sábado, 30 de junho de 2012

Governo cede e comissão eleva meta de Educação

Com pulos, gritos de comemoração e o Hino Nacional, foi aprovada esta semana por unanimidade a fixação da meta de 10% do PIB para investimento em Educação pública nos próximos dez anos. O índice virou alvo de uma intensa batalha entre o Congresso e o Palácio do Planalto, discussão que se arrastou por um ano e três meses, desde a instalação da comissão especial que trata do Plano Nacional de Educação (PNE) na Câmara.
Pressionado às vésperas das eleições municipais, o governo aceitou de última hora os 10% propostos pelo deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE).
O PNE define 10 diretrizes e 20 metas para os próximos 10 anos, entre elas a valorização do magistério público da Educação básica, a triplicação das matrículas da Educação profissional técnica de nível médio e a destinação dos recursos do Fundo Social do pré-sal para o Ensino.
A 20.ª meta, que trata do financiamento de Educação, estabelecia originalmente que se chegasse a um patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) em investimento em Educação ao final do decênio - atualmente, o setor recebe 5%. O PIB é a soma de todas as riquezas produzidas pelo País.
A proposta de Santiago determina a ampliação do investimento público em Educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% do PIB no quinto ano de vigência da lei e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB no final do decênio.
Pressão. Até a última hora, o relator do plano, deputado Ângelo Vanhoni (PT-PR), tentou elevar os 7% originais para um patamar mais ambicioso, mas foi pressionado nos bastidores pelos ministérios da Fazenda e Casa Civil. O parecer do petista, aprovado no dia 12, previa 8%, número criticado por entidades como a Campanha Nacional Pelo Direito à Educação e a União Nacional dos Entidades (UNE), que fizeram uma estridente campanha pelos 10%.
"Os que forem favoráveis (aos 10%), manifestem-se, fiquem de pé e deem pulinhos", disse o presidente da comissão, deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), rodeado por estudantes e representantes da Educação que acabaram dando saltos, acompanhados dos demais deputados.
"Ganhamos no debate e na mobilização. Ninguém achava que os 10% seriam aprovado hoje (ontem)", comemorou o coordenador-geral da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, Daniel Cara. Ontem, UNE e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) somaram forças para recrutar os deputados para a reunião e garantir que todos os destaques (pontos do texto sujeitos a alteração) fossem votados, despachando o projeto para o Senado.
Árduo defensor dos 8%, Vanhoni passou a apoiar os 10% na última hora: "O número que estávamos trabalhando dá conta para a satisfação dos grandes problemas estruturais da Educação. Porém, a comissão por unanimidade optou pelos 10%, que se constituíram como uma bandeira política. Se 99% da comissão optou pelos 10%, não competiria ao relator ir contra 99%."
Os deputados fizeram outras mudanças no texto do PNE. Foi antecipado para o final do sexto ano de vigência do plano a meta de igualar o rendimento médio dos profissionais do magistério das redes públicas da Educação básica ao dos demais com Escolaridade equivalente - o texto de Vanhoni previa a equiparação no final do decênio. Também foi introduzida uma nova estratégia, determinando a aprovação, em um ano, de uma lei de responsabilidade educacional, assegurando padrão de qualidade em cada sistema e rede de Ensino.
À noite, o MEC informou que vai estudar as repercussões e as implicações da decisão. "Em termos do governo federal, equivale a colocar um MEC dentro do MEC, ou seja, tirar R$ 85 bilhões de outros ministérios para a Educação. É uma tarefa política difícil de ser executada", disse, em nota, o ministro Aloizio Mercadante. O PNE segue para o Senado, antes de ir para a sanção da presidente Dilma Rousseff.
Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)

Professores de inglês da rede pública ganham formação nos Estados Unidos

Um grupo de 24 professores de escolas públicas de diferentes Estados brasileiros se prepara para embarcar em uma viagem de sonhos. Educadores que enfrentam a dura realidade da falta de estrutura da rede pública e as dificuldades de tornar o conteúdo das aulas atraente vão ter a chance de aprimorar técnicas e metodologias de ensino nos Estados Unidos.
Eles foram selecionados para participar de um programa organizado pela Embaixada dos Estados Unidos, em parceria com a Comissão Fullbrigth, e financiado pelo governo federal. Durante quase 60 dias, terão aulas teóricas e práticas na Universidade de Oregon, que fica no estado de mesmo nome.
A proposta é proporcionar troca de experiências entre os próprios professores brasileiros – há docentes de Santa Catarina, Amapá, Paraná, Rio de Janeiro, Goiás, Espírito Santo, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal – e ajudá-los a utilizar melhor novas tecnologias e metodologias para mais eficiência no ensino da língua inglesa.
Susan Bell, adida para assuntos culturais e educacionais da Embaixada dos Estados Unidos, conta que o programa começou a ser desenhado há três anos. “Nosso objetivo era criar trocas de técnicas, experiências. Mandamos um primeiro grupo em janeiro de 2011. O sucesso foi tão grande, que queremos expandir. E o governo brasileiro percebeu isso”, afirma.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) ficou animada com o projeto, segundo conta Susan. Por isso, decidiu quadruplicar o número de bolsas concedidas este ano. Em janeiro de 2011, ofereceu 10 e o governo americano, mais 10. Este ano, aumentou para 40. Em janeiro, 25 professores foram para lá. Agora, outros 24 farão o mesmo.

