais de maior renda.
No cotidiano da sala de aula, os tablets também terão usabilidade superior à dos laptops. De acordo com o plano do MEC, esses equipamentos serão distribuídos com material didático já instalado, para apoiar o professor na sala de aula, que poderá exibir seu conteúdo em projetores e outros recursos audiovisuais.
Esse conteúdo, promete o MEC, será constantemente atualizado para que os professores carreguem seus equipamentos com novas aulas e possa transmitir o que desejarem para smartphones ou tablets de seus alunos. Os números demonstram o acerto da opção pelos tablets.
Em outubro do ano passado, mais de 1,3 milhão de usuários brasileiros acessaram a internet com conexão de banda larga, perfazendo 58 milhões de acessos. Na banda móvel, o crescimento foi de 99%, com 20,5 milhões de acessos.
A popularização dos dispositivos móveis inteligentes é irreversível, mas sua efetividade, é claro, dependerá dos novos investimentos do governo e da iniciativa privada na popularização da banda larga, conforme está prescrito no Plano Nacional de Banda Larga.
Ainda há muito que fazer, é verdade, principalmente nos investimentos em infraestrutura, mas a distribuição de tablets reafirma o compromisso do governo da presidente Dilma de prover a educação com que há de melhor e mais moderno.
Fonte: O Globo (RJ)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

2011: um ano que não terminou para a educação

O ano de 2011 chegou ao fim e deixou um sentimento de frustração para todos os que veem na Educação o caminho inevitável para a construção de um Brasil socialmente justo e democrático.
A votação do Projeto de Lei nº 8.035/2010, o nosso Plano Nacional da Educação (PNE), foi mais uma vez postergada, deixando em aberto temas decisivos que não podem mais aguardar. Estamos em atraso em relação ao documento legal que define as metas para a Educação brasileira até 2020.
Mais do que lamentar a aparente falta de prioridade que a Educação ocupa na agenda de setores do governo, é tempo de ressaltar aspectos que tornam esse PNE um capítulo à parte na história do país. Nunca houve uma oportunidade tão clara e decisiva de participação da sociedade nos rumos de seu sistema de ensino.
Há quem demonstre não ter entendido bem esse fato, em uma espécie de miopia social, por exemplo, creditando o elevado número de emendas (mais de 3 mil) a mero jogo de interesses sindicais ou político-partidários.
Em primeiro lugar, é legítimo e democrático que todos os setores se manifestem e defendam seus interesses. Mas é preciso ver também que grande parte das emendas foi produzida após amplos e subsidiados debates em diferentes fóruns, como a Conferência Nacional da Educação (Conae), em 2010.
A Conae mostrou-se instância fecunda. Embora seja passível de aprimoramento, foi capaz de ampliar a voz e o protagonismo de diferentes atores sociais. Dessa conferência, que reuniu mais de 4,5 mil educadores, nasceu um documento com o consenso possível, de caráter construtivo e propositivo.
Do mesmo modo, o PNE deve ir à votação enriquecido em 2012 com as contribuições do movimento PNE pra Valer!, coordenado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, do qual participam instituições de diferentes segmentos, como a União Nacional dos Dirigentes Municipais (Undime) e a Associação Nacional de Pesquisadores em Educação (Anped).
A presença de representantes da sociedade civil nas diferentes fases de construção e tramitação do PNE é prova de que a Educação definitivamente convoca a atenção dos brasileiros, não mais a reboque de problemas dramáticos, como filas por matrículas em portas de escola, nem atrás de longa lista de direitos sonegados pelo Estado, como saúde e segurança. É tema que se torna cada vez mais o prato do dia, num efeito em cadeia que só tende a se aprofundar.
Esse dado torna mais assombrosa a distância entre as demandas sociais na Educação e a efetiva prioridade dedicada na agenda executiva do país.
Tanto é assim que, na cobertura da imprensa, o grande destaque é conferido ao braço de ferro travado sobre qual deve ser o investimento público do setor em relação ao PIB — questão de suma importância, pois, pela primeira vez, as metas do PNE estarão costuradas com fontes de financiamento, assegurando sua exequibilidade.
O impasse é simbólico e, por si, educativo. Mostra que, como sociedade, precisamos vencer uma barreira sutil na história de nossa República: aquela segundo a qual a participação social é tratada como algo desejável e belo para dar ”sensação de democracia”, mas que não pesa efetivamente nas decisões, principalmente quando elas implicam disponibilização de recursos financeiros condizentes com as metas propostas.
O financiamento da Educação não pode ser argumento para tornar a aprovação do PNE tema de gabinetes. Ao contrário, mais do que nunca é tempo de discutir com a sociedade como ela espera ver aplicadas as riquezas arrecadadas pelo país.
Vamos em frente. A votação do PNE urge. É preciso reconhecer que a Educação brasileira sofre pelo acúmulo de problemas ao longo de sua história e que o PNE, que findou em 2010, não cumpriu boa parte do que prometeu.
Para não repetirmos erros passados, precisamos considerar as instâncias de participação e controle social como elementos que potencializam tanto a qualidade do plano quanto sua execução.
O texto a ser votado, se não é o ideal, já está inevitavelmente vitaminado pela atuação das representações da sociedade civil, uma seta que indica estarmos no caminho certo para garantir, enfim, o direito básico de Educação de qualidade para todos.
Paulo Castro in: Correio Braziliense (DF)

