Relembrar sucessos da internet, contar piadas e criar paródias são ótimos aliados dos professores na hora de conquistar os alunos. As mudanças na maneira de dar aula buscam facilitar a compreensão e memorização do conteúdo e, de quebra, reconquistar aqueles que costumam dormir nas classes do fundão.
As aulas de matemática do professor Pio Mielo ilustram o ambiente em que professor e alunos se permitem abrir espaço para a descontração. Para ele, o maior desafio é tornar a informação atrativa.
No caso da matemática, diz ser importante relacionar o conteúdo com situações em que o aluno vai utilizar o que foi aprendido. "Não dou exercícios do tipo 'resolva a equação'. Proponho uma situação em que ele deve abstrair os dados do problema e apresentar uma solução real. Não dá mais para trabalhar com base no imaginário", afirma.
Mielo diz que proporcionar uma aula leve é o segredo para que os alunos se interessem pelo conteúdo e tenham mais facilidade para aprender. Para isso, as aulas para as turmas do ensino médio do Colégio Fênix Santa Paula, em São Paulo, são baseadas em exemplos engraçados envolvendo times de futebol, as profissões dos pais e paródias.
O professor garante que as brincadeiras respeitam limites. "Criei um manual sobre finanças, em que eu sou o personagem e falo sobre o assunto de uma maneira leve. Esse tipo de coisa é ótima para quebrar o gelo", diz.
O clima descontraído das aulas não prejudica o desempenho dos alunos. "Essas são maneiras de falar sobre temas importantíssimos, mas com uma linguagem mais leve. O professor é um condutor de informação, ele deve facilitar o acesso ao conteúdo", opina. O caminho para o bom relacionamento na escola também está no humor. "Ele estreita os laços”, garante.
Para o professor do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) José Batista Neto, a hierarquia deve ser mantida. "Não defendo o professor sisudo, mas ele deve deixar claro seu papel na sala de aula. O uso de um linguajar parecido com o do jovem, por exemplo, pode dar a ideia de que o professor está misturando os papéis de educador e educando", avalia. Piadas relacionadas a conceitos polêmicos, como gêneros e religião, também não são bem vistas pelo especialista.
"Muitas vezes, o professor está mais preocupado em criar um ambiente de excitação. O que ele deve fazer é instigar a curiosidade e criar estratégias de relação entre o conteúdo e o mundo", aponta.
De acordo com Batista, o papel do professor é fazer com que o aluno compreenda as informações com base no contexto em que está inserido. "Alguns métodos são inadequados porque associam o professor não a uma autoridade, mas a uma figura midiática. Existem profissionais que adotam um posicionamento de animação de auditório", destaca.
Mielo concorda com o especialista. "É superlegal ter uma aula divertida, mas é importante preservar uma postura rigorosa. Não sou um artista, minha aula não é um stand-up. O aluno tem que estar ciente de suas responsabilidades", reforça.
No caso de quem está no ensino médio, as cobranças relacionadas ao vestibular costumam aumentar a tensão nas aulas, e a ideia do professor é justamente tranquilizar os estudantes. "É bom fazer o aluno rir, mas o mais importante é ele assimilar o conteúdo. Quando eles passam no vestibular, me sinto com o dever cumprido", acrescenta.
Momentos de seriedade são importantes mesmo quando os alunos são adultos e já saíram do ensino médio há tempo. Segundo o professor de Português Diego Amorim, das escolas preparatórias para concursos públicos LFG e Gran Cursos, de Brasília, é preciso deixar as piadas de lado quando a exigência de concentração é grande. "Fico mais sério quando corrijo exercícios. Não dá para brincar muito nessa hora", diz.
O perfil da turma também influencia no modo como o professor se comporta. Ao contrário de Mielo, que procurar dosar a quantidade de piadas em uma aula, Amorim conta que faz piadas na maior parte do tempo.
"Quem estuda comigo quer passar em um concurso público. Eu falo coisas para que eles sem lembrem do conteúdo na hora da prova", explica. O fato de os alunos serem mais velhos também influencia no tema das brincadeiras. "Eles já são mais maduros, tenho liberdade tratar de assuntos que não seriam próprios para jovens ou crianças", conta.
Fonte: Terra
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