Marinheiros de primeira viagem
Tânitha Medeiros, 32 anos, é uma das professoras que participa da iniciativa. Ela conta que comemorou muito o fato de ter sido uma das escolhidas. A embaixada recebeu mais de 2 mil inscrições para o programa. Além do currículo, carta de recomendação, nota em teste de proficiência, os candidatos precisavam demonstrar liderança e excelência no trabalho.
“Fazer esse curso está me motivando muito. Nós, professores de escolas públicas, temos de lidar com indisciplina dos alunos, falta de compromisso deles e dos pais, que não acompanham os estudos deles, salários baixos. Mas eu quero encontrar estratégias para mudar isso. Quero encontrar novas alternativas”, conta.
A professora da rede municipal de Goiânia acredita que a experiência vai provocar reflexões sobre as próprias práticas em sala de aula. Na volta, já planeja repassar tudo para os colegas, em encontros. “Somos sementes”, diz. Para muitos, a viagem será a primeira para o exterior. “A gente vai ganhar mais propriedade para ensinar a língua”, comenta Tatiana Carvalho, 32.
Tatiana, que é professora em São Paulo, é uma das que não conhece os Estados Unidos ainda. Jackson Reder, 42 anos, de Vila Velha, também não. Ambos estão ansiosos e querem “absorver” tudo o que puderem ao máximo. “Eu espero conhecer mais da cultura e fazer amizades duradouras”, comenta.

Pausa na capital
Antes de embarcarem para os Estados Unidos, o grupo de professores de outros Estados ganhou um passeio pela capital federal. Alguns nunca tinham vindo a Brasília. Ana Cláudia Santos Dalla Corte, 36 anos, que mora na cidade de Ubiratã, no Paraná, ficou maravilhada. “Estou encantada. Acho que todo estrangeiro deveria conhecer essa cidade, para ver como podemos ser organizados”, brincou. “Estou muito animada”, disse.
Fonte: iG

Especialista pede qualificação dos professores para melhorar aprendizado

O Estado deve investir na qualidade dos professores e, inclusive, na premiação dos melhores para aperfeiçoar o desempenho dos alunos brasileiros de forma mais rápida. Essa é uma das conclusões da análise de 400 estudos mundiais sobre melhoria do aprendizado que foram selecionados pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, pelo Instituto Ayrton Senna e pelo Movimento Todos pela Educação.
Em audiência pública promovida pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara e pela Frente Parlamentar Mista da Educação, o secretário de Ações Estratégicas do governo federal, Ricardo Paes de Barros, disse que ter aula com o melhor docente da escola pode significar ao estudante um aumento no aprendizado de quase 70%: "A educação acontece quando um bom professor se encontra com um aluno motivado por horas. Quanto mais eles se encontrarem, maior será o aprendizado".
Para maximizar a quantidade de bons professores, segundo Paes de Barros, é necessário premiá-los, seja por meio de certificados, incentivos em projetos ou bonificações salariais. “Um dos problemas da profissão é que os próprios professores se convenceram de que eles são todos iguais, e que as diferenças entre eles não devem ser ressaltadas, documentadas, premiadas", argumentou.

Avaliação
O presidente da frente parlamentar, deputado Alex Canziani (PTB-PR), sustentou que o Brasil poderia ter sistemas mais refinados de avaliação da qualidade dos docentes como existem em outros países. Ele sugeriu a utilização de uma instituição independente que possa certificar quem é um bom professor. “Além de estarmos estimulando aqueles que não são considerados os melhores professores, poderemos pôr em prática a meritocracia. É justo pagarmos, darmos condições ou estimularmos mais aqueles que são mais efetivos na sua atividade", explicou.
Paes de Barros também citou dados que apontam acréscimos de mais de 40% na aprendizagem com a redução dos alunos por sala de aula, de 22 para 15, e com o aumento do calendário letivo de 190 para 200 dias.

Recursos
       O secretário de Ações Estratégicas destacou ainda que o objetivo agora deve ser melhorar a qualidade, e não a quantidade, de recursos para o ensino. Conforme ele, o Chile gasta 4% do PIB em educação e está mais bem colocado que o Brasil, que gasta 5% do seu PIB, nos testes internacionais. Paes de Barros lembrou, no entanto, que o investimento no país andino chega a mais de 7% quando o gasto privado é somado.

O especialista propôs que os alunos brasileiros com boas condições financeiras paguem para estudar nas universidades públicas. "Esse é um gasto com educação que a gente poderia induzir as famílias a ter – isso é o que acontece no Chile. Se você é de classe média alta, rico e colocou seu filho na universidade pública, mais do que bem-vindo. Só que terá de pagar, pois não precisa que eu pague por você", declarou.
Atualmente, informou Paes de Barros, o Brasil está entre os cinco países que mais avançaram na pontuação dos testes internacionais de avaliação do ensino na última década. Por outro lado, ainda está entre os 20% piores na colocação geral.
Fonte: Agência Câmara

sexta-feira, 29 de junho de 2012

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Queridos diqueiros,
O ritmo está quente! Por isso, o atraso, sim? Desculpem.
Rapidamente, trataremos de um assunto que sempre foi motivo de erro e, embora eu seja complacente com umas e outras falhas, neste caso, o problema tem se perpetuado, sem justificativa plausível. Então, é hora de virar dica, não é?
Trata-se da pronúncia da palavra rubrica, que nunca teve acento e não pode ser proparoxítona.
A vogal tônica é a que recebe o acento prosódico (acento da fala) e, neste caso é o 'i'. Assim, o correto é rubrica. Os que falam com o acento prosódico no 'u' estão equivocados e cometem erro prosódico.
Apenas a título de curiosidade, mas tentando enriquecer o saber, a palavra vem de rubro que quer dizer vermelho. Mas, o que tem a ver? Tem, sim: nos antigos manuscritos a rubrica era a parte inicial do parágrafo ou capítulo, escrita em...vermelho para chamar a atenção do leitor. Tb de rubro se derivam: rubor, rubi, enrubescer, ruivo e rubéola.
Hoje, é usada como 'assinatura abreviada'.
Até quarta, pessoal, abraço fraterno da Edinalda