Estados e municípios que não reajustaram piso do magistério terão que pagar retroativo

Brasília – Mais um ano letivo começou e permanece o impasse em torno da Lei do Piso Nacional do Magistério. Pela legislação aprovada em 2008, o valor mínimo a ser pago a um professor da rede pública com jornada de 40 horas semanais deveria ser reajustado anualmente em janeiro, mas muitos governos estaduais e prefeituras ainda não fizeram a correção.
Apesar de o texto da lei deixar claro que o reajuste deve ser calculado com base no crescimento dos valores do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), governadores e prefeitos justificam que vão esperar o Ministério da Educação (MEC) se pronunciar oficialmente sobre o patamar definido para 2012.
De acordo com o MEC, o valor será divulgado em breve, e estados e municípios que ainda não reajustaram o piso deverão pagar os valores devidos aos professores retroativos a janeiro.
O texto da legislação determina que a atualização do piso deverá ser calculada utilizando o mesmo percentual de crescimento do valor mínimo anual por aluno do Fundeb. As previsões para 2012 apontam que o aumento no fundo deverá ser em torno de 21% em comparação a 2011. O MEC espera a consolidação dos dados do Tesouro Nacional para fechar um número exato, mas em anos anteriores não houve grandes variações entre as estimativas e os dados consolidados.
“Criou-se uma cultura pelo MEC de divulgar o valor do piso para cada ano e isso é importante. Mas os governadores não podem usar isso como argumento para não pagar. Eles estão criando um passivo porque já devem dois meses de piso e não se mexeram para acertar as contas”, reclama o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão.
A entidade prepara uma paralisação nacional dos professores para os dias 14,15 e 16 de março. O objetivo é cobrar o cumprimento da Lei do Piso.
Se confirmado o índice de 21%, o valor a ser pago em 2012 será em torno de R$ 1.430. Em 2011, o piso foi R$1.187 e em 2010, R$ 1.024. Em 2009, primeiro ano da vigência da lei, o piso era R$ 950. Na Câmara dos Deputados tramita um projeto de lei para alterar o parâmetro de reajuste do piso que teria como base a variação da inflação.
Por esse critério, o aumento em 2012 seria em torno de 7%, abaixo dos 21% previstos. A proposta não prosperou no Senado, mas na Câmara recebeu parecer positivo da Comissão de Finanças e Tributação.
A Lei do Piso determina que nenhum professor pode receber menos do valor determinado por uma jornada de 40 horas semanais. Questionada na Justiça por governadores, a legislação foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado.
Entes federados argumentam que não têm recursos para pagar o valor estipulado pela lei. O dispositivo prevê que a União complemente o pagamento nesses casos, mas desde 2008 nenhum estado ou município recebeu os recursos porque, segundo o MEC, não conseguiu comprovar a falta de verbas para esse fim.
“Os governadores e prefeitos estão fazendo uma brincadeira de tremendo mau gosto. É uma falta de respeito às leis, aos trabalhadores e aos eleitores tendo em vista as promessas que eles fazem durante a campanha de mais investimento na educação”, cobra Leão.
Fonte: Agência Brasil

