quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Jovens fora da escola

Qualquer projeto de âmbito nacional enfrenta dificuldades excepcionais pela dimensão continental do País. Para agravar o quadro, abundam as diversidades regionais, impedindo, quase sempre, a generalização das soluções padronizadas.
No âmbito da Educação, os problemas dessa ordem ficam emperrados, muitas vezes, no nascedouro, como os esforços para a alfabetização de adultos, a disseminação das creches ou a boa qualidade para a merenda escolar. Os obstáculos começam pela ausência de gestores qualificados, agravados pela falta de técnicos para retirar os projetos do papel.
Como nem sempre as estatísticas oficiais são confiáveis, especialmente na área da educação, há no Brasil, desde 2006, um movimento, Todos pela Educação, destinado a monitorar o desenvolvimento da Educação em todos os níveis de aprendizagem. Financiado pela iniciativa privada, ele monitora as mais difundidas políticas de ensino.
Para tanto, sua atuação foi planejada, inicialmente, levando em conta cinco metas, com prazo de cumprimento até 2022, ano do bicentenário da Independência do Brasil.
Os objetivos perseguidos ao longo desse tempo visam à inclusão de todas as crianças de sete a 14 anos na escola; que elas estejam alfabetizadas aos oito anos; que o aluno tenha aprendizado adequado à série de sua matrícula; que o jovem haja concluído o ensino médio aos 19 anos e que ocorra maior investimento em Educação.
As estatísticas do movimento revelam a existência de 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola. Avaliada a década entre 2000 e 2010, foram constatadas também realidades positivas como o acesso à escola de 91,5% da população entre quatro e 17 anos.
Os 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola compõem um contingente de difícil inclusão, pois são representadas por parcelas expressivas fixadas nas áreas rurais sem escolas, nas favelas e em bairros pobres não alcançados pela rede pública de Educação.
Em termos quantitativos, o Norte do Brasil apresenta o maior aumento na frequência às aulas, mas, paralelamente, registra o pior indicador, com 12,2% do alunado fora da sala de aula. No Sudeste é de 7,3%. Por Estados, no Acre, esse índice chega a 15%, o maior percentual.
O movimento comemora o alcance antecipado de duas metas previstas para 2022. Pelo menos, 64,5% dos jovens brasileiros concluíram o ensino fundamental aos 16 anos. E além da meta, 50,2% dos jovens concluíram o ensino médio até os 19 anos. A meta era de 46,5 %.
A questão relevante concentra-se no ensino médio, considerado como estagnado e no qual as mudanças preconizadas estão com seus efeitos retardados. Além de sua estrutura curricular defasada em relação às oportunidades do mercado de trabalho, há prioridades eleitas pelo seu público-alvo não contempladas nas atividades didáticas como a preparação específica para o trabalho.
A qualidade do ensino público também é questionada por seus resultados. No ensino básico, pela prova ABC, aplicada em 2011, a média nacional da escrita do 3º ano do ensino fundamental foi obtida apenas por 53,3%. A de matemática foi por 42,8% e a de leitura, por 56 %.
O trabalho do movimento serve como um foco neutro para avaliação da Educação nacional, cheia de contradições e de complexidades. Diante desses indicadores, a perspectiva brasileira não é boa em relação a outros países, que investem com mais critério na educação de qualidade, em ciência e tecnologia, para manter suas economias prósperas.
Fonte: Diário do Nordeste (CE)

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