Rede municipal terá provas por computador

Os Alunos da rede municipal de Ensino do Rio começarão a experimentar, a partir do segundo semestre, um novo jeito de fazer provas. A Secretaria de Educação já está treinando cem Professores para preparar um banco com 80 mil questões voltadas para testes digitais, que serão aplicados aos Alunos em computadores portáteis já existentes na maioria das Escolas. O sistema será usado inicialmente nas avaliações bimestrais, que servem como base para o acompanhamento do desempenho das unidades.
- É algo que vai facilitar a vida do Professor, principalmente na questão da correção automática das provas, sem que ele perca o controle sobre o desempenho do Aluno, já que o sistema pode até produzir relatórios sobre a evolução dos estudantes - destaca a secretária municipal de Educação, Claudia Costin.
Os testes digitais não substituirão as tradicionais provas de papel, das avaliações cotidianas do Professor. Todas as questões aplicadas pelo computador serão de múltipla escolha. Há a possibilidade até de serem usadas animações para tornar o uso mais atrativo para os Alunos. Em 2013, o sistema também será utilizado em provas feitas no início do ano letivo, para detectar se o nível de letramento dos estudantes dos 1, 2 e 3 anos do Ensino fundamental está adequado à série.
- O sistema tem a possibilidade de mudar a dificuldade das questões se o Aluno não consegue respondê-las. Pode voltar de uma de nível médio para uma fácil. Conseguimos saber até onde aquele Aluno está conseguindo assimilar os conteúdos - completa Claudia Costin.
Fonte: O Globo (RJ)

Ensino Médio é o desafio da Educação mundial, diz especialista

Para se conseguir uma vaga nas universidades, o estudante precisa passar por várias etapas da educação escolar. Por isso, desde cedo, os pais devem se preocupar com a qualidade do ensino para seus filhos, seja na rede pública ou particular. Nesta segunda-feira (18), o presidente do Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação de Pernambuco (ICE) e especialista no assunto, Marcos Magalhães, participa de um jantar-debate que vai discutir com empresários medidas para a melhoria da qualidade da educação pública, visando o desenvolvimento dos negócios do estado.
Para Magalhães, o ensino médio é o grande desafio mundial quando se fala em educação básica. “Nós precisamos preparar os jovens para o novo mundo, o que chamamos de 'desafio do século XXI'. No Brasil, estamos bastante atrasados em relação a esse processo, no que diz respeito ao tipo de escola, o que nós oferecemos, o que o mercado demanda, e o modo como preparamos os jovens para encarar esse desafio”, disse.
Na visão do Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação de Pernambuco, a educação deve seguir um modelo que se apoia em três pilares. “O primeiro é uma formação acadêmica de qualidade, onde o jovem precisa aprender todos os conteúdos; o segundo pilar diz respeito à preparação do jovem através de uma projeto de vida, ou seja, ele precisa se direcionar, ser orientado, para que possa, nesses três anos do ensino médio, caminhar para o que pretende ser no futuro. A terceira vertente é preparar para o mundo do trabalho, ou seja, as competências necessária para enfrentar o mercado”, comentou Marcos Magalhães.
Para o funcionamento de uma educação eficiente, as unidades de ensino também devem ser estruturadas para os estudantes. A formação dos professores que, além do conhecimento técnico, devem ter capacidade para transmitir os conteúdos, e a qualificação dos diretores, são consideradas essenciais. “O cargo de diretor é um dos mais complexos que conheço. Ele trabalha com diversas variáveis. Tem que cuidar dos professores, alunos, pais, da administração, das demandas da comunidade, do sindicato. Dirigir uma escola é como dirigir uma grande empresa”, falou Magalhães.
O debate desta segunda, que reúne um grupo de empresários de Pernambuco, acontece no JCPM Trade Center, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. O evento começa às 19h30, com o credenciamento dos convidados. O debate tem início a partir das 21h.
Fonte: G1

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Professores culpam alunos e famílias por baixo rendimento dos estudantes

Para os professores das escolas públicas brasileiras, a dificuldade de aprendizagem dos alunos não é culpa deles: apenas 11% dos profissionais da área creditam o baixo rendimento ao não cumprimento do currículo ou à insegurança física da Escola. A responsabilidade sobre o fracasso, para 60% deles, é da família e do próprio aluno.
Os dados foram tabulados pelo Estado a partir do questionário da Prova Brasil 2009, respondido por 216.495 Docentes de instituições públicas de todo o País que dão aulas para Alunos do 5.º e 9.º ano do Ensino fundamental, público-alvo da avaliação.
No ranking dos culpados, que apresentou 14 opções de resposta aos Docentes, o nível cultural dos pais e, entre os Alunos, a baixa autoestima, o desinteresse e a indisciplina ocuparam as sete primeiras posições (veja quadro nesta página). No primeiro lugar - como principal problema que afeta o desempenho dos estudantes, apontado por 68,9% dos Professores - está o não acompanhamento, por parte das família, dos deveres de casa.
O índice é 40 pontos porcentuais acima da primeira proposição, que relaciona o rendimento dos Alunos à figura do Professor.
Ao todo, 26,9% dos Docentes acreditam que sua sobrecarga de trabalho dificulta o planejamento das aulas e para 26,4%, os baixos salários geram insatisfação e desestímulo.
Para especialistas, essa percepção dos Docentes ajuda a explicar a situação precária da Educação no Brasil. "Com isso na cabeça, o Professor já desiste do Aluno de cara. Nem considera a hipótese de que o menino tem capacidade de aprender", diz a Educadora Guiomar Namo de Mello, diretora de uma instituição dedicada a projetos de Educação inicial e continuada de Professores da Educação básica.
"Essa visão simplista cai se olharmos estudos que mostram que Alunos da mesma Escola com Professores diferentes têm rendimento mais díspares do que o registrado na mesma sala entre os que têm família engajada ou não", completa.
Para Maria de Lourdes Mello Martins, que trabalha na Comunidade Educativa Cedac, instituição que oferece programas de formação a Professores da rede pública, falta capacitação. "Mal preparado, a primeira reação (do Professor) é reclamar da família e se isentar da responsabilidade. É claro que uma família atenta, que arruma a mochila e aponta o lápis, é linda. Mas quando você coloca isso como condição, culpa a criança duas vezes: por ela ir mal e por não ter uma família exemplar. Daí é óbvio que os Alunos terão baixa autoestima."
Docentes da rede pública de São Paulo confirmam os resultados do questionário. Para o Professor de física Michael Robson Costa, da Escola Estadual Tarcísio Álvares Lobo, os Educadores apenas cumprem as exigências da grade curricular. "O retorno tem que ser do Aluno", diz ele, embora admita que o sistema não atraia os estudantes. "As avaliações, as normas, tudo é fora do que eles esperam."
A participação da família também é bastante citada. "Tem Aluno que não tem pai nem mãe. E, quando tem, não se interessa", comenta a Professora de matemática da Escola Estadual Capitão Pedro Monteiro do Amaral, Andrea Landi. Segundo a Professora de inglês Melissa Campos, que dá aulas na mesma Escola, a ausência da família desestimula não só a criança, mas os Educadores. "Alguns largam mão, mas a maioria se interessa, porque você não pode deixar de lado os Alunos que querem aprender."
Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)