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Alvo errado no bloqueio orçamentário

O corte de R$ 55 bilhões nas despesas do Orçamento de 2012 errou o alvo. Anunciado na quarta-feira pela equipe econômica, o bloqueio prevê perda de R$ 7,4 bilhões em gastos da saúde e da Educação. A primeira sofreu prejuízo maior — nada menos de R$ 5,473 bilhões.
Vista com frieza, a medida tem um quê de demagógica. Mais de um terço do total (R$ 20 bilhões) se refere a despesas obrigatórias. Não pode, pois, ser contingenciado. A tesoura atinge, efetivamente, R$ 35 bilhões. Desse montante, R$ 25 bilhões destinavam-se a investimentos — R$ 20,3 bilhões por emendas parlamentares.
Programas considerados essenciais para manter a economia aquecida foram poupados da tesoura meio cega. É o caso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Minha Casa Minha Vida e do Brasil Sem Miséria. Frustrou-se a expectativa de que a mão pesada do Estado caísse sobre gastos de custeio. Só R$ 10 bilhões receberam tal destino.
A timidez decepciona, mas não surprede. Confirma, mais uma vez, a determinação governamental de manter a máquina burocrática obesa, lenta e ineficiente. Uma administração com 38 mistérios, cujo nome dos titulares talvez nem a presidente conheça, joga para as calendas gregas a esperança de um dia ingressar na modernidade.
Modernidade que se distancia ainda mais com o golpe desferido na Educação e na saúde. Exames nacionais e estrangeiros, como o Pisa e o Enem, retratam realidade que, além de nos constranger e humilhar, demonstram crescente apartheid social. Ano após ano, osalunos do ensino privado se distanciam dos matriculados na Escola pública.
Fecha-se, assim, a porta que dá acesso à redução do hiato que separa pobres e ricos desde Mem de Sá. No mundo globalizado e competitivo, o conhecimento de qualidade constitui a moeda mais valiosa que circula pelos cinco continentes.
Ora, a Educação ruim, que as avós de antigamente chamavam de primário malfeito, barra o acesso aos bons empregos e aos bons salários. Em suma: quem nasceu tostão pode sonhar chegar ao milhão. Mas o sonho não passará do sonho.
A saúde não fica atrás. O corte em área nevrálgica, que tem roubado vidas precoces e inutilizado trabalhadores em plena idade produtiva, faz duvidar da seriedade da iniciativa.
Há pouco o governo falava na ressurreição da CPMF para robustecer o orçamento do setor. Agora sente-se à vontade de bloquear quase R$ 5,5 bilhões. Espera-se, ante tão gritante incoerência, que caia na real e faça o que deve ser feito — gastar bem e melhor.
Fonte: Correio Braziliense (DF)

País tem déficit de 170 mil professores de matemática, física e química


O país tem déficit de 170 mil professores de matemática, física e química, afirmou na quarta-feira (15), o ministro da educação, Aloizio Mercadante, durante uma reunião com a Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior).
Segundo o dirigente do MEC (Ministério da Educação), as universidades públicas poderiam contribuir para suprir a carência de docentes destas disciplinas nas escolas.
Atualmente, apenas 16% dos docentes da rede pública vieram de instituições federais de ensino superior, sendo a maioria de faculdades particulares.
Na reunião, Mercadante falou sobre o Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) e também sobre a necessidade de melhorar o ensino superior para a construção de um país mais competitivo.
- Estamos investindo na expansão das universidades e na interiorização. É importante que as universidades busquem fazer parte dos arranjos produtivos locais.
Além de falar sobre o programa, o ministro o apoio da Andifes para fortalecer o banco de questões do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e para a aprovação do PNE (Plano Nacional de Educação), que será votado em breve.
Fonte: R7

Investir mais em educação não garante resultados melhores

Os países que mais investem em educação por aluno entre os 6 e os 15 anos não são necessariamente os que têm alunos com melhor rendimento, segundo uma análise do relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgado nesta quinta-feira (15) pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
"O dinheiro sozinho não pode comprar um bom sistema educacional", concluiu a OCDE em seu relatório "Pisa in Focus", que indica que os países que obtiveram melhores resultados nessas provas em 2009 são os que acreditam que "todas as crianças podem ter êxito na escola".
Segundo a organização com sede em Paris, uma das chaves do sucesso dos sistemas educacionais é considerar que todos os estudantes podem ter êxito e não deixar que os alunos com problemas repitam de ano ou sejam transferidos a outras escolas, ou que sejam agrupados em diferentes turmas em função de suas habilidades.
"Superado o nível de aproximadamente US$ 35 mil" de investimento por estudantes entre os 6 e os 15 anos em unidades monetárias harmonizadas, a despesa "não está relacionada com o resultado", indicou a OCDE.
A organização citou como exemplo países que investem mais de US$ 100 mil por aluno, como Luxemburgo, Noruega, Suíça e Estados Unidos, e que obtêm resultados similares a nações que destinam a metade por estudante, como Estônia (US$ 43.037), Hungria (US$ 44.342) e Polônia (US$ 39.964).
Assim, os dois países que obtiveram os melhores resultados nas últimas provas do Pisa (Finlândia, com US$ 71.385; e Coreia do Sul, com US$ 61.104) estão bastante distantes dos que mais investiram (como Luxemburgo, com US$ 155.624 acumulados por aluno; e Suíça, com US$ 104.352).
O Chile investe por aluno US$ 23.597, mais que o México (US$ 21.175), ambos acima de países "associados" à OCDE como o Brasil (US$ 18.261) e a Colômbia (US$ 19.067). Todos eles superam a Turquia, que com US$ 12.708 de investimento por aluno é a lanterna da lista de 33 Estados-membros da OCDE.
Outro dos fatores cruciais detectados pela OCDE é que os países com os melhores resultados nas provas trianuais sobre compreensão de texto, Matemática e Ciências Naturais são aqueles que mais investem em seus professores. Os docentes do ensino médio da Coreia do Sul e de Hong Kong, ambos com excelentes resultados nas provas Pisa, ganham "mais que o dobro do Produto Interno Bruto (PIB) per capita médio em seus respectivos países".
"Em geral, os países que alcançam bons resultados no Pisa atraem os melhores estudantes à profissão de professores e lhes oferecem salários mais altos e um grande status profissional", indicou a OCDE. No entanto, essa organização precisou que essa relação entre professores e resultados não acontece entre os países menos ricos.
Fonte: iG

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Escola paulista adota o samba como trabalho interdisciplinar