Educação e afeto

Não há binômio humanístico que encerra maior afeição do que o título deste artigo. Tanto a Educação quanto o afeto são expressões que agregam sentidos inerentes à coisa mais essencial da existência: o amor. A Educação é um processo executado em função do amor, uma vez que tem como meta e efeito o resgate das sombras, ou seja, da ignorância. Um Educador é um redentor, no sentido de mudar a frequência existencial de um semelhante, para melhor. Ele promove, em determinado grau, um salto quântico de uma pessoa em termos de compreensão e interação com o mundo. Por sua vez, o afeto é a mais genuína expressão do amor, uma vez que é algo concreto, que, em si mesmo, significa amor. Uma atitude de afeto, aparentemente banal, de uma pessoa para outra, pode também ser um resgate, mas num plano distinto da Educação; distinto, sim, mas complementar.
Minhas melhores recordações da época de Escolarização são aquelas em que tive o privilégio de ter algum mestre afetuoso. As Professoras das primeiras séries cujos nomes eu guardo com sobrenome e tudo foram as mais dedicadas e carinhosas. Mas a família assumiu um novo perfil, decorrente das inúmeras transições e reavaliações dos conceitos e valores; os meios de produção, antes atribuições exclusivamente masculinas, passaram a contar com as mulheres, e a maioria delas, ainda assim, não deixou de ser mãe e dona de casa, passando a se desdobrar no cotidiano para cumprir essas atribuições diversas. Muita água suja foi, na verdade, jogada fora, mas com ela também muita água limpa.
O fato é que algumas lacunas não mudaram na vida de muitos; o afeto mesmo é a lição que sabemos de cor, só nos falta aprender. A expressão da afeição, para muitos ainda é difícil, truncada; há uma certa antipatia remanescente de se mostrar carinhoso. Acredito que a interação entre os personagens de sala de aula é inevitável e deve ser trabalhada no sentido da aprendizagem integral, com o desenvolvimento da afetividade, condição imprescindível para que se consolidem efetivamente as aprendizagens em geral. Obviamente há uma hierarquia entre esses personagens, na relação de sala de aula, o que é próprio de toda relação. Essa hierarquia é determinada pelo sentido do fluxo de aprendizagem de um personagem para o outro, numa relação de ajuda, mas todos se respeitam. Um Professor que, no trato com seus Alunos, é afetivo e respeitoso, já sai na frente, pois cria um ambiente de estudo sem condições estressantes e ainda dá testemunho vivo de uma relação que valoriza o outro.
Mas infelizmente ninguém está afetuoso hoje ou estará amanhã – o verbo é ser. Um Professor é afetuoso ou não, o que não significa que a afetividade é exclusivamente inata. Pode-se trabalhar esse aspecto, pois no fundo todos têm essa semente, bastando fazê-la brotar, para o bem do outro. Mesmo estando sucateada dentro da pós-modernidade, a Escola ainda é o núcleo da formação e discussão de ideias, formadora responsável de opiniões e agregadora de competências necessárias para a construção do conhecimento e da pessoa. A genuína afetividade é o humanismo por essência.
Fonte: Estado de Minas (MG)

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O uso da tecnologia nas escolas