Um professor de Cubatão, São Paulo, contraria a velha máxima de que samba não se aprende na escola. Com estudantes da rede pública do município da Baixada Santista, ele desenvolve o projeto interdisciplinar Escola com Samba, atividade bem recebida pelos alunos envolvidos. Participam do trabalho estudantes na faixa etária de oito a dez anos, matriculados nas séries iniciais do ensino fundamental.
Na visão de Antonio Cesar Lins Rodrigues, professor de cultura popular nas unidades municipais de ensino Espírito Santo e Antonio Ortega Domingues, o samba tem uma característica, a “propriedade-elo”, por ele considerada mais do que necessária à interligação dos conhecimentos.
“O samba, com a sua riqueza semântica, sócio-histórica e esteticorreivindicatória, é um campo do saber que se entremeia na seara disciplinar”, destaca Antonio Cesar, que também coordena a área de educação para a diversidade no Centro de Apoio Pedagógico e Formação Continuada do município e trabalha no projeto Crescer, que atende estudantes de todas as escolas de Cubatão no turno oposto aos das aulas regulares.
O trabalho do professor começa com a seleção das músicas a serem apresentadas aos estudantes. Geralmente, aquelas que fazem parte da história do samba, de autoria de compositores da velha guarda. “As crianças têm contato com as obras desses compositores e trazem suas experiências com o samba como sugestões. Todas são acatadas e, a partir delas, fazemos o nosso planejamento”, explica.
Os alunos escutam as músicas na sala de aula e discutem, em conjunto, o significado das letras. “Discutimos juntos a etimologia das palavras, procurando perceber todas as mensagens sugeridas pelas músicas”, esclarece o professor. Segundo ele, a proposta é que todos aprendam a tocar algum instrumento musical. “Contudo, as crianças aprendem a assimilar a divisão rítmica do samba, de importância vital para se entender a dinâmica musical do ritmo”, destaca.
Antonio Cesar aborda, inicialmente, questões relativas à percepção e ao reconhecimento do samba enquanto manifestação cultural genuinamente brasileira. O próximo passo é a letra da música, as palavras e a interpretação das mesmas. Como exemplo, fala do trabalho que realizou com a música Doce na Feira, de Jair do Cavaquinho.
“Ao interpretarmos a letra da música, percebemos o tom sexista presente em algumas partes, o que nos levou a questionar o papel da mulher na sociedade machista”, salienta.
O contexto histórico da narrativa proposta pela música também foi analisado, assim como suas implicações regionais. “No caso, foram analisados os porquês das propostas textuais daquela obra musical, a partir da realidade sócio-histórica do compositor, regionalidade etc.”, afirma.

Animação
Os estudantes resolveram criar um clipe musical a partir das experiências vivenciadas em visitas coletivas a uma feira, durante o desenrolar do projeto. Isso resultou em uma animação, com recursos como photoshop e flash, a partir de desenhos elaborados pelos estudantes para retratar o ambiente da feira, em analogia com o ambiente proposto pela música. “É a aplicação das tecnologias da informação e da comunicação (TICs)”, ressalta o professor.
Com licenciatura plena em pedagogia e em educação física, 27 anos de magistério, Antonio Cesar começou a desenvolver projeto de introdução da cultura popular no currículo escolar no fim de 2008.
O objetivo era conquistar espaço permanente para as culturas populares — no caso específico do Escola com Samba, para a cultura negra. O propósito do professor é permitir que as culturas populares apareçam na escola não apenas em datas comemorativas e folclóricas e que passem a ser consideradas conhecimento popular legitimado.
Com mestrado em educação, especialização em mídias na educação e em escolarização e diversidade, Antonio Cesar conclui curso de doutorado em educação na Universidade de São Paulo (USP). Sua tese trata do tema Corpos e Culturas Invisibilizados na Escola.
Fátima Schenini, in: Portal do MEC

Professora adota e compartilha aulas criativas de matemática

Professora de matemática há 18 anos, Ana Lúcia Pintro considera o magistério uma missão, não um trabalho. Por isso, procura ler, estudar, pesquisar e descobrir novos caminhos capazes de melhorar a educação.
“Preciso sentir que estou evoluindo como profissional e como gente”, diz Ana Lúcia, que leciona em nove turmas do sexto ao nono ano na Escola de Ensino Fundamental Demétrio Bettiol, em Cocal do Sul, Santa Catarina, e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre José Francisco Bertero, em Criciúma, no mesmo estado.
Segundo a professora, uma aula criativa pode aumentar a concentração dos alunos e, assim, contribuir para a aprendizagem, mas aulas inovadoras de matemática exigem metodologia e recursos diversificados. Ela destaca como outro ponto importante para a elaboração de aulas o conhecimento da disciplina. “É preciso estudar muito bem os conceitos para poder planejar aulas criativas.”
Para apresentar as atividades a outros professores, Ana Lúcia criou e mantém vários blogs. “Sinto necessidade de compartilhar o que sei. Quero ajudar os colegas que não têm tempo ou conhecimento para realizar um trabalho diferente.”
Com licenciatura plena em matemática, licenciatura curta em biologia e especialização em educação matemática, ela diz gostar de história e de português e que sempre gostou de aprender.
“Escrevi 173 crônicas entre 2003 e 2006”, revela. Em 2007 e 2008, dedicou-se à produção de “baralhinhos didáticos”, com a participação dos alunos na elaboração e digitalização dos jogos. “Como gastei muito tempo na produção do material, resolvi compartilhá-lo na internet para que outros professores pudessem aproveitar”, explica.

Recursos
Em 2009, ela passou a elaborar atividades usando o software gratuito GeoGebra. Desenvolvido para ensino e aprendizagem da matemática do nível básico até o universitário, a ferramenta inclui, em um mesmo ambiente, recursos de diferentes áreas, como álgebra, geometria e estatística.
Por meio do software, a professora constatou ser possível desenvolver pelo menos 15 das 37 competências destacadas na Prova Brasil, avaliação desenvolvida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) do Ministério da Educação.
“Percebo que os alunos têm aprendido muitos conceitos matemáticos enquanto se familiarizam com as ferramentas do GeoGebra, da mesma maneira que, um dia, aprenderam a caminhar, a falar, a tomar banho”, analisa.
De acordo com Ana Lúcia, os estudantes demonstram interesse pelas aulas realizadas na sala de tecnologias educacionais. O conteúdo desenvolvido em sala de aula pode ser complementado de forma eficiente. “As aulas não são tão lúdicas quanto pode parecer”, revela.
É necessário que os estudantes se concentrem na leitura dos passos exigidos no desenvolvimento das atividades. Também precisam de concentração no manuseio do computador, ao usar as ferramentas.
“Os alunos precisam fazer cálculos e observar relações para responder os exercícios solicitados após a construção das figuras”, salienta. Ana Lúcia já criou 50 atividades para utilização do GeoGebra, postadas no blog Os Alunos que Exploravam.
Fonte: Portal do MEC

Pedagonet, a educação do futuro

Estamos vivendo um período de grandes perplexidades e, aparentemente, muitas contradições. Alguns intelectuais mais apressados anunciaram o fim dos livros, jornais e revistas impressos em papel. Comemoram, com isso, a sobrevivência de milhões de árvores que deixariam de ser abatidas.
Por outro lado, foi divulgada a notícia de que, no Brasil, nos dois últimos anos, a venda de jornais cresceu significativamente, em parte devido à ampliação dos limites da nossa classe média, em virtude do sucesso das políticas econômicas do Governo.
E um dado formidável: os jovens estão lendo mais, não se contentando apenas com as notícias colhidas na internet. É claro que o fenômeno alcança em cheio os livros didáticos, uma indústria muito prestigiada pelo Ministério da Educação, que compra quase 900 milhões de reais por ano de livros para distribuição gratuita a alunos carentes das nossas escolas de Educação básica.
Já imaginaram o baque que representaria o fim ou a diminuição dessas compras às principais editoras do nosso País, algumas das quais têm se associado a gigantes do mercado internacional? Não existe uma visão clara a respeito do problema.
A poderosa Apple (lucro de US$ 13 bilhões no último trimestre de 2011) lançou mais dúvidas quando anunciou a sua entrada, nos Estados Unidos, no grande mercado de Educação, produzindo livros eletrônicos de altíssima qualidade e a preço baixo.
Vêm aí tabuletas coloridas, lousas eletrônicas, associadas a vídeos e jogos interativos, que fascinam o espírito dos nossos jovens. Teremos cursos online e aulas virtuais que acabarão configurando o que chamamos de PEDAGONET, ou seja, uma nova visão da pedagogia do futuro, mudando completamente o que até aqui considerávamos a tradicional relação ensino-aprendizagem.
Os professores serão substituídos pelas máquinas? Mesmo que os novos livros custem menos de 10 dólares, nessa nova realidade, a nosso ver será sempre necessária a orientação e o aconselhamento dos mestres, sobretudo quando advierem as dúvidas naturais. Quem as tirará?
O sonho de que isso possa ser feito em casa, por pais preparados, não contempla a realidade dos fatos. Sabe-se que, na prática, somente 10% dos pais se envolvem nos estudos dos filhos, sendo esse número ínfimo quando se trata de escolas públicas.
Esse quadro não nos parece que possa ser mudado com facilidade e em pouco tempo. O que precisa ser feito e aí vai um conselho não solicitado pelo Ministro Aloísio Mercadante é uma revolução rápida e inadiável nos cursos de formação de professores.
É matéria para figurar no anunciado Pacto Nacional da Educação. Fala- se nisso há tanto tempo que se tornou uma ladainha cansativa, sem resultados práticos. Quem conhece os cursos de pedagogia, como é o nosso caso, não acredita que eles possam sobreviver, nas suas atuais estruturas, que passam ao largo de todas essas incríveis mudanças. Há milhares de professores que não sabem utilizar um computador, outros milhares não têm acesso às máquinas novidadeiras. Se eles não sabem, são orientados pelos alunos, numa inversão da dinâmica desejável.
Os jovens são sensíveis, respeitam os que sabem mais, não os que aprendem com eles. Eis aí um desafio posto à face da atual geração.
O Conselho Nacional de Educação, que merece o nosso respeito, deveria concentrar todas as suas baterias nesse processo de adaptação da Educação brasileira aos novos tempos, deixando de lado questões menores, como a discussão sobre o hipotético racismo de Monteiro Lobato.
Racismo é cruzar os braços diante do avanço ciclópico do conhecimento e de suas máquinas inovadoras. Que milagre está sendo esperado pela nossa geração para mudar esse quadro?
Fonte: Jornal do Commercio (RJ)