Uma das principais publicações mundiais sobre o uso de tecnologia em salas de aula é a NMC Horizon Report, publicada pela New Media Consortium em conjunto com a Educause Learning Initiative. Em seu relatório de 2012, perguntava-se sobre as principais tecnologias que modificarão o Ensino-aprendizagem nos próximos cinco anos.
O uso de tablets eletrônicos, bem como de outros dispositivos móveis, figurava como o próximo passo a ser dado pelas instituições de ensino.
Como explicar esta tendência? É muito simples: observe a seu redor. Os tablets estão cada vez mais presentes no cotidiano das crianças.
Fica cada vez mais claro que sua presença em sala de aula é inevitável. A NMC Horizon Report prevê que isso deverá acontecer em até dois anos.
Para as instituições de ensino, fica o desafio: vão precisar investigar e refletir sobre como o tablet poderá ser incorporado ao ensino de forma prática e eficaz.
Neste momento, são muitas as perguntas levantadas e cabe aos profissionais do mundo de ensino procurar respondê-las. O potencial para a sala de aula é imenso.
Todas as características reunidas num só aparelho como o tablet certamente são um conjunto de recursos que podem viabilizar inúmeras atividades pedagógicas, facilitar a visualização de conteúdos cognitivos, além de estimular atividades cooperativas e o desenvolvimento de projetos.
No entanto, qual seria a implicação da adoção desta nova tecnologia na sala de aula para o Professor e a pedagogia? Alguns estudos comprovaram a necessidade de uma interação adulto-criança na aprendizagem. Aqui, vale lembrar que interativo não significa educativo.
Do ponto de vista educacional, a aprendizagem é sempre mediada: tal qual na tradição sócioconstrutivista, que acredita na necessidade de um expert guiando o "novato" para levar o processo da aprendizagem além da chamada "zona de desenvolvimento proximal" do aluno.
É bem provável que o papel do professor fique consolidado verdadeiramente como um "facilitador" da aprendizagem, com toda a importância que este termo atribui à função do profissional, à medida que entendamos a importância da tecnologia como auxiliar do processo. Ser um facilitador exige um grande empenho do professor.
O professor deverá ser alguém que conhece bem seus alunos e consegue promover a aprendizagem norteada pelo sucesso, pela realização, criatividade e inovação através da colaboração entre seus alunos e ele próprio.
Neste modelo educacional, o aluno passa a ser o principal agente de sua aprendizagem.
O uso do tablet na escola exige um professor preparado, dinâmico e investigativo, pois as perguntas e novas situações que surgirão durante a implementação desta tecnologia em sala de aula fogem do controle preestabelecido do currículo.
Este é o maior desafio desta tecnologia. Isto nos remete também ao papel insubstituível do professor: elaborar estratégias que deem significado a essa porta que se abre para o universo do conhecimento.
Dentro desta perspectiva, é vital que as instituições educacionais possam entender que esta é uma nova questão para todos - e tratá-la como tal.
O processo de implementação traz este desafio: nem sempre poderemos acertar com as tentativas de implementação da nova tecnologia em questão.
As escolas precisam de tempo e oportunidades para errar e aprender com os seus erros e, assim, seguir rumo à redefinição de seus escopos.
Maria Lucia Willemsens, diretora-superintendente da rede de Escolas Cultura Inglesa, in: O Globo (RJ) 

Ensino integral ampliado

Com a promessa de ofertar no mínimo oito horas de aula para os estudantes, a Secretaria de Educação planeja entregar três Escolas de tempo integral no Distrito Federal. Ao lançar o Projeto Político-Pedagógico Professor Carlos Mota, a pasta definiu metas e objetivos para a Educação brasiliense até 2014. O nome é uma homenagem ao então diretor do Centro de Ensino Lago Oeste, assassinado em 2008. Segundo o secretário de Educação, Denilson Bento, a primeira das novas Escolas de tempo integral será aberta para a população nesta semana, em Brazlândia.
Na sequência, serão inauguradas unidades em São Sebastião e Planaltina. Todas deverão oferecer, pelo menos, oito horas de aula. O secretário lembrou que a rede pública já tem unidades oferecendo jornada integral. Recentemente, a pasta inaugurou uma Escola em São Sebastião, com sete horas de aula. ”A Escola em tempo integral tem que ter, no mínimo, sete horas de funcionamento. Porque para as políticas públicas e para o Ministério da Educação, tempo integral são mais de sete horas“, argumenta. Denilson Bento afirma que a demanda por este tipo de Ensino é muito grande entre a população. Mas lembra que estas unidades demandam uma infraestrutura mais robusta do que as Escolas convencionais. Por isso, o processo de transição deverá ser gradativo. “Eu não posso ter uma Escola em tempo integral com capacidade de 400 Alunos e colocar mil nessa Escola. Não tem como funcionar”, completou. Sem contar com as quatro novas Escolas com mais de sete horas de aula, entre as 655 Escolas do DF, a pasta calcula que 283 ofereçam para uma parte de Alunos tempo integral na Educação.

Objetivos
Entre as demais metas de destaque, o secretário apontou redução de até 30% dos Alunos atrasados quanto à série. Hoje, o DF tem 79 mil Alunos com este problema. “Temos o grande desafio de iniciar a fase de Alfabetização no segundo ano do Bloco de Iniciação da Alfabetização, o chamado BIA. Estávamos fazendo isso no terceiro ano”, emendou. Até 2014, outro objetivo é universalizar a pré-Escola de quatro a cinco anos. Também é meta diminuir a carência de Creches, para crianças de até três anos. A demanda fica próxima a cem mil pedidos. A pasta espera ainda neste ano iniciar a construção de 50 Creches.

Escolas analisarão plano
O texto do projeto político-pedagógico será repassado para as Escolas. Cada unidade deverá produzir uma versão própria do documento, conforme a sua realidade. Na análise do Sindicato dos Professores (Sinpro), a grande dúvida agora é como os objetivos serão alcançados. “O desafio agora é operacional”, resumiu o diretor de políticas educacionais, Julio Barros. Em uma leitura preliminar do documento original, Barros não viu linhas claras sobre quais serão as ferramentas para o cumprimento das metas, assim como a definição delas. Na análise preliminar, Barros considerou o projeto positivo, mas espera que as lacunas sejam preenchidas.
O Sinpro fará sugestões para a secretaria. Uma vez que as eleições para a escolha dos diretores das Escolas, dentro da Gestão Democrática, está prevista para 15 de agosto, o sindicato planeja uma série de debates sobre o projeto a partir das 19h de amanhã, em sua sede no Setor de Indústrias Gráficas (SIG). Para o secretário de Educação, o debate acerca do projeto é necessário. Segundo ele, é importante que todos os Professores estejam envolvidos na discussão. Bento adiantou que a pasta iniciará no segundo semestre uma série de licitações para modernizar a estrutura da pasta, como informatizar processos e desenvolver um serviço de e-mail para informar os servidores sobre os projetos da área.
Fonte: Jornal de Brasília (DF)

terça-feira, 26 de junho de 2012

Os desafios da gestão escolar

Como o maestro de uma orquestra ou o líder de uma empresa. É assim que países como Estados Unidos e Inglaterra veem os diretores das Escolas – nações nas quais o cargo é considerado o mais importante depois do Professor, conforme apontam pesquisas internacionais, como a feita pela Wallace Foundation em 2011. No Brasil, no entanto, falta muito para atrair líderes para o cargo, capacitá-los com qualidade e criar boas condições de trabalho. Com poucas exceções, exige-se pouca competência de quem quer assumir o posto, os treinamentos deixam a desejar e as dificuldades materiais das Escolas representam um grande desafio para o bom andamento das atividades.
O primeiro grande problema é a forma como são se­­lecionados os­­ diretores no Brasil. Em dez estados, os ocu­­pantes desses cargos são escolhidos por indicação política – sistema desaconselhado pelos Educadores por facilitar o uso político do cargo pelas Escolas. O método é a base para a escolha de diretores em 40% das Escolas municipais do país, segundo o Ministério da Educação.

Formação de gestores tem lacunas no país
Além de formas deficientes para a escolha de diretores, os eleitos não são preparados nas universidades para enfrentar os desafios de gerir uma Escola – o que afeta também a rede particular de Ensino. “A capacitação de profissionais da gestão Escolar ainda está na fase de ‘Alfabetização’ em nosso país. Os [programas] ofertados em nível de especialização, que não têm nenhum caráter de especialização, caracterizam-se pela generalização de conceitos e teorias”, lamenta Heloísa Lück, coordenadora de uma pesquisa sobre o tema conduzida pela Fundação Victor Civita. Nesse sentido, treinamentos oferecidos por secretarias de Educação também não oferecem um conteúdo que seja útil no cotidiano Escolar. “Em geral, falta conscientização de que é preciso melhorar a capacitação e acompanhar mais de perto esses profissionais”, afirma Maria Carolina Nogueira Dias, especialista em Gestão Educacional da Fundação Itaú Social.

Academia de diretores leva mais qualidade às Escolas de Nova York
Uma iniciativa implementada em 2003 em Nova York causou uma reviravolta nos índices de aprendizagem nas Escolas da cidade. Depois da criação da Academia de Lideranças de Nova York para diretores das Escolas, o rendimento em Inglês e Matemática de Alunos de instituições que estavam abaixo da média melhorou e se nivelou com o de outras boas Escolas. A iniciativa foi apresentada em São Paulo, no mês passado, por Irma Zardoya, presidente da academia. Seguindo os meios de seleção empresariais, a academia implantou um recrutamento semelhante aos programas de trainee de multinacionais. Os novos diretores só assume­­m a posição após 14 meses de treinamento, com simulações de situações reais do cargo. Aqueles que não forem considerados aptos podem ser dispensados.
A eleição é hoje a forma mais realizada. Por mais que permita a participação da comunidade, é um método falho em garantir a competência do escolhido, já que não costuma ser acompanhado de provas que testem as competências dos profissionais. Das 20 unidades da federação que adotam o pleito, algumas como fase anterior à indicação política, apenas Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais e Pernambuco fazem um tipo de avaliação como pré-requisito para serem eleitos.
O concurso público, em uso somente em São Paulo, é o mais próximo dos sistemas internacionais de captadores de líderes para as Escolas. “É uma forma de provimento que ajuda a contratar os melhores e evita abusos e privilégios. A sua utilização não fere a gestão democrática da Escola, como pensam alguns. E, para evitar engessamento, não existe estabilidade absoluta”, diz o Professor Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da Uni­­versidade de São Paulo (USP).

Fiscalização
Outro entrave para a melhoria da gestão das Escolas no país é a falta de mecanismos que ajudem a avaliar o trabalho dos diretores. Especialistas concordam que o desempenho de uma Escola não depende só da atuação do diretor, mas também da equipe e das condições materiais das Escolas, que são precárias no Brasil. Mesmo assim, insistem na necessidade de delimitação de indicadores que sejam acompanhados pelas secretarias de Educação para promover melhores resultados.
“Critérios utilizados hoje em algumas redes públicas de Ensino são questionáveis. Quando esses parâmetros forem bem adotados e os gestores tiverem o suporte dos órgãos públicos para atingir essas metas, como acontece em outros países, com certeza teremos boas surpresas na aprendizagem dos nossos Alunos”, acredita Priscila Cruz, diretora-executiva do movimento Todos pela Educação.

Trabalho depende do apoio da comunidade
A gestão de uma Escola engloba uma complexidade de aspectos pedagógicos – materiais e administrativos – difíceis de equacionar. Principalmente quando faltam recursos. Além disso, no Brasil, muitas Escolas da rede pública funcionam em regiões socioeconômicas vulneráveis, o que aumenta o desafio dos diretores.
Quem consegue trabalhar nessas condições pode ser considerado um herói. Esse é o caso de Wilson Marcionilio, diretor da Escola Estadual Manoel Ribas, ao lado da Vila Torres, em Curitiba. No cargo desde 2010, ele conta que assumiu a instituição depois que o Ministério Público do Paraná (MP), em parceria com lideranças locais, tomou medidas para evitar que a Escola fosse fechada.
Aplicando o projeto do MP, com a ajuda do governo estadual e de toda a equipe de Professores e funcionários do colégio, Marcionilio está conseguindo um maior apoio da comunidade e tem mantido as crianças por mais tempo na Escola, transformada em instituição de Ensino integral.
“Os principais problemas da instituição são a forte tendência à evasão dos estudantes e outros inerentes a dificuldades da comunidade localizada nas proxi­­mi­­dades da instituição, como o tráfico de drogas. O nosso trabalho não consiste só em gerir a Escola, mas fazer dela um local atraente­­ para as crianças e, ao mesmo­­ tempo, em estarmos próximos às famílias para que elas compreendam a importância dos estudos para as crianças”, diz.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)