Educação domiciliar voltará à pauta da Câmara em novo projeto

Os entusiastas da educação domiciliar - aquela em que os pais são os responsáveis pela formação escolar dos filhos em casa - terão mais uma chance de tornar a modalidade legal. Entrou em análise na Câmara dos Deputados este mês um projeto que prevê a possibilidade de a educação básica ser feita em casa, desde que com supervisão e avaliação periódicas. No ano passado, outra proposta havia sido rejeitada.
O Projeto de Lei 3179/12, do deputado Lincoln Portela (PR-MG), inclui dispositivo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação facultando aos sistemas de ensino admitir a educação básica domiciliar, sob a responsabilidade dos pais ou responsáveis pelos estudantes desde que monitorem o resultado.
A Constituição Federal estabelece a educação como um dever do Estado e da família e determina também a obrigatoriedade da educação básica dos quatro aos 17 anos de idade.
Para o autor, isso não impede que seja feita em casa. “Não há impedimento para que a formação, se assegurada a sua qualidade e o devido acompanhamento pelo Poder Público certificador, seja oferecida no ambiente domiciliar, caso esta seja a opção da família do estudante”, disse.

Na prática, já há casos
Atualmente, mesmo sem base legal, há várias famílias que fazem esta opção. De acordo com a Associação Nacional de Ensino Domiciliar (Aned) são cerca de 400.
Em geral, elas travam batalhas judiciais ao serem questionadas por conselhos tutelares. Há casos vencedores, como o do professor paranaense Luiz Carlos Faria da Silva, que conseguiu a permissão, e do designer Cleber Nunes, que perdeu todos os processos - mesmo assim foi até o fim e concluiu a formação dos filhos adolescentes.
O deputado Portela argumenta que garantir na legislação ordinária essa alternativa é reconhecer o direito de opção das famílias com relação ao exercício da responsabilidade educacional para com os filhos.
“Não podemos descuidar do imperativo em dar acesso, a cada criança e jovem à formação educacional indispensável para sua vida e para a cidadania”, afirma o autor do projeto. Existe um número crescente de famílias no Brasil e no exterior que tem optado por educar suas crianças em casa, com ou sem a ajuda de professores particulares.
O projeto ainda será distribuído às comissões antes de ser analisado.
Fonte: iG