Educação ideológica

Se há algum tema unânime na população é a Educação. Todos dizem que o Brasil só vai tornar-se livre do subdesenvolvimento quando tiver um povo educado. Essa seria a “panaceia brasileira”, segundo Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil. Mas qual o conceito de Educação? Educação segundo Platão é dar ao corpo e à alma toda a beleza e perfeição para formar moralmente o homem perante o estado. Para Aristóteles, Educação seria a busca pela felicidade. Os dois filósofos apresentam conceitos contraditórios.
O primeiro vê a Educação como moralidade social; enquanto o outro como técnica de progresso. Para a Professora Olga Pombo, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, “a Escola não foi inventada para educar as crianças. Foi criada para a transmissão de conhecimentos entre as gerações”. Por isso confundir Ensino com Educação na Escola pode ser perigoso. É provável que a maioria dos pais não concorde com o controle das almas de seus filhos pelas instituições pedagógicas. Essa iniciativa é ainda impedida pelo pacto de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário: “Os pais ou os tutores têm direito a que seus filhos e pupilos recebam a Educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias convicções. “ Antigamente, a grade Escolar comportava matérias de conhecimento, como Matemática, Português, etc..
Hoje, os currículos trazem inovações como a que ensina aos Alunos do Ensino Fundamental a ajustarem um preservativo em uma cenoura. Tudo isso ainda poderia ser tolerado se a qualidade da nossa Educação figurasse entre as melhores do mundo. Mas não é o que ocorre. O índice de Educação da Unesco, em 2011, apontava o Brasil na 88ª posição, dentre 127 países. Em termos relativos, o que se percebe é ainda um retrocesso. Em 2008, o Brasil ocupava a 76ª posição no mesmo ranking. Em 2007, estava em 72º lugar. O País avançou para “trás”, na medida em que a Educação para a ideologia foi consolidada. Como o Brasil espera continuar a avançar no ranking do desenvolvimento se, ao invés de ensinar aos Alunos conhecimentos científicos, permanece educando os pupilos em valores ideológicos?
Antônio Bulhões, deputado federal, in: Jornal de Brasília (DF)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ciência e Educação como agentes transformadores

Alguns termos tornaram-se muito conhecidos dos brasileiros desde a Rio-92. Sustentabilidade, por exemplo, tem sido muito utilizado, visto a aproximação da Rio+20. Empregado mais rotineiramente em referência a projetos relacionados ao meio ambiente, o termo cunhado em 1983 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento abriga, na verdade, um conceito muito mais amplo, que é o de garantir a capacidade de manter os crescentes níveis de desenvolvimento sem comprometer o atendimento às necessidades das futuras gerações.
Sob esse prisma, todos os projetos devem levar em conta a viabilidade econômica, ambiental e social. É, portanto, de grande valia a discussão sobre os temas centrais da Rio+20, que são a “economia verde” no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o crescimento sustentável. Trata-se de um ambiente propício, em que serão apresentadas as melhores práticas do mercado que enderecem esses temas.
O encontro também irá reforçar a ideia de que é possível, desejável e necessário investir em projetos sustentáveis e, com foco principal no capital humano e tecnologia, como fatores críticos capazes de impulsionar o Brasil frente à competitividade global.
Economias sustentáveis privilegiam a transformação eficiente de recursos em riqueza e a construção de uma matriz energética diversificada. Esse paradigma somente se realiza com profissionais de sólida formação acadêmica, que podem prover as empresas com tecnologia e inovação necessárias. Felizmente, esse passo fundamental foi dado pelo nosso país, que tem destacado entre seus principais objetivos a Educação, a ciência, a tecnologia e a inovação, e que serão debatidos durante a conferência.
Ciência e Educação são poderosos agentes de transformação social, mas sua ênfase é também um desafio para a sociedade. Agora é preciso que a iniciativa privada invista pesadamente em Educação e capacitação em ciência, tecnologia, engenharia e matemática — disciplinas que estimulam a descoberta, a aprendizagem exploratória e o raciocínio. Isso não apenas no nível universitário, mas ainda no Ensino fundamental e médio, onde é formada a juventude de um país.
Esse investimento poderá de fato promover uma transformação sem precedentes no sentido de criar uma nova economia do conhecimento no Brasil, globalmente competitiva e sustentável, que pode e deve ser alavancada por megaprojetos, como o do pré-sal. O risco de não continuarmos a investir nas áreas de ciência, tecnologia e inovação é impedir que o país atinja os níveis de competitividade necessários para se destacar no mercado mundial.
Mais do que um fórum de debates, a Rio+20 é um chamado para que as empresas assumam seu papel indelegável neste momento especial que o país atravessa. Investir em uma estratégia que privilegia a pesquisa e a inovação, o aumento de produtividade e competitividade do conteúdo local, o investimento social (principalmente em Educação) e o meio ambiente (incluindo a biodiversidade brasileira) é um dever de todo o empresariado realmente comprometido com o futuro do país. Assim fazendo, não somente estaremos cumprindo com nossas obrigações de empresários cidadãos, mas também agindo como esperam os nossos acionistas, com nossos parceiros e as comunidades onde atuamos. Estaremos sobretudo contribuindo para transformar o Brasil em um país melhor.
Fonte: Correio Braziliense (DF)

domingo, 24 de junho de 2012

Manifesto pela Educação completa 80 anos na gaveta

Faz 80 anos que um grupo de notáveis, entre eles Cecília Meireles, Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo, publicou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Ousado para a época - 1932 -, o manifesto tinha propostas claras para a Educação no Brasil: Escola obrigatória, laica e gratuita, sem discriminação de gênero ou de classe. Destacava ainda que era preciso investir nos Professores, com "formação e remuneração equivalentes que lhe permitam manter, com a eficiência no trabalho, a dignidade e o prestígio indispensáveis aos Educadores".
Oito décadas depois, o manifesto não foi integralmente cumprido e, segundo Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de Letras, "o Brasil continua avançando de forma desconexa":
- No Ensino fundamental, que está quase universalizado, cresce o número de Alunos, mas esquece-se a qualidade, que é o que importa. O Ensino médio, por sua vez, não cresce nem quantitativamente nem qualitativamente. No Ensino superior, atendemos metade do que deveríamos. O manifesto mostrava que, na década de 30, tínhamos um Ensino órfão e essa é também a realidade de hoje.
Professor da PUC-MG, Carlos Roberto Jamil Cury concorda que nem tudo o que foi proposto acabou sendo colocado em prática, mas aponta que o documento trouxe algumas mudanças importantes para o país.
- Eles foram ousados e, graças a isso, a Constituinte de 34 tornou obrigatória a presença das crianças nos quatro primeiros anos do primário, e fez também com que as Escolas fossem gratuitas. Por conta disso, uma porcentagem dos impostos tinha que ser voltada à Educação. E, até a década de 90, o Brasil foi o único país a ter vinculado a obrigatoriedade de imposto para Educação - conta Cury, que lembra que a Constituição incorporou ainda a coEducação (Escolas voltadas para meninos e meninas): - Foi numa época em que a aproximação entre homens e mulheres era vista como algo pecaminoso e as mulheres não tinham muitos direitos.
Parte de um processo histórico - em 1930, o então presidente Getúlio Vargas havia criado o Ministério da Educação (MEC) -, o manifesto começou a ser construído, segundo a historiadora Maria Luiza Marcílio, Professora de História da Faculdade de Filosofia da USP e autora do livro "História da Escola em São Paulo e no Brasil", ainda no final do século 19:
- No final do Império, os paulistas começaram um processo de revolução do Ensino em uma época em que o primário era precário, não havia Ensino secundário ou superior e as taxas de Analfabetismo eram grandes. Foram criados grupos Escolares, que instituíram o primário seriado e, aos poucos, acabaram sendo multiplicados nas capitais - explica Maria Luiza: - Ainda assim, quando o manifesto foi lançado, nós ainda não tínhamos condição de fazer o que propunha.
Oito décadas depois, de acordo com Maria Cristina Gomes Machado, Professora de História da Educação da Universidade Estadual de Maringá, "o país não cumpriu a expectativa de construir aquela Escola proposta pelo manifesto, e o que era ousado em 1932 já teve tempo suficiente para ser posto em prática".
- Lidamos com o esvaziamento da Escola pública, com o crescimento das instituições privadas e com Escolas para ricos e para pobres. Temos, então, espaços seletivos, fragmentados, onde não existe a convivência com os diferentes tipos de classes. Um documento assinado em 1932 não era mais para ser ousado, mas faltou ao Brasil uma proposta nacional. Temos propostas de governo, planos emergenciais, mas não pensamos a Educação a longo prazo.
O Brasil tem, segundo o Censo Demográfico 2010 do IBGE, 96,9% das crianças de 7 a 14 anos matriculadas na Escola. No entanto, ainda que o Ensino fundamental esteja quase universalizado, um estudo feito pelo Todos pela Educação, em todas as capitais do Brasil em 2011, mostrou que 43,9% das crianças que concluíram o 3 ano do Ensino fundamental não aprenderam o que era esperado em leitura. Em relação à escrita, o resultado foi ainda pior: 46,6% dos Alunos não atingiram a meta.
- O grande problema hoje é que universalizamos a Educação, mas a qualidade é baixa. Estamos avançando devagar, mesmo com as cobranças internas, internacionais e da sociedade. Os problemas hoje estão sendo discutidos e isso é um avanço - diz Marcus Vinicius da Cunha, Professor de Pedagogia da USP.
Formação de Professores
Para Cury, da PUC, e Maria Luiza, da USP, no entanto, o avanço maior se dará quando o país passar a investir na formação do Professor.
- Na ditadura militar, houve quase a extinção da Escola Normal e de lá para cá não houve substituição. Dar atenção ao Professor alfabetizador é fundamental, pois a situação do Brasil é dramática - diz Maria Luiza.
- Para reverter o quadro, antes de qualquer coisa, é necessário recuperar o status do Professor, começando por recuperação salarial digna, além de repensar a formação. Hoje, em muitos casos, os piores Alunos buscam o magistério, mas a figura do Professor é estratégica se quisermos melhorar o Ensino. E precisamos entender que o perfil do Aluno mudou. Já no manifesto estava claro que, sem uma nova metodologia, não iríamos adiante e eles tinham razão - diz Cury, que acredita que é hora de rever o pacto federativo:
- Certas iniciativas têm que ter caráter nacional. É um contrassenso não ter um currículo nacional e o MEC avaliar as Escolas nacionalmente. Como avaliar se não se sabe o que foi ensinado nos primeiros anos?
Entusiasta do manifesto, Arnaldo Niskier concorda que a formação dos Professores é fundamental:
- Deve ser a prioridade. O Professor hoje está sobrecarregado, tem que ser mãe do Aluno, precisa dar aulas em várias Escolas, não tem salário digno. As Escolas não se renovam, o Aluno perde o interesse e abandona os estudos. Por conta disso, o Brasil, que hoje é a sexta economia do mundo, corre o risco de ver essa posição ser sacrificada por falta de recursos humanos em todos os níveis - diz Niskier, que acredita ser a hora de um novo manifesto:
- Defendo essa ideia para que a gente avance. Entre os pontos importantes estariam a obrigatoriedade do horário integral, o uso inteligente da tecnologia e o país priorizando a formação dos profissionais.
Fonte: O Globo (RJ)